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segunda-feira, 13 de abril de 2020

Sobre o livro "Uma simples revolução - novos rumos para uma sociedade perdida", de Domenico De Masi, Curitiba, Abril de 2020










No livro “Uma simples revolução – novos rumos para uma sociedade perdida” (Editora Sextante, 2016), que terminei de ler há alguns dias, o sociólogo italiano Domenico De Masi analisa com impressionantes clareza e honestidade os rumos que a sociedade contemporânea vem tomando.

De Masi considera que vivemos em uma época que ele chama de pós-industrial, que, como o nome diz, vem depois da impactante era industrial, que marcou profundamente o modo de vida de todo o mundo durante cerca de um século (mais ou menos entre 1880 e 1980).

A era industrial, como sabemos (ou deveríamos saber), criou e consolidou, dentre outros paradigmas, a noção da competitividade, do “quanto mais, melhor”, da jornada de trabalho de oito horas diárias, e, sobretudo, da vida centrada no trabalho, tornando todos os demais temas periféricos.

Esse modelo caiu como uma luva nos ideais capitalistas, que foram catapultados pela euforia de uma imaginada prosperidade sem limites.

Fica difícil para a nossa geração, que nasceu dentro desse molde, vislumbrar que todo esse discurso é apenas a defesa de uma tese, dentre muitas outras, provavelmente mais atraentes e eficientes do que essa que aprendemos.

De fato a sociedade industrial fez do trabalho uma espécie de deus, ao qual todos deveriam prestar seu culto. A tal ponto de, se por acaso alguém conseguisse escapar do modelo, seria completamente alijado de valor social e até da própria identidade como pessoa.

De Masi nos alerta, no entanto, que esse modelo já está ultrapassado, muito embora muitos possam não ter percebido, o que é normal em uma sociedade complexa como a nossa.

O ponto crucial de transição entre a velha sociedade industrial e a nova fase pós-industrial foi e continua sendo o desenvolvimento da tecnologia, que aos poucos vem transformando a vida das pessoas no sentido de, ao mesmo tempo que nos abre diversas e fantásticas opções de como realizar velhas tarefas, torna cada vez menos necessária a mão de obra puramente braçal das pessoas.
O resultado dessa equação, segundo o autor, é óbvio: cada vez mais haverá menos necessidade de mão de obra, dado esse que, combinado com o fato de que a população mundial continua crescendo de forma acelerada, resulta que cada vez mais viveremos em um mundo em que simplesmente não haverá emprego (e talvez nem necessidade de trabalho) para toda a população economicamente ativa, pra usar o termo da velha sociedade industrial.

E qual seria a solução pra isso? A resposta a essa questão é o que dá o título ao livro – uma simples revolução. De Masi defende que não há soluções milagrosas ou grandes projetos que possam dar conta de resolver o problema. Muito menos envereda pelo viés aparentemente lógico de pensar soluções capazes de criar mais empregos (o que equivaleria a pensar em alargar as ruas para que coubessem mais carros, como solução para os engarrafamentos). Pelo contrário: defende que deveríamos nos acostumar e nos adaptar a um mundo em que cada vez se precisará trabalhar menos.

Ou seja, ao invés de ficarmos desesperados e alarmados com as crescentes taxas de desemprego, deveríamos assumir isso como um fato incontornável, e fazer desse aparente limão, uma limonada.

Ele lembra que vivemos em um mundo em gritante desequilíbrio, sob diversos aspectos, desde a mais absurda desigualdade de distribuição de riqueza ["as 62 pessoas mais ricas na lista da revista Forbes têm um patrimônio equivalente ao de 3,5 bilhões de pobres, isto é, metade da humanidade atual"], até a igualmente desigual distribuição de trabalho: enquanto alguns reclamam (com razão) de que trabalham demais e nunca tem tempo pra fazer o que realmente gostariam, outros não tem trabalho nenhum. Por que não, por exemplo, então, dividir melhor esse fardo entre os dois grupos: quem trabalha demais passaria a cumprir a metade da jornada, atribuindo a outra metade a quem está desocupado. É lógico que o salário também seria dividido, e é aí que entra o entrave da resistência das pessoas aceitarem esse tipo de medida.

Mais do que isso, De Masi sugere que as pessoas façam uma simples revolução nos próprios conceitos, libertando-se do estigma do trabalho como via única de realização pessoal, e passem a se dedicar e a encontrar sentido em afazeres como o convívio social, a apreciação musical, o cultivo de amizades, o aprendizado da literatura, das artes plásticas, das artes cênicas e assim por diante. É como um reaprender a viver!

O autor comenta também que outros parâmetros da sociedade industrial precisam ser revistos e descartados, como, por exemplo, a ideia de uma produtividade crescente e ilimitada, que é, de certa forma, o credo central da sociedade capitalista que cresceu e se inflamou sobre os pilares dos velhos modelos de produção. Segundo ele, essa ideia é simplesmente irrealizável, e precisa ser desconstruída o quanto antes.

Em seu lugar temos que compreender e adotar uma postura de cooperação e de sustentabilidade. Ou seja, não “produzir e consumir mais, mais e mais”, mas sim apenas o que for necessário e coerente com o que a nossa estrutura de matéria prima suporta ser produzido.

É evidente que o modelo industrial alavancou (pra melhor) diversos aspectos da nossa vida, no entanto, também nos tornou reféns de uma visão extremamente estreita da vida, viciados em resultados, em números, em produção, em posse de bens materiais, e nos levou a uma tremenda confusão entre viver bem e nos tornarmos apenas uma peça do grande jogo no tabuleiro.

O que vemos, de maneira geral, são as pessoas trabalhando a vida inteira em busca de uma sonhada estabilidade ou riqueza que, a rigor, nunca chega, corroborando aquele velho ditado que diz que “quando somos jovens, temos saúde e tempo, mas não temos dinheiro. Quando nos tornamos adultos, conquistamos certa riqueza, ainda temos saúde, mas não temos tempo pra desfrutar. Finalmente quando envelhecemos, atingimos certa estabilidade financeira e, com sorte, obtemos algum tempo livre pra aproveitar, mas aí já não temos a disposição necessária pra fazer o que gostaríamos.”

A simples revolução proposta por De Masi é romper com esse ciclo vicioso, buscando um modelo de sociedade que seja mais justo e harmonioso para todos.

Vale a pena a leitura, a reflexão e, eventualmente, a revisão dos próprios conceitos.

O que você pensa sobre isso? Deixe seu comentário.










“Uma vida bela é aquela em que as paixões ressurgem e se renovam sempre; em que o risco nunca deixa de atrair a nossa curiosidade; em que todos os eventos – inclusive o trabalho – assumem a modalidade de jogo, com as suas regras e as suas apostas, os seus riscos e os seus azares, as suas destrezas e os seus golpes de sorte, os seus felizes imprevistos e os seus momentos de reflexão. O oposto do jogo (em que tudo é imprevisível) é a burocracia (em que tudo é procedimental).” 

(Domenico de Masi, em "Uma simples revolução", pág 338)






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P.S: 

Embora o autor não aborde especificamente a questão do “desemprego crônico” do ponto de vista de medidas diretas de distribuição de riqueza, penso que essa é uma medida da qual não será possível fugir, cada vez mais, com o passar do tempo.

O fato é que há uma outra grande desigualdade que cresce também de forma galopante no mundo: a desigualdade de capacidade de aprender e de habilidade técnica das pessoas. Me parece que, de certa forma, a vanguarda tecnológica avança em ritmo muito mais acelerado do que a grande maioria da população consegue acompanhar. Quantas vezes já nos deparamos com alguma novidade tecnológica que nos exigiu certa dedicação e estudo pra ser compreendida e assimilada? Na verdade isso acontece todo dia, e a sensação é que cada vez mais multidões vão se tornando obsoletas frente a essa avalanche de inovações e criações.

O resultado é que essa defasagem terá que ser custeada por alguém, em algum momento. Talvez num futuro próximo tenhamos que criar formas de dar condições de sobrevivência a essa grande massa que cada vez mais vai se desencaixando dos novos modelos que vão sendo criados [na verdade, acho que isso já acontece].





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Conheça o autor nessa entrevista disponível no YouTube:










sexta-feira, 10 de abril de 2020

Álbum de família - sobre o tempo, Curitiba, Abril de 2020




Tempo que passa,
e dentre idas e vindas,
esvanece em nossa memória,
e pouco a pouco se torna nada.

Tempo que passa,
e em meio a alegrias e sonhos,
some como a névoa ao amanhecer,
enquanto, quietos, assistimos.

Tempo que passa,
como um deus soberano,
divertindo-se com nossa fugacidade,
à luz suave de um final de tarde ensolarado.

Tempo que passa,
como uma doce canção
aos ouvidos de uma criança que no berço sorri,
e de repente já é tarde.

Tempo que passa,
e talvez, afinal, quem sabe,
na verdade não passe,
mas nós que passemos por ele,
como tudo.

A vida é um grão de poeira que o vento levanta e depois deixa cair.

(Curitiba, Abril de 2020)








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Fotos resgatadas de um álbum de família, digitalizadas em escâner.

Ensaio fotográfico realizado em abril de 1970, por "Reportagens fotográficas Euclydes", na cidade de Valença-RJ.

Os quatro irmãos, filhos do Seu Assis e da Dona Edibia:












 Gerson







 Gerson







 Gerson







Gilson








Gilson







 Gilson







 Geilson







 Geilson






Sidnei







Sidnei







 Sidnei







 Sidnei








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Convido-o a ouvir a música "A lista", de Oswaldo Montenegro, no link abaixo, como uma reflexão sobre a passagem do tempo e seus efeitos na nossa vida:









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"O tempo tudo tira e tudo dá;
tudo se transforma, nada se destrói."

(Giordano Bruno)








Gratidão





Força Sempre