Tiger 900 Rally Pro

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terça-feira, 29 de setembro de 2020

Viagem de moto a Urubici-SC, 21 a 24 de setembro de 2020

 





Viagem solo

1º dia: de Curitiba a Urubici de moto, 500 km

2º dia: camping e caminhadas na região

3º dia: camping e caminhadas na região

4º dia: de Urubici a Curitiba de moto, 550 km



 

Sabe aquela ideia de um dia tirar um tempo pra ir a um lugar tranquilo só pra apreciar a natureza e ficar meio quieto? Pois esse foi o fio condutor dessa pequena viagem. Após muito pensar, acabei decidindo escolher como destino a conhecida e simpática região de Urubici, no alto da Serra Catarinense.

Certamente cada um de nós tem seus interesses e inclinações pessoais, e o que agrada a um, pode não satisfazer a outro. Ainda assim, creio que há na natureza um grande potencial de reconexão e de reequilíbrio das nossas emoções e do nosso psiquismo, que está à disposição para todos, e mais ainda, do qual todos precisamos eventualmente. Temos é que estar atentos e dispostos a fazer o movimento de ir ao encontro desse manancial de energia que está sempre à nossa espera.

Aproveitando a oportunidade e pra amplificar ainda mais essa mexida nas energias resolvi fazer a viagem de moto, colocando a Multistrada no seu melhor ambiente.

Saí de Curitiba em uma manhã fria e cinzenta de segunda-feira (usando quatro camadas de roupas, e ainda assim sentindo frio), sentido sul, pela BR 116. Na altura de Lages, peguei a BR 282 sentido leste e no meio da tarde estava tomando um chocolate quente em uma cafeteria da boa e velha Urubici.










Pouco depois, já no comecinho da noite, cheguei ao conhecido e aprazível camping Terras do Sul, onde já estive outras vezes. Por ser dia de semana, não havia quase ninguém por lá, o que contribuiu bem para a sensação de isolamento que procurava.


































Montei minha barraquinha próximo ao rio, fiz um rápido lanche e me recolhi cedo ao descanso, embalado por um friozinho dos bons, típico daquela região.








Nos dois dias seguintes me dediquei a suavizar o ritmo das ações, prestar atenção ao ambiente, ouvir o marulhar da água dos rios e riachos em volta, os pássaros em revoada no céu, minha própria respiração, e, ao mesmo tempo, fazer algumas fotos, algumas filmagens, ler um pouco e apreciar o passar do dia sentindo cada uma de suas horas.























Dentre muitas percepções que uma experiência como essa nos proporciona, destaca-se a sensação nítida e um tanto inquietante de como o tempo passa rápido, mesmo quando internamente buscamos amainar essa ansiedade inerente à natureza humana. Quando a gente vê, já amanheceu, e de repente já é meio dia, e mais de repente ainda já é noite, e assim segue, sem pausa. Somos, afinal, meros passageiros desse turbilhão. Resta-nos deixar fluir e seguir o embalo.

Senti também um encanto todo especial nesse fenômeno dos rios correndo por entre árvores e campos. E esse som da água deslizando por entre as pedras é simplesmente enternecedor. Me permiti apreciar sem moderação esse pequeno espetáculo. É difícil dizer racionalmente o que há de tão agradável nessa música, mas silenciando a mente e apenas ouvindo parece nos remeter a uma certa ancestralidade, a tempos longínquos, a um conforto primordial e eterno ao mesmo tempo. Verdadeira terapia. Só por esse aspecto a viagem já teria valido a pena demais.

















Aproveitei também pra fazer algumas caminhadas pela região. Às vezes seguindo uma ou outra trilha, mas também andando meio sem destino definido, sem saber o que haveria pela frente, o que também me pareceu um bom exercício, no sentido de me forçar a desapegar dessa abordagem de sempre estar focado em um objetivo, em uma finalidade posterior, em uma recompensa qualquer. Querendo ou não, seja como for, estamos sempre criando e nos prendendo a esquemas mentais próprios, a modelos de pensamento, a parâmetros meio que impostos subconscientemente ou seja lá de onde venham. É só sair um pouquinho desses moldes que tudo parece ganhar novos significados.























E ficar sozinho por um tempo também é sempre bom, logicamente. Prestar atenção nos próprios pensamentos, tentar observar-se meio que à distância (pelo menos um pouquinho), tentar entender quem é esse que vê, que sente, que elabora, que pensa... Acho que seria bacana se fôssemos seres mais simples, mas somos bem complexos e mesmo um tanto confusos, creio.

Há também os aspectos práticos de estar sozinho, que, como tudo na vida, tem seus prós e contras. Gosto muito dessa sensação de poder ficar quieto, sem necessidade de falar ou de responder alguma coisa a alguém. Aprecio muito também a oportunidade de não precisar fazer coordenações com outrem, de poder tomar decisões por conta própria, de me sentir meio dono do espaço mental que me cerca. Em contrapartida, esse estado sempre traz consigo certa sombra de melancolia, aquela sensação de não ter com quem compartilhar uma alegria qualquer, ou alguém com quem trocar uma ideia ou simplesmente bater um papo furado. Como experiência eventual e momentânea é muito bacana. De forma mais contínua e indefinida já não sei...
























Mas apesar de estar sozinho na minha viagem em particular, tive boas conversar com pessoas que encontrei pelo caminho, como o mexicano Pitágoras, viajante de bicicleta, vindo de Salvador, indo pra Ushuaia, depois de volta pro México, ou sabe lá para onde os ventos o levarão. Camarada de espírito aberto, solto no mundo, dono de si (acompanhe uma rápida entrevista com ele no link abaixo).



Conversa com o cicloviajante Pitágoras



Bicicleta do Pitágoras Larque

Instagram: @aguaycamino





Ou o baiano Ítalo, também viajante de bicicleta, com o objetivo de dar a volta ao mundo pedalando, sob o viés da gastronomia e da descoberta de novos sabores.

(Muito bacana poder encontrar e bater um papo com pessoas como esses dois, com estilos de vida, objetivos e visões de mundo tão distantes da grande maioria. São, sem dúvida, pessoas corajosas e de uma sensibilidade diferenciada. Muito boa sorte a eles!)




Bicicleta do Ítalo Motta

Instagram: @gastro.nomade



Ou o catarinense Luís, que encontrei junto de sua casa, à beira de um rio, e que me contou sobre suas histórias de viagens de moto pela Carretera Austral e sobre ter deixado sua motocicleta guardada em uma cidadezinha do interior do Chile desde março deste ano, quando foi surpreendido naquelas bandas por essa medida maluca de isolamento social e de fechamento de fronteiras devido a essa inacreditável pandemia que nos tomou de assalto nos últimos meses.

E é assim, como sabemos, nunca estamos de fato sozinhos. Somos sempre parte de uma grande comunidade, ainda que por vezes invisível.























Na volta pra casa prossegui no sentido anti-horário, descendo pela emblemática Serra do Corvo Branco, que sempre é um trechinho muito bonito e um tanto instigante, seguindo depois até a cidade de Tubarão e de lá sentido norte pela infalivelmente movimentada BR 101 até Curitiba. Dessa vez, porém, sob um raro céu absolutamente azul e um dia claríssimo, que deu uma outra cara a esse percurso que costuma ser meio tenso.

Sobre a Ducati Multistrada 1200 Enduro, não sei que adjetivos usar... Fantástica? Espetacular? É uma senhora moto! Instigante, envolvente, arrebatadora...

A questão é que a gente leva certo tempo pra criar sentimentos com uma motocicleta. E isso acontece, acredite. Aos poucos, vamos estabelecendo essa cumplicidade essencial na sutil relação entre homem e máquina.

E então, Vamos juntos?







Assista no link abaixo a um pequeno vídeo de caminhadas que fiz por lá:


Contemplação da natureza na região de Urubici









E pra quem curte uma câmera de bordo, no link abaixo um pouquinho da Multistrada pelas estradas da região, em particular a descida da Serra do Corvo Branco:


Ducati Multistrada 1200 Enduro descendo a Serra do Corvo Branco








































































Percurso realizado.


Total rodado na viagem: 1.071 km
Consumo médio no último trecho de 460 km: 19,2 km/l






"A vida não passa de um jogo.

É exatamente isso a vida,

quando é bela e feliz... um jogo!

É claro que se podem fazer muitas outras coisas,

transformá-la em dever, em campo de batalha, em prisão,

mas isso não a torna mais bela."

(Hermann Hesse, in "Viagem ao Oriente")







Gratidão



Força Sempre















quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Caminhada aos morros Camapuã e Tucum, Campina Grande do Sul-PR, 13 de Setembro de 2020

 





* em parceria com o amigo Alexandre Ferreira


Caminhada aos morros Camapuã e Tucum, em Campina Grande do Sul, arredores de Curitiba, com o amigo Alexandre.

Duas horas e meia de subida e duas e quinze de descida.

Boa conversa, bom exercício e algumas paisagens inspiradoras pelo caminho.

E ainda não havia feito essa trilha...

Movimento.






























































































































 Tempo total: 4h 50min
Tempo em movimento: 3h 17min
Distância total (ida e volta): 10, 01 km
Ganho de elevação: 1.001 m
Temperatura mínima: 19°
Temperatura máxima: 31°




***   ***   ***



Sobre fotografar em situações de atividade ao ar livre


Estive pensando durante e após essa caminhada sobre o ato de fotografar durante esse tipo de atividade, mais especificamente sobre o quanto isso demanda nossa atenção, e, em consequência, o quanto isso eventualmente tira nossa atenção do momento e local presentes.

É fato que fotografar realmente consome um bocado de energia e atenção mental. Um pouco de reflexão a respeito me revela facilmente que isso vira um hábito. Pra onde quer que se olhe logo abre-se um "olhar fotográfico" - será que esse ângulo daria uma boa foto? - estamos sempre a pensar.

Concluir daí que esse hábito "rouba" parte da nossa atenção do momento presente também pode ser considerado pertinente. Mas também podemos abordar a questão de outro ponto de vista, e considerar que, pelo contrário, a constante reflexão fotográfica nos torna mais atentos aos detalhes e nuances do lugar em que estamos, o que também é verdade.

É inegável, entretanto, que fotografar dá um tremendo trabalho. Não o trabalho de apertar o botão do obturador, logicamente, mas o de olhar, de buscar, de elaborar a imagem, de refletir sobre cada possibilidade, de dialogar incessantemente consigo mesmo.

Tanto que comecei essa caminhada com a câmera guardada na mochila, meio que decidido a apenas curtir o momento, sem me preocupar em fotografar. Mas quando chegamos ao cume das elevações, cedi à tentação, saquei a câmera e comecei a fazer um ou outro clique, e logo me vi arrebatado pelo jogo da imagem.

E acho que é isso. Fotografar é como um jogo ou uma brincadeira. Ou mesmo um desafio. Achar o enquadramento, o ângulo, a luz, o momento, a altura, os elementos que comporão uma boa imagem.

E, pelo menos pra mim, é quase sempre um jogo frustrante. Quer dizer, mais ou menos... Frustrante porque talvez a maior parte das tentativas não dá em nada, saem muito aquém do que aquilo que se imaginou. Mas as poucas que ficam bacanas valem pelas perdidas, e costumam virar o placar da satisfação pessoal. 

E no final das contas, no meu entender, é basicamente uma questão de satisfação pessoal. Abrir as fotos no computador em casa, depois da atividade, com calma, e se surpreender (para o bem e para o mal) com as imagens captadas, é um prazer e um bom exercício de resignação e de eventual (fugaz) satisfação. 

Mas penso que o trabalho de fotografar envolve também, previamente, certa angústia, no sentido do "compromisso" de achar aquilo que se procura - achar a foto ou as fotos que estão escondidas lá fora. É semelhante ao sentimento de olhar para uma folha de papel em branco, com a intenção ou a necessidade de escrever algo que seja bacana, ou de olhar para uma tela em branco, com o desafio de pintar uma obra de arte, no caso dos artistas plásticos. Há sempre aí esse vazio que causa certo desconforto, mas que logo se dissipa quando se passa à ação. 

De vez em quando vejo alguém comentando nas redes sociais sobre a possibilidade (ou o desafio) de fazer esse tipo de atividade, ou ir para aquele lugar maravilhoso e não tirar (nem publicar) nenhuma foto. Apenas apreciar o momento. É uma opção. Talvez seja um exercício interessante. Mas não podemos nos deixar levar pela onda de achar que tudo que fazemos é do jeito errado, e que o certo é o oposto, só por ser oposto.

Reconheço que a popularização das câmeras nos aparelhos celulares de certa forma banalizou o ato fotográfico. É aquela história de chegar a algum lugar e antes de olhar para a paisagem em si, já ir olhando para o visor da câmera pra tirar aquela "foto oficial" pra postar em algum lugar. Nesse sentido, fotografar pode mesmo ser encarado como um ultraje ao momento e lugar presentes.

Mas é mais do que isso. No fundo, no fundo, talvez o que realmente faça diferença seja mesmo a atitude de quem fotografa. Incluído ai a intenção, a finalidade e todas as entrelinhas e nuances do simples ato de apertar um botão. 

Pessoalmente, sigo encarando meus fantasmas e lidando comigo mesmo, seja junto ao visor da câmera, seja diante de uma folha em branco, ao tentar escrever alguma coisa. O caminho é longo e tortuoso, mas de vez em quando me sobra uma ou outra migalha de contentamento, e assim sigo adiante. 

E você, caro leitor, o que acha disso?




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Gratidão



Força Sempre