[ trilha sonora sugerida: "The final cut" - Pink Floyd ]
Um dia, planejarás dar uma voltinha com a tua moto, mas, ao despertar no dia previsto, verás que o céu está fechado, cinzento,
pouco auspicioso para um passeio, talvez até chova. Não te intimidarás. Vestirás
tua armadura de pilotar, montarás no teu cavalo mecânico e, confiante em que as
condições irão melhorar, te lançarás à estrada.
À primeira acelerada num trecho de estrada ampla, sem semáforos, quebra-molas e outros obstáculos como esses, sentirás aquele
velho prazer inundar tuas sensações, e de imediato te desligarás do teu bendito
contexto cotidiano, tal como se estivesses tomado por um passe de mágica.
Seguirás descendo por uma serra, dançando num leve gingar em
curvas à direita e à esquerda, integrando-se pouco a pouco a essa bela peça
motorizada de engenharia mecânica.
Pouco depois virá um trecho de uma bela reta, ladeada por
mata fechada de ambos os lados, e ali sentirás o bem que faz respirar um ar
diferente de vez em quando.
Passarás pela pequena e simpática cidade a que chamam de
Matinhos, Balneário de Caiobá, onde farás uma parada e apreciarás a visão
sempre confortadora do mar se estendendo até o horizonte, inspirando anseios de
liberdade e de aventuras sem fim. Pensarás, com a impressão de ser um
pensamento teu, que não seria ruim ter uma casinha ali, pra curtir com mais
frequência essa alternância de ambientes, que tão bem faz aos espíritos inquietos.
Atravessarás então a baía a que dão o nome de Guaratuba
embarcado num ferry boat, e seguirás, já então debaixo de uma chuva fina que
acreditavas que não cairia, por ruas e estradas locais na direção de uma outra
cidadezinha denominada Garuva.
As condições do clima, a essa altura, estarão definitivamente
chuvosas. Mas não te importarás. Por alguma razão que tu mesmo não entenderás,
tudo parecerá bem, e o prazer de pilotar tua máquina estará acima dessas
questões ambientais momentâneas.
De lá retornarás à tua casa subindo uma outra serra,
novamente contornando curvas instigantes para um lado e para o outro,
divertindo-se com a situação, apreciando o ronco grave do motor respondendo obediente
aos comandos de tua mão direita.
Chegarás de volta à garagem de onde partiste algumas horas
antes com a sensação de ter dado uma volta muito maior do que os 230 km que
terás rodado. E essa é a magia de fazer coisas assim, essa impagável sensação
de se sentir fora do tempo e do mundo por alguns momentos.
É verdade que, de forma geral, as coisas não são mesmo muito
românticas e fáceis nesse belo mundo que habitas; não obstante, haverá sempre
como dar essas pequenas escapadas, que lhe proporcionarão, ainda que brevemente,
esse prazer infantil que tanto aprecio que sintas.
Ao final, pensarás que tudo foi decisão e opção tuas, mas, no
fundo, no fundo, nunca é. Tudo é apenas um movimento, e tu és parte disso. Mas
pouco importa. Siga com tuas impressões e tua sensação de realidade até onde
for devido. Um dia não precisaremos mais disso.
"Nada perdura, tudo muda."
(Heráclito)
Gratidão
Força Sempre
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