Em 1990 estávamos no terceiro ano da AMAN, no Curso de Infantaria, e naquela época tínhamos energia e criatividade em ebulição. Numa conversa informal depois de um almoço de sábado, surgiu a ideia de "por que não descer o Rio Paraíba do Sul de bote, até o mar?".
Entre tantas outras, essa cresceu e virou realidade alguns meses depois. A concepção inicial era descer o Rio Paraíba do Sul, a partir de Resende, embarcados num bote Zephir, inflável, que pegaríamos emprestado do Curso de Engenharia, até o mar, num trajeto que estimávamos em torno de 400 km.
O planejamento demandou meses de pesquisas em cartas topográficas, um árduo trabalho de convencimento dos oficiais instrutores (de que não iríamos "virar notícia"), muitas dúvidas e dificuldades de levantamento de recursos.
No dia da partida éramos oito Cadetes - William, De Moraes, Flammarion, Varjão, Ricardo, Mendanha, Giordani e eu - mais o Emanuel, irmão mais novo do Mendanha. O nosso carro de apoio era o Fusca emprestado do pai do Mendanha. Como faríamos pra voltar do ponto em que parássemos pra Resende com todo aquele material embarcado em um Fusca não tínhamos a mínima ideia.
No final remamos (ou simplesmente nos deixamos levar pela lenta correnteza) por 200 km, até a cidade de Três Rios, durante quatro dias e meio, quando decidimos encerrar a "expedição", em função principalmente do avanço muito mais lento do que havíamos previsto, mas também por conta de alguns contra tempos - como um rasgo no bote navegando no meio da noite, um dos tripulantes acidentado com um grave corte de facão no dedo da mão e algumas passagens encachoeiradas do rio que dividiram a equipe e desafiaram nossos instintos aventureiros.
Logicamente foi uma brincadeira super divertida, e acabamos "virando notícia" apenas para os nossos registros pessoais. Quem foi deve se lembrar até hoje dos biscoitos com gosto de gasolina do porta malas do Fusca, dos revezamentos malucos ao volante do bravo carrinho, procurando caminhos nas estradinhas de terra pra interceptar a passagem do barco, e das intermináveis discussões se deveríamos ou não nos lançar em certas corredeiras, e se deveríamos ou não prosseguir até o final.
A volta pra Resende foi um capítulo à parte, que envolveu carona em caminhão da Prefeitura de Três Rios, o transporte de toda a tralha em duas pernadas de ônibus intermunicipal convencional e muito jogo de cintura que só se tem quando não se tem muita noção do que se está fazendo (risos).
No momento da partida |
O nosso plano consistia em ter seis colegas remando, e dois no carro de apoio, revezando de vez em quando |
Fazendo o conserto do rasgo (que quase nos levou a pique) da noite anterior |
Vida a bordo - a essa altura já havíamos improvisado uma vela com ponchos e bambu |
Zephir a vela! |
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