Fui participar dessa prova na distante Minas Gerais a convite
do grande amigo Alexandre de Moraes.
A proposta era instigante: uma competição de Mountain Bike de
50 km e mil metros de altimetria pelos morros do interior, tendo como
base uma cidadezinha com o sugestivo nome de Onça de Pitangui.
O Moraes havia me “desafiado”: “quero ver você pedalando nos
morros de Minas!...”, como quem diz: “esse morrinhos aí do sul não são de
nada...”. É verdade que se tem uma coisa em que esses mineiros não economizaram
foi em aclives e declives super acentuados pra tudo que é lado. No entanto,
pensei comigo mesmo que subida é subida em qualquer lugar, e confiei na matemática
da proporção de 50km/ 1000m, que, afinal, não é muito diferente do que
costumamos fazer nas provinhas em torno de Curitiba.
O “dia D” amanheceu ensolarado e com aspecto de que iria
esquentar bastante. Saímos de BH pouco antes do amanhecer, a tempo calculado de
chegar ao local da largada, distante 115 km, na hora certa de pegar o numeral
da corrida, fazer os ajustes finais do equipamento e preparar pra partida,
marcada para as nove horas.
Devidamente gerenciada a bagunça mais ou menos generalizada
da pré-partida, descobri, já alinhado pra largada, que era o único com a
plaquinha azul, dentre algumas centenas de outros bikers com numerais na cor
verde. A questão é que havia duas provas em uma, o percurso completo, de 50km,
e o reduzido, de 35. Fazendo um rápido retrospecto do momento da inscrição,
feita on line algumas semanas antes, me dei conta que realmente não havia a
opção do percurso completo para a minha faixa etária (Caramba! Será que estou
tão velho assim e nem percebi!... rsrsrs). Por algum motivo considerei que
estava inscrito para a prova de 50 km, e não era ali, naquele momento, que iria
mudar. Decidi ignorar a pequena confusão e encarar a prova completa,
independente do regulamento ou da cor da tal plaquinha do numeral.
Pouco antes da largada
(crédito da foto: Moraes)
(crédito da foto: Moraes)
Dada a largada, o pelotão da garotada saiu em disparada pela
estrada afora, levantando poeira e fazendo pressão por espaço de ultrapassagem.
Realmente é difícil competir com essa explosão de força da juventude, mas "calma aê, que tem muito chão pela frente!"
Logo começaram as subidas. E que
subidas! Caramba! Será que os aclives de Minas eram mesmo mais duros que os de
outros lugares?... rsrsrs
Junto com os intermináveis e sucessivos subidões, o calor foi
aumentando, a paisagem se tornando mais inóspita e inspiradora e o ritmo foi encaixando.
Devagar e sempre os quilômetros foram passando enquanto o mundo girava em
volta.
Em determinado trecho passei ao lado de uma fazenda com um
grande pomar de mangueiras e seu aroma doce e agradável invadiu minhas narinas,
causando uma gostosa sensação de bem estar e leveza, fazendo-me lembrar de
como era bom estar ali, fazendo o que estava fazendo.
Passamos por lugares muito bonitos, com alguns single tracks
bem desafiadores, tanto pra subir quanto pra descer. A média de velocidade não
chegava a 15 km/h, refletindo a dificuldade da altimetria enfrentada.
A partir de mais ou menos uma hora e meia de prova é que o
ritmo realmente encaixou, e entrei naquele estado sempre almejado de meio que
esquecer do tempo e de não ter mais dúvidas de que conseguiria chegar ao final,
seja onde fosse.
Essa dinâmica corpo-mente nessas provas de grande demanda de
energia e concentração é muito interessante. No começo parece que o corpo fica
incomodando a mente com mensagens de dúvidas e receios, e esta tem que ficar
equacionando essas variáveis e respondendo ao corpo: “relaxe, não se preocupe
não, vai indo, guenta firme”. Mas a partir de certo ponto esse diálogo diminui
(quase cessa) e o que fica é uma pacífica dança de movimentos, respiração,
suor, harmonia com o mundo, alegria. Aí pouco importa quantos
quilômetros faltam, quanta subida, quanta dor... Tudo fica amortecido e
simples.
Assim, quase sem perceber, estava de volta ao centro da
cidadezinha de Onça de Pitangui, onde reencontrei o animado Moraes me esperando
com uma água de coco gelado numa mão e a máquina fotográfica na outra. “E aí,
como foi?”, perguntou, com um largo e malicioso sorriso. Pensei em dizer que havia sido tranquilo (só pra zoar com a situação), mas apenas sorri de volta aquele sorriso de quem está cansado demais pra fazer qualquer comentário.
(crédito da foto: Moraes)
No final das contas, o ganho de altitude acumulada chegou a
quase 1500 m, o que prova que esses mineiros, além de muito simpáticos, não são
lá muito bons de fazer conta e interpretar instrumentos de medição... rsrsrs.
Mas valeu cada metro!
Bom demais.
Os números da brincadeira
"Há dois tipos de realizadores:
os sábios que sabem que a coisa pode ser feita e fazem-na,
e os loucos que não sabem que a coisa não pode ser feita e fazem-na."
(Walter Slezak)
Gratidão
Força Sempre
Obs:
- Meu muito obrigado ao Moraes pelo convite e pelo apoio irrestrito na participação dessa prova. Que possamos repetir a parceria em outras oportunidades!
Nenhum comentário:
Postar um comentário