EXPEDIÇÃO PATAGÔNIA
16150 km de moto pelo Brasil, Argentina, Chile e Uruguai,
cruzando a Patagônia, até Ushuaia
(Triumph Tiger 955i)
(Em parceria com Katia, Maurício e Armando)
Essa viagem ocorreu num momento em que, de certa forma, estava buscando resgatar esse espírito das "grandes viagens", que havia já algum tempo estava meio de lado em função das demandas familiares, profissionais e um pouco também devido ao meu envolvimento intenso com o triathlon e com o Ironman nos últimos anos.
Não foi uma viagem fácil, sob vários aspectos. A começar por conseguir coloca-la em prática. O planejamento e a preparação da moto e do equipamento quase me venceram com as suas intermináveis opções e dúvidas. Preocupações sobre ir sozinho ou acompanhado, questões de custo da empreitada e a sempre presente preocupação com a segurança na estrada foram outros desafios que exigiram certo jogo de cintura.
Deixar o aconchego do lar, com a Thaís com seus belos quatro anos de idade, foi ainda mais difícil.
Poucas semanas antes da partida prevista, por indicação de um amigo, acabei me juntando a um grupo do Rio de Janeiro que estava saindo na mesma época pra fazer um roteiro semelhante ao que pretendia fazer - Katia e Mauricio, marido e mulher, e Armando foram meus novos amigos e parceiros de viagem por quase todo o percurso.
Em Ushuaia o Armando resolveu voltar sozinho pro Brasil, e alguns dias depois eu também me desliguei do casal e segui meu rumo solo.
A viagem em si, além de muito bonita e memorável, foi uma grande escola. Passamos por situações as mais diversas e inesperadas. Desde calor sufocante a frio congelante, tempestades de vento, estradas de rípio, divergências no grupo, saudade de casa, êxtase, medo, cansaço, euforia, teve de tudo.
À época inventei de relatar trechos da viagem em e-mails, que enviava a uma pequena lista de amigos mais próximos. Transcrevo abaixo esses textos, com o inigualável sabor do calor do momento, pra contar um pouco como foi a "Expedição Patagônia".
(Curitiba, Outubro de 2016)
E-MAILS ENVIADOS A AMIGOS NO DECORRER DA VIAGEM:
Brasília, 12 Jan
Prezados amigos,
depois de amanhã, domingo, 14 de janeiro, estarei partindo para uma dessas
viagens que não se faz todo dia: 15 mil km de moto, de Brasília a Ushuaia,
extremo sul da Argentina, passando pelos Andes, Chile, litoral do Oceano
Pacífico, Patagônia, Parque Torres del Paine, etc. Gostaria de partilhar essa
experiência com os amigos que, de alguma forma, fazem parte desse
"contexto". Pretendo mandar mensagens sempre que possível, ao estilo
"relato de viagem"...
Estou indo numa moto TRIUMPH TIGER 955i (para aqueles pouco acostumados ao mundo motociclístico, é uma baita moto (três cilindros, 105 cavalinhos de potência)!), junto com outros três companheiros de viagem do Rio de Janeiro, com os quais vou me encontrar em Curitiba. Serão 34 dias de viagem.
A Mari e a Thaís não vão junto desta vez... mas estão vibrando com o projeto e torcendo muito, tenho certeza.
Bem, estou naquela fase "maravilhosa" da "pré-partida"... Para quem nunca viajou de moto: é um negócio fantástico! Mas dá um certo trabalho montar o "esquema". Estou preparando a viagem há mais ou menos quatro meses. Então é isso.
Estou indo numa moto TRIUMPH TIGER 955i (para aqueles pouco acostumados ao mundo motociclístico, é uma baita moto (três cilindros, 105 cavalinhos de potência)!), junto com outros três companheiros de viagem do Rio de Janeiro, com os quais vou me encontrar em Curitiba. Serão 34 dias de viagem.
A Mari e a Thaís não vão junto desta vez... mas estão vibrando com o projeto e torcendo muito, tenho certeza.
Bem, estou naquela fase "maravilhosa" da "pré-partida"... Para quem nunca viajou de moto: é um negócio fantástico! Mas dá um certo trabalho montar o "esquema". Estou preparando a viagem há mais ou menos quatro meses. Então é isso.
Brasília, 13 Jan
Exaustiva a
preparação final da viagem. Mas está tudo pronto. Acho. Hora de partir então.
Desprendimento - é a palavra que tá rolando na minha cabeça hoje... Junto com
infinitos raciocínios do que levar, como levar, como não esquecer, se o peso
está compatível, se vai caber, se vai ser útil... Bem, tenho que escrever pouco
porque já é tarde e amanhã vai ser um dia mais ou menos longo. Deixem-me
esclarecer um pouco mais as circunstâncias: a Mari e a Thaís estão no Rio
Grande do Sul, na casa da mãe da Mari. Amanhã, domingo, elas vão pra Curitiba,
onde nos econtraremos na segunda-feira. Ficaremos por lá até quinta-feira,
quando os companheiros de viagem chegam do Rio (eles estarão partindo nesse
dia). Na sexta prosseguimos em direção à Argentina, e a Mari e a Thaís retornam
a Brasília... Amanhã, domingo, vou até Campinas. Cerca de 900 km . Previsão de chuvas e
trovoadas. Que bom. A tendência só pode ser melhorar. Bom trabalhar com boas
tendências. Interessante: tão envolvente esse negócio que o tempo já se
descolou da rotina: hoje não teve cara de sábado. Será que esse troço (uma moto
de 215 quilos com top case e dois alforjes laterais plenos...) vai
funcionar?...
Campinas, 14 Jan, dia 1
Ahhh, nada como o
primeiro dia de uma grande viagem e aquele pensamento
infalível: "o que é que eu tô fazendo aqui?"... Então partimos. O dia
rendeu bem. Saímos de Brasília às 06:45 e, conforme previsto, pegamos chuva e
tempo ruim, alternando entre chuva fraca, chuva forte, úmido, neblina, e, no
final do dia, sol e calor. Pronto: a TIGER perdeu aquela inocência imaculada de máquina de garagem...
Chegamos em Campinas às quatro e meia da tarde, com950 km rodados. Digo
"nós" porque nesta etapa me acompanha o amigo Paulo Cézar, companheiro
de velhos (Colégio Militar de Brasília, 1981...) e de recentes tempos, a bordo
da "Brigite", sua poderosa Supertènèrè amarela, acompanhado da Carol,
sua filha de doze anos, na garupa. Seguiremos juntos até Foz do Iguaçu, de onde
eles retornam a Brasília, e eu sigo pra Argentina e Chile com o pessoal do Rio.
E eu tinha me esquecido como é duro viajar de moto... mas nada que mais estrada não resolva (o mesmo conceito dos bons treinos...). Então é isso. Bom ter partido. A propósito: a TIGER realmente é encantadora. Puro prazer de pilotar. E o conjunto moto-bagagem-piloto até que "funcionou" bem... Amanhã, Curitiba.
Chegamos em Campinas às quatro e meia da tarde, com
E eu tinha me esquecido como é duro viajar de moto... mas nada que mais estrada não resolva (o mesmo conceito dos bons treinos...). Então é isso. Bom ter partido. A propósito: a TIGER realmente é encantadora. Puro prazer de pilotar. E o conjunto moto-bagagem-piloto até que "funcionou" bem... Amanhã, Curitiba.
Curitiba, 15 Jan ,
dia 2
Hoje estive pensando
sobre a dualidade do motociclismo: tão forte, e tao frágil! A moto é um
equipamento fantástico, imponente, potente, veloz, ágil, apaixonante... mas
está a apenas um erro de distância da mais perigosa fragilidade. Exatamente
como nossa própria vida... Então pus-me a pensar sobre como lidar com essa
vulnerabilidade. Primeiro, técnica. Pilotagem técnica. Depois todos os cuidados
de manutenção, equipamento, condições físicas adequadas, cuidados básicos de
pilotagem defensiva... E por fim, e talvez o mais importante, aceitar a
fragilidade! Estar disposto a correr os riscos, pagar o preço! Aceitação!...
Tudo tranquilo na estrada hoje, à exceção de algumas curvas das nossas estradas que, conjugadas com uma carga um tanto volumosa da máquina produziram uma certa sensação de insegurança, o que me levou à reflexão descrita.
Saímos de Campinas as 7:50 e as 12:40 "tocamos o solo" em Curitiba, sem chuva, sem sustos, sem problemas. E um doce reencontro com os amores da minha vida... Agora, parêntese na "Expedição Patagônia", para três dias de vivência família.
Tudo tranquilo na estrada hoje, à exceção de algumas curvas das nossas estradas que, conjugadas com uma carga um tanto volumosa da máquina produziram uma certa sensação de insegurança, o que me levou à reflexão descrita.
Saímos de Campinas as 7:50 e as 12:40 "tocamos o solo" em Curitiba, sem chuva, sem sustos, sem problemas. E um doce reencontro com os amores da minha vida... Agora, parêntese na "Expedição Patagônia", para três dias de vivência família.
Foz do Iguaçu, 19 Jan, dias 3 a 6
De volta à estrada!
Partir para voltar - talvez a maior motivação de viajar por viajar... Um mundo
de possibilidades de reflexão: o por que das coisas... Então estamos
efetivamente a caminho do nosso objetivo. Agora com a equipe completa. Os meus
companheiros de viagem chegaram do Rio ontem, em Curitiba: Armando, pilotando
uma outra TIGER amarela; Maurício, DR 800; sua esposa Katia, de V Strom 1000; e
vindo até Foz, Luiz (62 anos), de BMW 650 GS. Hoje rodamos 650 km de Curitiba a Foz.
Adaptamo-nos bem ao ritmo da viagem e à dança das estradas...
mas não foi um dia fácil. Muita chuva, muitas curvas, aquele óleo da pista a
tirar nossa tranquilidade e uma chegada complicada em Foz, debaixo de um
temporal e num trânsito nervoso.
Amanhã pretendemos ir até Cordoba, na Argentina. A TIGER tem se revelado uma máquina espetacular: firme, precisa, rápida, forte - e tomara que resistente... Partir para voltar...
Amanhã pretendemos ir até Cordoba, na Argentina. A TIGER tem se revelado uma máquina espetacular: firme, precisa, rápida, forte - e tomara que resistente... Partir para voltar...
Estava em casa agora a tarde buscando algo bacana para ler... Ligo meu celular e lá está a postagem do amigo Assis. Sempre é um momento especial ler suas narrativas de aventuras realizadas por ele e seus companheiros. Essa não foi diferente... Coloquei um "Acoustic Blues para tocar e subi a bordo de sua viagem de 16.000 km ao Ushuaia em 2007. Mais um texto divinamente escrito por esse grande amigo... Agora tenho ainda mais vontade de ir pessoalmente até o fim do mundo. Parabéns Assis e obrigado por nos brindar com mais essa historia de parte de sua vida. Grande abraço. Lincoln
ResponderExcluir