Tiger 900 Rally Pro

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sábado, 18 de novembro de 2017

Passeio com o Troller a Guaraqueçaba-PR, 10 e 11 Nov 2017









(... em busca de silêncio)

Planejei essa viagenzinha mais por razões sonoras do que visuais. Estava realmente precisando de um pouco de silêncio. Tanto no sentido de ouvir quanto de falar.

Saí de casa na sexta-feira à tarde, com o Troller, com a intenção de pernoitar na cidadezinha de Guaraqueçaba, no litoral do Paraná, distante cerca de 160 km de Curitiba (metade dos quais é de estrada de terra, e uma estradinha de terra daquelas...). Justamente por essa dificuldade de acesso, essa localidade conserva exatamente o que estava procurando naquele momento - aquela sensação de fim de mundo, um lugar em que as pessoas vivem em outro ritmo e em que não se ouve no ar esse rosnar constante de motores em funcionamento, característico das cidades grandes.

O tempo, pra variar, estava cinzento e com cara de chuva por essas bandas, não muito auspicioso para um passeio. Paciência...

Antes mesmo de chegar ao começo da tal estradinha de terra começou a cair água do céu, e o mundo tomou aquele aspecto melancólico típico desses momentos – num lugar distante, sozinho, embrenhando-se por caminhos tortuosos e desconhecidos, sob um céu cor de chumbo...










Cheguei à pequena Guaraqueçaba por volta das seis da tarde, debaixo de uma chuva decidida e com muita lama por todo lado. Instalei-me numa pousadinha e dediquei o restante da noite a curtir o que havia ido buscar, ouvir o silêncio e ficar em silêncio.












Na manhã seguinte a chuva que caiu quase a noite inteira havia parado. Saí pra dar uma caminhada pelas redondezas, apreciando, com ingênua alegria, as cenas simples de um pequeno vilarejo acordando num sábado pela manhã. A mulher varrendo a frente de um templo evangélico, um garoto passando de bicicleta trazendo um saco pendurado no guidão (pão para o café da manhã?...), um homem saindo para o mar com sua bateia (indo pescar?...).






























A cidade fica à beira da Baía de Paranaguá e, por isso, acaba sendo mais fácil chegar lá de barco do que de carro (pelos ingratos 80 km de estrada de terra cheia de buracos e costelas de vaca que havia percorrido no dia anterior). Esse posicionamento geográfico confere ao local certo charme, certo ar de liberdade que só o mar é capaz de proporcionar. Muito bom caminhar pelos caminhos à beira-mar sentindo o cheiro da maresia, ouvindo o barulhinho da água batendo levemente nas pedras, os pássaros cantando nas árvores em redor. Simples, mas revigorante.

Pouco depois iniciei o retorno, mas nesse caminho de volta queria aproveitar pra conhecer uma reserva natural de que havia ouvido falar, o Salto Morato, aonde se chega por uma outra estradinha, ainda mais estreita e secundária, quatro quilômetros distante da estrada principal.











“A Reserva Natural Salto Morato está localizada em Guaraqueçaba, no litoral Norte do Paraná. Em 1994, a área foi comprada com o apoio financeiro da The Nature Conservancy e, no mesmo ano, foi reconhecida como Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). Desde 1996, é aberta ao público e se tornou uma das atrações turísticas do município de Guaraqueçaba (PR). Em 1999, foi reconhecida pela Unesco como Sítio do Patrimônio Natural da Humanidade.

A Reserva Natural Salto Morato abriga uma área de 2.253 hectares de Mata Atlântica e encontra-se em região com expressiva concentração de espécies de aves endêmicas - ou seja, que ocorrem apenas no bioma -, sendo várias delas ameaçadas de extinção.”


 [transcrito do site www.fundacaogrupoboticario.org.br]
















Fui recebido gentilmente por duas moças, às quais paguei a taxa de entrada (dez reais) e que me fizeram uma rápida exposição das características e detalhes da Reserva.





















Iniciei então a caminhada pela trilha que levava ao Salto Morato propriamente dito – uma queda d’água de cerca de 120 metros de altura envolta por densa mata por todos os lados. Belo visual. Fiz um vôo com o Mavic, pra tirar umas fotos aéreas do magnífico cenário e fiquei um tempo ali, curtindo o barulho da água e a sensação boa de não ter ninguém por perto.





























Na sequência percorri outra trilha pra ver outro atrativo da Reserva, uma figueira centenária que cresceu à beira de um rio, e cujos galhos desenvolveram-se sobre esse rio.














Para acessar esses dois pontos, caminhei cerca de três horas pelas trilhas, não tendo cruzado com ninguém nesse tempo em que lá estive. Mais uma excelente e rara oportunidade de apreciar o que havia ido buscar nesse passeio, essa vivência revigorante com o silêncio (interno e externo).




































É interessante a força de um ambiente como aquele, com uma densa mata por todos os lados, pássaros cantando, um ou outro bichinho passando correndo por entre os arbustos, uma ou outra cigarra cantando ao longe. Muito bom passar algumas horas em lugares assim de vez em quando.

Voltei então ao Troller e à “infame” estradinha de terra. No caminho de volta ainda fiz algumas paradas pra apreciar o ambiente e pra fazer mais alguns voozinhos com o Mavic, para umas fotos aéreas.
















































Como bônus do dia, almocei, no meio da tarde, num restaurantezinho caseiro, à beira de um rio, debaixo de umas árvores, um gostoso peixe com arroz e feijão. Mais simples, impossível.

Cabe destacar ainda o prazer de dirigir nessas estradinhas de terra. Em que pese que, a partir de certo ponto, a brincadeira comece a cansar, e o natural desgaste que se impõe ao carro nessas condições adversas, acho um barato estar nesse tipo de ambiente de vez em quando, e curtir esse prazer quase infantil de dirigir sem as preocupações e condicionamentos das estradas asfaltadas.

Passeios assim reforçam um velho sonho que ainda cultivo, de morar num lugar em que o silêncio seja onipresente. Se estiver distante de vizinhos e com um belo visual à janela, tanto melhor. Quem sabe um dia...

Bom demais.

























"Entre as lições da vida natural,

o isolamento voluntário de alguns animais ensina coisas ao homem.
Longe dos períodos de acasalamento e de caça em grupo,
eles procuram a solidão para refazer sua energia,
num encontro com a vida que se expressa como um ritual sagrado.
Com o homem que não perdeu de todo seu instinto -
a quem a cultura e a cidade
não conseguiram reduzir à condição de máquina -
essa retomada de contato com a natureza,
misteriosa como é, transforma-se em necessidade e prazer.
No jardim, na janela, na praia deserta,
o ritmo da respiração e o encantamento com o mundo
não precisam ser aprendidos -
porque revelam sozinhos esse instante de celebração e reencontro".

(Luiz Carlos Lisboa)



Gratidão





Força Sempre







P.S: Todas as fotos: arquivo pessoal









2 comentários:

  1. Gostei das fotos e da sua narrativa. Tenho a impressão que estou ao seu lado quando leio o que escreve. Parabéns, meu irmão.

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