[* em parceria com Newton Adriano Weber (Caratuva)]
Se
observarmos com atenção, veremos que realmente nossa vida vai sendo tecida
ponto a ponto, todos interligados e dependentes entre si, formando, aos poucos,
um caminho, uma história.
Assim,
essa remada é mais um desses pontos que foi alinhavado há tempos, em conversas
com os amigos e de ouvir falar sobre um local que seria muito bonito e
preservado, “escondido” nos recantos da Baía de Guaraqueçaba e que atende pelo
sugestivo nome de “Reserva Ecológica do Sebuí”.
Acertei os detalhes pra implementar a ideia em
coordenação com o amigo Newton “Caratuva”, da empresa “Viva Guará Outdoor”, especializada em guiar roteiros de canoagem, bike e trekking na região.
Aproveitando
que ele tem por lá alguns caiaques pra alugar, combinei a locação do excelente
Inuk 560, fabricado pelo nosso amigo Mauro Bevilaqua, da Ygará Caiaques,
contornando, dessa forma, a sempre trabalhosa logística de transportar o
próprio barco, ainda mais para um lugar um tanto distante e de difícil acesso
como é lá.
Na
sexta-feira, dia 28 de agosto, acordamos bem cedo e pouco antes das seis da
manhã já estávamos colocando nossos barcos na água, ou melhor, no mangue,
porque como a maré estava bem baixa, havia uma longa faixa entre a terra firme
e a água navegável mais adiante. Mas logo vencemos esse primeiro obstáculo,
ainda sob a escuridão da noite, pouco antes do amanhecer.
Após
alguns minutos, o dia clareou e distinguimos um céu um tanto nublado como
cenário do nosso ambiente. Fomos entrando no ritmo da remada, tendo um certo
trabalho pra desviar dos muitos bancos de areia pelo caminho (em função da maré
vazante), que seguia pelos furados da região, em absoluto silêncio e sem
ninguém em volta.
Por
volta das nove e meia entramos na reentrância que dá acesso ao início da trilha
que leva às cachoeiras da Reserva do Sebuí. Lugar magnífico e inspirador, com
águas claras, emoldurado pelas montanhas ao longe e densa vegetação no entorno.
É difícil explicar porque alguns lugares parecem mais acolhedores do que
outros. Deve ser uma composição de fatores. O fato é que esse espaço em
particular me chamou a atenção por sua delicada beleza e sensação de paz.
Pouco
depois chegamos ao ponto do início da trilha. A essa altura as nuvens já
estavam se dissipando e fomos brindados com a muito bem vinda luminosidade de
um belo céu azul.
Deixamos
os barcos e iniciamos a caminhada. Como havia algum tempo que o local não
recebia visitantes (devido às restrições impostas pela pandemia), a trilha
estava um tanto fechada e o ambiente em volta totalmente intocado. Como prevenção
contra eventuais picadas de cobras, usamos perneiras de proteção.
Mata
fechada, com múltiplas variedades de plantas, riachos e rios de águas
cristalinas, pássaros cantando e o sol se insinuando por entre as folhagens
compuseram o cenário desse fantástico trecho. Se por acaso me visse ali de
repente, acometido por um lapso de falta de memória, bem que poderia pensar
estar em um mundo sem ninguém, absolutamente virgem.
Duas
horas de movimento nos levaram pelo caminho que passa por duas belas cachoeiras
e chega à terceira, a cereja do bolo desse percurso. A queda d’água em si não é
tão grande, mas a geografia, a vegetação e a luz do momento desenharam uma
paisagem das mais inspiradoras, efetivamente cinematográfica.
Aproveitamos o momento e fizemos ali um lanche, a título de almoço, descansamos um pouco e em seguida iniciamos o retorno. Mais duas horas de passadas tranquilas e sem pressa nos levaram de volta aonde havíamos deixado os barcos.
Pouco
antes das três horas retornamos aos remos, iniciando o caminho de volta a Guaraqueçaba.
Ainda que o caminho fosse o mesmo da vinda, era, na verdade, outro. Pois outra
era a luz, outra era a hora, e outros éramos nós, já meio cansados e
amortecidos pelas várias horas de atividade ao ar livre.
A
partir mais ou menos das cinco horas pude apreciar e reverenciar um dos mais
belos fins de tarde que já vivenciei, sob um céu absolutamente límpido, luz
dourada, pássaros em revoada e um silêncio sagrado como uma bênção aos ouvidos.
E ainda emoldurado pelo marulhar da água nos remos, pela paisagem em lento e
constante movimento, pelo leve ondular do barco sobre a água e por aquela
inebriante sensação de um saudável cansaço físico. Se aquele momento fosse um
quadro pintado à mão, não haveria qualquer retoque a ser feito.
Às
sete horas, novamente já totalmente escuro, chegamos de volta ao local de
desembarque em Guaraqueçaba e demos por encerrado nosso pequeno passeio.
Tenho
que deixar aqui meu testemunho de apreço a essa cativante embarcação que é o
caiaque oceânico. Há aqui diversos fatores que fazem esse equipamento tão
especial: a capacidade de percorrer longas distâncias, não fazer nenhum ruído,
demandar um esforço físico constante mas suave, e, como arremate (dentre
outras) ter essas linhas elegantes e fluidas no seu design. Se fosse pra
resumir em uma palavra, acho que seria “simplicidade”. Essa característica que
vem se tornando meio rara nas coisas da modernidade.
Merece
um comentário de destaque também os atributos desse ambiente aquático-marítimo.
Sobretudo a possibilidade de poder usufruir ainda do silêncio tão acolhedor à
alma, e praticamente inexistente no mundo urbano em que vivemos. Mas também a
própria fluidez das águas, com o seu incessante movimento, como a nos lembrar
que nada é rígido e definitivo nesse nosso mundo. Em certo momento nessa
remada, senti algo como uma espécie de aconchego nesse balançar suave, como se
fosse uma dança muito primitiva e ancestral, conectando-me à alma do mundo.
Mágico.
O
desafio é conectar esse tipo de vivência ao nosso dia-a-dia permeado de tarefas
e urgências. Quando voltamos ao mundo terrestre (ainda que tenha sido curta a
experiência fora), parece ocorrer um atraso de sensação de tempo em relação às
coisas, como se tudo estivesse funcionado em uma outra dimensão.
É
difícil avaliar até que ponto o mundo urbano e acelerado que criamos nos afeta
e nos estraga. Porque de tão imersos nele, fica praticamente impossível
imaginar como seria se não fosse assim. Uma coisa é certa: nosso modelo de vida
em cidades tende a nos desconectar da Terra como um organismo vivo, e do qual
fazemos parte. Essa nossa cultura de achar tudo pronto em prateleiras de
supermercados distorce e inebria nossa visão de mundo. Dar uma saidinha à
natureza de vez em quando pode ajudar a compensar essa distância que criamos
dentro de nós mesmos.
Quem
sabe um dia possamos inverter o peso da equação, e tornar os momentos de não
estar junto à natureza a exceção, e não a regra. Será que é um bom sonho?
Vídeo no link abaixo:
Quem precisar de guia e outros serviços relacionados a canoagem, trekking, corrida e mountain bike na região de Guaraqueçaba, é com eles o esquema!
O percurso totaliza cerca de 60 km de asfalto e 80 de estrada de terra, e não é uma estradinha muito fácil. Tem que ter certa disposição, mas vale a pena.
Aproveitei a oportunidade pra colocar o meu mais novo equipamento à prova. Recentemente troquei o bom Renegade Trailhawk que tinha pelo rústico Troller (na verdade, de volta ao Troller, mas agora o modelo novo). O desempenho do carro nessas condições dispensa comentários. Simplesmente espetacular.
Algumas imagens do caminho:
Vídeo no link abaixo:
Assista no link abaixo a um pequeno vídeo dessa remada e caminhada:
Remada de Guaraqueçaba ao Sebuí
Toda vez que leio suas "Aventuras, Desafios & Viagens" Amigo, sinto a necessidade de estar nestes lugares...em todos Eles...de Corpo & Alma.
ResponderExcluirParabéns por nos deixar mais esta Inspiração, Mensagens e Instigar o Conhecimento do Local.
À Viva Guará Outdoor / Caratuva & Andréia, sempre à disposição e conhecedores do que fazem, desejamos Todo Sucesso!!!
[]´s "Marcão" - WEST ADVENTURE, Ano 19!
Excelente, meu amigo. Em breve estaremos remando juntos novamente.
ExcluirFotos fantásticas e textos impecáveis. É simplesmente impossível que um ser "pulsante" aprecie este conteúdo sem que lhe seja despertado o ímpeto de se lançar a uma aventura semelhante. Parabéns pelos belíssimos registros e pela oportunidade que vc ofeetou a si próprio ao realizar tão "fagocitante" e envolvente aventura .
ResponderExcluirFotos fantásticas e textos impecáveis. É simplesmente impossível que um ser "pulsante" aprecie este conteúdo sem que lhe seja despertado o ímpeto de se lançar a uma aventura semelhante. Parabéns pelos belíssimos registros e pela oportunidade que vc ofeetou a si próprio ao realizar tão "fagocitante" e envolvente aventura .
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