Tiger 900 Rally Pro

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domingo, 16 de agosto de 2015

Viagem de bicicleta na Nova Zelândia - 1º a 31 Jan 1999





     A viagem à Nova Zelândia, em janeiro de 1999, foi muito especial sob diversos aspectos. Em particular, pela fase da vida que vivia. Havia acabado de passar dois anos servindo em Boa Vista-RR, e estava indo, naquele ano, cursar a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais no Rio de Janeiro.

     Havia me casado recentemente, em novembro do ano anterior, e a Mari estava, nessa época, em Cuba, realizando um curso de mestrado programado havia já algum tempo. Ou seja, era uma fase de mudanças e novos desafios. 

     Eu estava entusiasmado com a recente viagem de bicicleta no Canadá (em agosto de 1998), e estava numa vibração boa de um certo "senso de urgência" com relação às minhas ideias e projetos.

     A viagem em si também foi muito marcante. A Nova Zelândia tem um "astral" muito bacana, e é muito bonito, muito instigante. Me senti muito bem lá. O fato de estar sozinho também foi muito bom. Serviu pra eu ficar à vontade, pra fazer o meu ritmo, pra esquecer dos "perrengues" que me esperavam na volta ao Brasil, algumas semanas adiante, etc.

     Diferente da viagem anterior (ao Canadá), no entanto, dessa vez o "formato" foi outro: em vez de alugar a bicicleta, comprei uma lá e, ao final, trouxe-a para o Brasil. Nessa viagem a exigência física também foi bem maior, fazendo com que eu tivesse que tirar forças do nada pra compensar a falta de preparo e de traquejo com a bike, consequência de dois anos praticamente sem pedalar em Boa Vista. 

     Além de tudo isso estava numa época de grande efervescência de ideias interiores e formação (ou reformulação) de valores pessoais. Lia Hermann Hesse como se estivesse lendo minhas próprias palavras, ao par de outros autores que me fizeram grande companhia naqueles tempos (alguns trechos nas imagens abaixo retratam um pouco dessas ideias).

     O texto a seguir foi escrito alguns meses após o retorno, e retrata bem minha alegria e meu sentido de realização com a viagem.


(Curitiba, Outubro de 2016)






1400 km de bicicleta do outro lado do mundo


            "Entrar no primeiro dia do ano embarcando para uma viagem solo pra pedalar na Nova Zelândia foi uma forma quase ritualística de começar uma nova fase.






            Como será a vida num país lá na Oceania? Quase perdido do outro lado do mundo, sem fronteiras com países vizinhos, longe dos holofotes do mundo...?

            A proposta da viagem tinha um quê de diferente, de inesperado, e a expectativa começou a ser atendida já no exótico voo São Paulo – Auckland: uma verdadeira viagem no tempo que fez o 2 de janeiro desaparecer do meu calendário, resultado de uma rota aérea transpolar combinada com uma diferença de fuso horário de 16 horas em relação ao Brasil.

            Ainda tentando entender o que tinha acontecido cheguei à “terra da grande nuvem branca” (significado do nome nativo da Nova Zelândia – Aotearoa) num pacato domingo pós ressaca de ano novo, e no dia seguinte saí em campo pra pesquisar as condições de execução das idéias que tinha na cabeça: comprar uma bicicleta, equipá-la e percorrer o país no sentido geral norte-sul no decorrer do mês à frente.




Visual de Auckland à noite, da varanda do hostel em que me hospedei.




            Auckland, apesar de não ser a capital do país, é sua maior cidade, concentrando cerca de um terço dos três milhões de kiwis (nome carinhoso dado aos neozelandeses), e, ao contrário do que se pode imaginar inicialmente, é uma metrópole de primeiro mundo, com a vantagem de preservar um astral jovem e leve, principalmente à beira-mar. 

           Assim, não foi nada difícil encontrar variadas e ótimas opções tanto de bicicletas quanto de equipamentos, e após olhar em várias lojas fiquei na dúvida entre uma autêntica bike de turismo e a já conhecida mountain bike. 

         Acabei decidindo pelo estilo e pela afinidade da ‘mountain’, fechando negócio numa GT de quadro de alumínio, 21 marchas, pneus originais trocados por outros específicos para estrada (lisos e de maior capacidade de pressão), e os acessórios básicos necessários (caramanhola, bagageiro, espelho retrovisor, etc.). 





Caricatura num cartão postal brincando com os cicloturistas
 e as inúmeras ovelhas existentes no país.



            Um lance legal dessa compra foi que o mecânico da loja em que adquiri a bike já havia estado no Brasil, e era casado com uma brasileira. Ele ligou pra ela para nos falarmos– e aí é aquela velha história: falar com um brasileiro lá do outro lado do mundo é como falar com um velho conhecido.





Trecho do diário da viagem.




            Na quarta-feira estava tudo pronto e decidi partir no dia seguinte. E partir é sempre um momento meio estranho: satisfação, incerteza, cuidado com cada pequeno detalhe. 

               Estava me orientando por um livro de cicloturismo – “New Zealand by bike”, e de acordo com a rota escolhida o primeiro dia foi marcado pela saída da área metropolitana de Auckland seguida por estradas secundárias muito agradáveis e pouco movimentadas – o que foi ótimo para me adaptar melhor à mão inglesa das estradas, em que anda-se no lado esquerdo da via. 



           
O livro que me serviu como guia.




                 Cento e doze quilômetros me levaram ao vilarejo de Miranda, onde passei a noite num excelente camping com piscina de águas termais e tudo mais.




Em um parque na cidade de Christchurch.




            No dia seguinte foi preciso estar com o mapa à mão o tempo todo para me orientar nas inúmeras estradas que cruzavam o caminho que levava a Cambridge, o próximo objetivo. As estradas estreitas e tortuosas se revelaram cortando uma paisagem de campos verdes e pequenas fazendas iluminadas por um sol e um céu azul fantásticos, quase desviando a atenção do tráfego intenso de carros.






Camping em que fiquei em Cambridge.


                                                    

Saindo de Cambridge na manhã do outro dia a bike começou a apresentar um problema de desregulagem do câmbio. Parei então numa cidadezinha chamada Te Awamatu pra fazer uns ajustes e o mecânico (e dono) da bicicletaria local foi muito bacana: regulou as marchas na hora, não cobrou nada e ainda puxou o maior papo, dando várias dicas de locais interessantes para visitar. 

Motivado pelo entusiasmo do recente amigo resolvi fazer umas alterações nos planos e sair do roteiro previsto no meu guia, e fui parar naquele dia em Waitomo Caves, uma pequena e bonita estância turística famosa por suas inúmeras cavernas.





Trecho do diário da viagem.







Cena na estrada: camarada pastorando as ovelhas com o quadriciclo.



Depois de uma noite bem dormida, com sonhos intensos e instigantes, o dia foi de uma pedalada altamente introspectiva, cruzando campos de pastagens, colinas verdes, fazendas de gado e muita ovelha, num trecho de mais de cem quilômetros sem passar por nenhuma cidade, só paisagem e pedal até as quatro horas da tarde, quando alcancei a pequena cidade de Taumarunui, onde fiquei aquele dia. 




Visual de uma das cidadezinhas do caminho.



Comecei a perceber então que todas as cidades eram pequenas, que no interior do país não havia quase ninguém, que as localidades que o meu guia indicava  “pop: 60”  não era sessenta mil habitantes, como por algum motivo eu havia pensado inicialmente, mas apenas sessenta pessoas mesmo!




Paisagem na "janela" da minha bicicleta...



            Vinte quilômetros (de subida!) depois de deixar a isolada Taumarunui o pneu traseiro furou. Sem problemas! Era só trocar. Foi o que fiz, mas ao montar o pneu na roda percebi que ele estava com um pequeno rasgo na sua lateral (o que causou o furo da câmara). Precisava então trocá-lo rapidamente, mas eu não tinha um reserva. Pedalei devagar até uma vilazinha próxima, Owhango, deixei a bike num posto de gasolina, peguei uma carona e voltei a Taumarunui pra comprar outro pneu. Na volta peguei outra carona, desta vez com duas senhoras muito simpáticas, que me deram várias informações do que valia a pena ver no caminho, e no final a que estava dirigindo me convidou pra ficar na casa dos pais dela em Wellington – “Eles gostam de conhecer gente diferente” – ela me disse. Até que aquele probleminha do pneu não foi de todo ruim. Sem mais perda de tempo substituí o pneu avariado e recomecei a pedalar. Já era quase uma hora da tarde. 

          Mas o dia rendeu bem a partir daí, com paisagens belíssimas numa região praticamente desabitada, longas retas e descidas suaves, fechando o dia na simpática Ohakune, curtindo uma singular sensação de bem estar e satisfação ao contemplar o céu tranqüilo, encostado na cabana do camping em que me instalei.




Trecho de "Nova Era", de Luiz Carlos Lisboa.






Cabana em que pernoitei em Ohakune.




            De Ohakune segui em direção a Wanganui, uma cidade já um pouco maior no litoral. O caminho foi gratificante: longas e acentuadas descidas, horizontes amplos, paisagens de tirar o fôlego. Numa parada encontrei um casal de neozelandeses fazendo um giro de 90 km de bike, uma “voltinha” de um dia – o legal é que ele tinha uns sessenta anos, e ela um pouco menos. Exemplos...



Trecho de um dos livros de Hermann Hesse.









            Em Wanganui decidi cobrir a próxima etapa até a capital Wellington de ônibus, porque era um trecho muito movimentado e não tão interessante, e era mais inteligente ganhar tempo pra Ilha do Sul, que era, segundo todas as informações, mais bonita. Destaque para o motorista do ônibus, exemplo do perfil sempre solícito e simpático dos neozelandeses, com a maior boa vontade com a bike, em dar informações e em me deixar no local em que pedi no centro de Wellington – atitudes que valorizam um povo. Aproveitei o resto do dia pra comprar e instalar um bagageiro e mochilas frontais na bike, para distribuir melhor a bagagem, que estava pesando demais atrás. 






Trecho de "Nova Era", de Luiz Carlos Lisboa.










      Liguei pra minha amiga da carona na estrada e ela me levou pra casa dos pais, extremamente simpáticos e curiosos.  Conversamos bastante e eles me passaram todas as dicas da Ilha do Sul, a próxima etapa da viagem. Foi uma experiência interessantíssima, conhecer por dentro e de perto o lar de uma autêntica família neozelandesa, com todos os formalismos e regras tipicamente ingleses – parecia cena de filme. 










      No dia seguinte, no café da manhã, a senhora mãe da minha amiga me disse: “You are in the news. Bad news!” –  Era a crise do real que havia estourado no Brasil, crise econômica mais uma vez, pra variar...








                                                                                            
        Cruzei o estreito de Cook num luxuoso ferry debaixo de um céu cinzento e chuva fina em direção a Picton, e de lá segui de trem numa belíssima viagem acompanhando a costa leste até Christchurch, a maior cidade da Ilha do Sul. Fiquei por lá também no dia seguinte e detalhei os planos da viagem, descansei um pouco e descobri uma cidade super graciosa, alegre, animada – deu pra curtir até um casual show de artistas de rua de um encontro internacional que estava rolando por lá – muitíssimo divertido.





Painel em azulejos numa praça de Christchurch.



Trecho do diário da viagem.




No hostel em Christchurch, planejando a segunda parte da viagem.




Segui pra Arthur’s Pass, uma aconchegante vila no alto das montanhas, em direção ao lado oeste da Ilha, numa viagem de trem considerada como das mais bonitas do mundo, em que gastei mais de um rolo de filme da máquina fotográfica. 




Folheto de propaganda do trem "Tranz Alpine".






Embarcando no trem em Christchurch.




Desembarcando em Arthurs Pass.



     Como pretendesse reiniciar a pedalada só no dia seguinte, aproveitei a tarde livre pra fazer um trekking pelas belíssimas montanhas ao redor: “escalaminhei” um monte próximo chamado Avalanche Peak - duas horas de subida, uma hora de contemplação, duas horas de descida, mil metros de ascensão, 1840m de altitude – uma verdadeira purificação de alma.




Trecho do diário da viagem.







As montanhas vistas do Avalanche Peak, em Arthurs Pass.




            Mas então já era hora de voltar ao que interessava: pedalar. Que dia fantástico! Sol, céu azul, montanhas, rios, e descidas quase intermináveis. O único problema do dia foi mais uma câmara furada devido ao desgaste do pneu, dessa vez trocado sem problemas (tinha um pneu reserva). 

              Cheguei a Hokitika às quatro e meia da tarde, fechando mais um dia de mais de cem quilômetros, tendo enfrentado um vento contra no final que me fez temer pela sua continuidade nos próximos dias. O magnífico pôr do sol na praia às dez horas da noite (!) foi um daqueles momentos mágicos de comunhão com a Vida que nos emociona e nos liberta do “contexto” ...









Comecei a percorrer a bela e deserta costa oeste da Ilha do Sul agora já perfeitamente integrado ao momento. Esse tipo de viagem tem dessas coisas. Precisa de um certo tempo pra se desligar da insegurança e das dúvidas tão comuns no nosso dia-a-dia e, como costumo dizer, “tirar os pés do chão”. É um estado de espírito: o tempo toma uma dimensão diferente, o dia é apenas dia, a noção de dia da semana perde o significado; o espaço se modifica, cem quilômetros de estrada é diversão para o dia inteiro, é a história de um dia inteiro, cada metro existe, cada detalhe do caminho, cada mudança do vento, do sol, do céu... E a gente é invadido por um sutil e poderoso sentimento de invulnerabilidade – a fórmula mágica dos caminhos certos.






Bobinas de feno ao longo do caminho.




Harihari foi a próxima parada, uma pequena vila à beira da estrada onde cheguei no início da tarde, montei minha barraca e curti a inspiração de “Sidarta” (livro) embaixo de uma acolhedora árvore.





Trecho do diário da viagem.






Acampamento em que pernoitei à beira do caminho.




No trecho seguinte, apesar de ter sido um dia curto de 75 km, senti muito o cansaço das pernas e  uma dor nos tendões da perna direita que me acompanhava havia alguns dias. Em Franz Josef  me instalei num albergue e fui conhecer o famoso glaciar local, um “rio” gigantesco de gelo que forma uma paisagem espetacular com a natureza em volta. Caminhei bastante e tirei várias fotos.





O fantástico glaciar Franz Josef.




Mesmo ponto da foto anterior, para o outro lado.




O Glaciar Franz Josef, um pouco mais distante.




Fox Glacier, uma simpática cidadezinha de vocação turística devido ao glaciar de mesmo nome nas suas vizinhanças, foi a próxima parada. Era pra ser um dia curto e fácil de 30 km, se não fossem as inúmeras subidas e descidas da estrada, que mais parecia uma montanha russa, somando quase quinhentos metros de ascensão. À tarde fui conhecer o glaciar e depois o famoso lago Matheson, acrescentando mais alguns km ao odômetro.









  
Seguiu-se então um longo e introspectivo dia de quase 130 km até Haast Village. A estrada atravessava uma região belíssima, sem nenhuma cidade, praticamente desabitada. Acho que foi um dos trechos mais bonitos da viagem, com praias alucinantes, muita floresta e muito vento contra. 

Haast é uma vilazinha no meio do nada, onde a estrada inflete novamente para o leste e abandona a costa. É uma região de uma beleza primitiva, intocada, silenciosa, com aquele sugestivo aspecto de fim de mundo, mas no bom sentido, apenas como se dali pra frente não tivesse mais nada.




Trecho do álbum de fotos.




O espetacular mar da costa oeste da Ilha do Sul, na região de Haast Village.


















Encontrei com vários cicloturistas nessa região, de várias nacionalidades, cada um ao seu estilo. Um inglês me contou que estava viajando havia dois meses e que ia ficar mais um, e a sua estratégia era pedalar leve, ou seja, sem barraca, sem comida, apenas com o mínimo indispensável, usando sempre a boa estrutura das cidades do caminho. Um outro sujeito usava um sistema de bagagem que achei bastante interessante: em vez de carregar a bagagem na bike ele puxava um carrinho onde ia sua mochila com toda a tralha – um dia eu testo esse esquema...





Camping em Haast Village.




O livro-guia que eu estava consultando advertia pra “pauleira” que era o trecho entre Haast e Makarora, pra onde me dirigia. A dificuldade era por conta do Haast Pass, o ponto mais alto das montanhas dos Alpes do Sul que a estrada atravessava, com 564 m de altitude. O livro dizia ainda que era “muito mais fácil” transpô-lo de leste para oeste do que ao contrário, como eu estava fazendo.  Havia alguns dias eu estava pensando naquele monte de subida. 





Visual do caminho, em algum lugar na Ilha do Sul.




A serra realmente era íngreme, mas não muito longa. Desafiante mesmo foi a ventania que eu encontrei no caminho: um furioso vento exatamente contra, me obrigando a fazer malabarismos pra me equilibrar na magrela. Nos trechos mais íngremes eu tinha que pedalar em ziguezague, na marcha super-leve, metro a metro, centímetro a centímetro. Até no trecho final do dia, depois de passar o ponto mais alto, em uns trechos de descidas suaves, era preciso pedalar forte. Era inacreditável! Chegar ao camping em Makarora, nada mais que algumas casas à beira da estrada, foi o prêmio. Músculos quentes, exaustão física, “euforia bioquímica” pós esforço, satisfação e autoconfiança plenas!




Trecho de "Nova Era", de Luiz Carlos Lisboa.




Wanaka Lake.



O cansaço apareceu mesmo no outro dia, quando voltei à estrada em direção a Wanaka. Apesar da paisagem deslumbrante dos lagos Wanaka e Hawea a pedalada rendeu pouco: muito esforço, pouca velocidade, a atenção o tempo todo no odômetro e no mapa (verificando distâncias). O tempo maravilhoso elevou o moral e, sem nenhuma pressa alcancei o destino do dia às três da tarde. 








Wanaka agradou de primeira: uma agradabilíssima e pequena cidade à beira do lago de mesmo nome onde parece que as pessoas vivem em função de se divertir. Pra qualquer lado que se olhe tem alguém patinando, fazendo ski aquático, voando de parapente rebocado, jet ski, mochila nas costas indo ou voltando de alguma caminhada, e ‘até pedalando’... 

Gostei tanto do lugar e do albergue em que estava que resolvi me dar um dia de folga: fiquei o dia seguinte lagarteando ao sol, depois fui dar umas voltas de bici pela região, tomei um banho de lago, li um pouco. Uma decisão acertada ter ficado por lá, valeu muito.




Wanaka Lake.




E de repente estava no último dia da viagem. De Wanaka a Queenstown foram 120 km de paisagens enebriantemente belas, estradas cortando canyons, acompanhando rios, fazendas de frutas, sol, céu azul, horizontes amplos, energia percorrendo o corpo, lavando a alma. De volta aquela sensação de invulnerabilidade, de poder tudo, de “tudo bem”! 





Chegada em Queenstown.




Meu cockpit durante algumas semanas.




Nos últimos quilômetros bateu aquela sensação estranha de estar chegando: satisfação misturada já com saudade, com pesar por estar encerrando uma vivência tão fantástica, tão rara de conseguir fazer. 

Mas como não tem jeito, “o rio tem que seguir em direção ao mar”, fui pedalando devagar chegando em Queenstown, curtindo uma silenciosa e indizível sensação de vitória e felicidade.





 Trecho do diário da viagem.





Entrada do hostel em que fiquei em Queenstown.



                        
Queenstown é uma bonita e movimentada cidade às margens do lago Wakatipu. É também um centro turístico e de esportes radicais pra todos os gostos, desde passeios em lanchas de propulsão a jato por rios dentro de canyons até salto livre de pára-quedas com um instrutor, desde trilhas radicais de bike ou de moto até o famoso bungy jump. Aliás foi aqui que esse ‘esporte’ foi inventado. 



Visual de Queesntown, de um dos morros em volta da cidade.



Como tinha ainda algum tempo livre antes do retorno ao Brasil, fiquei na área por alguns dias e “tive que” conferir de perto esse negócio de se jogar de uma ponte amarrado por um elástico nas pernas. Ouvindo falar assim, de longe, dá mesmo a impressão de que o negócio é meio maluco, mas me impressionei com a competência e a qualidade do trabalho em torno da atividade - existe uma verdadeira indústria em torno disso. É bacana ver uma coisa tão simples ser feita com tanto capricho e propriedade.




Um dos Bungy jump de Queenstown.




Outro bungy jump, nos arredores de Queenstown.




Depois de participar de mais algumas atividades a la kiwi tive que “colocar os pés no chão” de novo, pegar o avião e “ganhar de volta” o dia que havia perdido um mês atrás.





Orla de Queenstown, no crepúsculo vespertino.



Mas essas viagens não terminam assim, quando se embarca num avião. Elas ficam com a gente como vivência, pra sempre. E por mais afazeres e obrigações que o dia-a-dia da vida me imponha, está sempre aqui do lado, ao alcance da memória, esse tempo mágico passado numa terra distante chamada Nova Zelândia."



(Curitiba, Maio de 2000)


















** Planilha diária de gastos (com alojamento/ alimentação/ diversos/ total do dia e média geral) e dados de distância/ tempo rodado/ velocidade média e máxima:


DIAS
DATA
GASTOS  em  R$
CICLO-COMPUTADOR
Aloj
Alim
Div
Total
Média
Dst
Tm
Av
Mx

 1º      Sex  
-
2,00
-
2,00
2,00
-
-
-
-
2 º
 2       Sáb  
-
-
-
-
N.A.
-
-
-
-
 3      Dom
13,30
12,46
11,69
37,45
N.A.
-
-
-
-
 4      Seg
15,40
9,52
23,87
48,79
22,1
-
-
-
-
 5      Ter
13,30
49,64
16,77
79,71
33,6
31,9
2:11:38
14,5
39,5
 6      Qua
13,30
18,31
24,40
56,01
37,30
5,4
0:33:57
9,5
38,5
 7      Qui
8,40
10,50
-
18,90
34,70
112,5
5:49:28
19,3
46,5
 8      Sex
6,30
16,80
1,40
24,50
33,40
108,0
5:48:25
18,5
45,0
 9      Sáb
11,90
12,71
-
24,61
32,40
75,6
4:23:23
17,2
48,0
10º
 10    Dom
11,20
19,15
-
30,35
32,20
104,6
5:37:50
18,6
61,0
11º
 11    Seg
11,90
21,25
13,30
46,55
33,50
88,6
5:03:48
17,5
55,5
12º
 12    Ter
10,50
15,23
7,00
32,73
33,50
110,2
5:53:03
18,7
61,0
13º
 13    Qua
-
6,83
-
6,83
31,40
11,0
1:10:43
9,5
27,1
14º
 14    Qui
11,90
9,87
2,10
23,87
30,90
10,8
1:08:06
9,4
25,1
15º
 15    Sex
11,90
20,12
3,50
35,52
31,20
-
-
-
-
16º
 16    Sáb
10,50
17,25
3,82
31,57
31,20
7,8
0:35:32
13,0
28,2
17º
 17    Dom
5,60
10,50
5,32
21,42
30,60
113,55
6:16:48
18,0
56,5
18º
 18    Seg
5,25
20,20
22,09
47,54
31,60
77,5
3:53:49
19,9
60,0
19º
 19    Ter
11,20
22,79
1,40
35,39
31,80
75,0
4:03:01
18,6
46,0
20º
 20    Qua
11,20
15,16
-
26,36
31,50
46,81
3:07:23
15,0
51,0
21º
 21    Qui
6,30
18,66
-
24,96
31,20
126,5
6:34:21
19,2
62,0
22º
 22    Sex
5,95
12,43
-
18,38
30,60
82,2
5:17:38
15,5
57,0
23º
 23    Sáb
11,90
11,90
-
23,80
30,30
71,9
4:15:18
16,8
58,0
24º
 24    Dom
11,90
28,29
22,71
62,90
31,70
35,4
2:03:41
17,1
52,0
25º
 25    Seg
14,00
9,38
-
23,38
31,30
118,7
6:03:29
19,5
60,0
26º
 26    Ter
14,00
9,52
3,68
27,20
31,20
-
-
-
-
27º
 27    Qua
14,00
11,87
2,10
27,97
31,10
-
-
-
-
28º
 28    Qui
14,00
15,93
19,15
49,08
31,70
28,89
2:08:14
13,4
37,0
29º
 29    Sex
14,00
13,02
3,19
30,21
31,70
-
-
-
-
30º
 30    Sáb
11,90
12,50
12,39
36,79
31,80
-
-
-
-
31º
 31    Dom
-
12,56
8,33
20,89
31,50
-
-
-
-
TOTAL

-
301,
466,
208,
975,
31,50
1442
82:00
-
-



** Planilha de gastos totais:



ENERGIA  FINANCEIRA   -   TOTAL  GERAL
Item
R$
Parcial 1
Parcial 2
Passagens de ida e volta
2290,
3270,

4490,
Alimentação/ alojamento / diversos
980,
Equipamento / compras diversas
1220,
Passagens internas na nz
320,

810,

Foto
130,
Presentes e lembranças
120,
Just fun
240,
TOTAL GERAL
5300




       Observação: os valores deste diário estão considerando o câmbio do início da viagem, quando 1 US dólar valia aproximadamente 1,26 real. Em meados de janeiro o real sofreu uma super desvalorização, e para comprar 1 dólar americano passou a ser necessário em torno de 1,90 real (talvez um pouco mais). Algumas compras da viagem foram feitas com cartão de crédito, consequentemente os valores sofreram o reajuste correspondente. O dólar americano valia, naquela época, cerca de 1,80 dólar neo zeo-zelandês.

                              




** Em outubro de 1999, a edição nº 125 da Revista "Bici Sport" publicou uma reportagem de quatro páginas sobre a viagem:




A reportagem da "Bici Sport".



A reportagem da "Bici Sport".





Trecho de um dos livros de Hermann Hesse.







Gratidão.





Força Sempre






                                                                                                        

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