Tiger 900 Rally Pro

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terça-feira, 19 de junho de 2018

Trekking Cordilheira Huayhuash em 40 fotos, Peru, Maio de 2018




Cordilheira Huayhuash
Natureza em estado de arte




As fotos apresentadas a seguir foram criadas durante o trekking de dez dias pela Cordilheira Huayhuash, no Peru, relatado no post anterior.





































































































































































































































































































































































































































































"Podemos vender nosso tempo, mas não podemos compra-lo de volta"

(Fernando Pessoa) 








Trekking de alta montanha Cordilheira Huayhuash, Peru, 19 Mai a 02 Jun 2018








Cordilheira Huayhuash
Natureza em estado de arte

Dez dias e 150 km de trekking nas montanhas do Peru

- Em parceria com Felipe Amante -






Observação: a postagem seguinte, reunindo 40 fotos desta viagem, também faz parte deste relato.





Desde que comecei a pesquisar sobre esse percurso de trekking chamou a atenção o alerta unânime de que era uma empreitada dura, fisicamente bastante exigente, bem como outras duas características bem instigantes: o fato de ser um dos mais belos cenários de montanha do mundo e de estar localizado numa região de altitude elevada – praticamente todo o percurso se desenvolve acima dos quatro mil metros de altitude.









(Fonte da imagem: Google)







Há alguns meses o Felipe e eu começamos uma conversa despretensiosa no sentido de programar uma viagem pra fazer uma trilha em região de montanha aqui mesmo no Brasil, pra curtir essa brincadeira de colocar a mochila nas costas e dar uma desligada do mundo. Conversa vai, conversa vem, joguei na mesa, sem grandes intenções, a cartada de “por que não fazemos um trekking em algum lugar da América do Sul?...”. O mérito foi do Felipe de ter feito a conversa avançar e dar no que deu.

É interessante, neste momento, fazer esse breve retrospecto de como essa história saiu de uma simples ideia para se tornar realidade e, agora, lembrança. Porque ideias temos aos montes... O que faz com que algumas floresçam e outras não passem do estágio de sementes? No caso dessa viagem acho que desenvolvemos um autêntico exemplo de sinergia, em que as intenções de cada um de nós se somaram e se fortaleceram mutuamente até o ponto em que, quando nos demos conta, não tínhamos mais retorno [risos]. E aí a coisa aconteceu.













Com relação ao prognóstico de ser uma caminhada difícil e fisicamente exigente, de fato é, e por diversos fatores. A começar pela altimetria – grande variação de altura ao longo do percurso, todos os dias. O tempo todo se está subindo ou descendo, e normalmente em encostas com alto grau de inclinação. A rotina de nossos dias era acampar na faixa dos 4.200 m de altitude e ao longo do dia seguinte subir perto dos 5.000 m e descer novamente pra pernoitar em altitudes mais baixas. Outro fator de exigência física foi a distância percorrida, que, ainda que não tenha sido extremamente elevada, torna-se desgastante em conjunto com os demais fatores. E, por fim, a sensível questão da altitude, que influi diretamente tanto na sensação de esforço quanto no desempenho em si (e também na recuperação). Apesar desse perfil um tanto agressivo, acho que nós dois nos adaptamos bem ao esforço exigido e cumprimos com certa desenvoltura o que nos propusemos a fazer.

Sobre ser um dos percursos de trekking “mais bonitos do mundo” não é o caso, logicamente, de colocar a avaliação nesses termos, mas o fato é que realmente é uma região belíssima. É incrível, mas todos os dias foram espetaculares do ponto de vista de visuais magníficos e arrebatadores – desde as imponentes e onipresentes montanhas, passando pelos imensos vales, até os pequenos córregos e quedas d’água, é um cenário emocionante, de tão bonito. Poderia dizer que as fotos aqui apresentadas atestam essa beleza, mas, no fundo, no fundo, acho que não. Na verdade, as fotos, por mais que nos esforcemos, tem uma capacidade limitada de expressão, quando se trata de natureza. Ainda que pessoalmente tenha gostado do resultado de algumas fotografias feitas nesses dias, em várias outras tive a angustiante sensação de não ter conseguido captar a grandeza e a magia de certos momentos e cenários.













Vale comentar ainda que essa sensação de beleza é multifacetada, quer dizer, não á apenas uma questão visual, puramente estética (o que por si só já é bastante válido, logicamente). Fazem parte dessa nobre percepção sensações como a grandeza da paisagem ao redor, o silêncio ou os sons do momento, a distância de onde se partiu e para onde se pretende chegar, e, de certa forma, até mesmo os pensamentos que rodam pela cabeça na ocasião. Ou seja, é uma “viagem” [risos]...

A questão da altitude é sempre bastante sensível. A rarefação do oxigênio no ar - tanto maior quanto maior a altitude - provoca diversos efeitos no corpo humano, todos eles por demais conhecidos e estudados pela medicina. Mas, no final das contas, o fato é que a gente nunca sabe como nosso corpo vai reagir nesse tipo de ambiente. Existem diversas técnicas, procedimentos e até mesmo superstições que prometem ajudar na aclimatação, mas apesar disso tudo resta sempre uma indesejável margem de erro.







Altimetria geral
(Fonte da imagem: Google)








Com a intenção de reduzir ao mínimo as chances de ter algum tipo de problema nesse sentido, optamos por fazer três dias de aclimatação anteriores ao percurso do trekking em si. Nesses três dias fizemos caminhadas em montanhas ao redor da nossa cidade base, Huaraz (3.800 m), subindo a cerca de 4.600 m, e retornando pra dormir na cidade. Segundo todas as recomendações, esse é o melhor método pra permitir ao corpo (ou força-lo...) a adaptação necessária à diminuição da disponibilidade de oxigênio no ar.

De forma geral esse esforço foi compensador, pois tivemos uma excelente aclimatação e, com isso, evitamos o temido mal da altitude (“soroche”, no idioma local) – uma combinação desagradável de mal estar, dor de cabeça e sensação de que “o mundo está fora de foco”, que só quem já sentiu sabe como é...

Essa boa adaptação não quer dizer, entretanto, que foi tudo “mil maravilhas”. Em um ou outro dia, algumas alterações foram inevitáveis, como, por exemplo, certa dificuldade de dormir (ou sono muito leve combinado com sonhos muito estranhos), às vezes aquela ligeira sensação de falta de ar em um ciclo de inspiração/ expiração, e, por duas vezes, tive a breve sensação de me perceber fora do contexto do momento – como se estivesse vendo e ouvindo as coisas fora dessa dimensão material (e nem havia bebido nada especial [risos]). Mas no geral deu tudo certo.













Uma questão que consumiu boa parte das nossas conversas e reflexões na fase de planejamento do trekking, nos três a quatro meses anteriores à viagem, foi com relação ao estilo que adotaríamos: autônomo ou com apoio de guia e logística. As duas opções tem características bem distintas, cada uma com seus prós e contras. No final, considerando diversos fatores, acabamos decidindo por contratar os serviços de uma agência local – um guia, uma cozinheira e um arrieiro [s.m.: aquele que inspeciona e cuida dos animais da tropa].

Desta forma montamos uma pequena expedição. O arrieiro, Segundino, era o responsável pela montagem e desmontagem do acampamento e por transportar todo o material para o acampamento seguinte. Para isso contava com uma tropa de cinco burros e dois cavalos. Nosso acampamento era constituído por uma barraca que servia como cozinha e como refeitório (e, depois, como barraca de pernoite do arrieiro e da cozinheira),a barraca do guia e uma barraca para nós dois. Cada um de nós tinha uma bolsa que era transportada pelos animais, com o material que só usaríamos nos acampamentos. Assim, caminhávamos com mochilas de média capacidade (na faixa de 30 litros), levando o material que poderia ser necessário na trilha (basicamente agasalhos, água e lanches leves). A cozinheira, Mayumi, cuidava do importante setor da alimentação, e o guia, Walter, acabou sendo muito mais do que apenas um indicador da direção a seguir. Foi também uma excelente companhia e fonte de histórias e informações da região.












Os três são descendentes da etnia Quechua e, como tal, estavam perfeitamente adaptados ao contexto e às suas funções. O Walter é um guia profissional, formado por um curso com três anos de duração numa escola local, além de ser certificado pela Associação Internacional de Montanhismo. Atua há doze anos como guia de trekking e de escalada. Mayumi e Segundino também possuem larga experiência em expedições desse tipo. Fui sinceramente cativado pela dedicada equipe e seu jeito simples e autêntico de ser. Não parecia que estávamos numa relação comercial. Eles foram extremamente pacientes e atenciosos o tempo todo. Esse aspecto me chama a atenção porque difere do padrão que vemos todos os dias quando precisamos contratar algum tipo de serviço no Brasil. De alguma forma parece que o mundo urbano e a nossa espetacular sociedade de consumo vão nos embrutecendo aos poucos, sem que percebamos. Levarei boas lembranças desse trio e de sua forma harmônica de trabalhar.






Da esquerda para a direita: 
Segundino (o arrieiro), Walter (o guia) e Mayumi (a cozinheira).






Nossas atividades se desenvolviam basicamente da seguinte forma: acordávamos por volta das 05:40 e iniciávamos o ritual de trocar de roupa, guardar saco de dormir e todos os demais materiais individuais. Às 06: 30 tínhamos o café da manhã. Depois um tempinho para os ajustes finais do material, abastecimento de água, bater um papo e por volta das 07:15 estávamos prontos pra partir. O almoço dependia da duração do percurso do dia. Nos dias mais longos fazíamos essa refeição na trilha mesmo. Quando chegávamos ao próximo acampamento até umas 14:00 horas, Mayumi já nos aguardava com a refeição pronta. O final da tarde normalmente era dedicado ao descanso, e por volta das 18:30 tínhamos o jantar. Depois ficávamos um tempo na barraca refeitório batendo papo, ouvindo as histórias da nossa equipe, conversando sobre o trajeto a ser feito no dia seguinte, etc. Por volta das 20:00 estávamos dentro dos nossos sacos de dormir, tentando administrar o frio e pegar no sono.















As noites eram sempre bem frias, com a temperatura girando em torno de menos três a menos cinco graus celsius. Com o amanhecer do dia e o surgimento do sol a situação melhorava um pouco, chegando até a fazer calor em certas horas. Colocar e tirar agasalhos era uma constante ao longo do dia.

Tivemos sorte com o tempo, pois tivemos um clima favorável praticamente durante toda a expedição. Os meses mais recomendados para esse trekking são junho e julho, pois é o período mais seco na região. Como estávamos no final de maio ainda corríamos certo risco de pegar chuva, mas choveu apenas na primeira noite (bastante aliás, causando preocupação naquele momento).

Nossos amigos da nossa equipe de apoio comentaram conosco que nos meses de alta temporada costuma haver muitas expedições na trilha. Esse foi mais um motivo pelo qual escolhemos ir nesse período antes desse pico. Nos dias em que estivemos por lá cruzamos com alguns outros grupos, em um ou outro momento, mas nada que tenha perturbado aquela grata sensação de isolamento típica desse ambiente de montanha.

Depois dos três dias de aclimatação em Huaraz, embarcamos numa van juntamente com o Walter e Mayumi e todo o material que usaríamos na expedição e viajamos cerca de cinco horas até o local do nosso primeiro acampamento, aonde chegamos por volta das 14:30 h (e nos encontramos com Segundino, o arrieiro). Nesse dia não caminhamos. O restante da tarde foi usado pra montar as barracas, ajeitar as coisas e nos ambientar ao local. A partir do dia seguinte iniciamos o trekking propriamente dito. Foram dez dias de caminhada, totalizando cerca de 150 km percorridos, fazendo um percurso geral num formato de um grande “U”.









O circuito que realizamos (no sentido horário) está destacado em laranja na imagem acima.
(Fonte da imagem: Google)






Os locais de acampamento eram sempre totalmente inóspitos, no sentido de ser longe de qualquer tipo de povoado. Apenas no sexto dia é que acampamos dentro de uma pequena vila local, chamada Huayllapa. Essas condições nos obrigaram a cuidar bem e a tentar usar bem nossas fontes de energia dos nossos aparelhos eletrônicos, como câmeras e celulares, pois nem local pra recarrega-los havia. Banho de chuveiro só foi possível nesse sexto dia. Nos demais nos viramos com banhos de rio ou de cachoeira, sempre geladíssimos, com exceção do dia em que passamos por um acampamento onde havia duas piscinas de águas termais, onde nos deleitamos com um longo banho numa água a incríveis 38 graus celsius (com a temperatura do ar em volta abaixo dos cinco graus!).












No oitavo dia mudamos um pouco o formato da nossa expedição ao fazermos a escalada do Pico Diablo Mudo, de 5.350 metros de altitude. Para essa empreitada levamos um kit de materiais específicos de escalada (alugados em Huaraz) – botas rígidas, crampons, piolets, cadeirinhas, cordas, capacetes, etc. Foi o dia mais longo e cansativo da viagem. Acordamos à uma e meia e saímos do acampamento às 02:45 da madrugada, sob uma temperatura de menos seis graus. Chegamos ao cume por volta das 09:00 h, e ao próximo acampamento somente às 15:00 h. Apesar do intenso e extenso esforço físico, foi também o dia mais bonito de todos.

De madrugada fomos abençoados como uma bela lua cheia, que iluminou o caminho a ponto de não precisarmos das lanternas de cabeça. Do alto das íngremes e estreitas escarpas que íamos subindo, olhávamos pra baixo e víamos os córregos como que iluminados por infinitas luzes de led, mas era a luz da lua refletindo no espelho d’água. Uma visão realmente linda.

Por volta das seis horas vivenciamos um dos mais lindos alvoreceres que vi na vida: o imenso e longínquo horizonte colorindo-se aos poucos de azul escuro, alaranjado, amarelo, azul claro... E um imenso céu perfeitamente azul surgindo sobre aquele mar de montanhas pintadas de branco.













Nessas primeiras horas da manhã, em que iniciávamos efetivamente a parte da escalada em neve do pico, o tempo estava incrivelmente estável e limpo. Nem vento havia. Tudo estava parado e quieto, como um templo sagrado. Mal acreditei que pudesse haver condições tão perfeitas num ambiente de alta montanha como aquele. Foi espetacular!

Nossas forças, no entanto, sentiram o impacto dos esforços continuados a que vínhamos nos expondo e das condições gerais do contexto em que estávamos. Curiosamente o Felipe e eu acusamos sinais de exaustão física ao mesmo tempo, no meio da escalada do Diablo Mudo. A situação ficou quase engraçada, de tão dramática. Cada passo exigia um esforço sobrenatural, cada movimento tinha que ser calculado, as pernas já não respondiam aos comandos da cabeça... Como não havia outra opção, acho que nós dois nos lembramos de momentos semelhantes vividos em provas de triathlon de longa duração de que participamos ao longo da vida, e demos um jeito de seguir escalando.

A descida e a longa caminhada que se seguiu até o acampamento não foram menos difíceis, mas chegamos.

Afinal de contas, por que nos metemos em viagens como essa? Penso que, talvez, no fundo, no fundo, não seja exatamente uma escolha, como parece a princípio. Talvez esteja mais para uma pulsão, um chamado interno que fica sussurrando (ou gritando) na nossa consciência para que nos lancemos nesse “vazio”. A gente até pode ignorar essa voz por um tempo, mas não podemos fazê-la desaparecer. Uma hora ou outra devemos atender a esse chamado interno e ir ver o que ela quer de nós. Normalmente o que encontramos são nossos próprios medos, limitações e ansiedades. E é esse encontro que é, a rigor, o mais importante de viagens como essa, ao contrário do que parece. Pois é, tudo isso parece um jogo de “parece, mas não é”... Engraçado, não? [risos].












Um trekking como esse pode ter diversas abordagens (além dessa questão da “viagem interna”). Há, por exemplo, o lado do esforço físico, da montagem e utilização do equipamento necessário, do gerenciamento das expectativas e do tempo, do trabalho de registro fotográfico, da comunicação e manutenção da harmonia entre os participantes, etc. E há ainda o aspecto do prazer visual e sensorial da vivência, que, pra mim, é dos mais envolventes. Estar num ambiente como esse é como se sentir num mundo primitivo, silencioso, autêntico. É como um retorno a um lugar em que já estivemos. É como religar.

Muito grato à Vida por ter podido vivenciar essa experiência.













***   ***   ***




A seguir, texto do Felipe:





"A convite do “Seu Assis”, escrevo abaixo um resumo de como foi a experiência no trekking Huayhuash, deixando para ele o relato em mais detalhes. Vamos lá:

Em janeiro deste ano, eu estava para ligar para o Assis para dizer que o Guilherme (um amigo que temos em comum) e eu estávamos pensando em ir ao Nepal (trekking Campo Base Everest e High Passes) e perguntar se ele não queria se juntar a nós.

Antes mesmo da minha ligação, recebi uma mensagem do Assis dizendo que “queria lançar uma ideia/convite de um trekking no Peru, em junho, na Cordilheira Huayhuash”.

Por conta de uma série de fatores (conciliação de agendas, tempo disponível e tornozelo machucado do Guilherme – que acabou precisando passar por uma cirurgia) acabamos optando por Huayhuash.

Confesso que nunca tinha ouvido falar nesse local. Em poucos dias, porém, já estava recebendo cotações de preços de agências locais, de passagens para Lima e Huaraz, pesquisando trajetos, condições climáticas, altimetria, distâncias etc.

Em 20 dias optamos por contratar os serviços da empresa Inkalands Trekking, da Edita Onkoy, para o chamado Circuito Clássico Huayhuash, que consiste num percurso de praticamente 360º pela Cordilheira do mesmo nome, entre 4.000m e 5.100m de altitude, que geralmente é feito em 12 dias. Pedimos cotação para um serviço exclusivo, sendo 3 dias de day trekkings de aclimatação à altitude e 11 pelo Circuito Clássico. Nesse caso, contaríamos com o auxílio de um guia, um cozinheiro e um “arrieiro” (tropeiro) que é quem conduz a tropa de burros que carrega os equipamentos e mantimentos da empreitada.

A partir daí começaram os detalhamentos de datas e compra de passagens e de equipamentos (precisávamos de sacos de dormir mais parrudos para aguentar frio, checar botas, vestuário e equipamentos de camping em geral). Essa preparação, para mim, é uma das melhores partes da viagem.

Alguns dias mais, já tinha gastado um bom tempo assistindo a vídeos no youtube, pesquisando relatos, analisando mapas e baixando no wikiloc as trilhas do circuito clássico. Cheguei a um ponto de presunção em que propus ao Assis dispensar a Agência de Turismo e fazer a empreitada autossuficientes carregando toda a comida e tralhas pelos 11 dias.

A proposta foi de pronto aceita pelo Assis e, com isso, começaram novas procuras por equipamentos, em especial por uma barraca de quatro estações o mais leve possível, que pudesse suportar ventos fortes/frio. Precisávamos, também, escolher bem o que levaríamos de comida já que tínhamos o dilema de não poder carregar muito peso. Mais uma fase de pesquisa, compras e compras...

Faltando três semanas para embarcarmos, recebi uma ligação do Assis preocupado com o “projeto solo”, basicamente, em função da altitude (fiquei sabendo depois que o Assis tinha passado mal por causa da altitude no Aconcágua). Acabamos abandonando o projeto solo e voltamos ao cronograma inicial com guia, cozinheiro e arrieiro. Como constataríamos no percurso, essa foi uma sábia decisão!

A chegada em Huaraz é meio chata. Praticamente 5 horas de avião de São Paulo a Lima seguidas de 8/9 horas de ônibus, sem paradas, de Lima a Huaraz.

Já no dia seguinte à chegada, começamos a aclimatação num day trekking a uma lagoa situada a 3.850m. O que não sabíamos é que nosso guia, que ficaria conosco até o final do Circuito Huayhuash, estava ali não só para nos guiar, mas, também para nos observar e avaliar. Sim, ele estava atento a como subíamos e ao tempo em que demoramos para subir, prestando atenção não só ao nosso condicionamento físico, mas, à nossa reação à altitude.

Engraçado que, por ouvir e ler uma série de histórias a respeito do mal de altitude, fiquei apreensivo nesses primeiros dias. A programação era ganhar um pouco mais de altitude a cada day trekking (3.850m, 4.400m e 4.600m) e eu ficava imaginando quando iria sentir os sintomas da altitude. No final, não senti nada, o que foi ótimo!

Aclimatação feita, partimos para Cuartelhuain, onde teríamos o primeiro acampamento (4.200m). Frio e um pouco de chuva e a primeira noite não foi tão confortável. Na verdade, eu  ainda estava preocupado com a altitude e com o que iríamos enfrentar.

Fomos nos acostumando às longas caminhadas com sobe e desce e à rotina do acampamento (acordávamos às 5:30, guardávamos as coisas na mochila e no duffel bag, tomávamos café, saíamos para o trekking, almoço em geral por volta de 2:00 da tarde – dependendo do dia almoçávamos no campo, pelo caminho – chá às 4:00hs, jantar às 7:00hs e no outro dia tudo de novo...). A partir do terceiro dia eu já estava mais à vontade na montanha, mais acostumado ao frio e ajudado pelo cansaço do trekking passei a dormir muito bem.

Apesar de termos rotina, não havia monotonia. A cada dia íamos para um acampamento diferente e éramos surpreendidos com a beleza natural do local. Num momento era uma lagoa com cor azulada, noutro uma nova montanha de neve que avistávamos, avalanches ou mesmo os vales gigantes que têm por lá. Isso, aliás, chamou bastante a atenção. As montanhas e, consequentemente, os vales são gigantescos! A grandiosidade do lugar impressiona.

O entrosamento com nossa equipe de apoio não poderia ter sido melhor. Walter, nosso guia, mostrou que é digno das diversas certificações que tem como guia de montanha, de escalada e de resgate, passava orientações com segurança. Além disso, deixou-nos à vontade para estabelecer o ritmo do trekking e, aproveitando nossa disposição, saiu do percurso tradicional e, muitas vezes, caminhamos por trilhas e locais pouco explorados pela maioria dos turistas. Maiumi, excelente cozinheira, fazia mágica com tão poucos equipamentos. E Segundino, o arrieiro, sempre atencioso e de bom humor, mostrou-se um excelente contador de histórias (inclusive de duendes que tomam contas das minas de extração de metais que existem por lá...rsss). Deixo aqui um agradecimento aos três, que nos prestaram um ótimo serviço.

De maneira geral o percurso é duro. Andávamos em média 15km/dia em mais ou menos 5:00hs (sem contar as paradas para descanso), em terrenos irregulares com pedras soltas, areia, gelo, lamaçais, encostas de morros etc. Saíamos do acampamento por volta de 7:15hs da manhã, com temperatura entre 0 e -2ºC. Por volta de 9hs, com o sol, a temperatura esquentava rapidamente (para uns 8º a 11ºC) e fazíamos nossa primeira parada para tirar um dos casacos e a calça segunda pele (baselayer). O cronograma era subir até o “passo” (passagem na montanha – alguns deles a mais de 5.000m de altitude) e descer para o acampamento seguinte, onde chegávamos por volta de 14:00hs (salvo dias mais longos em que almoçamos no próprio caminho). Ao todos foram 150km aproximadamente, mais de 9.000m de ganho de elevação e umas 55horas de trekking (dados registrados no Garmin, sem contar os dias de aclimatação e o que não foi gravado).

Foram nessas horas que agradecemos bastante por não termos ido sozinhos e carregando mochilas pesadas com equipamentos de camping e comida liofilizada. Sim, os passos eram duros por si só com mochilas leves (uns 6kg a 7kg, pois carregávamos água, roupas de frio, equipamentos fotográficos e uma sacola com comida/lanches – frutas, chocolate, sucos, amendoim etc). Com mochilas pesando 18kg nossa impressão dos passos teria sido outra com certeza! Não posso deixar de dizer, também, que era uma verdadeira mordomia chegar no acampamento e ver a barraca montada e ter comida quente preparada na hora (ficam aqui, mais uma vez, os agradecimentos à equipe de apoio).

Em termos de desgaste físico, a cereja do bolo foi a escalada ao cume do Diablo Mudo (5.380m). Acordamos por volta de 1:30h da manhã, empacotamos tudo, tomamos café e saímos do acampamento às 2:40. As mochilas nesse dia estavam mais pesadas, pois além das roupas, água e comidas de costume, tivemos que carregar o equipamento de escalada (botas plásticas de neve, crampons, cadeirinha de escalada, capacete, luvas, cordas etc). Chegaríamos ao início do glaciar por volta de 5:30 da manhã, quando o dia estava amanhecendo. A pausa para troca de equipamentos foi um pouco atrapalhada e acabamos perdendo um bom tempo nisso. Certamente pela falta de costume, subir as encostas íngremes de neve com aquelas botas pesadas não foi tarefa fácil (sem contar descer uma parede vertical de 18m apoiado só em um piolet e nos crampons). Só chegamos ao cume da montanha às 9:00hs da manhã. Ficamos 1 hora lá em cima para fotos, filmagem etc. A parte mais pesada ainda estava por vir. Demoramos 5 horas para descer e chegar ao novo acampamento (incluindo aqui as novas modalidades de “esqui na neve com crampons” e “esqui com botas nas pedras soltas” – de tão íngremes que eram algumas descidas na saída do cume do Diablo Mudo os crampons não seguravam, nem as botas). No total, foram praticamente 13horas de atividade para vencer pouco mais de 15km.

Em resumo, tivemos uma excelente experiência em Huayhuash. Tudo correu bem com a adaptação à altitude e não tivemos nenhum contratempo com alimentação e ingestão de água. Tivemos sorte com o clima, já que choveu apenas no primeiro dia e, no restante, pegamos sol e céu limpo. A temperatura não estava tão baixa quanto aparecia nas previsões. O ótimo entrosamento com a equipe de apoio ajudou a criar um ambiente tranquilo para todos e contribuiu para o sucesso da empreitada.

Deixo um agradecimento especial ao “Seu Assis” pelo convite para o trekking na Cordilheira Huayhuash e pelo companheirismo em mais uma expedição. Que venham as próximas!"



















***   ***   ***






Dia a dia da viagem



1º dia de aclimatação
19 de maio
Laguna Wilcacocha
Distância: 8,5 km
















































Esperando o transporte de volta à cidade, após a caminhada






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2º dia de aclimatação
20 de maio
Laguna Churup
Distância: 7,6 km
Altimetria:
















































































































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3º dia de aclimatação
21 de maio
Laguna 69
Distância: 14,4 km
Altimetria:














































































































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Dia de deslocamento rodoviário (em van) de Huaraz a Cuartelhuain
22 de maio







 Nosso almoço nesse dia







Estrada por onde chegamos a Cuartelhuain, primeiro acampamento






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1º dia de trekking
23 de maio
De Cuartelhuain à Laguna Mitucocha
Distância: 15,7 km
Passo: Cacanã - 4.600 m de altitude
Saída: 07:15 h
Chegada: 15:00 h
Altimetria:





















(Crédito desta foto: Walter George)




























































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2º dia de trekking
24 de maio
De Laguna Mitucocha a Laguna Carhuacocha
Distância: 11,2 km
Saída: 07:15 h
Chegada: 11:00 h
Altimetria:








































































(Crédito desta foto: Walter George)



























Nosso almoço nesse dia



























 Mayumi preparando o jantar















Walter nos explicando o percurso do dia seguinte, após o jantar







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3º dia de trekking
25 de maio
De Laguna Carhuacocha ao acampamento Huayhuash
Passo Syula
Distância: 16 km
Saída: 07:25 h
Chegada: 14:45 h
Altimetria:



















Amanhecer

















































































(Crédito desta foto: Walter George)



































Passo Syula (4.834 m de altitude)

























Nosso almoço nesse dia







 Felipe fazendo uma sessão gratuita de crioterapia [risos]
























 Chá da tarde







Mayumi com os seus afazeres

































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4º dia de trekking
26 de maio
De Huayhuash a Viconga
Distância: 13,4 km
Saída: 07:20 h
Chegada: 13:00 h
Altimetria:


































































































 As piscinas termais de Viconga: água deliciosamente quente, no meio do nada















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5º dia de trekking
27 de maio
De Viconga a Huanacpatay (Pedra Elefante)
Distância: 10,2 km
Passo Cuyoc (5.000 m)
Saída: 07:30 h
Chegada: 12:45 h
Altimetria:


































(Crédito desta foto: Walter George)




























 Passo Cuyoc (5.000 m)

















 (Crédito desta foto: Walter George)









(Crédito desta foto: Walter George)














































Jantar: truta pescada pelo Walter à tarde







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6º dia de trekking
28 de maio
De Huanacpatay (Pedra Elefante) a Huayllapa
Distância: 21,5 km
Passo Santa Rosa (5.000 m)
Saída: 07:30 h
Chegada: 16:00 h
Altimetria:










































Passo Santa Rosa (5.000 m)




















Essas montanhas em frente ao Passo Santa Rosa (Siula Grande, Carnicero e Yerupaja) foram palco de uma das mais dramáticas histórias do alpinismo mundial, relatada no icônico livro "Tocando o vazio", de Joe Simpson: 

"Em junho de 1965, depois de dois dias de escalada nos andes peruanos, Joe Simpson e Simon Yates chegam ao cume do Siula Grande, a 6.300 m de altitude, pela face oeste, nunca antes conquistada. Mas logo depois da façanha os dois assustam-se ao ver que a rota de volta é perigosa e traiçoeira. As condições climáticas se agravam, a temperatura desce a menos de vinte graus negativos. E no segundo dia Joe despenca de um degrau de gelo na aresta do cume da montanha e sofre uma fratura grave. 

Joe e Simon resolvem então adotar um sistema de descida emergencial: escavam banquinhos de segurança na neve. Mas durante uma descida acelerada, castigado pela fadiga e por avalanches de neve, Joe fica pendurado sobre o abismo.

Muitos metros acima, encordado ao amigo, Simon começa a deslizar pela encosta. Para sobreviver, a única alternativa que lhe resta é cortar a corda e abandonar Joe. Três dias depois, exausto, com os dedos congelados, Simon chega sozinho ao acampamento base e anuncia a morte do amigo.

Torturado pela culpa, Simon reluta a deixar a montanha. Na última noiteé acordado por um grito. Joe, muito ferido, semicongelado, delirante, se arrasta no lodo junto às barracas.

Tocando o vazio é o relato de uma aventura que parece ultrapassar os limites do ser humano." [sinopse do livro, Editora Companhia das Letras, 2004]





O livro - um clássico do montanhismo


























































 O almoço nesse dia foi na trilha

























Esta senhora estava na entrada do povoado de Huayllapa, 
cobrando uma taxa de acesso, e aproveitando para tecer o seu fio.












 Huayllapa, o único povoado por que passamos durante o trekking.







 Mercearia em Huayllapa















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7º dia de trekking
29 de maio
De Huayllapa a Gashapampa
Distância:  12,4 km
Saída: 07:30 h
Chegada: 13:30 h
Altimetria:







































Ao longo do trekking cruzamos com diversos grupos e pessoas diferentes. Muitos estrangeiros - italianos, franceses, israelenses, americanos, etc. Mas um em especial nos chamou a atenção. O senhor das fotos acima. Italiano de 82 anos de idade, estava fazendo o circuito completo da Cordilheira Huayhuash (assim como nós), integrante de um grupo de mais sete conterrâneos. Por vezes utilizava o cavalo para vencer as encostas mais íngremes e altas, e, quando aguentava, caminhava. Nesse momento da foto batemos um papo rápido, no qual nos contou, muito animadamente, que já esteve em muitas montanhas e lugares diferentes:






Admirável!

Esse é o espírito da coisa! [risos]










































 Mayumi finalizando o almoço.

Pouco depois dessa refeição meus sensores internos acusaram uma súbita alteração na percepção do ambiente, quer dizer, fui acometido por um forte mal estar, que me levou a um quase desmaio [nada a ver com a comida; acho que foi devido ao calor do momento, ou alguma coisa ligada à pressão sanguínea, sei lá...]. Senti que instalou-se um clima de preocupação na equipe, considerando que estávamos a poucas horas de sair para o ponto alto da expedição - a escalada do Pico Diablo Mudo. Felizmente, no entanto, não passou de um desequilíbrio passageiro. Logo em seguida já estava melhor, sem maiores problemas.










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8º dia de trekking
30 de maio
De Gashapampa a Laguna Jahuacocha, 
com escalada do Pico Diablo Mudo (5.350 m)
Distância: 14,3 km
Saída: 02:45 h
Chegada: 15:00 h
Altimetria:




























(Crédito desta foto: Walter George)














































































Cume do Pico Diablo Mudo, 5.350 m de altitude




















(Crédito desta foto: Walter George)


















Laguna Jahuacocha, vista da trilha por onde chegamos.
Os pontinhos coloridos ali embaixo são as barracas do acampamento.






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9º dia de trekking
31 de maio
Laguna Jahuacocha
Distância:  7,8 km + 7,7 km
Saída: 10:30 h
Chegada: 14:00 h
Altimetria:


























Esse foi um dia que era pra ser de descanso, pois dormimos duas noites no mesmo acampamento. Aproveitamos pra acordar um pouco mais tarde, tomar café da manhã com mais calma e curtir o belo visual da Laguna Jahuacocha. Mas também saímos para uma caminhada a uma montanha próxima, mas bastante alta. Subimos cerca de 700 m de altura e tivemos o privilégio de apreciar um visão panorâmica de toda a Cordilheira.

À tarde descansamos um pouco e saímos novamente para caminhar pelas redondezas, até uma lagoa um pouco mais distante do acampamento. Retornamos quando já estava escurecendo. Assim, esse foi um dia de descanso ativo, e não exatamente de repouso.





Que tal acordar com um visual desse na porta da barraca?







































































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10º e último dia de trekking
1º de junho
Da Laguna Jahuacocha ao povoado de Llamac
Distância: 14 km
Saída: 07:30 h
Chegada: 12:30 h
Altimetria:




























































































Na chegada ao povoado de Llamac, ponto final do trekking, Mayumi e Segundino nos brindaram com um almoço típico peruano, um prato chamado "pachamanca" - carnes, batatas e milho assados num forno feito de pedras e brasa, coberto com várias camadas de papelão e lonas molhados. Tudo feito na casa do próprio Segundino. Bem "roots"! [risos]


Segundino preparando a "pachamanca"









 O prato pronto








Almoço de comemoração da conclusão da expedição: simples e autêntico!






Assista no link abaixo a um vídeo sobre o trekking:






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Observações:

  • Meu muito obrigado ao amigo e parceiro desta jornada: Felipe - pela companhia cavalheiresca, pela amizade, pela paciência. Que possamos manter essa boa energia por muitos e muitos anos! Obrigado também por ter compartilhado seu ponto de vista da viagem através do texto de sua autoria, nesta postagem. 

  • Todas as fotos são de arquivo pessoal (aquelas em que estou do lado da frente da lente foram tiradas pelo Felipe ou pelo Walter ou no timer).

  • Câmeras utilizadas: Canon EOS Rebel (lentes: 18-55 e 75-300 mm), Nikon Coolpix AW130, GoPro Hero 2 e Drone DJI Mavic.

  • As viagens de ida e volta à cidade base do trekking, Huaraz, foram feitas de avião (Curitiba-São Paulo [40 min] e São Paulo-Lima [5 horas], e vice-versa) e de ônibus (Lima-Huaraz, e vice-versa [8 a 9 horas]). Viagens essas bem cansativas. Ao todo (contando o tempo de espera em aeroporto e rodoviária), pra mim, foram 25 horas pra ir e 32 pra voltar (na verdade, na volta, fiz a pernada São Paulo-Curitiba também de ônibus).

  • Huaraz, a cidade em que ficamos hospedados antes e depois do trekking é um aglomerado urbanisticamente confuso, com muita gente, muito carro, muito barulho, muito comércio, etc. Não tem nada a ver com o clima de montanha. Ainda assim é um lugar pitoresco, tipicamente peruano, com cenas muito interessantes. Fiquei "me devendo" fotos que retratassem essa realidade de uma forma bonita. Até tentei fazer um ensaio em alguns momentos em que estivemos pelas ruas, mas não consegui o que queria. Fica pra próxima.

  • A agência que organizou toda nossa expedição foi a Inkaland Treks. Em todos os aspectos os serviços contratados foram prestados da melhor forma possível. A dona e mentora da agência, com quem tratamos de todos os detalhes e que gerenciou toda a preparação, foi a Sra Edita Oncoy, extremamente atenciosa, competente e entusiasmada com o trabalho que realiza. Fica a dica!


  • Brainstorming: estive pensando, durante um bom tempo durante o trekking, sobre a sistemática de locomoção e transporte naquele tipo de ambiente em que estávamos. É incrível o tipo de terreno em que andamos, em termos de dificuldade de se locomover - trilhas acidentadas, super inclinadas, pedregosas, terrenos instáveis, fofos, buracos, etc. Lugares onde nossas máquinas não chegam! É lógico que, de certa forma, esse é um dos charmes desses locais. Essa sensação do primitivo, do inóspito, do distante. Mas, apenas como exercício de imaginação, superemos esse paradigma. Que tipo de máquina poderia nos dar um suporte nesse tipo de situação? Robôs tipo exo-esqueletos (como os do filme "Avatar", por exemplo)? Robôs independentes (bípedes, com esteiras, com rodas adaptáveis às irregularidades do terreno)? Ou quem sabe drones aéreos de transporte de carga... Em vez de animais, usaríamos drones... É lógico que "precisamos" resolver dois aspectos importantes nesse sentido: duração da bateria e eliminação do ruído (deus nos livre de ter uma frota de drones zumbindo montanhas afora, acabando com o sagrado silêncio desses lugares mágicos!). Sim, nossa primeira reação a esse tipo de ideia é de "horror": "que absurdo imaginar um negócio desses! É tão anti-natural!" Sim, tão anti-natural quanto nossos bastões de caminhada e nossas botas ou tênis (não seriam esses equipamentos também uma espécie de exo-esqueletos?)... Além disso, um sistema como os exo-esqueletos, por exemplo, possibilitaria o acesso a lugares inóspitos de pessoas com dificuldades de locomoção, sem falar nas possibilidades de uso em resgates e socorros médicos! Quanta coisa ainda temos para criar e inovar! Sim, muitas dessas ideias já são realidade nos laboratórios da ciência (ou nos filmes de ficção), e imagino que o grande fator limitante para esses projetos se popularizarem seja a questão econômica: "uma máquina dessas seria caro demais pra ser usada por qualquer um!". Sim, provavelmente... Mas aí precisamos superar também esse paradigma econômico de custo-benefício [risos]... Quem sabe um dia... Alguém aí se habilita a meter a cara nessa encrenca? [risos]...














"Solo le pido a Dios
Que el dolor no me sea indiferente
Que la reseca muerte no me encuentre
vacía y sola sin haber hecho lo suficiente".

Mercedes Sosa

(citação final por sugestão do Felipe)






Gratidão



Força Sempre