Dia de dar uma voltinha de moto.
Pra esse passeio planejei, como
atrativo principal, percorrer a Estrada da Limeira, caminho de terra que liga
um ponto da BR 277 (próximo a Morretes) a Garuva-SC.
Esse percurso se desenvolve em três etapas: descida da Serra do Mar pela BR 277 - 60 km em excelente estrada, com belas curvas e visual bacana; a Estrada da Limeira - cerca de 70 km de terra, pedras, buracos e uma paisagem de
tirar o chapéu; e, retornando a Curitiba, mais uns 80 km pela BR 376 - movimentada estrada que liga o sul do país pelo litoral.
Excepcionalmente o dia estava com
uma cara boa - céu azul, sem previsão de chuva.
Já havia percorrido a Estrada da
Limeira tempos atrás, com o Troller, por isso sabia que é uma região bem
isolada e de beleza singular. Percorrer caminhos com essas características de
moto, sozinho, tem, logicamente, o duplo viés de ser muito instigante, ao mesmo
tempo que é também um tanto temerário – a velha questão de “e se acontecer
alguma coisa” é bem pertinente nesse caso... Em caso de algum problema, pode
demorar um pouco pra aparecer alguém pra dar uma mão (principalmente na
primeira metade do caminho).
Pilotar a GS nesse tipo de
terreno requer certa adaptação dos sensores de equilíbrio e de percepção
internos. Mas isso acontece muito rapidamente. Depois de alguns minutos parece
que o cérebro passa a entender o que está acontecendo e o ritmo vai se
encaixando. É lógico que a motinha não é uma legítima trail, apesar de ser
chamada de “big trail”. Não é difícil imaginar que em situações adversas de
terreno, quanto menor o tamanho (e o peso), maior o controle.
No entanto,
felizmente o inverso não é uma equação diretamente proporcional, ou seja,
apesar de ser uma moto grande e aparentemente pesada, não é um trambolho, como
pode parecer a olhos leigos. Muito pelo contrário. É uma máquina incrivelmente
ágil e de tocada confiável e divertida. A vulnerabilidade fica por conta de
situações em que o peso realmente pode fazer a diferença entre se safar de um
enrosco ou não. Por isso, o melhor a fazer é usar (bem) o motor pra manter a
estabilidade do voo.
Apesar da natural preocupação
inicial, o passeio transcorreu sem sustos e sem problemas. Curtir um pouco esse
bucolismo do ambiente rural é um prazer que deveríamos usufruir com mais
frequência. Parei várias vezes pra ouvir o rio correndo por baixo da ponte, os
pássaros cantando na mata ao redor ou simplesmente para apreciar o silêncio típico desses lugares isolados.
Chegando a Garuva, no começo da tarde, parei pra contemplar o rio que passava sob uma ponte e vi uns garotos às margens do curso d'água, brincando de mergulhar nas águas refrescantes, fazendo graça uns com os outros, meio à toa, e me ocorreu como, de certa forma, a nossa cultura e sociedade moderna nos "desensinou" isso de simplesmente curtir o momento e o lugar, sem preocupações, sem criar necessidades, sem querer que cada ato seja uma apoteose num palco imaginário. Talvez, hoje em dia, precisemos mais desaprender do que "adquirir" mais conhecimento e informações... Simplicidade - esse é nome dessa 'arte'.
Chegando a Garuva, no começo da tarde, parei pra contemplar o rio que passava sob uma ponte e vi uns garotos às margens do curso d'água, brincando de mergulhar nas águas refrescantes, fazendo graça uns com os outros, meio à toa, e me ocorreu como, de certa forma, a nossa cultura e sociedade moderna nos "desensinou" isso de simplesmente curtir o momento e o lugar, sem preocupações, sem criar necessidades, sem querer que cada ato seja uma apoteose num palco imaginário. Talvez, hoje em dia, precisemos mais desaprender do que "adquirir" mais conhecimento e informações... Simplicidade - esse é nome dessa 'arte'.
De volta ao ritmo apressado e barulhento de Curitiba, me sinto revigorado por uma
energia boa que circula pelo corpo, pela mente e pelo espírito, como se
estivesse voltando de um lugar onde vi a luz, e se contasse para os que estão
na caverna, esses não entenderiam o que diria, e acabariam por me chamar de
louco... Bem, acho que minha “loucura” me mantém vivo... [risos]
Bom demais!
Percurso realizado (213 km)
"Tenho neste momento tantos pensamentos fundamentais,
tantas coisas verdadeiramente metafísicas que dizer,
que me canso de repente, e decido não escrever mais,
não pensar mais, mas deixar que a febre de dizer me dê sono,
e eu faça festas com os olhos fechados, como a um gato,
a tudo quanto poderia ter dito."
(Fernando Pessoa, em 'Livro do Desassossego')
Gratidão
Força Sempre
P.S: Sim, é verdade, de um ponto de vista "meta filosófico zen espiritualista" tudo isso é pouco importante, emoções momentâneas, apego à matéria, brincadeiras de samsara. Sim... quem sabe um dia largue tudo isso e decida viver da pura contemplação do mundo e do tempo, sem mais nada. Quem sabe...?
Obs:
- Todas as fotos: arquivo pessoal.
- Câmeras utilizadas: drone DJI Mavic e Nikon Coolpix AW130.
Nenhum comentário:
Postar um comentário