Tiger 900 Rally Pro

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domingo, 16 de agosto de 2015

Viagem de bicicleta às Montanhas Rochosas (1100 km), Canadá - 25 Jul a 06 Set 1998






     
     A viagem ao Canadá, no outono de 1998 (lá), foi a primeira viagem para fora do Brasil que fiz totalmente por conta própria, e foi, de certa forma, consequência do "impulso" representado pela viagem ao Nepal, dois anos antes.





     A inspiração do destino surgiu de uma reportagem que lera algum tempo antes na extinta revista "Caminhos da Terra", que se referia à Icefields Parkway como "a estrada mais bonita do mundo". Juntando a essa informação meu desejo ardente de fazer uma viagem solo, de preferência para um lugar distante e bonito, e ainda o sonho sempre presente de fazer uma viagem de bike auto-suficiente, deu no que deu.





     No par de anos de 1997 e 1998 servia em Boa Vista, no estado de Roraima. Era Tenente de Infantaria de um Batalhão de Infantaria de Selva em que só no que se falava era sobre o Curso de Guerra na Selva, realizado em Manaus, e que era divulgado e exibido como "a grande joia da coroa" para militares que estavam na fase da carreira em que eu estava. O que isso quer dizer (entre outras coisas), é que sair de Boa Vista, no meio do ano, de férias, pra ir pedalar sozinho numa estrada distante no interior do Canadá era, para o "status dominante", algo meio sem sentido (pra dizer o mínimo).

     Muitos anos mais tarde tomei contato com um ponto de vista do grande escritor alemão Hermann Hesse que talvez explique, em parte, um pouco desse meu "desvio de conduta" naquela época. Diz ele:

     "Existe uma virtude - e só uma - a que muito amo: - a obstinação. Não atribuo o mesmo valor a todas as virtudes de que falam os livros e os professores. Entretanto, poderíamos abranger sob uma só palavra todas as virtudes inventadas pelo homem. Virtude é - obedecer! Toda a questão está em sabermos a quem obedecer... Também a obstinação é obediência. Mas todas as outras virtudes, tão estimadas e decantadas, são obediência a leis feitas pelos homens. Só a obstinação é que não dá a menor importância a tais leis... O obstinado obedece a outra lei, a uma lei única, absolutamente sagrada - à lei em si mesma, ao sentido de seu próprio ser".

     A quem devemos obedecer, afinal?

     Não quero com isso fazer ou sugerir um juízo de valor entre uma opção e outra, porque isso não seria devido. No final das contas, tudo tem sua importância e suas riquezas, certamente. Mas a questão de pensarmos e estarmos atentos a que dedicamos nossa vida é que é a chave.







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     A viagem foi de um valor imensurável. Acho que foi a viagem "mais bonita" que já fiz. O Canadá é efetivamente apaixonante para quem gosta da vida ao ar livre, de paisagens, de montanhas e de gente educada. 





Niagara Falls, na costa leste, próximo de Toronto.







     Foi também bem trabalhoso. A começar pela via sacra pra chegar no lugar que queria. De Boa Vista voei pra São Paulo, e de lá pra Toronto, na costa leste do Canadá. Passei uns dias na região, visitando as Cataratas de Niágara e a própria Toronto. A intenção era fazer a viagem pra Vancouver, na costa oeste, de trem, mas devido ao preço muito alto dessa opção, resolvi ir mesmo de avião. Depois de passar alguns dias em Vancouver finalizando o planejamento da viagem, peguei um ônibus pra Jasper, numa pernada que levou cerca de dez horas de estrada. Lá começou efetivamente a parte ciclística da viagem. Pedalei até Banff, situada cerca de 300 km ao sul, e de lá refiz todo o caminho de volta pra casa (Vancouver-Toronto-São Paulo-Boa Vista).



Orla de Vancouver


     O texto a seguir foi escrito algumas semanas depois do retorno, e retrata bem meu entusiasmo e minha alegria pela viagem.








Icefields Parkway

A rota dos sonhos


     Eram sete horas da manhã de um dia qualquer do mês de agosto quando passei pela placa de “boas vindas” na saída de Jasper, uma cidadezinha no meio das Montanhas Rochosas Canadenses, partindo na direção de Banff, uma outra pequena cidade trezentos quilômetros ao sul, numa das regiões muito justamente considerada como das mais bonitas do que conhecemos desse nosso pequeno-grande mundo.







     Sol, céu azul, temperatura agradável tendendo a frio, a bicicleta carregada com autonomia de barraca, saco de dormir, “cozinha”, roupas de frio, ferramentas, equipamento fotográfico, mapas e comida para pelo menos uma semana. Sem nem perceber mais que dia da semana era, vivenciava conscientemente esse momento mágico de partir para a realização de um desses nossos sonhos acalentados há tempos, e  trabalhados passo a passo até sua realização.






     A viagem começou, a bem da verdade, dois anos antes, ao ler uma reportagem na revista “Terra” sobre “A Estrada dos Sonhos”, atravessou um tempo de incubação e começou a virar realidade na maratona aérea de quase vinte e quatro horas de vôo no total, que separam Boa Vista (no extremo norte do Brasil) de Vancouver, a principal cidade da Costa Oeste canadense, que me serviu de base para me ambientar no país e comprar alguns equipamentos que me faltavam.






     Vancouver é uma bonita cidade à beira do Oceano Pacífico, com uma extensa e agradável ciclovia por quase toda a orla marítima, muita gente bonita pedalando e patinando nos finais de tarde e aquele astral de curtição dos 'lugares que sabem viver a vida’. Pra quem curte a noite a cidade não deixa nada a desejar para os mais badalados points internacionais, com seus restaurantezinhos super-transados e muito movimento nas ruas. 








     Mas, para os apaixonados pela vida ao ar livre, o bacana mesmo é a variedade e a qualidade do comércio de artigos outdoor. Fiquei impressionado com a popularidade e a maturidade dos equipamentos dos caras, e de como “eles pensam em tudo”. As lojas de bike também são de altíssimo padrão. Encontra-se de tudo, para os mais variados gostos e bolsos.







     A ideia inicial era comprar a bike e toda a tralha de camping. Mas, bisbilhotando nas inúmeras lojas de ciclismo da cidade e pensando melhor (e imaginando a odisseia que seria voltar embarcando e desembarcando de avião carregando uma bicicleta), resolvi alugar uma magrela e comprar só o equipamento necessário. Depois de procurar bastante achei minha companheira de estrada “escondida” numa lojinha discreta perto de um parque da cidade. Uma mountain bike GT, 21 marchas, com pedaleira, bagageiro, cadeado e capacete, por oitenta dólares canadenses (sessenta e quatro reais) durante um mês  -  além de tudo foi um bom negócio.




Pôr do sol na costa oeste, Vancouver


     Partindo de Vancouver foram mais doze horas de ônibus até Jasper, vilarejo dentro do Parque Nacional de mesmo nome, de onde a viagem de bike estava programada pra começar. Fiquei por lá quatro dias. Tempo pra perceber o que é um Parque Nacional no Canadá, comprar mapas, passe, comida, roupa de chuva e explorar a fantástica região em volta. 






      Os lagos cristalinos emoldurados pelas montanhas, as intermináveis florestas de pinheiros e trilhas muito bem marcadas foram um estimulante e merecido começo. O terceiro dia, numa pedalada até o paradisíaco Maligne Lake, foi o mais extenso da viagem, com cento e vinte quilômetros no odômetro.






     Com tudo preparado e cheio de vontade,  pegar a estrada em direção a Banff foi, por si só, suficiente pra compensar os inevitáveis “desafios” de chegar até ali. Ainda que fosse só um começo, já era uma vitória.








      O primeiro dia na estrada foi brindado com um fantástico sol e seu irmão o céu azul. E a energia era tanta que fiz até um desviozinho de trinta  quilômetros  pra conhecer um lago congelado aos pés do Monte Edith Cavell e do Angel Glacier  -  valeu muitíssimo a pena, apesar dos quinze km subindo. A paisagem, o ar, o astral, compensavam qualquer coisa. O dia terminou ao som de “Desire”, U2,  dos acordes do violão de um canadense numa roda de hóspedes do Athabasca Falls Hostel, com 72 km de pedal.





O dia seguinte amanheceu nublado, mas nem por isso foi menos interessante. Mais à vontade com o ritmo da estrada, muito boa, diga-se de passagem, mas com intenso movimento de motos, carros e motorhomes, passei pelas fantásticas quedas de Sunwapta e fechei o dia no agradável e familiar Beauty Creek Hostel, às margens de um belíssimo rio e aos pés da cadeia de montanhas do Monte Alberta, de 3.622m de altitude. Lá conheci um canadense, Peter, viajando de carona e dedicando-se ao hiking (caminhada), com quem me encontraria casualmente alguns dias depois e me daria valiosas dicas de trilhas num outro Parque Nacional.







               Congelando

     Então o tempo fechou geral e o inocente aqui viu o que é um frio de virada numa região montanhosa na latitude cinqüenta graus norte, e ao passar  pelo Columbia Icefield Centre, com as mãos congelando e o corpo todo tremendo, eu percebi a ingenuidade das minhas “roupas para o frio” e da minha luva molhada, torturando os dedos. O Icefield Centre  é um exagero de centro turístico aos pés da maior geleira das Montanhas Rochosas, de onde partem enormes ônibus super-especiais levando turistas pra passear exatamente sobre o gelo. 







     Diante da difícil situação dos meus dedos congelados, com um monte de estrada ainda pela frente para chegar aonde eu queria, nem pensei em ir “passear no gelo”. Tomei um chocolate quente, esperei a chuva dar uma diminuída, tirei as luvas molhadas e encarei a estrada e o frio até o refúgio muito bem vindo do Rampart Creek Hostel.







   Youth Hostels

     Os Albergues da Juventude no Canadá são um excelente apoio em hospedagem pra quem não faz questão de conforto e procura um esquema econômico de viajar. Dentro dos Parques Nacionais, entre Jasper e Banff, tem uns oito hostels distribuídos pela estrada (alguns fecham no inverno), todos muito bacanas e bastante rústicos. Ao estilo abrigo de montanha, nenhum tem água encanada nem eletricidade, mas todos são muito bem cuidados, limpos, aconchegantes e o mais interessante: têm um astral altamente familiar e descontraído. É gostoso chegar num lugar assim, informal, depois de um dia cansativo de estrada, e ser recebido com um sorriso e com boa vontade pela pessoa que cuida do albergue, sempre alguém que tem afinidade e gosto por atividades ao ar livre, bom papo, alto astral e um admirável carinho pelo lugar.






     Nos dois próximos dias o frio e a chuva aumentaram e a viagem começou a tomar aquele aspecto de desafio e de superação de dificuldades. Não era bem essa a ideia, mas pra ser sincero até que também foi bem divertido. Quanto mais frio mais rápido pedalava, quanto mais chuva mais pauleira o rock no meu walkman. Sob esse frio torturante passei rápido pelo belíssimo Peyto Lake e pelo ponto mais alto da Icefields Parkway, o Bow Pass, com 2.066 metros de altitude, e cheguei contente ao vilarejo de Lake Lousie, cidadezinha com jeito de conto de fadas aonde me instalei num “hostel de luxo”  (que funciona em conjunto com o Centro Alpino Canadense – um senhor clube de montanha pra fazer qualquer mortal se apaixonar pelas alturas)  e quebrei meu jejum forçado de cinco dias sem banho num demorado e prazeroso banho quente.







     Como eu já estava perto de Banff  (ponto de chegada) e ainda tinha alguns dias sobrando, resolvi dar uma desviada da rota planejada e conhecer o Yoho National Park, sobre o qual o meu mapa tinha ótimas referências, além de várias recomendações das pessoas que encontrei pelo caminho. Saindo de Lake Lousie para o leste passei pelo cinematográfico Lago Lousie propriamente dito, e rumei para uma estrada sem saída no mapa, ao final da qual havia o nome “Takakkaw Falls”.







     Bacana esse negócio de olhar um lugar num mapa e sair pedalando pra lá. Mas aí a tal estradinha era uma pirambeira de vinte quilômetros por dentro de um vale super íngreme, onde os carros tinham que manobrar nas curvas, de tão fechadas que eram. As pessoas passavam por mim e faziam aquela cara de espanto (mesmo estando acostumadas com essas coisas), e eu pensava como às vezes é bom não saber como é o caminho à frente.








     “Takakkaw” é um nome indígena local que quer dizer “magnífico”. E exatamente esse era o adjetivo das quedas d’água ao final da estrada naquele fim de tarde. Montei minha barraca num camping próximo e fui curtir de perto o  último espetáculo do dia: um mágico arco-íris aos pés das cataratas, só pra não deixar dúvidas de que o dia tinha valido a pena de sobra. 







     Reencontrei então aquele meu amigo canadense, o Peter, que acabara de chegar de carona, e numa conversa muito legal ele me abriu os horizontes para que eu fizesse também algumas caminhadas na região, já que a maior parte do Parque está além das estradas e trilhas mais acessíveis.







     Dei então uma folga à bike e passei o outro dia só andando. E que dia!!... Nunca antes vivenciara uma luminosidade tão brilhante e tão cristalina! O azul do céu, o verde da grama, o branco da neve, o transparente da água... Tudo estava “demais”! Andei o dia inteiro por trilhas pelas montanhas e me extasiei com tanta beleza. Percebi então o que são realmente as Montanhas Rochosas Canadenses, o que é a vida selvagem, o que é “preservação da natureza”. Nenhum hotel no mundo poderia ser melhor do que o céu estrelado daquela noite. Nenhuma opinião intelectual poderia entender aquela sensação de paz no silêncio de estar em comunhão com Tudo.




                    

                 Ursos

     Em todo canto havia muitos avisos e recomendações de prevenção contra ataques de ursos, mas pessoalmente eu não levava muita fé naquele stress todo, até que vi num jornal local,  num intervalo de três dias, duas reportagens de dois ataques de ursos contra um pescador e contra um trekker (pessoa fazendo caminhada); o primeiro deles fatal.











     Nos campings é terminantemente proibido ficar com comida na barraca. Para isso existem escaninhos com fechadura e um depósito maior, também cuidadosamente fechado. Todas as latas de lixo espalhadas pelo Parque (e não são poucas) têm tampa com fechaduras especialmente projetadas para que não sejam abertas com facilidade. E recomenda-se enfaticamente para que não se viaje sozinho e que seja feito algum barulho ao caminhar, advertindo-se que ciclistas são geralmente alvo fácil – ainda bem que nem tudo é tão “matemático” assim, e os nossos anjos da guarda estão sempre ligados, em qualquer lugar.




Aviso na placa: "todos os ursos são perigosos. 
Fique no seu veículo se encontrar um urso". 
Bem, no meu caso, ficar no meu veículo não ia adiantar muito...



     Voltei então para Lake Lousie meio entorpecido com tanta beleza, e fechei o outro dia num passeio ao “azulíssimo” Moraine Lake, mesclando com algumas caminhadas e “escalaminhadas” de tirar o fôlego, mais pelas paisagens do que pelas subidas. O top do dia foi o “passeio” ao Monte Fairview, de 2.744 metros de altitude, numa ascensão de 1.013 metros em quatro quilômetros de trilha! Mas “dava pra ver o mundo” lá de cima, e definitivamente essas coisas não têm preço..


















Cicloturistas

     Às vezes as pessoas acham que esse negócio de viajar de bicicleta é extravagante, que é muita ousadia... Ousadia mesmo é o que os caras por lá fazem: cruzei com algumas famílias (!!) viajando de bike, o casal naquelas bicicletas tandem (de dois lugares) puxando um carrinho com o filho pequeno só curtindo; outra família também em bicicleta dupla com os dois filhos em suas próprias bikes; tinha também uma dupla de amigos igualmente em bicicletas de dois lugares puxando a bagagem num carrinho especial. E estrangeiros também: fora os caras que só passavam e com quem havia uma rápida troca de cumprimentos, conversei por algum tempo com dois holandeses (os dois já com seus quarenta e poucos anos  -  bacana ver esse pessoal encarando esses programas!) e um casal de italianos. A “estrada mais bonita do mundo” tem seus fãs bastante assíduos, e determinados.









     Absolutamente integrado à viagem retomei o caminho da Icefields na direção Sul e fiz ainda uma parada de duas noites no Castle Mountain Hostel, a meio caminho de Banff, pra curtir um pouco mais aquela paz e aquele astral de aconchego da Montanha. O dia livre foi novamente pra andar: nove horas de hiking pra ir e voltar do Rockbound Lake, numa trilha em que cruzei com poucas pessoas, mas em que tive oportunidade de conversar durante todo o trajeto de ida com uma família canadense passando curtas férias na área. “No Canadá somos todos estrangeiros”  -  me disseram, numa alusão à história do povoamento do país, e explicando a ótima receptividade a quem vem de fora e a alta taxa de imigração.


Local exato em que um pequeno córrego se bifurca, 
e parte dele vai desaguar no Oceano Pacífico, e a outra parte no Atlântico.





     Doze dias e setecentos e onze quilômetros depois de sair de Jasper me vi cruzando a placa de “boas vindas” de Banff, dentro do Parque Nacional de mesmo nome, e sentindo aquela tremenda sensação de ter cumprido um “objetivo puro”, sem outro interesse que não o de pedalar por uma região absolutamente fantástica, vivendo o silêncio, a beleza, a transformação do tempo em distância e êxtase, com o simples e harmônico movimento circular de pedalar uma bicicleta, uma vez atrás da outra, deixando o mundo girar em volta.



Chegada em Banff


     Meu folgado cronograma  (nada de correria)  ainda me dava três dias em Banff antes de voltar para Vancouver. E cá entre nós: não poderia ter sido melhor! Cada vez com mais energia e mais ambientado aos mapas e trilhas, virei e revirei os arredores da cidadezinha, surpreendendo-me a cada curva com cada lago, cada rio, cada árvore, cada jardim. Num único dia rodei 90 km só por trilha, desde  caminhos bastante abertos até “ex-trilhas” destruídas por avalanches no inverno, em que era necessário carregar a “magrela”, num percurso de um loop até a vizinha cidade de Canmore.






Mas como nada nesse nosso mundo é para sempre (nem mesmo os mais fantásticos momentos) foi preciso seguir o ritmo da vida e deixar o encanto “bike-montanha” se desfazer, embarcar dessa vez numa Van de uma pequena excursão (com um grupo muito legal) e voltar para Vancouver, e de lá o caminho de volta para o Brasil.






No final das contas o ciclo-computador marcava 1100 km de estradas, trilhas e ciclovias. Mas viagens de verdade são imensuráveis e indescritíveis. E escrever é parecido com fotografar: por mais fantástica que seja a fotografia ainda é só um injusto pedacinho da realidade.






Viajar é uma arte que nos traz de volta a nós mesmos. Todos os nossos caminhos externos são só símbolos das grandes e verdadeiras viagens que fazemos “por dentro”. É preciso, de alguma forma, ir além do nosso dia-a-dia repetitivo, além da “arrebentação das ondas”, e, pelo menos de vez em quando, se jogar no “Grande Mar”.
























O “jeito de ser” canadense

     “Olá! Como você está hoje?!” - Essa frase, sempre acompanhada de um largo e espontâneo sorriso, é extremamente comum nas lojas, nos centros de informação, em cada lugar em que havia um contato mais próximo,  e retrata bem o “jeito de ser” canadense: leve, simpático, receptivo, de bem com a vida. Ao se afastar dessas coisas a gente acaba se acostumando de novo com a rudeza do nosso dia-a-dia, mas é bacana ser tratado com cortesia, com boa vontade. Isso cria um astral estimulante e cativa o mais insensível dos indiferentes.
           


Um dos vários Centros de Informação ao turista

     Junto com isso a “verdadeira consciência ecológica” de todos é um exemplo de respeito à vida e ao planeta em que vivemos temporariamente, que chega a nos emocionar de tão bonito! Não é só não jogar lixo no chão e não cortar árvore. É ter carinho com cada detalhe, é ter veneração prática por um patrimônio (a natureza) que usamos, mas que não nos pertence, é recuperar artisticamente o que eventualmente foi danificado. Deveríamos valorizar mais esses exemplos concretos, e vivê-los no nosso castigado país. Menos boas intenções, mais ação!



Em cada início de trilha havia um mural desses, 
com todas as informações necessárias àquele local.


     E ainda tem a arte indígena canadense, que é simplesmente fantástica. Esculturas, pinturas, histórias... Nos mais diversos setores o capricho e o bom gosto deixam sua marca. Eu passava horas nas inúmeras lojas de artesanato só apreciando e curtindo cada detalhe, procurando sentir o que cada obra queria dizer, ou só o que ela era. Na arte, como no sorriso, como no jardim de cada casa, o “jeito de ser” canadense é simpatia, dedicação, respeito -  pelas pessoas, e pela vida.









Quanto custa

A gente lê sobre essas viagens e  fica sempre aquela dúvida: “Quanto custa um negócio desses?” E a gente sempre pensa que isso é coisa pra quem tem muito dinheiro.

Não é necessariamente assim. Aliás, a maioria das pessoas com quem a gente cruza “por aí” (viajando por esse mundão) está mesmo naquele esquema da grana contadinha, priorizando a vontade de fazer sobre o conforto das condições ideais.







 Aqui no Brasil existe a ideia de que turismo tem que ser luxuoso e transbordante de regalias. Cada um faz aquilo que quer. E essa é uma velha questão: “só se deve fazer as coisas com as condições ideais ou o lance mesmo é fazer do melhor jeito que der ?”.

 Antes de chegar em Vancouver passei uma semana em Toronto e Niagara Falls, e no total a viagem somou 44 dias, nos quais os meus gastos foram os seguintes:
                                
-  Passagens aéreas de ida e volta, visto e seguro viagem: R$ 1597,
-  Alimentação, alojamento e pequenos gastos do dia-a-dia: R$ 1567,
-  TOTAL  :  R$ 3164,



(Boa Vista-RR, Setembro de 1998)



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Toronto, vista do barco em que estava, indo pra Niagara Falls.






     Alguns meses depois do meu retorno, a revista "Bici Sport" (atualmente extinta) publicou, na sua edição nr 116, de janeiro de 1999, uma reportagem sobre a viagem (texto e fotos de minha autoria):












                       




Minha gratidão à Vida, por mais essa...






Força Sempre



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