Tiger 900 Rally Pro

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domingo, 16 de agosto de 2015

Viagem de bicicleta na Austrália (1000 km) - 29 Nov a 23 Dez 2001









A viagem à Austrália no final de 2001 foi, planejadamente, a última nesse formato, naquela quadra da vida. Já prevíamos dar uma parada nos próximos anos para nos dedicarmos à honrosa e instigante empreitada de ter e criar nossos (eventuais) filhos. 

Assim como as anteriores, não foi fácil fazer a viagem acontecer, novamente por questões financeiras. É verdade que podia ter optado por bolar algo mais perto, mais econômico, mais "razoável", mas naquela época eu tinha como característica predominante a teimosia, em detrimento do bom senso. Certamente foi esse o agente catalisador da equação.

O "problema" da Austrália é que é um país grande demais, e encaixar uma viagem de bicicleta em um mês de férias numa terra tão vasta não foi nada fácil. Como lição, aprendi que viagens de bike, pra serem realmente "transformadoras", requerem uma relação diferenciada com "chronos" - desapegar-se de agenda, de prazos, de limites, de objetivos a serem alcançados, e simplesmente se deixar ir. Esse ideal ficou semeado para um (ainda) possível futuro distante...








Viagens de bike bacanas mesmo são construídas ao longo de meses (ou anos) nas estradas, ao sabor dos ventos e da alma... Quem sabe um dia...

A viagem, apesar de curta, foi muito gratificante. Fizemos, basicamente, dois percursos, de uma semana cada um. No primeiro percorremos 500 km na Great Ocean Road, uma bela estrada na costa sul do país, entre Warnambool e Melbourne. No segundo exploramos um trajeto de cerca de 460 km na isolada e pitoresca ilha da Tasmânia, curtindo demais o astral de distância e de leveza daquelas paragens. 









Dois dias depois de chegarmos de volta ao Brasil descobrimos que a Mari estava grávida. Ou seja, ela já estava em "estado interessante" durante a viagem. Foi uma grata satisfação! Poderia haver melhor energia para um ser em gestação do que ter seus pais por algumas semanas meio jogados no mundo, curtindo uma boa pedalada e a revigorante sensação do vento na cara?

O texto a seguir foi escrito pouco depois do retorno, e conta um pouco como foi a brincadeira.

Muito grato por tudo.

                                          (Curitiba, dezembro de 2016)









Austrália: 1000 km de bicicleta na terra dos cangurus



            "Viagens podem ser oportunidades preciosas de viver um estado de espírito raro e especial, de se desligar do mundo de todo dia e alçar voo por experiências interiores difíceis de alcançar no dia-a-dia, mas, para isso, são precisos certos ingredientes, como numa poção mágica. Procurando esse caminho decidimos que nosso próximo destino de viagem seria a Austrália, uma terra que tem, de cara, um forte item do encanto de viajar: a distância!










Trecho do álbum original



            Quando se pensa em se jogar no mundo para um lugar desconhecido e que reserve boa dose de expectativa, decidir para onde ir já é um grande passo, já que boas opções não faltam. Mas não basta haver optado pelo destino, é preciso montar a viagem. E no caso da Austrália essa não é uma tarefa muito fácil, principalmente quando não se tem muito tempo disponível, e considerando que o país é imenso e que as opções dentro desse pequeno universo também são inúmeras. De modos que foi com uma alegria incontida que concluímos essa segunda grande etapa, já na Austrália, “dentro da arena e com o taxímetro rodando”.




A famosa "Opera House", em Sydnei



            Restava a parte mais divertida: pegar a estrada e deixar o mundo rodar. Foi assim que nos vimos, nada de repente, em Warnambool, pequena cidade do Estado de Victoria, no sul do pais. Foram 26 horas de avião, 12 de ônibus e 4 de trem, devidamente diluídas no tempo de seis dias e no espaço de várias cidades, portos e aeroportos, desde nossa casa, em Curitiba, até onde nos encontrávamos, porta de entrada da Great Ocean Road, famosa estrada litorânea justamente considerada uma das mais bonitas do mundo.




Guia que utilizamos para o planejamento da viagem



            Mas é aí que, apoteoticamente, o sonho encontra a realidade e a teoria vira prática: um caminho tão longo, uma expectativa tão grande e... um tempo chuvoso e cinzento na terra dos cangurus, nada de acordo com as visões de um colorido verão sem fim que normalmente fazemos daquelas bandas. Mas esse era apenas o dia de chegar, pretendíamos iniciar a viagem de bike pra valer só no dia seguinte, portanto, como otimistas de carteirinha, logicamente esperávamos tempo melhor pela frente.













            Nossa expectativa não se frustrou no nosso primeiro dia de estrada: o céu amanheceu limpo, o sol deu as caras e jogamo-nos na estrada como crianças num parque de diversões. Paisagens fantásticas, mar de um azul cinematográfico e o velho e bom horizonte a perder de vista. Estava tudo ali, ao vivo e a cores, a obra mais exuberante do criador: a Natureza.














Mas, conforme aquele sábio ditado que diz que “rapadura é doce mas não é mole”, nem tudo foram flores nos caminhos ensolarados da Grande Estrada do Oceano: um vento feroz e na maior parte do tempo contra a nossa direção compôs as dramáticas e intensas boas vindas à ‘brincadeira’ de viajar de bicicleta, e além disso, sempre tem o “efeito primeiro dia”, em que tudo está se adaptando e achando o seu lugar. 









       As adversidades porém, ao invés de nos desestimularem, só fizeram aumentar aquela silenciosa sensação de êxtase de chegar ao nosso destino, Port Campbell,  80 km distante da origem. Surpresos com o frio de mais ou menos dez graus e deliciados com tanta beleza embarcamos num sono maravilhoso, abrigados dentro da nossa barraquinha num camping local.








Vale destacar ainda nesse dia um encontro com um cicloturista australiano logo na saída de Warnambool: o cara estava sozinho, vindo do leste, usando como sistema de bagagem aquele reboquezinho que parece ser bem eficiente. Deu-nos boas dicas da estrada que iríamos percorrer (ele estava na direção oposta à nossa) e presenteou-nos com um mapa local que nos foi bastante útil – bom exemplo da maneira de ser solícita e simpática do povo australiano. Encontramos também um casal de cicloturistas alemães que estava igualmente deslumbrado com a beleza e com a intensidade do visual ao nosso dispor.










O tempo voltou a fechar no nosso segundo dia de estrada: não choveu, mas foi um dia cinzento, instável e novamente frio. Foi também o dia de passarmos por belíssimas formações rochosas à beira e dentro do mar, das quais a mais famosa é a conhecida como “Os Doze Apóstolos” – imensos blocos de pedra prodigiosamente esculpidos pela erosão das águas durante centenas de anos.  








         Nesse local encontramos com um cicloturista suiço que estava há mais de seis meses viajando, já tendo percorrido mais de onze mil quilômetros, e sem previsão de parar. Batemos um bom papo sobre a solidão das estradas (pra ele), sobre a Fernanda Keller (triatleta que ele conhecia do Ironman do Havaí, prova da qual disse ter participado algumas vezes), sobre o “barato” de estar fazendo uma grande viagem...









O dia ficou ‘divertido’ mesmo quando topamos com a subida à qual o nosso livro-guia se referia como “a longa escalada em direção a Lavers Hill” – após 20 km de distância e 500 metros de desnível  estávamos no único hotel do citado vilarejo, nosso destino naquele dia. Um jantar decente com uma vista deslumbrante do vale abaixo e cama, afinal de contas, ainda tinha muito chão pela frente.







































       Como tudo que sobe tem que descer, iniciamos o terceiro dia ladeira abaixo, ainda sob um céu cinza e nuvens de chuva. Voltamos a subir uma íngreme serra, passando por uma região completamente diferente do dia anterior, de mata nativa e vegetação exuberante do Otway National Park, até descer novamente em direção ao mar da pequena e simpática Apollo Bay, recanto turístico onde ficamos. 








          Como chegamos cedo (por volta das duas e meia da tarde) aproveitamos o resto do dia para descansar, dar uma caminhada pelas redondezas e fazer um belo jantar “em casa”, confortavelmente instalados numa “cabine” de um camping local – tipo de alojamento bastante comum na região, meio termo entre um trailer desses de viagem e uma casa, com cama de casal, cozinha e banheiro, perfeito para recuperar as energias ao som do mar batendo ao lado.










      O nosso livro-guia se referia à próxima etapa como “o mais espetacular trecho da estrada”,  e talvez tenha sido mesmo: pedalamos o dia inteiro à beira-mar, divididos entre a contemplação de um mar belíssimo e as estratégicas fugas da chuva intermitente que teimava em cair, entre o horizonte que se juntava ao longe com o mar e o movimento intenso na estrada estreita mas muito bem conservada. 









       O tempo instável, mudando a toda hora, nos obrigou a colocar e tirar nossos anoraks incontáveis vezes, virando motivo de brincadeira entre a gente o troca-troca de roupa no qual nos vimos metidos. Animados com o bom rendimento, apesar do tempo mal humorado, resolvemos estender o nosso roteiro um pouco além do que o nosso livro sugeria, e assim fomos parar em Aireys Inlet, cidadezinha de nome estranho onde nos instalamos, já no final da tarde, novamente numa ótima cabine de um camping, gostosamente entorpecidos do efeito mágico da “imersão total” num único objetivo.










Uma coisa bacana desse tipo de viagem é que um dia nunca é igual ao outro. Cada um tem a sua história única, as suas surpresas, o seu charme, as suas dificuldades. E o quinto dia de estrada não fugiu a esse estilo: foi nossa despedida da Great Ocean Road. Um trecho onde pudemos ver algumas preciosidades da arquitetura local materializadas em casas super exóticas, construídas com desenhos ousados e materiais alternativos.









       Nossa última visão do mar nesta etapa foi na praia de Bells Beach, templo do surf mundial. Um pouco mais à frente passamos por Torquay, “cidade surf” onde tudo é em função do esporte das ondas, e infletimos para o norte, passando a ser empurrados por um maravilhoso vento a favor que nos fez pedalar como se estivéssemos nas nuvens. 









       Alcançamos Geelong, o destino inicialmente pretendido para aquele dia,  no início da tarde, mas como ainda estávamos cheios de energia e ainda era cedo, e no dia seguinte tínhamos passagem marcada para a próxima etapa, resolvemos prosseguir.









Pedalamos por uma estrada em construção paralela à auto-pista M1 que leva a Melbourne até sermos interceptados pela equipe de segurança da rodovia, que nos informou que não era permitido pedalar por ali. Seguindo a orientação dos caras, desviamos da free way através de estradas secundárias muito charmosas: caminhos estreitos, asfaltados, silenciosos, sem movimento, cruzando fazendas e plantações de grãos. 










      Superamo-nos: fomos parar no camping de Werribee, às nove horas da noite (ainda sob a luz do dia – lá escurece por volta das nove e meia da noite), exaustos, pedalando com um forte vento contra nos últimos vinte quilômetros, completando 120 km num único dia. Destaque total para a Mari, que das dificuldades dos dois primeiros dias passou à fantástica performance desse recorde de distância, e em condições muito especiais, como se verá adiante.








Restava chegar a Melbourne, de onde pegaríamos o navio que nos levaria à segunda etapa da expedição: a exótica ilha da Tasmânia. Foi com essa expectativa preenchendo o espírito que iniciamos o último dia dessa primeira fase, sentindo um pouco o cansaço acumulado e um tanto receosos com a aproximação de Melbourne, segunda maior cidade da Austrália. Mas, seguindo com a máxima atenção e com o mapa na mão quilômetro a quilômetro, fomos nos achando, sempre através de caminhos secundários, passando por lugares bem bacanas, até alcançarmos o porto por volta das três da tarde.  Lá estava ancorado o “Spirit of Tasmania”.





















        Zarpamos às seis da tarde, brindados com o retorno dos irmãos sol e céu azul, após tantos dias negociando com a instabilidade do tempo. Para trás, na esteira do grande navio, uma visão bonita de dezenas de barcos a vela curtindo o final de tarde na baía, e o skyline de Melbourne ficando distante na paisagem, junto com as lembranças eternas dos dias de pedalada naquele pedaço do mundo. 











       Quatorze horas depois, após um jantar de primeira categoria e uma noite bem dormida ao balanço do mar, aportamos em Devonport, cidade de entrada pra quem chega pelo mar à exótica ilha.







A idéia de ir para a Tasmânia nasceu de uma dica de um velho amigo que conhece bem aquelas bandas: Manoel Morgado, guia de turismo de aventura na Ásia, com quem fiz uma viagem para aqueles lados há alguns anos. Nada como ouvir quem conhece... Nosso inimaginável destino foi o banho de natureza e paz que a alma precisava e merecia.













Assim que chegamos, entramos num daqueles típicos postos de informação turística com todo tipo de panfletos, mapas e recepcionistas entusiasmados – um verdadeiro exemplo de como lidar com essa figura sempre meio perdida que é o turista. Depois sentamos num gramado, abrimos o mapa da Tasmânia e traçamos um roteiro que coubesse nos seis dias disponíveis que tínhamos pela frente. 






      Em seguida pegamos um ônibus para uma cidadezinha da costa leste chamada St Helen’s, onde chegamos no final da tarde, gratificados com o incrível astral de paz do lugarejo. Instalamo-nos no albergue da juventude, onde a senhora que nos recebeu espantou-se por sermos brasileiros – “Nunca recebi brasileiros aqui”, ela nos disse.









Nosso primeiro dia de pedalada na ilha foi daqueles dias bonitos, silenciosos, introspectivos, simples. Pedalar, contemplar a paisagem, ‘ser’ a viagem... Viajamos o dia todo à beira-mar, sob um céu nublado, um pouco de frio, o pensamento voando mais do que nossas máquinas de transformar tempo em distância. 









Encantamo-nos com as plantações de aveia, os tratores fazendo os montes de feno que ficavam espalhados pelo campo e com os intermináveis rebanhos de ovelhas que se estendiam a perder de vista. Fomos parar em Bicheno, pequena cidade 80 km distante do nosso ponto de partida, onde montamos novamente nossa barraca no camping local e saboreamos nosso delicioso jantar à base da incomum combinação de peixe frito (comprado no comércio local) com macarrão e pão...







Antes de partir no dia seguinte, enquanto desmontávamos ‘a casa’, batemos um bom papo com um americano do Alaska viajando com a família num trailer alugado – trocamos informações de viagens e manifestamos nosso desejo mútuo de conhecer a terra um do outro – Muito bacanas essas conversas com as pessoas que estão ‘na estrada’.








Tivemos então um fantástico dia de sol! Ainda que insistentemente frio (em torno dos dez a doze graus). Fizemos um dia curto de sessenta quilômetros até a cidadezinha de Coles Bay, dominada pela imponência de uma montanha de granito denominada “The Hazards” e ao lado do Freycinet National Park, uma reserva ecológica cheia de opções de caminhadas e vida selvagem. Montamos nossa barraca, descansamos um pouco e saímos pra dar um giro pela região. 

















     Acabamos fazendo uma caminhada de uma hora até o mirante da deslumbrante e famosa Wineglass Bay – esforço facilmente recompensado pela paisagem magnífica de uma baía de um azul belíssimo cercada de mata virgem por todos os lados, como se “o mundo” ainda não houvesse chegado por ali. 








      Na volta para o nosso camping encontramos alguns cangurus passeando livremente no estacionamento do começo da trilha e nas curvas da estradinha do Parque – bichinhos engraçadinhos eles.








Trecho do álbum original




Sentindo-nos completamente adaptados à viagem saímos de Coles Bay cedo, curtindo o dia bonito e a paz das estradas pouco movimentadas. Para não refazer o caminho que já havíamos percorrido, pegamos um barquinho em Swanwick, com um morador local que, segundo nos contou, tem no transporte de cicloturistas naquele trecho um lucrativo negócio alternativo nas temporadas – bom pra ele e pra nós, que, além de tudo, economizamos algumas dezenas de quilômetros naquela etapa. 












       Pedalamos por uma estrada completamente deserta até reencontrar a principal, litorânea, que nos conduziu a Orford, 90 km à frente, nosso destino naquele dia. Voltamos a ficar numa confortável cabine, na realidade uma pequena casa, onde tivemos a oportunidade de lavar nossas roupas e onde a Mari se deliciou com um pé carregado de ameixinhas bem no nosso quintal – coisas simples que têm um valor especial nessas situações.












Afastamo-nos novamente do litoral e tivemos um dia difícil: subidas íngremes e longas, muito vento, cansaço, uma paisagem dramaticamente bela, descidas alucinantes... Numa delas a Mari perdeu o controle da bike numa curva e foi pro chão. Grande susto, alguns arranhões, mas felizmente nada mais sério. Passamos a tomar mais cuidado – um acidente era a última coisa de que precisávamos. 








       Depois de Sorell a estrada, estreita,  ficou bem mais movimentada, e tirou um pouco da graça de pedalar pensando na vida. Por volta das seis da tarde, ainda a dez quilômetros do destino pretendido para o dia, paramos na lojinha de um posto de gasolina pra comprar algumas coisas e o cara nos convidou pra acampar na vilazinha: “Em Dunalley (pra onde pretendíamos ir) só tem um hotel e é muito caro. Vocês podem acampar ali no clube, se quiserem...” –  ele nos disse. Motivados pelo extremo cansaço e pelo dia desgastante que tivemos, resolvemos aceitar o convite, e armamos nossa pequena “casa” no gramado do tal clube campestre meio abandonado, tomamos um bom banho frio revigorante e dormimos ao som de bois, pássaros, cigarras, o vento batendo nas árvores e envoltos numa deliciosa sensação de bem estar.








Acordamos cedo no dia seguinte e pegamos a estrada às oito da manhã, depois do nosso ritual matinal diário de tomar café, desmontar a barraca, montar a bagagem nas bikes, alongar... Passamos por cidadezinhas bastante simpáticas, com casas de jardins super bem cuidados e fartamente floridos. No começo da tarde começou a chover. Abrigamo-nos no alpendre de uma pousada à beira da estrada e esperamos por longas duas horas. Voltamos a pedalar debaixo de um tempo fechado e instável. 









A estrada voltou a  ficar deserta e silenciosa,  e a paisagem, curiosamente,  compunha um conjunto bonito com o tempo nublado e aquele aspecto de fim de mundo desses lugares que são “fim de linha”. Voltou a chover, voltamos a nos abrigar em baixo de algumas árvores. Depois desistimos da espera e harmonizamo-nos com a chuva. 











Fomos parar em Port Arthur, um vilarejo com meia dúzia de casas e um grande e sofisticado centro de visitantes, que recepciona os turistas para um badaladíssimo tour numa antiga colônia penal, com seus prédios impecavelmente conservados, além de algumas outras igualmente badaladas opções (os caras são bons de marketing!), como museu e um cruzeiro pela baía vizinha.












Estávamos no extremo sul da Tasmânia, e da Austrália. A única opção de continuar pra algum lugar era voltar pela estrada pela qual havíamos vindo. Como percorrer duas vezes o mesmo caminho numa viagem de bicicleta definitivamente não tem o principal ingrediente de motivação desse tipo de expedição, que é abrir novos horizontes, resolvemos voltar pra Hobart (de onde pretendíamos voar de volta pra Melbourne) de ônibus.







Saímos cedo de Port Arthur, às seis da manhã. Chegamos em Hobart às oito, instalamo-nos num hotel e saímos pra conhecer a cidade e a região, pra não perder o hábito, de bicicleta. Fizemos um giro de mais de 80 km, até a cidadezinha de New Norfolk, acompanhando o Derwent River, ao sopé de belas montanhas, por estradas infelizmente muito movimentadas. O cansaço bateu forte no final do dia, quando retornamos a Hobart, indicando-nos que estava de bom tamanho...









       Então nossa ‘brincadeira’ estava acabando. A magia dos lugares silenciosos e desertos tinha ficado pra trás. No outro dia ainda pedalamos 20 km até o aeroporto de Hobart, de onde voamos de volta a Melbourne, onde pegamos um ônibus de volta a Sydney, e de lá, de volta pra casa.











     














     Esses três últimos dias foram um misto de saudade, satisfação, euforia, alegria, sentimentos diversos e alternados ocupando o palco das nossas emoções. Concluir esse tipo de viagem é ainda mais forte do que se lançar nelas. A sensação de ter realizado um projeto planejado por meses (ou anos?), do qual pouco se sabia e sobre o qual era até difícil imaginar, e tão ricamente acalentado, não tem preço, nem comparação. 









       Experiências como essa invadem o cantinho organizado dos nossos valores tradicionais e nos mostram que a vida é muito mais do que o dia-a-dia aparentemente confortável da nossa rotinazinha de sempre. E é muito bacana “tirar o pó” dessas coisas que ficam paradas nas nossas “estantes mentais”!...










Dois dias depois de chegar ao Brasil fizemos a maior descoberta da viagem: ficamos sabendo que, na realidade, percorremos nosso caminho mágico a três corações, e não a dois! A Mari está grávida. Bacana saber que o pequeno (ou pequena), recém concebido, já estava nas estradas do mundo, sentindo as dificuldades dos caminhos desconhecidos e encantando-se, por tabela, com as paisagens fantásticas do mundo no qual ele está chegando. Fica a dúvida: será que essa nova vida começou em solo australiano ou brasileiro? De qualquer forma é um belo início. Que seja um bom presságio!


Até a próxima!..."



(Curitiba-PR, Março de 2002)








Mari descobrindo o resultado do teste de gravidez, 
dois dias depois da nossa chegada de volta ao Brasil


                          


Painel artístico na rua, em algum lugar da Austrália





“Tempo disso, tempo daquilo. Falta o tempo de nada.”  

(Carlos Drummond de Andrade)









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