Olhando em retrospecto a história
das motos que tive ao longo desses últimos 23 anos sou obrigado a reconhecer,
um tanto divertidamente, que essas máquinas sempre exerceram certo fascínio
sobre mim.
Lembro-me nitidamente da primeira
vez em que subi em uma moto, uma Honda XLX 350, emprestada de um amigo para uma
voltinha rápida de poucos minutos. Na mesma hora reconheci que aquele negócio
era bem bacana e que tinha a minha cara.
Acho que naquela época, no auge dos
meus vinte e poucos anos, meus valores pessoais ainda não haviam se aberto às
diversas possibilidades de expressão nesse nosso belo mundo, mas a semente
estava lá.
Vários meses depois uma conjunção
de fatores me levou a adquirir minha primeira moto. A partir daí a paixão
cresceu e se tornou um estilo de vida.
Ainda que tenha percorrido já
alguns quilômetros e feito algumas viagens e passeios bem legais sobre duas
rodas nessas duas últimas décadas de histórias vividas, esse continua sendo um
setor em que há muito a ser feito e que mantém o mesmo encanto de muitos anos
atrás.
Rendo aqui minha homenagem, em
forma de lembrança, a essas motos que tive, e com as quais compartilhei tantos
momentos bons.
** ** **
Honda Sahara 350
1994 a 1995
Minha primeira moto, a Sahara foi
adquirida sob a força da paixão de contempla-la na vitrine da concessionária.
Alguns meses antes havia adquirido um apartamento na planta (impulsionado pela expectativa
de estar fazendo um bom negócio), mas pouco depois me arrependi – pagava mais
de um terço do meu salário na prestação do tal imóvel, e havia tanta coisa
interessante pra fazer por aí... Desfiz então o negócio e com o
dinheiro recebido na rescisão dei entrada na moto, zero km.
Detalhe: na verdade, não sabia
ainda andar de moto, nem tinha carteira de habilitação. Usei o prazo pedido
pela loja para entregá-la (cerca de um mês) pra tirar a carteira. Depois foi só
alegria!
Com a Sahara fiz a emblemática
viagem de Joinville a Brasília, em dezembro de 1994, com o amigo Álvaro. Foi um
marco. A partir dali estava sempre pensando no assunto, seja nas máquinas ou
nas viagens.
** ** **
Cagiva Elefant 900 (ano 94,
bordô)
1996 a 1997
A Cagiva foi outro caso de amor à
primeira vista. Encontrei-a numa loja de revenda e fiquei impressionado com o
tamanho e a imponência daquela máquina. Na época estava sem moto (pois havia
vendido a Sahara alguns meses antes), o que aumentou ainda mais meu desejo por
possuí-la.
Também não tinha grana para comprá-la, de tal forma que a solução foi vender o carro que tinha, juntar mais
algumas economias e investir no sonho.
O resultado do ímpeto foi muito
melhor do que podia imaginar. A moto era simplesmente fantástica. Motor Ducati,
embreagem desmodrômica (que fazia aquele barulho maluco que parecia que estava
tudo solto lá dentro), um torque absurdo e uma ciclística espetacular.
Havia, entretanto, alguns
defeitinhos. A parte elétrica vivia dando problema e o acabamento das partes
plásticas não era dos melhores.
Com ela fiz a viagem a Porto
Seguro (saindo de Joinville, indo a Brasília, ao nordeste e voltando ao sul)
com o Álvaro (com sua Tenere 600), e no ano seguinte fui de Joinville a
Brasília com a Mari na garupa, quando ainda éramos namorados. Fora outras
viagens e passeios mais locais.
Foi, sem dúvida, um divisor de
águas no meu relacionamento com o mundo motociclístico.
** ** **
Yamaha Tenere 600
1996
A história dessa Tenere foi curta
e não muito animadora. No final de 96 fui transferido pra Boa Vista-RR, e, em
função disso, achei que não seria prudente levar a Cagiva lá pra cima (devido à
previsível dificuldade de manutenção que certamente encontraria por lá).
Imaginei então que uma moto como a Tenere atenderia bem tanto ao pulsante desejo
de pilotar quanto à facilidade de manutenção em regiões inóspitas.
Comprei-a em Joinville e de lá
fui a Brasília, para passar uns dias na casa dos meus pais, e de lá pretendia
seguir rodando para Roraima. Acontece que na viagem para Brasília vi meu
entusiasmo pela moto minguar até me fazer mudar de ideia quanto a leva-la para
o longínquo norte.
O “problema” foi que sair de uma Cagiva
900 para uma Tenere 600 deve ser mais ou menos como sair de uma Ferrari para um
Golzinho 1.6... É difícil acostumar.
Assim, acabei deixando-a em
Brasília, aonde foi vendida alguns meses depois (e voltei a ser um desolado “sem
moto”).
** ** **
Yamaha Supertenere 750
1999 a 2000
A Super representou meu retorno
ao mundo das duas rodas depois de dois anos de dura abstinência em Roraima.
Foi comprada à distância, pelo
grande amigo Moraes, de Belo Horizonte (que na época também tinha um modelo
igual).
Voltando de Boa Vista, transferido
para o Rio de Janeiro, a primeira coisa que fiz foi parar em BH para pegá-la e
de lá seguir viagem para Brasília, onde passei algumas semanas de férias.
Com ela fiz algumas viagens, como
de Brasília para o Rio e, ao longo do ano, algumas outras pelos estados de
Minas Gerais e arredores. O aproveitamento foi um tanto dificultado por estar em um ano meio tumultuado profissionalmente, por estar cursando a Escola de
Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), o que demandava certa dedicação e muito
comprometimento das horas vagas.
No começo de 2000, transferido
para Curitiba, vendi-a para inteirar a quantia necessária para adquirir um
imóvel, e novamente me vi como um “sem moto”.
** ** **
Yamaha TDM 850
2003 a 2005
Consegui adquirir a TDM através
de um longo e incerto processo de consórcio de veículo. Depois de muita espera,
acabei sendo beneficiado por um bônus do consórcio, que me possibilitou
retornar às duas rodas.
A TDM foi um caso de sucesso que
superou enormemente minhas expectativas. Meio termo entre uma big trail (estilo
que sempre havia tido, até então) e uma esportiva, a moto era fantástica, com
um motor suave, silencioso e forte, além de uma ciclística extremamente
envolvente e cativante.
Com ela fiz várias viagens curtas
pela região sul, sempre curtindo muito a oportunidade de poder acelerá-la e
sentir aquela velha sensação de cavalgar um cavalo mecânico em alta velocidade.
** ** **
Cagiva Elefant 900 (ano 95, azul)
2006
Em 2005 fui transferido para
Brasília, e em meio à reorganização geral que essas mudanças provocam na vida
da gente, acabei vendendo a TDM e ficando novamente sem moto.
Mas não demorou a me sentir um tanto
desolado, sintoma típico da abstinência de pilotar (rsrsrs).
Pra retornar à brincadeira pensei
em comprar uma moto que atendesse aos parâmetros que definem o prazer de
pilotar e que ao mesmo tempo não custasse uma fortuna. Depois de muito pensar,
decidi retornar à Cagiva 900, que tanto prazer me dera outrora.
Achei uma moto em boas condições
em São Paulo. Fui lá ver, gostei, e trouxe-a pra casa.
Ainda que tenha me dado grande
satisfação no período em que estivemos juntos, senti que nosso relacionamento
já não era como havia sido com a outra Cagiva, tantos anos antes. A falta de
confiabilidade em certos componentes, com constantes panes e exigência de
manutenção assídua me fez passá-la adiante e encerrar mais esse capítulo da
minha história com as duas rodas.
** ** **
Yamaha XT 660
2006
De volta às pesquisas e reflexões
alguns meses mais tarde, decidi apostar na bela e competente XT 660 para
ser minha nova companheira de estrada.
Moto muito bacana, leve, ágil e divertida.
Mas na estrada parece que faltava alguma coisa... Talvez um pouco de potência,
talvez um pouco de imponência (tamanho mesmo), talvez uma ciclística um pouco
melhor, talvez um pouco mais de proteção aerodinâmica...
Era boa, mas não era
apaixonante.
** ** **
Triumph Tiger 955
2006 a 2008
A Tiger foi outro caso de amor à
primeira vista. Saí de casa pra dar uma olhada em umas lojas de moto que havia
no setor Sudoeste, em Brasília, encontrei-a em uma das revendas e não resisti à
tentação.
Na época a Triumph ainda não
tinha loja oficial no Brasil, e encontrar modelos da marca inglesa era muito
raro. Era uma moto de nicho, atípica, com conceitos mecânicos diferenciados e
inovadores, a começar pelo fantástico motor tricilíndrico que é marca
registrada da Triumph – engenharia em estado de arte.
Com ela fiz a emblemática viagem
de 16.500 km em um mês, por vários destinos da Argentina e Chile, até Ushuaia, a
meca dos motociclistas na América do Sul.
A moto era espetacular em todos
os sentidos. Pilota-la era puro prazer.
No final de 2008 fui novamente
transferido para Boa Vista-RR, e novamente avaliei que não seria conveniente levá-la
para lá em função da dificuldade de manutenção típica da região. Assim, ela
ficou em Brasília e algum tempo depois foi vendida.
(Hoje, vendo em retrospecto,
acho que poderia ter mantido-a ainda por vários anos, independente dessa
questão da manutenção. Mas as decisões são tomadas com a visão do momento, e
naquele tempo o entendimento foi diferente.)
** ** **
BMW R 1200 GS
2010 a ...
Fiquei novamente quase dois anos
sofrendo com crises de abstinência de pilotar em Boa Vista (rsrsrs).
Em meados de 2010 decidi que
daria vazão a toda aquela pulsão represada, e faria isso sem pudores de
economia ou racionalidade.
Novamente depois de muito pensar
e pesquisar, acabei decidindo pela icônica BMW 1200 GS, uma moto que havia
muito tempo habitava meus sonhos motociclísticos.
O “problema” era que em Boa Vista
(logicamente) não tinha concessionária BMW, nem em nenhum lugar perto dali. A
solução foi recorrer à região sul/sudeste do país. Depois de semanas da fase
final da pesquisa, achei o modelo que queria, na cor que queria, mais ou menos
dentro do orçamento que dispunha, em São Paulo.
Acertei a compra por telefone,
voei para a capital paulista e fui buscar a máquina direto na loja, zero km.
Foi uma tremenda ousadia!
O plano era sair da
concessionária direto para o Chile, para uma viagem solo de três semanas pelo
Deserto do Atacama e arredores, mas no dia seguinte, por mais incrível que
pareça, a moto (com 300 km rodados) simplesmente apagou em plena estrada, sem
mais nem menos. Esse momento foi o perfeito anticlímax.
Pra resumir a história, a BMW
concordou em fazer a troca da moto inteira, ou seja, faturaram outra moto no
meu nome e começamos tudo de novo. Dessa vez parece que deu certo.
Até agora (Novembro de 2018) já
são 69.300 km rodados de muito prazer e satisfação.
Sobre a moto? Espetacular! Motor,
imponência, ciclística, ergonomia, acabamento, confiabilidade, torque, força...
Realmente os alemães acertaram a fórmula nesse projeto.
Ressalte-se que o modelo GS tem
mais de trinta anos de desenvolvimento e aperfeiçoamento, é o mais vendido da
marca BMW no mundo, bem como o mais vendido no segmento Big Trail, de todas as
marcas. Apesar disso tudo, não é unanimidade entre os motociclistas que
realmente conhecem e tem experiência no assunto. Há inúmeros relatos de quebras
e panes nas mais diversas situações e algumas safras recentes apresentaram
problemas graves de defeitos em partes vitais, gerando preocupantes programas
de recall de inúmeras motos. Não obstante, achar alguém que diga que não gostou
da motocicleta é bem difícil.
E agora? Qual o ponto de
equilíbrio entre manter um time que está ganhando e pensar em renová-lo? Boa
questão...
*** ***
***
Pilotar uma moto de alta
performance é uma dessas experiências que se enquadra naquele velho ditado que
diz que “pra quem conhece, nenhuma explicação é necessária. Pra quem não
conhece, nenhuma explicação é possível.”
A sensação é incomparável e
indescritível. Acho mesmo que tem a ver com uma memória ancestral de cavalgar, entranhada
no nosso dna.
Sim, é arriscado, cansativo, por
vezes desconfortável, mas os benefícios são incomparavelmente recompensadores.
Entendedores entenderão!
Bom demais!
Gratidão
Força Sempre
Belíssima história que inspiram a nós que já tivemos variada escrever sobre o assunto ,parabéns meu amigo , sei que essa história terá outros capítulos .
ResponderExcluirUm abraço.