Tiger 900 Rally Pro

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sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Voltinha de moto por Caiobá-PR e Garuva-SC, 25 Out 2017




[  trilha sonora sugerida: "The final cut" - Pink Floyd  ]




Um dia, planejarás dar uma voltinha com a tua moto, mas, ao despertar no dia previsto, verás que o céu está fechado, cinzento, pouco auspicioso para um passeio, talvez até chova. Não te intimidarás. Vestirás tua armadura de pilotar, montarás no teu cavalo mecânico e, confiante em que as condições irão melhorar, te lançarás à estrada.

À primeira acelerada num trecho de estrada ampla, sem semáforos, quebra-molas e outros obstáculos como esses, sentirás aquele velho prazer inundar tuas sensações, e de imediato te desligarás do teu bendito contexto cotidiano, tal como se estivesses tomado por um passe de mágica.

Seguirás descendo por uma serra, dançando num leve gingar em curvas à direita e à esquerda, integrando-se pouco a pouco a essa bela peça motorizada de engenharia mecânica.












Pouco depois virá um trecho de uma bela reta, ladeada por mata fechada de ambos os lados, e ali sentirás o bem que faz respirar um ar diferente de vez em quando.

Passarás pela pequena e simpática cidade a que chamam de Matinhos, Balneário de Caiobá, onde farás uma parada e apreciarás a visão sempre confortadora do mar se estendendo até o horizonte, inspirando anseios de liberdade e de aventuras sem fim. Pensarás, com a impressão de ser um pensamento teu, que não seria ruim ter uma casinha ali, pra curtir com mais frequência essa alternância de ambientes, que tão bem faz aos espíritos inquietos.













Atravessarás então a baía a que dão o nome de Guaratuba embarcado num ferry boat, e seguirás, já então debaixo de uma chuva fina que acreditavas que não cairia, por ruas e estradas locais na direção de uma outra cidadezinha denominada Garuva.













As condições do clima, a essa altura, estarão definitivamente chuvosas. Mas não te importarás. Por alguma razão que tu mesmo não entenderás, tudo parecerá bem, e o prazer de pilotar tua máquina estará acima dessas questões ambientais momentâneas.















De lá retornarás à tua casa subindo uma outra serra, novamente contornando curvas instigantes para um lado e para o outro, divertindo-se com a situação, apreciando o ronco grave do motor respondendo obediente aos comandos de tua mão direita.

Chegarás de volta à garagem de onde partiste algumas horas antes com a sensação de ter dado uma volta muito maior do que os 230 km que terás rodado. E essa é a magia de fazer coisas assim, essa impagável sensação de se sentir fora do tempo e do mundo por alguns momentos.

É verdade que, de forma geral, as coisas não são mesmo muito românticas e fáceis nesse belo mundo que habitas; não obstante, haverá sempre como dar essas pequenas escapadas, que lhe proporcionarão, ainda que brevemente, esse prazer infantil que tanto aprecio que sintas.

Ao final, pensarás que tudo foi decisão e opção tuas, mas, no fundo, no fundo, nunca é. Tudo é apenas um movimento, e tu és parte disso. Mas pouco importa. Siga com tuas impressões e tua sensação de realidade até onde for devido. Um dia não precisaremos mais disso.















"Nada perdura, tudo muda."

(Heráclito)






Gratidão




Força Sempre








quinta-feira, 26 de outubro de 2017

"Motobiografia", breve relato sobre as motos que fazem parte da minha história - Curitiba, Novembro de 2018








Olhando em retrospecto a história das motos que tive ao longo desses últimos 23 anos sou obrigado a reconhecer, um tanto divertidamente, que essas máquinas sempre exerceram certo fascínio sobre mim.

Lembro-me nitidamente da primeira vez em que subi em uma moto, uma Honda XLX 350, emprestada de um amigo para uma voltinha rápida de poucos minutos. Na mesma hora reconheci que aquele negócio era bem bacana e que tinha a minha cara. 

Acho que naquela época, no auge dos meus vinte e poucos anos, meus valores pessoais ainda não haviam se aberto às diversas possibilidades de expressão nesse nosso belo mundo, mas a semente estava lá.

Vários meses depois uma conjunção de fatores me levou a adquirir minha primeira moto. A partir daí a paixão cresceu e se tornou um estilo de vida.

Ainda que tenha percorrido já alguns quilômetros e feito algumas viagens e passeios bem legais sobre duas rodas nessas duas últimas décadas de histórias vividas, esse continua sendo um setor em que há muito a ser feito e que mantém o mesmo encanto de muitos anos atrás.

Rendo aqui minha homenagem, em forma de lembrança, a essas motos que tive, e com as quais compartilhei tantos momentos bons.






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Honda Sahara 350

1994 a 1995

Minha primeira moto, a Sahara foi adquirida sob a força da paixão de contempla-la na vitrine da concessionária. 

Alguns meses antes havia adquirido um apartamento na planta (impulsionado pela expectativa de estar fazendo um bom negócio), mas pouco depois me arrependi – pagava mais de um terço do meu salário na prestação do tal imóvel, e havia tanta coisa interessante pra fazer por aí... Desfiz então o negócio e com o dinheiro recebido na rescisão dei entrada na moto, zero km.

Detalhe: na verdade, não sabia ainda andar de moto, nem tinha carteira de habilitação. Usei o prazo pedido pela loja para entregá-la (cerca de um mês) pra tirar a carteira. Depois foi só alegria!

Com a Sahara fiz a emblemática viagem de Joinville a Brasília, em dezembro de 1994, com o amigo Álvaro. Foi um marco. A partir dali estava sempre pensando no assunto, seja nas máquinas ou nas viagens.





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Cagiva Elefant 900 (ano 94, bordô)

1996 a 1997

A Cagiva foi outro caso de amor à primeira vista. Encontrei-a numa loja de revenda e fiquei impressionado com o tamanho e a imponência daquela máquina. Na época estava sem moto (pois havia vendido a Sahara alguns meses antes), o que aumentou ainda mais meu desejo por possuí-la.

Também não tinha grana para comprá-la, de tal forma que a solução foi vender o carro que tinha, juntar mais algumas economias e investir no sonho.

O resultado do ímpeto foi muito melhor do que podia imaginar. A moto era simplesmente fantástica. Motor Ducati, embreagem desmodrômica (que fazia aquele barulho maluco que parecia que estava tudo solto lá dentro), um torque absurdo e uma ciclística espetacular.

Havia, entretanto, alguns defeitinhos. A parte elétrica vivia dando problema e o acabamento das partes plásticas não era dos melhores.

Com ela fiz a viagem a Porto Seguro (saindo de Joinville, indo a Brasília, ao nordeste e voltando ao sul) com o Álvaro (com sua Tenere 600), e no ano seguinte fui de Joinville a Brasília com a Mari na garupa, quando ainda éramos namorados. Fora outras viagens e passeios mais locais.

Foi, sem dúvida, um divisor de águas no meu relacionamento com o mundo motociclístico.






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Yamaha Tenere 600

1996

A história dessa Tenere foi curta e não muito animadora. No final de 96 fui transferido pra Boa Vista-RR, e, em função disso, achei que não seria prudente levar a Cagiva lá pra cima (devido à previsível dificuldade de manutenção que certamente encontraria por lá).

Imaginei então que uma moto como a Tenere atenderia bem tanto ao pulsante desejo de pilotar quanto à facilidade de manutenção em regiões inóspitas.

Comprei-a em Joinville e de lá fui a Brasília, para passar uns dias na casa dos meus pais, e de lá pretendia seguir rodando para Roraima. Acontece que na viagem para Brasília vi meu entusiasmo pela moto minguar até me fazer mudar de ideia quanto a leva-la para o longínquo norte.

O “problema” foi que sair de uma Cagiva 900 para uma Tenere 600 deve ser mais ou menos como sair de uma Ferrari para um Golzinho 1.6... É difícil acostumar.

Assim, acabei deixando-a em Brasília, aonde foi vendida alguns meses depois (e voltei a ser um desolado “sem moto”).





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Yamaha Supertenere 750

1999 a 2000

A Super representou meu retorno ao mundo das duas rodas depois de dois anos de dura abstinência em Roraima.

Foi comprada à distância, pelo grande amigo Moraes, de Belo Horizonte (que na época também tinha um modelo igual).

Voltando de Boa Vista, transferido para o Rio de Janeiro, a primeira coisa que fiz foi parar em BH para pegá-la e de lá seguir viagem para Brasília, onde passei algumas semanas de férias.

Com ela fiz algumas viagens, como de Brasília para o Rio e, ao longo do ano, algumas outras pelos estados de Minas Gerais e arredores. O aproveitamento foi um tanto dificultado por estar em um ano meio tumultuado profissionalmente, por estar cursando a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), o que demandava certa dedicação e muito comprometimento das horas vagas.

No começo de 2000, transferido para Curitiba, vendi-a para inteirar a quantia necessária para adquirir um imóvel, e novamente me vi como um “sem moto”.







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Yamaha TDM 850

2003 a 2005

Consegui adquirir a TDM através de um longo e incerto processo de consórcio de veículo. Depois de muita espera, acabei sendo beneficiado por um bônus do consórcio, que me possibilitou retornar às duas rodas.

A TDM foi um caso de sucesso que superou enormemente minhas expectativas. Meio termo entre uma big trail (estilo que sempre havia tido, até então) e uma esportiva, a moto era fantástica, com um motor suave, silencioso e forte, além de uma ciclística extremamente envolvente e cativante.

Com ela fiz várias viagens curtas pela região sul, sempre curtindo muito a oportunidade de poder acelerá-la e sentir aquela velha sensação de cavalgar um cavalo mecânico em alta velocidade.







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Cagiva Elefant 900 (ano 95, azul)

2006

Em 2005 fui transferido para Brasília, e em meio à reorganização geral que essas mudanças provocam na vida da gente, acabei vendendo a TDM e ficando novamente sem moto.

Mas não demorou a me sentir um tanto desolado, sintoma típico da abstinência de pilotar (rsrsrs).

Pra retornar à brincadeira pensei em comprar uma moto que atendesse aos parâmetros que definem o prazer de pilotar e que ao mesmo tempo não custasse uma fortuna. Depois de muito pensar, decidi retornar à Cagiva 900, que tanto prazer me dera outrora.

Achei uma moto em boas condições em São Paulo. Fui lá ver, gostei, e trouxe-a pra casa.

Ainda que tenha me dado grande satisfação no período em que estivemos juntos, senti que nosso relacionamento já não era como havia sido com a outra Cagiva, tantos anos antes. A falta de confiabilidade em certos componentes, com constantes panes e exigência de manutenção assídua me fez passá-la adiante e encerrar mais esse capítulo da minha história com as duas rodas.







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Yamaha XT 660

2006

De volta às pesquisas e reflexões alguns meses mais tarde, decidi apostar na bela e competente XT 660 para ser minha nova companheira de estrada.

Moto muito bacana, leve, ágil e divertida. Mas na estrada parece que faltava alguma coisa... Talvez um pouco de potência, talvez um pouco de imponência (tamanho mesmo), talvez uma ciclística um pouco melhor, talvez um pouco mais de proteção aerodinâmica...

Era boa, mas não era apaixonante.









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Triumph Tiger 955

2006 a 2008

A Tiger foi outro caso de amor à primeira vista. Saí de casa pra dar uma olhada em umas lojas de moto que havia no setor Sudoeste, em Brasília, encontrei-a em uma das revendas e não resisti à tentação.

Na época a Triumph ainda não tinha loja oficial no Brasil, e encontrar modelos da marca inglesa era muito raro. Era uma moto de nicho, atípica, com conceitos mecânicos diferenciados e inovadores, a começar pelo fantástico motor tricilíndrico que é marca registrada da Triumph – engenharia em estado de arte.

Com ela fiz a emblemática viagem de 16.500 km em um mês, por vários destinos da Argentina e Chile, até Ushuaia, a meca dos motociclistas na América do Sul.

A moto era espetacular em todos os sentidos. Pilota-la era puro prazer.

No final de 2008 fui novamente transferido para Boa Vista-RR, e novamente avaliei que não seria conveniente levá-la para lá em função da dificuldade de manutenção típica da região. Assim, ela ficou em Brasília e algum tempo depois foi vendida.

(Hoje, vendo em retrospecto, acho que poderia ter mantido-a ainda por vários anos, independente dessa questão da manutenção. Mas as decisões são tomadas com a visão do momento, e naquele tempo o entendimento foi diferente.)







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BMW R 1200 GS

2010 a ...

Fiquei novamente quase dois anos sofrendo com crises de abstinência de pilotar em Boa Vista (rsrsrs).

Em meados de 2010 decidi que daria vazão a toda aquela pulsão represada, e faria isso sem pudores de economia ou racionalidade.

Novamente depois de muito pensar e pesquisar, acabei decidindo pela icônica BMW 1200 GS, uma moto que havia muito tempo habitava meus sonhos motociclísticos.

O “problema” era que em Boa Vista (logicamente) não tinha concessionária BMW, nem em nenhum lugar perto dali. A solução foi recorrer à região sul/sudeste do país. Depois de semanas da fase final da pesquisa, achei o modelo que queria, na cor que queria, mais ou menos dentro do orçamento que dispunha, em São Paulo.

Acertei a compra por telefone, voei para a capital paulista e fui buscar a máquina direto na loja, zero km.

Foi uma tremenda ousadia!

O plano era sair da concessionária direto para o Chile, para uma viagem solo de três semanas pelo Deserto do Atacama e arredores, mas no dia seguinte, por mais incrível que pareça, a moto (com 300 km rodados) simplesmente apagou em plena estrada, sem mais nem menos. Esse momento foi o perfeito anticlímax.

Pra resumir a história, a BMW concordou em fazer a troca da moto inteira, ou seja, faturaram outra moto no meu nome e começamos tudo de novo. Dessa vez parece que deu certo.

Até agora (Novembro de 2018) já são 69.300 km rodados de muito prazer e satisfação.

Sobre a moto? Espetacular! Motor, imponência, ciclística, ergonomia, acabamento, confiabilidade, torque, força... Realmente os alemães acertaram a fórmula nesse projeto.

Ressalte-se que o modelo GS tem mais de trinta anos de desenvolvimento e aperfeiçoamento, é o mais vendido da marca BMW no mundo, bem como o mais vendido no segmento Big Trail, de todas as marcas. Apesar disso tudo, não é unanimidade entre os motociclistas que realmente conhecem e tem experiência no assunto. Há inúmeros relatos de quebras e panes nas mais diversas situações e algumas safras recentes apresentaram problemas graves de defeitos em partes vitais, gerando preocupantes programas de recall de inúmeras motos. Não obstante, achar alguém que diga que não gostou da motocicleta é bem difícil.




E agora? Qual o ponto de equilíbrio entre manter um time que está ganhando e pensar em renová-lo? Boa questão...






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Pilotar uma moto de alta performance é uma dessas experiências que se enquadra naquele velho ditado que diz que “pra quem conhece, nenhuma explicação é necessária. Pra quem não conhece, nenhuma explicação é possível.”

A sensação é incomparável e indescritível. Acho mesmo que tem a ver com uma memória ancestral de cavalgar, entranhada no nosso dna.

Sim, é arriscado, cansativo, por vezes desconfortável, mas os benefícios são incomparavelmente recompensadores.

Entendedores entenderão!


Bom demais!














Gratidão





Força Sempre