Tiger 900 Rally Pro

Tiger 900 Rally Pro
Tiger 900 Rally Pro

terça-feira, 20 de junho de 2023

Viagem de bicicleta "Afluentes do Iguaçu", de Irineópolis - SC a Matos Costa - SC, 8 e 9 de junho de 2023

 




Viagem de bicicleta
de Irineópolis-SC a Matos Costa-SC
dois dias, 132 km

*em parceria com:
Marco Antônio Bednarczuk
Antônio Charan e 
Ferreira




O roteiro dessa viagem foi totalmente desenhado pelo nosso amigo Marcão, que gentilmente me convidou para o passeio alguns dias antes da data prevista. A ideia, basicamente, era fazer um percurso de três dias pela área rural de algumas cidades do interior de Santa Catarina, tendo como referência alguns afluentes do Rio Iguaçu, que o Marcão já conhecia de outras aventuras pela região. 

Reuniram-se então quatro amigos, o Marcão, o Toninho, o Ferreira e eu, e na quarta-feira, véspera do feriado de Corpus Christi, viajamos para o ponto de início do nosso roteiro, o Pesqueiro do Mazzi, na localidade de Poço Preto, próximo à cidade de Irineópolis.

No dia seguinte acordamos cedo e, após o desjejum, fizemos os ajustes finais nas magrelas e pusemo-nos a caminho. Estava muito frio, conforme a previsão. Além disso, havia uma forte neblina envolvendo o ambiente, o que contribuía pra dar aquele aspecto de certo mistério e introspecção, característico dessas situações. 

Cerca de duas horas mais tarde chegamos ao ponto em que deveríamos pegar uma balsa pra cruzar o Rio Timbó, junto à cidadezinha de Santa Cruz do Timbó. No entanto a tal balsa estava fora de operação, e não havia ninguém por perto que pudesse nos auxiliar na travessia com um barco. A alternativa seria voltar um bom trecho até reencontrar a estrada do outro lado, mas isso acrescentaria vários quilômetros ao percurso do dia, e poderia comprometer nosso quadro horário. 

Demos uma olhada em volta e, após algum tempo, achamos um pequeno barco de madeira encostado à margem. Mais alguma procura e encontramos também um remo improvisado escondido no mato. Tomamos então a iniciativa de fazer a travessia do rio no tal barquinho, o que acabou sendo um momento de alegria pelo inusitado da situação e do improviso. 

A manobra foi bem sucedida, mas acabou nos tomando quase uma hora para as quatro idas e vindas, pra levar um de cada vez até a margem oposta. 

Apenas por volta do meio-dia a neblina começou a se dissipar e abriu um belo céu azul sobre nossos horizontes. Passamos pela simpática cidadezinha de Santa Cruz do Timbó e seguimos pelas estradinhas de terra a fora. 

O cenário era encantador. Uma linda região rural, praticamente nenhum movimento de carros, silêncio, e lentamente o calor do sol vencendo o frio até então persistente. 

Assim as horas foram passando rapidamente. Fizemos uma parada num barzinho à beira da estrada, por volta das duas horas da tarde, pra fazer um lanche, mas não havia muitas opções disponíveis. O caminho da tarde nos surpreendeu com uma altimetria bem acentuada, o que foi, aos poucos, comprometendo o desempenho do grupo. 

Já no final da tarde, nos demos conta de que estávamos ainda meio longe do nosso destino do dia, e que logo a noite cairia, mas não havia muito o que fazer. Pouco antes das seis horas já estava totalmente escuro, e, em decorrência, o frio voltou com força. 

Chegamos à cidade de Caçador, nosso local de pernoite nesse dia, apenas às nove horas da noite, bem cansados e gelados de frio, mas satisfeitos pela intensa jornada do dia. Achamos um hotel e nos retiramos para o merecido descanso. 

No outro dia conversamos e resolvemos reajustar o roteiro previsto, encurtando um pouco o percurso total, em função das condições do terreno e da disposição da turma. 

Partimos então para a pernada do dia. Logo de saída pegamos um trecho com muitas subidas longas, amenizadas, no entanto, pelo belo dia de sol e céu azul e pelo pavimento asfaltado do acostamento estreito da SC 350.

Pouco depois o Marcão e o Toninho acharam por bem abortar o prosseguimento, devido ao desgaste intenso do dia anterior e à forte altimetria prevista também para essa jornada. O Ferreira e eu prosseguimos até a cidadezinha de Matos Costa, cerca de 30 km à frente, e lá aguardamos os nossos amigos retornar à cidade de Caçador, e de lá irem buscar os carros no local de início da viagem, para somente depois virem nos resgatar, já quase no final da tarde. Assim encerramos nossa viagem, antes do previsto, mas com todos em segurança e satisfeitos pelo que realizamos. 

Apesar de não termos feito o que pretendíamos inicialmente, fica a satisfação pelo caminho percorrido e pelos aprendizados colhidos em mais essa saída. Saber respeitar o ritmo próprio e manter a harmonia do grupo é mais importante, certamente, do que apensas cumprir meta.

E eu ainda ganhei, de quebra, uma inflamação na garganta, que me deixou meio caído nos dias seguintes, confirmando que, no final das contas, foi uma boa solução ter encerrado antes a viagem.

Deixo aqui o meu mais sincero agradecimento aos parceiros dessa empreitada, pela camaradagem, disposição e maturidade, e em particular ao amigo Marcão, pelo convite, entusiasmo constante e por todo o trabalho de planejamento e montagem da brincadeira. Vamos pensar nas próximas.

Valeu!




1º dia
Do Pesqueiro do Mazzi, Poço Preto, Irineópolis-SC, a Caçador-SC,
84 km, 1.515 m de subidas










Toninho, Marcão e Ferreira, na saída junto à ponte da SC 280 sobre o Rio Timbó


















































Travessia do Rio Timbó, em que não havia balsa










Travessia improvisada do Rio Timbó, com um barco local










Armazém centenário em Santa Cruz do Timbó.
Paramos um pouco ali na frente, observando a arquitetura do casarão, quando a senhora que atendia os clientes no balcão nos viu e nos convidou a entrar. Contou-nos então a história da construção, que coincidia com a história da família, imigrantes de leste Europeu no início do século passado. A simpática conversa rendeu quase meia hora de histórias lado a lado. Coisa simples, mas que só se vê em lugares do interior, como esse.






























Cena pitoresca num rancho à beira da estrada.

A foto ficou legal, mas no momento um cachorro do lugar deu o alarme de "estranho se aproximando", e veio latindo com jeito meio hostil. Na sequência um cara apareceu atrás resmungando "o que eu estava fazendo ali"... Ou seja, foi meio tumultuado o negócio... Mas valeu o esforço. Rsrs.






























































2º dia
De Caçador-SC a Matos Costa-SC
52 km, 1.045 m de subidas










































Gratidão




Força Sempre






domingo, 18 de junho de 2023

Sobre o livro "Walden", de Henry David Thoreau, Curitiba-PR, Junho de 2023

 





Sobre “Walden”

 

Terminei de ler há alguns dias o livro “Walden”, de Henry David Thoreau (1817-1862).

Thoreau, nascido em Concord, Massachusetts, na costa leste dos Estados Unidos, foi uma dessas pessoas que poderíamos chamar de “ponto fora da curva”. Destacou-se, já no seu tempo, pela habilidade de pensar fora dos padrões convencionais e, mais do que isso, de viver de acordo com seus valores.

“Walden” conta a história auto biográfica do autor, então com 28 anos de idade, de viver isolado por dois anos, dois meses e dois dias numa cabana à beira do lago Walden, há alguns quilômetros de distância de sua cidade natal. A pequena casa que lhe serviu de moradia nesse período foi construída por ele mesmo, num terreno emprestado de um amigo. Fez parte também dessa vivência o cultivo dos próprios alimentos, nas terras adjacentes, e, sobretudo, um minucioso exercício de observação e de imersão na natureza.

A rigor ele não viveu assim tão isolado, como a história sugere, pois nos conta que ia à cidade com certa frequência, pra saber das novidades e conversar com as pessoas. Apesar disso, é fato que viveu uma experiência de afastamento da sociedade e dos apelos e atribulações de sua época.

Thoreau formou-se em Harvard, mas não engrenou em nenhuma profissão formal. Labutou em alguns trabalhos ocasionais, mas logo concluiu que seu chamado estava em outro caminho. Foi um crítico contundente dos modelos e formatos preestabelecidos de sua época. Sobre o trabalho, por exemplo, dizia que a maioria das pessoas trabalhava mais do que precisava para ter uma vida decente, e argumentava que podia-se viver muito bem, com menos recursos e, consequentemente, menos trabalho.

Pode-se dizer que foi um defensor do modo de vida minimalista, muito embora esse termo não fosse usado à época. Acreditava que o excesso de coisas e de necessidades escravizava as pessoas à obrigação de ter que adquiri-las, e daí decorria uma série de equívocos na forma de levar a vida.

Mais até do que viver com pouco, era admirador mesmo de certa austeridade, do rigor consigo mesmo e de poucas amenidades.

O livro não é exatamente uma leitura fluida e empolgante. Em vários trechos o autor desce a tal nível de detalhes e de explicações de seu modo de vida, que fica um tanto difícil acompanhar suas descrições.

Mas, bem observado, pode-se concluir que o que ele quis dizer com tais minúcias não foram exatamente os dados e circunstâncias relatados, mas talvez o precioso e requintado nível de sua capacidade de observação e de conexão com a ideia a que ele próprio se propôs.

Sua capacidade de conexão com a natureza transparece nos detalhes das observações que fez no decorrer dessa vivência. Desde a descrição criteriosa dos tipos de plantas e animais, passando pelo relato das mudanças climáticas das estações do ano, até a pormenorizada percepção das nuances do gelo que cobria o lago no inverno, tudo no livro remete a uma profunda imersão no ambiente natural no qual estava inserido.

Mas creio que essa bela obra vai ainda além. Penso que Thoreau buscou, sobretudo, encontrar a si mesmo nessa corajosa vivência a que se submeteu. Ver-se sem véus e sem desculpas, sem os filtros dos papéis sociais, sem as obrigações das rotinas da vida em sociedade, sem as distrações que tanto tempo e atenção nos consomem – eis o desafio que enfrentou e, pode-se dizer, venceu com maestria. E ainda nos deixou um relato denso e inspirador do caminho que trilhou.

Não à toa, tornou-se um nome de referência na Filosofia Ocidental, tendo influenciado o pensamento de destacados escritores e filósofos que vieram depois dele, até os dias atuais.

Cabe destacar ainda dois belos e inspiradores traços de seu legado: a convicção que tinha em suas ideias, a despeito de todas as críticas e preços que teve que pagar para viver seu ideal; e o recado de que o homem precisa e deve buscar uma conexão sobre humana (pra não dizer espiritual) nas coisas do mundo; que a vida é mais do que nossas percepções sensoriais nos sugerem; que precisamos enxergar e ir além da mera sobrevivência material.

Certamente vale a leitura.




***   ***   ***




Transcrevo a seguir alguns trechos destacados da obra, a título de ilustração de suas ideias:

(baseado na edição L&PM Pocket, vol 884, de novembro de 2010, tradução de Denise Bottmann)

 

“A maioria dos homens, mesmo neste país relativamente livre, por mera ignorância e erro, vivem tão ocupados com as falsas preocupações e as lides desnecessariamente pesadas da vida que não conseguem colher seus frutos mais delicados.” (pág 20)


“A opinião pública é um fraco tirano comparada à nossa opinião sobre nós mesmos.” (pág 21)


“Como se fosse possível matar o tempo sem ofender a eternidade.” (pág 21)


“A maioria dos homens leva uma vida de calado desespero.” (pág 21)


“Parece evidente que os homens escolheram deliberadamente o modo usual de viver porque o preferiram a qualquer outro. No entanto eles acreditam honestamente que não tinham outra escolha”. (pag 22)


“Não se pode confiar às cegas em nenhuma maneira de pensar ou de agir, por mais antiga que seja.” (pág 22)


“A maioria das coisas que meus próximos dizem ser boas, acredito do fundo da alma que são ruins, e, se me arrependo de alguma coisa, muito provavelmente é de meu bom comportamento.” (pág 24)


“Uma geração abandona os empreendimentos da outra como navios encalhados.” (pág 24)


“Confúcio disse: ‘saber que sabemos o que sabemos, e que não sabemos o que não sabemos, esta é a verdadeira sabedoria.” (pág 25)


“Seria instrutivo levar uma vida rústica e primitiva, mesmo em plena civilização aparente, ao menos para saber quais são as coisas mais necessárias à vida e quais os métodos usados para obtê-las.” (pág 25)


“As coisas necessárias à vida humana em nosso clima podem ser classificadas de maneira razoavelmente precisa sob as várias rubricas de alimento, abrigo, roupa e combustível.” (pág 25)


“Não só a maioria dos luxos e muitos dos ditos confortos da vida não são indispensáveis, como são francos obstáculos à elevação da humanidade.” (pág 27)


“Ser filósofo não apenas ter pensamentos sutis, nem mesmo fundar uma escola, mas amar a sabedoria a ponto de viver de acordo com seus ditames, uma vida de simplicidade, independência, generosidade e confiança. É resolver alguns problema da vida, não apenas teoricamente, e sim na prática.” (pág 28)


“Mas por que os homens sempre degeneram? O que faz as famílias se acabarem? Qual é a natureza do luxo que enfraquece e destrói nações? Temos plena certeza de que nossa vida não guarda nenhum luxo? O filósofo está à frente de seu tempo também na forma exterior de sua vida.” (pág 28)


“Quando o homem obtém as coisas que são necessárias à vida, há uma outra alternativa além das coisas supérfluas; a saber, agora que ele pode descansar do trabalho mais humilde, vai se aventurar na vida.” (pág 28)


“Penso também naquela classe que na aparência é rica, mas na verdade é a mais terrivelmente pobre de todas, que acumulou um monte de trastes, mas não sabe como usá-los nem como se livrar deles, e assim forjou seus próprios grilhões de ouro e prata.” (pág 29)


“A qualquer tempo, a qualquer hora do dia ou da noite, eu ansiava penetrar na cunha do tempo e também cunhá-lo em meu bordão; colocar-me no cruzamento de duas eternidades, o passado e o futuro, que é exatamente o momento presente; pôr-me ali pleno e pronto.” (pág 29)


“Em vez de estudar como fazer com que valesse a pena para os outros comprar meus cestos, preferi estudar como evitar a necessidade de vende-los.” (pág 31)


“Decidi montar logo meu negócio usando os magros recursos que já possuía, em vez de esperar até conseguir o capital habitual.” (pág 32)


“Às vezes perco a esperança de conseguir qualquer coisa totalmente simples e honesta neste mundo, feita pela mão dos homens.” (pág 37)


“Toda geração ri das modas antigas, mas segue religiosamente as novas.” (pág 37)


“A longo prazo, os homens só alcançam aquilo que almejam.” (pág 38)


“O custo de uma coisa é a quantidade do que chamo de vida que é preciso dar em troca, à vista ou a prazo.” (pág 42)


“O agricultor se debate para resolver o problema da subsistência com uma fórmula mais complicada do que o próprio problema.” (pág 44)


“Ficaremos sempre estudando como conseguir mais coisas dessas e nuca, nem de vez em quando, nos contentaremos com menos?” (pág 46)


“A própria simplicidade e despojamento da vida do homem nos tempos primitivos traz pelo menos esta vantagem, que ainda lhe permitia ser apenas um hóspede na natureza.” (pág 47)


“Quando o homem constrói sua casa, há aí um pouco a mesma aptidão com que uma ave constrói seu ninho.” (pág 55)


“Iremos sempre entregar o prazer da construção ao carpinteiro? O que a arquitetura representa na experiência da maioria dos homens?” (pág 55)


“O estudante que consegue seu sonhado retiro e lazer evitando sistematicamente qualquer trabalho necessário ao homem obtém apenas um lazer indigno e estéril, roubando a si mesmo a experiência, única coisa capaz de tornar o lazer fecundo.” (pág 59)


“Aprendi que o viajante mais rápido é o que vai a pé.” (pág 61)


“Essa coisa de gastar a melhor parte da vida ganhando dinheiro para gozar uma duvidosa liberdade em sua parte menos valiosa me faz lembrar aquele inglês que primeiro foi à Índia fazer fortuna para depois voltar à Inglaterra e levar uma vida de poeta.” (pág 62)


“Se o sujeito vive com simplicidade e come apenas o que planta, e não planta mais do come, e não troca por uma quantidade insuficiente de coisas mais caras e luxuosas, basta cultivar umas poucas carreiras, e que é mais barato lavrar no braço do que arar com bois, e escolher um novo local de tempo em tempos em vez de estercar o velho, e que ele pode fazer toda a sua lida rural com uma mão nas costas, por assim dizer, em algumas horas no verão.” (pág 64)


“Muito mais admirável é o Bhagavad-Gita do que todas as ruínas do Oriente! Torres e templos são luxos de príncipes. Um espírito simples e independente não trabalha sob as ordens de príncipe algum.” (pág 65)


“Quanto às pirâmides, o que mais admira é o fato de terem se encontrado tantos homens tão degradados que passaram a vida construindo uma tumba para algum néscio ambicioso, que teria sido mais sábio e mais valoroso ter afogado no Nilo e depois entregado seu cadáver aos cães.” (pág 66)


“Os homens chegaram a um tal ponto que muitas vezes passam fome, não por falta do necessário, mas por falta do luxo.” (pág 69)


“Existe uma certa categoria de céticos que às vezes me perguntam coisas como, se eu acho que posso viver só de vegetais; e para chegar logo à raiz da questão – pois a raiz é a fé – costumo responder que posso viver de pregos.” (pág 72)


“Sempre que encontrar um homem você verá que tudo o que ele tem, coitado, e muito do finge não ter, vai se arrastando atrás dele, até seus utensílios de cozinha e todos os trastes que ele guarda e não queimará, e o sujeito vai parecer atrelado àquilo, avançando a duras penas.” (pág 73)


“Todos os meus invernos, bem com a maior parte dos meus verões, tinha-os livres e disponíveis para estudar.” (pág 75)


“Minha maior habilidade sempre foi precisar de pouco.” (pág 76)


“Àqueles que não saberiam o que fazer com mais tempo livre do que agora têm, eu aconselharia que trabalhem o dobro do que trabalham agora – que trabalhem até se alforriar e conseguir o recibo de quitação de suas dívidas.” (pág 76)


“Em suma, estou convencido, por fé e pela experiência, que se sustentar nesta terra não é um sofrimento e sim um passatempo, se vivermos com simplicidade e sabedoria.” (pág 77)


“O homem que segue sozinho pode sair hoje; mas quem viaja com outrem precisa esperar até que o outro esteja pronto, e a hora da partida pode demorar muito.” (pág 78)


“É preciso ter talento para a caridade como para qualquer outra coisa.” (pág 78)


“Para mim, um homem não é um bom homem porque me alimenta se estou com fome, ou me aquece se estou com frio, ou me tira de uma vala se eu tiver caído dentro dela. (...) A filantropia não é o amor ao próximo no sentido mais amplo.” (pág 80)


“Há mil homens podando os ramos do mal para apenas um golpeando a raiz, e talvez aquele que dedica mais tempo e mais dinheiro aos necessitados seja quem mais contribui, com seu modo de via, para gerar aquela miséria que inutilmente tenta aliviar.” (pág 81)


“Devíamos compartilhar nossa coragem, não nosso desespero, nossa saúde e nosso bem-estar, não nosso mal estar, e cuidar para que este não se espalhe por contágio.” (pág 82)


“Se algum dia vocês se traírem entrando numa dessas filantropias, não deixem que a mão esquerda saiba o que a direita faz.” (pág 83)


“Se de fato queremos restaurar a humanidade com meios realmente nativos, sejamos primeiro simples e saudáveis como a Natureza, dissipemos as nuvens que nos pesam na fronte, instilemos um pouco de vida em nossos poros. Se empenhe em se tornar um dos valorosos do mundo.” (pág 84)


“Não prenda teu coração ao que é transitório.” (pág 84)


“Mas eu diria a meus semelhantes, de uma vez por todas: enquanto der, vivam livres e sem se prender. Pouca diferença faz se você está preso a um sítio ou na cadeia do condado.” (pág 89)


“Uma morada sem pássaros é como carne sem tempero.” (pág 91)


“É bom te um pouco de água por perto, para dar leveza e flutuação à terra.” (pág 92)


“Os únicos seres felizes no mundo são os que gozam livremente de um vasto horizonte.” (pág 93)


“Cada manhã era um alegre convite para viver minha vida com a mesma simplicidade e, diria eu, inocência da própria natureza.” (pág 94)


“Milhões estão despertos o suficiente para o trabalho físico; mas apenas um em um milhão está desperto o suficiente para um efetivo esforço intelectual, apenas um em cem milhões, para uma vida poética ou sublime. Estar desperto é estar vivo.” (pág 95)


“Desconheço fato mais estimulante do que a inquestionável capacidade do homem de elevar sua vida por um esforço consciente.” (pág 95)


“Afetar a qualidade do dia, tal é a arte suprema.” (pág 95)


“Fui para a mata porque queria viver deliberadamente, enfrentar apenas os fatos essenciais da vida e ver se não poderia aprender o que ela tinha a ensinar, em vez de, vindo a morrer, descobrir que não tinha vivido.” (pág 95)


“Queria viver profundamente e sugar a vida até a medula, viver com tanto vigor e de forma tão espartana que eliminasse tudo o que não fosse vida; acuá-la num canto e reduzi-la a seus termos mais simples.” (pág 96)


“Nossa vida se perde no detalhe.” (pág 96)


“Simplicidade, simplicidade, simplicidade! E digo: tenham dois ou três afazeres, enão cem ou mil.” (pág 96)


“Em meio ao oceano encapelado da vida civilizada, são tantas as nuvens, as tormentas, as areias movediças, os mil e um pontos a levar em consideração, que um homem, se não quiser naufragar e ir ao fundo sem jamais atingir seu porto, tem de navegar por cálculo e, para consegui-lo, precisa ser realmente bom de cálculo.” (pág 96)


“Vivemos a vida mesquinha que vivemos porque nossa visão não atravessa a superfície das coisas. Pensamos que as coisas são o que parecem ser.” (pág 101)


“O universo responde constantemente, obediente, às nossas concepções.” (pág 101)


“Se estamos vivos, vamos cuidar dos nossos afazeres.” (pág 102)


“Sempre lamentei não ser tão sábio quanto no dia em que nasci.” (pág 102)


“Com um pouco mais de vagar e deliberação na escolha de suas metas, provavelmente todos os homens se tornariam em essência estudiosos e observadores, pois decerto nossa natureza e nossa destino interessam a todos por igual.” (pág 103)


“Minha morada era mais favorável, não só ao pensamento, mas à leitura séria, do que uma universidade.” (pág 103)


“Ler bem, isto é, ler livros verdadeiros com espírito verdadeiro, é um exercício nobre, e que exigirá do leitor mais do que qualquer exercício valorizado pelos costumes do momento. Requer um treino como o dos atletas, a dedicação constante quase da vida toda a essa objetivo.” (pág 104)


“As mais nobres palavras escritas geralmente estão muito além ou acima da linguagem oral fugidia, tal como o firmamento com suas estrelas está além das nuvens.” (pág 105)


“Uma palavra escrita é a mais valiosa relíquia. É algo ao mesmo tempo mais íntimo e mais universal do que qualquer outra obra de arte.” (pág 106)


“Os livros são o tesouro do mundo e a digna herança de gerações e nações.” (pág 106)


“Só é leitura em sentido elevado, aquela em que temos que ficar na ponta dos pés para ler e à qual devotamos nossas horas mais despertas e alertas.” (pág 107)


“Confesso que não faço nenhuma grande diferença entre o analfabetismo do concidadão que não sabe ler uma letra e o analfabetismo daquele que aprendeu a ler apenas coisas para crianças e inteligências fracas.” (pág 110)


“Gastamos mais em praticamente qualquer item de nossa saúde ou falta de saúde física do que em nossa saúde mental. É hora de termos escolas incomuns, para não abandonarmos nossa educação no momento em que entramos na idade adulta. (pág 111)


“Pobres de nós: tendo de alimentar o gado e cuidar da loja, ficamos longe da escola tempo demais e nossa educação é tristemente esquecida.” (pág 111)


“Nenhum método ou disciplina pode substituir a necessidade de se estar sempre alerta. O que é um curso de história, de filosofia ou de poesia, por mais seleto que seja, ou a melhor companhia ou a mais admirável rotina de vida, em comparação à disciplina de olhar sempre o que há para ser visto?” (pág 113)


“Às vezes, numa manhã de verão, depois de tomar meu banho costumeiro, eu ficava sentado à minha porta ensolarada desde o nascer do sol até o meio dia, enlevado num devaneio, entre os pinheiros, as nogueiras e os sumagres, em serena solidão e quietude, enquanto as aves cantavam ao redor ou cruzavam a casa num voo silencioso, até que, com o sol batendo em minha janela ocidental ou o ruído da carroça de algum viajante na estrada à distância, eu era lembrado do passar do tempo.” (pág 113)


“De modo geral, eu não me importava como transcorriam as horas. (...) Era de manhã, e eis que de repente era o entardecer, e eu não tinha feito de nada de memorável. Em vez de cantar como os pássaros, eu sorria silenciosamente à minha sorte incessante.” (pág 114)


“Meus dias não eram dias da semana, trazendo o sinete de alguma divindade pagã, e tampouco eram picotados em horas e esfolados pelo tique-taque de um relógio.” (pág 114)


“Sem dúvida, para meus concidadãos isso era pura ociosidade; mas se as aves e as flores tivessem me testado pelo critério delas, eu nada ficaria a dever. Um homem deve encontrar as ocasiões próprias em si mesmo, certamente. O dia natural é muito calmo, e dificilmente lhe reprovará a indolência.” (pág 114)


“Siga seu gênio, e ele nunca vai deixar de lhe mostrar uma nova perspectiva a cada hora.” (pág 114)


“Tenho, por assim dizer, meu sol, minha lua e minhas estrelas, e todo um pequeno mundo só para mim.” (pág 130)


“Não há como existir nenhuma negra melancolia para quem vive entre a Natureza e tem serenidade dos sentidos.” (pág 131)


“Enquanto desfruto a amizade das estações, sinto que nada conseguirá fazer da vida um fardo para mim.” (pág 131)


“Nunca me senti solitário, ou sequer oprimido por um sentimento de solidão, exceto um única vez, e foi poucas semanas depois de ter vindo para a mata, quando, durante uma hora, fiquei em dúvida se a proximidade humana não seria essencial para uma vida serena e saudável.” (pág 131)


“No meio de uma chuva mansa, tomado por esses pensamentos, de súbito senti uma companhia tão doce e benéfica na Natureza, no próprio tamborila das gotas de chuva, em cada som e cada imagem ao redor da minha casa, uma amistosidade infinda e inexplicável, tudo ao mesmo tempo, como uma atmosfera me sustentando.” (pág 131)


“Tive uma percepção tão clara da presença de uma afinidade, mesmo em cenários que costumamos considerar tristes e ermos.” (pág 132)


“Esta terra inteira que habitamos é apenas um ponto no espaço.” (pág 132)


“Descobri que nem o maior esforço das pernas consegue aproximar dois espíritos. Queremos morar perto do que?” (pág 133)


“Quão vasta e profunda é a influência dos poderes sutis do Céu e da Terra!” (pág 134)


“Com o pensamento, podemos estar ao nosso próprio lado, num sentido saudável.” (pág 134)


“Acho saudável ficar sozinho a maior parte do tempo. Ter companhia, mesmo a melhor delas, logo cansa e desgasta. Gosto de ficar sozinho. Nunca encontrei uma companhia mais companheira do que a solidão. Em geral estamos mais solitários quando saímos e convivemos com os homens do que quando ficamos em nossos aposentos.” (pág 135)


“O convício social, geralmente, é banal demais.” (pág 135)


“Vivemos sempre juntos, um no caminho do outro, um tropeçando no outro, e penso que assim perdemos um certo respeito mútuo. Sem dúvida, uma menor frequência bastaria para todas as comunicações importantes e sinceras.” (pág 135)


“E como eu não me entenderia com a terra? Não sou também folha e húmus?” (pág 137)


“As pessoas, como as nações, precisam de fronteiras adequadas, largas e naturais, e mesmo um considerável espaço neutro entre elas.” (pág 140)


“Meninas, meninos, moças em geral pareciam contentes de estar na mata. Olhavam o lago e as flores, e aproveitavam o tempo. Os homens de negócios, mesmo os agricultores, só pensavam na solidão e no trabalho, e na grande distância entre minha morada e qualquer outra coisa. (...) Homens impacientes e cheios de compromissos, como todo o tempo ocupado em ganhar ou manter a vida.” (pág 150)


“O fundo da questão é que, se um homem está vivo, há sempre o perigo de que possa morrer. (...) Um homem cria os riscos que corre.” (pág 151)


“O que hei de aprender sobre o feijão, e o feijão sobre mim? Cuido, dou uma carpida, de manhã e de tarde dou uma olhada nele; e esta é minha jornada de trabalho.” (pág 152)


“O trabalho manual, mesmo quando se torna enfadonho e pesado, talvez nunca seja a pior forma de ociosidade. Ele guarda uma moral constante e imperecível.” (pág 154)


“Assim, aqueles dias de verão que alguns contemporâneos meus dedicavam às belas artes em Boston ou Roma, e outros à contemplação na Índia, e outros ao comércio em Londres ou Nova York, eu, com os demais agricultores da Nova Inglaterra, dediquei à lavoura.” (pág 158)


“Nunca trapacearíamos, insultaríamos, expulsaríamos uns aos outros com nossa mesquinharia, se houvesse um cerne de valor e amizade.” (pág 161)


“Algo que sempre nos faz bem (...) é reconhecer alguma generosidade no homem ou na Natureza, partilhar alguma alegria pura e heroica.” (pág 161)


“Todos os dias, ou dia sim, dia não, eu andava até o povoado para ouvir um pouco dos mexericos que circulam incessantemente por lá, (...) que, tomados em doses homeopáticas, realmente eram, à sua maneira, tão revigorantes quanto o farfalhar das folhas e o chilrar das rãs. Tal como eu caminhava pela mata para ver os pássaros e os esquilos, também caminhava pelo povoado para ver os homens e os meninos.” (pág 163)


“Só quando nos perdemos, em outras palavras, só quando perdemos o mundo, é que começamos a nos encontrar, entendemos onde estamos e compreendemos a infinita extensão de nossas relações.” (pág 167)


“Onde quer que um homem vá, os homens vão persegui-lo a agarrá-lo com as patas sujas de suas instituições sórdidas, e, se puderem, vão obrigá-lo a fazer parte de sua temerária sociedade (...).” (pág 167)


“Nunca fui molestado por ninguém, a não ser pelos representantes do Estado.” (pág 167)


“Talvez não exista na face da Terra nada tão límpido, tão puro e, ao mesmo tempo, tão vasto quanto um lago. (...) Algum dia, quem sabe, olharemos do alto a superfície do ar, e veremos por onde a percorre um espírito ainda mais sutil.” (pág 183)


“Naquela água transparente, aparentemente sem fundo, refletindo as nuvens, eu me sentia flutuar no ar como um balão.” (pág 184)


“Quando era mais jovem, eu passava muitas horas flutuando em sua superfície ao sabor do zéfiro, depois de remar até o centro dele, deitado de costas e de comprido nos bancos, no final das manhãs de verão, perdido em devaneios, até ser despertado pelo barco tocando a areia, e levantava para ver a que praia meus fados haviam me impelido; dias em que o ócio era o trabalho mais atraente e produtivo. Muitas manhãs roubei, preferindo passar assim a parte mais valiosa do dia; pois eu era rido não em dinheiro, e sim em horas de sol e dias de verão.” (pág 186)


“Em vez de visitar eruditos, fiz muitas visitas a certas árvores, de espécie rara aqui na região, no meio de algum remoto pasto, nos recessos de algum bosque ou pântano, ou no alto de alguma colina.” (pág 194)


“Mas a única verdadeira América é o país onde você tem liberdade de seguir um modo de vida que lhe permita passar sem essas coisas, e onde o Estado não se empenha em obrigá-lo a sustentar a escravidão, a guerra e outras despesas supérfluas que, direta ou indiretamente, resultam do uso de tais coisas.” (pág 198)


“Vai, vai pescar e caçar todos os dias ao derredor – e ao redor do derredor – e descansa sem receio junto aos riachos e às lareiras. Lembra teu Criador enquanto és jovem. Levanta-te despreocupado antes do alvorecer, e vai em busca de aventuras. Que o meio dia te encontre em outros lagos, e que seja lar onde quer que a noite te surpreenda. Não existem campos mais vastos a percorrer nem jogos mais importantes a jogar.” (pág 200)


“Abriga-te sob a nuvem, enquanto eles fogem para as carroças e telheiros. Que teu sustento não te seja profissão, e sim esporte. Goza a terra, não sejas o dono dela. É por falta de iniciativa e de fé que estão os homens onde estão, comprando e vendendo, gastando a vida como servos.” (pág 200)


“Devíamos chegar em casa vindos de longe, de aventuras e perigos, de descobertas diárias, com um novo caráter e com novas experiências.” (pág 201)


“Eu encontrava, e ainda encontro, em mim, um instinto para uma vida mais elevada ou, como dizem, espiritual, como ocorre com muitos homens, e um instinto para um nível primitivo e a vida selvagem, e reverencia ambos.” (pág 203)


“Às vezes gosto de agarrar a vida com rudeza e passar meu dia à semelhança dos animais.” (pág 203)


“Pescadores, caçadores, lenhadores e outros que passam a vida nos campos e florestas, em certo sentido como partes da própria Natureza, muitas vezes têm melhor disposição para observá-la, nos intervalos de suas atividades, do que os filósofos ou mesmo os poetas, que se aproximam dela com muita expectativa.” (pág 203)


“Há algo de essencialmente impuro nessa dieta e em qualquer carne.” (pág 206)


“A objeção prática ao consumo de carne, em eu caso, era a impureza; além disso, depois de apanhar, limpar, cozinhar e comer meu peixe, eu não me sentia essencialmente nutrido. Era uma coisa insignificante e desnecessária, e custava mais do que rendia. Um pouco de pão ou algumas batatas teriam dado na mesma, com menos incômodo e menos sujeira.” (pág 207)


“Acredito que todo homem que algum dia se empenhou seriamente em preservar ao máximo suas faculdades poéticas ou mais elevadas teve uma especial propensão em se abster de alimentos de origem animal, e de grandes quantidades de qualquer alimento.” (pág 207)


“Não tenho dúvida de que faz parte do destino da espécie humana, em seu gradual aperfeiçoamento, deixar de comer animais.” (pág 208)


“Quando um homem dá ouvidos às sugestões levíssimas, mas constantes, de seu gênio interior, que certamente são verdadeiras, ele não sabe a que extremos, ou mesmo a que loucura, pode ser levado; e no entanto é aí, à medida que se torna mais firme e fiel, que encontra seu caminho.” (pág 208)


“Se o dia e a noite são tais que você os acolhe com alegria, se a vida emana um perfume como as flores e ervas docemente aromáticas, e é mais flexível, mais cintilante, mais imortal – este é o seu sucesso.” (pág 209)


“Os maiores valores e ganhos são os mais difíceis de ser apreciados. Não raro chegamos a duvidar que existam.” (pág 209)


“Talvez os fatos mais assombrosos e mais reais nunca sejam comunicados de homem a homem. A verdadeira colheita de minha vida diária é intangível e indescritível como as cores da manhã ou do anoitecer.” (pág 209)


“Nossa vida é alarmantemente moral. Nunca há um instante de trégua entre a virtude e o vício. A bondade é o único investimento que nunca falha.” (pág 210)


“Temos consciência de um animal dentro de nós, que desperta na proporção em que nossa natureza mais elevada adormece.” (pág 211)


“A energia criadora, que se dissipa e nos torna impuros quando estamos à solta, revigora-nos e nos inspira quando somos continentes. A castidade é o florescimento do homem; e o que se chama Gênio, Heroísmo, Santidade e similares não são senão os vários frutos que se seguem a ela. O homem flui diretamente para Deus quando o canal da pureza está desobstruído.” (pág 211)


“A sensualidade é uma só, mesmo que assuma muitas formas; a pureza é uma só. Tanto faz se um homem come, bebe, coabita ou dorme sensualmente.” (pág 212)


“Todo homem é o construtor de um templo, chamado corpo (...). Somos todos escultores e pintores, e nosso material é nossa própria carne, nosso sangue e nossos ossos. Toda nobreza logo começa a refinar os traços de um homem; toda mesquinharia ou sensualidade, a embrutecê-lo.” (pág 213)


“Uma voz lhe disse: por que você fica aqui e vive esta vida mesquinha e cansativa, quando lhe é possível uma existência gloriosa? (...) Mas como sair desta condição e realmente migrar para lá? A única ideia que lhe ocorreu foi praticar alguma nova austeridade, deixar a mente lhe entrar no corpo e redimi-lo, e tratar a si mesmo com respeito sempre maior.” (pág 214)


“Recolhi-me ainda mais em minha concha, e me dediquei a manter um fogo brilhante dentro de minha casa e dentro do meu peito.” (pág 237)


“Sempre se pode enxergar um rosto no fogo. O trabalhador, olhando-o à noite, purifica seus pensamentos eliminando os refugos e aspectos terrenos que se acumularam neles durante o dia.” (pág 243)


“Mas ali estava a alvorecente Natureza, na qual vivem todas as criaturas, olhando por minhas janelas largas com um rosto sereno e satisfeito, e nenhuma pergunta em seus lábios. Acordei para uma pergunta já respondida, para a Natureza e a luz do dia.” (pág 268)


“A Natureza não faz nenhuma pergunta e não responde a nenhuma que fazemos nós mortais.” (pág 268)


“Seríamos abençoados se vivêssemos sempre no presente, e aproveitássemos toda ocorrência que nos sucede, como o capim que revela a influência do mais leve orvalho a umedecê-lo, em vez de gastar o nosso tempo expiando a perda de oportunidades passadas." (pág 297)


“Ao mesmo tempo em que queremos explorar e aprender todas as coisas, esperamos que todas as coisas sejam misteriosas e insondáveis, que a terra e o mar sejam infinitamente selvagens, imapeados e insondados porque insondáveis. Nunca nos cansaremos da Natureza.” (pág 300)


“Seja o Colombo de novos continentes e mundos inteiros dentro de si mesmo, abrindo novos canais, não de comércio, mas de pensamento.” (pág 303)


“Deixei a mata por uma razão tão boa quanto a que me levou para lá. Talvez me parecesse que eu tinha várias outras vidas a viver, e não podia dedicar mais tempo àquela. É notável a facilidade e a insensibilidade com que caímos numa determinada rotina, e construímos uma trilha batida para nós mesmos.” (pág 305)


“A pureza amada pelos homens é como a neblina que envolve a terra, e não como o éter-celeste mais além.” (pág 307)


“Que cada qual cuide de seus afazeres, e se empenhe em ser como foi feito.” (pág 307)


“Se um homem não mantém o passo com seus companheiros, talvez seja porque ouve um outro toque de tambor.” (pág 307)


“Sua perseguição de um único fim, sua resolução e sua elevada devoção o dotaram, sem que soubesse, da eterna juventude.” (pág 308)


“Por mais mesquinha que seja sua vida, aceite-a e viva-a; não se esquive a ela nem a trate em termos duros. (...) Quem vê defeito em tudo verá defeitos até no paraíso. Ame sua vida, por pobre que seja.” (pág 309)


“O poente se reflete na janelas do albergue de mendigos com o mesmo fulgor com que brilha na morada dos ricos. (...) Não vejo por que um espírito sereno não possa viver com o mesmo contentamento e com pensamentos alegres num asilo ou num palácio.” (pág 309)


“Se eu estivesse confinado ao canto de um sótão por todos os meus dias, como uma aranha, o mundo continuaria igualmente vasto para mim, enquanto eu estivesse com meus pensamentos.” (pág 310)


“A riqueza supérflua só pode comprar supérfluos. Não é preciso dinheiro para comprar o necessário à alma.” (pág 310)


“Tenho prazer em seguir meus rumos – não desfilar com pompa e ostentação num local em evidência, mas andar junto com o Construtor do universo, se puder.” (pág 311)


“Gosto de pensar, de assentar, de gravitar para aquilo que me atrai com mais força e retidão –não me segurar no braço da balança e tentar pesar menos – não supor um caso, mas tomar o caso tal como é; percorrer o único caminho que posso, e no qual nenhum poder é capaz de resistir a mim.” (pág 311)


“Finque o prego e dobre sua ponta com tal firmeza que você possa acordar de noite e pensar com satisfação em seu trabalho – um trabalho para o qual não se envergonharia de invocar a Musa.” (pág 311)


“Mais do que o amor, do que o dinheiro, do que a fama, deem-me a verdade.” (pág 312)


“A luz que extingue nossos olhos é escuridão para nós. Só amanhece o dia para o qual estamos despertos. O dia nunca cessa de amanhecer.” (pág 314)






E aí, o que achou?





***   ***   ***





Extra:


No dia 23 de maio fui, mais uma vez, fazer uma remada solo na represa Passaúna, aqui em Curitiba. Estava um dia espetacularmente claro e azul. Remei cerca de cinco horas praticamente sem interrupção, tentando, tanto quanto possível, não pensar em nada. 

Ainda me surpreendo com a incrível capacidade desse fantástico equipamento que é o caiaque oceânico de nos transportar para outras "dimensões". Só posso ser grato por esse dia e por essas possibilidades.
























































 
































































 



 



 

 


 

 

 Gratidão



Força Sempre