Os dias anteriores a esse 15 de
outubro foram de muita chuva em toda a região sul. Aqueles dias cinzentos e
introspectivos que inspiram a ficar em casa, diminuir um pouco o ritmo e curtir
o aconchego do lar. Só que não... É bem romântico imaginar-se seguindo esse "ritmo natural", mas o fato é que se formos desfrutar desse luxo com frequência, corremos o risco de não sair de casa também com bastante frequência.
Às cinco e meia da
manhã do domingo partia em direção a Ponta Grossa, cidade a 120 km de distância de
Curitiba. Era o primeiro dia do horário de verão, ou seja, o dia só começaria a querer
clarear perto das sete da manhã.
Não estava chovendo, mas estava
frio, nebuloso e com muito vento, compondo um ambiente nada convidativo a
atividades outdoor.
Cheguei ao local da largada,
situado na região conhecida como “Alagados”, pouco antes das oito horas. A largada seria às nove, portanto foi o tempo
justo pra pegar o kit, fazer os acertos finais do equipamento, check in na área de transição e preparar
pra brincadeira.
Área de transição, pouco antes da largada
A prova era composta de 1 km de
natação, 32 de MTB e 9 de corrida. Pra compensar o frio, resolvi seguir a
maioria e vesti a roupa de borracha para a etapa da natação. Às nove em ponto
foi dada a largada.
Momentos antes da largada
Como se vê, não temos como reclamar de nada
(foto: organização da prova)
Essa primeira etapa foi realizada
na represa que dá nome à região – Alagados. Apesar da disposição anímica, o
ritmo não encaixou bem. Estava entrando água nos óculos e aquela típica
sensação do corpo levando aquele susto da mudança de aceleração e contexto contribuiu
pra dificultar as coisas. Ah sim, também não vinha treinando essa parte
aquática do triathlon com muito afinco ultimamente... Vinte e sete longos
minutos depois emergi daquela confusão de lentes embaçadas, direções tortuosas
e pernas e braços batendo sem a coordenação que seria ideal.
A etapa da bike começou subindo
pela estradinha de terra que dava acesso ao local de início da prova, mas logo
entrou em single tracks muito
divertidos e bastante técnicos. Aos poucos foi ficando claro que ali “o buraco
era mais embaixo”.
Foi um percurso extremamente desafiador e bonito. Passamos por todo tipo de terreno e graus de inclinação. Pedras, lama, rios, lajes de pedra, linha de trem, pontes, morros, bosques de eucalipto, mata fechada, e por aí vai. Fazia tempo que não pedalava num terreno assim, de mountain bike de raiz. Foi muito bacana, mas muito duro.
Foi um percurso extremamente desafiador e bonito. Passamos por todo tipo de terreno e graus de inclinação. Pedras, lama, rios, lajes de pedra, linha de trem, pontes, morros, bosques de eucalipto, mata fechada, e por aí vai. Fazia tempo que não pedalava num terreno assim, de mountain bike de raiz. Foi muito bacana, mas muito duro.
***
Acho que cerca de setenta por
cento do tempo dessa etapa foi desenvolvido em single tracks. O tempo foi passando e os quilômetros não. O lado
bom era que a bicicletinha estava cem por cento, respondendo muito bem aos maus
tratos impostos pela situação. O lado ruim era que as pernas já não estavam lá
tão bem assim, moídas pela constante demanda de força nos pedais. Longas duas
horas e trinta e seis minutos depois do começo chegava ao final da etapa, com
meros 13,2 km/h de média de velocidade (com 908 m de ganho de altitude!).
***
A essa altura fiz uns cálculos
rápidos e comecei a pensar que se não apertasse o passo na corrida poderia não
concluir no limite máximo de 4 horas previsto nas normas da competição.
Pois bem. Saí pra corrida daquele
jeito, com as pernas meio bambas e aquela sensação de cansaço bem acentuada.
Mas aos poucos o ritmo foi encaixando e as coisas foram dando certo. Muito
bacana sentir essa sensação do corpo funcionando bem sob condições tão adversas
de exigência física.
***
Por volta do km 5 passei por uma
sinalização sem vê-la e segui na direção errada por quase 1 km, quando achei
que tinha algo errado e resolvi voltar pra conferir. Retornei até o ponto em que havia me enganado e retomei o percurso previsto. Nem fiquei abalado.
Paciência.
***
Aproximando-me da chegada, com o
corpo amortecido pelo esforço continuado por quase quatro horas, senti-me
extremamente grato por estar ali, naquele momento, naquele lugar, fazendo o que havia me proposto, sentindo-me
bem com a situação. Os primeiros meses desse ano não foram nada fáceis, em
função de uma lesão na região lombar que realmente me incomodou muito e me tirou de
combate por um bom tempo. Ao que parece, felizmente acho que estamos achando
o caminho de saída desse labirinto.
Ao cruzar a linha de chegada, o
relógio da prova marcava 3 horas e 51 minutos.
Essa foi dura!
Bom demais!
Viva a vida!
P.S:
"Trata de conhecer a ti mesmo.
A tarefa é mais árdua do que parece."
(Cervantes)
P.S:
- Fotos marcadas com *** foram feitas por fotógrafos da equipe "Foco Radical". As demais são arquivo pessoal.
- Comparativamente, fiquei na 35ª colocação geral, dentre 57 competidores. 5º/6 na categoria 45-49 anos, mas isso definitivamente é o menos importante.
- Tenho estado atento, nos últimos tempos, à questão da "dinâmica da corrida", no sentido do equilíbrio do corpo, movimento de braços e pernas, relaxamento de ombros, braços, pulsos, mãos e dedos em contraposição à tensão necessária nas pernas, abdômen, core, etc. É bem interessante como há uma "beleza" envolvendo tudo isso. Correr com fluidez, relaxado, ao mesmo tempo que fazendo força e com velocidade é, provavelmente, o estado da arte dessa vertente da expressão humana... Muito legal isso.
Dados da etapa de corrida
Gratidão
Força Sempre
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