(... dia da caça)
Há alguns dias (02 Nov) planejei
uma viagenzinha de moto à região da Serra do Rio do Rastro, em Santa Catarina, com
a intenção de dar uma pilotada, sair um pouco de casa e fazer umas fotos. Seria
uma saída rápida, indo em um dia e voltando no outro.
Saí de casa de manhã cedo, com
tudo preparado, curtindo muito a oportunidade de poder dar uma voada com a GS.
Como de costume, parei num posto de combustível, já na estrada que seguiria,
pra abastecer e calibrar os pneus. Tudo estava indo bem até que fui calibrar o
pneu traseiro. Ao me abaixar pra encaixar a mangueira do calibrador no bico do
pneu, fiz “um movimento errado” e bati a testa na borda da placa da moto,
abrindo, de imediato, um baita corte alguns centímetros acima do olho direito.
Pelo tanto de sangue que começou
a jorrar, parecia que tinha sido atingido por uma espada samurai. Tentei, por
alguns minutos, estancar a hemorragia, lavando o ferimento numa torneira
próxima, mas não deu nada certo. Pra resumir a história, saí dali para o pronto
socorro do hospital, onde o médico e o enfermeiro que me atenderam ainda
tiveram certo trabalho para controlar o persistente sangramento. Depois
costuraram o estrago com três pontos, fizeram um enorme curativo, receitaram um
anti-inflamatório e me liberaram com recomendações enfáticas de repouso.
Então o meu desejado passeio
reverteu-se num descanso forçado no aconchego do lar.
A bem da verdade, se quisesse
mesmo, dois dias depois até poderia ter retomado os planos da rápida viagem,
mas aí já estava chovendo de novo, eu já tinha outros objetivos previamente
definidos para aqueles dias e senti que a “janela” havia passado.
O filósofo Arthur Schopenhauer
dizia que “o destino embaralha as cartas, e nós jogamos”.
A questão da engrenagem por trás
dos fatos é um tema clássico da existência humana, e, por conseguinte, da
Filosofia, disciplina dedicada, por excelência, a pensar sobre a vida e seus mistérios e razões.
Deveria entender o ocorrido
naquele pequeno acidente (naquela ação que já havia realizado tantas vezes)
simplesmente como um lamentável descuido da minha parte? Ou haveria ali algo
mais?... Quem sabe um “sinal” ou um artifício para que não seguisse o roteiro
planejado, e sim outro...
É tentador pensar nessas
hipóteses metafísicas e, de certa forma, românticas, de que existe uma
“lógica” por trás do que nos acontece... Uma inteligência, uma razão, uma mão a
nos proteger... Mas, a rigor, que motivos temos para pensar de um jeito e não
de outro?
Acho que, a esse respeito,
tendemos sempre a pensar da forma que “gostaríamos que as coisas fossem”, e
esse desejo acaba tomando forma de crença, que, no final das contas, acaba nos
parecendo realidade. A “nossa” realidade...
Leibniz dizia que “... nenhum
fato pode ser verdadeiro ou existir, e nenhuma afirmação pode ser verídica sem
uma razão suficiente para que seja dessa maneira e não de outra; embora essas
razões quase sempre permaneçam desconhecidas para nós.” O escritor Lou Marinoff
arremata essa afirmação dizendo que “os seres humanos nem sempre podem
compreender tudo. O cosmo é complexo demais para nós”.
Sobre essa questão do destino
versus liberdade de ação, o filósofo francês La Rochefoucauld defendia que “a
boa ou a má fortuna dos homens depende tanto de suas predisposições e esforços
quanto de seus destinos”.
Acho que o que de certa forma nos
choca em acontecimentos como o descrito no começo deste texto é a constatação
inescapável da incerteza dos nossos atos e intenções. Fazemos mil planos,
imaginamos mil coisas, e de repente, não mais que de repente, tudo muda. O que
não deixa de ser também um tanto instigante, se visto de outra forma.
Se o mundo fosse previsível, provavelmente seria também muito chato (mais do
que já é...).
Pessoalmente, sinceramente, não
me detenho muito nessa questão do por que essas coisas acontecem. Vejo tudo
muito como formas de energia, que flui, de uma maneira ou de outra, na direção
que tem que fluir [acho um pouco diferente da visão clássica de destino]...
Conseguir se harmonizar com esse
fluxo e entrar na vibração “correta” é o grande barato dessas brincadeiras (e
talvez da vida...). Querer entender certas coisas racionalmente pode ser
tristemente ineficiente. Melhor usar a razão para coisas mais objetivas e
procurar tocar a vida com mais leveza e desprendimento.
É como diz aquela música: "corra, não pare, não pense demais, repare essas velas no cais, que a vida é cigana" ["Caravana", Geraldo Azevedo/ Alceu Valença]...
Avante!
P.S: A despeito de toda essa elaboração de conceitos, poderia-se interpretar o ocorrido como uma simples bisonhice, o que, tenho que reconhecer, também é verdade... [risos]
"É difícil dizer com certeza o que me leva a seguir por essa rua,
em vez de seguir por aquela.
Uma escolha como essa pode modificar minha vida -
e assim acontece em todos os momentos,
nos movimentos que faço, nas decisões que tomo.
É assim que talvez deve ser:
fabricamos nosso destino, e o destino de outras pessoas,
a cada gesto e a cada escolha.
Como não posso imaginar o futuro provável de cada ação,
fico tranquilo no único lugar que posso conhecer de fato:
exatamente em mim mesmo, precisamente agora.
E não fico imóvel e extático temendo tomar a decisão errada.
Porque não posso prever o futuro, nem me adianta remexer o passado,
ajo, vivo, sinto e repouso neste presente eterno
que é a única alternativa de quem está acordado".
(Luiz Carlos Lisboa)
Gratidão
Força Sempre
É meu irmão... Pode ter sido sorte ou azar. Só o que vem pra frente poderá dizer. Assim é a vida. Grande abraço do seu admirador e irmão.
ResponderExcluirValeu, Gilson. Sempre em frente.
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