40 km de caiaque pelo Rio Guaraguaçu,
saindo da ponte sobre o rio próximo a Pontal do Paraná,
até o balneário de Pontal do Sul
- em parceria com Wilson Rulka -
Lembro-me que, quando era
criança, costumava brincar, de vez em quando, de colocar barquinhos de papel
(ou simplesmente folhas de árvores ou qualquer outro objeto pequeno) pra
flutuar nas corredeiras provocadas pela chuva nos cantos das ruas na cidade
onde morávamos. Acompanhar a folhinha descendo a rua, seguindo o fluxo da
correnteza, era uma diversão. Por algum motivo essa lembrança me veio à tona quando estava dando as primeiras remadas no Rio Guaraguaçu, saindo para essa expedição. Onde será que esse “barquinho” vai parar?...
Essa remada estava “na gaveta” há
alguns meses, desde que fizemos aquela complicada remada na primeira metade
desse rio, em outubro de 2016 [Expedição Rio Guaraguaçu Out 2016].
Após várias consultas e pesquisas no Google Earth, estava animado pra ver
como o caminho seria na prática.
Dois dias antes havia convidado o
amigo de remadas Wilson Rulka, que prontamente se dispôs a ir junto.
Precisaríamos também de uma coordenação de resgate, já que o ponto de início
era distante do ponto de chegada. Para isso tivemos o apoio do amigo (e primo
da Mari) Ezídio Oro Jr e sua esposa Ana, que se prontificaram a nos apoiar, encontrando-nos no ponto marcado para o começo e, posteriormente, no local previsto para a chegada,
algumas horas mais tarde.
Ezídio Oro Jr, sua esposa Ana, Wilson e eu, momentos antes da partida
Saímos de Curitiba de madrugada e
às 08:45 estávamos entrando no rio, junto à ponte da estrada PR 407, que liga a
BR 277 a Pontal do Paraná. A essa hora da manhã já estava quente, o que era um
sinal claro de que a alta temperatura seria uma adversidade a ser gerenciada
nas horas que estavam por vir.
Pouco antes o rapaz da marina que
usamos para entrar no rio havia duvidado das nossas pretensões: “Até Pontal do
Sul remando?! Mas vocês não chegam lá não!...”, disse ele, referindo-se à distância
a ser vencida, tentando nos dissuadir dos nossos planos. É aquela velha
história do referencial... Pra quem trabalha com martelo, todo problema parece
ser um prego.
Os primeiros momentos de contato
com um ambiente como aquele são enternecedores. Fico sempre impressionado com
essa capacidade do caiaque de nos levar a “outro mundo” tão rápida e
simplesmente. Cinquenta metros depois da partida já não havia construções, nem
barulho, nem qualquer vestígio de civilização. Muito mágico!
Assim fomos remando e curtindo a
pura natureza em volta. Também fazem parte desse ambiente natural as temidas mutucas,
umas moscas gigantes e atrevidas que gostam de picar doído. Nada que um pouco
de paciência (e alguns tapas de vez em quando) não resolva.
O calor também foi se
intensificando e causando desconforto, mas também contornável, com bastante
hidratação e usando a água do próprio rio pra se refrescar.
A característica desse rio é não
ter qualquer tipo de acesso ou vilas no seu percurso, o que o torna bastante
inóspito, mas também muito bonito. Por volta do km 20 fizemos uma rápida parada
com desembarque num banco de areia à margem. Aproveitei pra colocar o Mavic pra
voar e fazer umas fotos lá de cima. Concentrado no voo e em tirar as fotos,
quando pousei verificamos que os caiaques estavam à deriva já um pouco
distantes da margem, que estava rapidamente desaparecendo pela elevação do
nível do rio, devido à maré. Nada que uma rápida reação não resolvesse...
rsrsrs.
Com 25 km remados chegamos à foz
do rio na Baía de Paranaguá. Outro ambiente natural igualmente belo e
inspirador. Vimos vários botos emergindo parcialmente próximos aos caiaques,
cenas essas que nos deixam incrivelmente enlevados com sua beleza cativante.
Fomos remando na direção leste,
ao encontro do mar, margeando a encosta, apreciando a vegetação, os pássaros e
a chuvinha que caiu pra refrescar o forte calor. Pouco depois começaram a
aparecer as primeiras casas à direita, e logo em seguida construções
abandonadas do que parecia ser um antigo porto ou instalações de alguma
fábrica.
Edificações de Paranaguá, vistas de longe, sob nuvens de chuva
Chuva!
Pouco antes de contornar a ponta
em direção ao mar aberto, já com 35 km remados, fizemos a segunda e última
parada com desembarque, numa prainha muito simpática que apareceu do nada. Fizemos
um rápido lanche e partimos pra pernada final.
Assim que contornamos a ponta
demos de cara com uma drástica mudança das condições de navegação. O que até
então estava tranquilo e calmo transformou-se, num piscar de olhos, numa tensa
turbulência. Vento contra, mar mexido e, pra completar o cenário, a imensa e
intimidadora plataforma da Petrobrás atracada ali do lado. Foram cerca de 30
minutos de remada forte e técnica pra vencer o pequeno trecho.
Passado isso, estávamos já na
porta de entrada do canal de onde saem os barcos que fazem a ligação entre o
continente e a Ilha do Mel, local marcado para a nossa chegada. Fomos remando
devagar, curtindo demais aquela gostosa sensação de chegar, sentindo também o
extremo cansaço físico que uma jornada como essa impõe, mas, sobretudo,
extremamente satisfeitos por termos feito uma bela remada.
Em 40 km remados teve de tudo um
pouco: sol, chuva, calor, céu azul, céu cinzento, pássaros, botos, mutucas,
calmaria, correnteza a favor, maré contra, mar grande e, pra fechar, um belo
arco íris de 180 graus bem na nossa frente, bem na chegada, como que a coroar o
esforço e disposição de ter apostado na ideia.
Viva a vida!
Assista, no link abaixo, a um pequeno vídeo dessa remada:
*** *** ***
Em preto e branco...
Obs:
- Meu muito obrigado ao Wilson, pela companhia, e ao Ezidio Oro Jr e sua esposa Ana, pelo gentil apoio no nosso resgate após a remada.
- Todas as fotos: arquivo pessoal
Dados da remada captados pelo Garmin Fenix
"Quando os sentidos não se amorteceram com o hábito,
o mundo é uma ciranda e um caleidoscópio
em que nos perdemos maravilhados.
Aí é possível ver e ouvir em estado de inocência,
sem palavras, ideias e desejos.
Um raio de sol numa sala pode repetir o momento da criação,
se nossa alma está aberta, vazia, sensível.
E assim um dia descobrimos que toda beleza da arte
é apenas um esboço desses momentos.
(Luiz Carlos Lisboa, Nova Era)
Gratidão
Força Sempre
Top!Tenho caiaque e pretendo conhecer esse paraiso!
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