Hoje saí pra dar uma voltinha de moto.
Segui sentido sul pela BR 376 até
o entroncamento com a PR 281, onde infleti para a direita nessa estrada, na
direção da cidadezinha de Tijucas do Sul. Trechinho bastante agradável, com aquele típico pouco movimento desses lugares mais retirados.
Alguns quilômetros adiante peguei
uma estradinha de terra à esquerda, na direção geral sul, no sentido de Santa
Catarina. Rodei cerca de 40 km nesse caminho de terra, curtindo a pilotagem
envolvente desse tipo de terreno e a bucólica paisagem em volta – riozinhos aparecendo
de vez em quando, morros e árvores estendendo-se no horizonte, uma ou outra
casa de vez em quando.
Fui reencontrar o asfalto na
entrada da pequena cidade de Bateias de Baixo, já no estado de SC. De lá, em
mais alguns quilômetros estava na simpática Campo Alegre, ponto de passagem do
Circuito das Araucárias de Cicloturismo, onde já estive em outras ocasiões, de
bike e em passeios com o Troller.
Parei numa mercearia, tomei um
caldo de cana, observando o pouco movimento local, e toquei em direção à Serra
Dona Francisca, na direção da BR 101. Bacana também percorrer essa estrada, de
paralelepípedo no trecho da serra, com muitas curvas e geografia atraente ao
redor.
De volta à BR 101 (376) , virei à
esquerda e retornei a Curitiba subindo a Serra do Mar em mais um percurso muito
legal de pilotar, com curvas de média velocidade, intercaladas com retas e
subidas que compõem, em conjunto, um cenário que cai como uma luva à ciclística
e à dinâmica do motor boxer da GS. Pura diversão.
Estive pensando, durante esse
rápido passeio, sobre a questão da atração que certos objetos tem sobre nós, e
sobre o que se diz comumente de que o encanto de querer ter certas coisas se desfaz
quando atingimos esse objetivo. Ora, lamento informar aos defensores dessa
teoria que o meu caso particular com a GS é uma prova de que estão redondamente enganados.
Alimentei o sonho de ter uma moto
dessas por muito tempo antes de “fazer a loucura” de torna-lo realidade. De lá
pra cá já se vão mais de sete anos e devo dizer, a esse respeito, que minha
satisfação em subir nessa máquina, liga-la e sair pra dar uma voada é tão viva
quanto da primeira vez, com o adicional positivo de que, com o passar do tempo,
vamos nos tornando cada vez mais íntimos e habituados um com o outro.
Se há algo nessa relação que desejaria que fosse melhor, é apenas o sentimento de que gostaria de estar
rodando mais, viajando mais, fazendo mais, mas isso é antes um estímulo do que
um pesar. Ainda imagino altas viagens e histórias a serem compostas com essa
bela máquina, e, de uma forma que eu próprio talvez não compreenda, esses
sonhos sempre tão atuais me mantém com esse gostinho bom de ter boas
expetativas e planos para qualquer hora dessas.
Pode parecer besteira, e talvez
seja mesmo, mas esses passeiozinhos curtos agregam um valor diferenciado ao
dia. Uma vibração boa que ecoa também nos dias seguintes, e se conecta com
outras vibrações, que, quando unidas como um quebra cabeça, talvez deem algum
sentido ao conjunto como um todo.
Acho que esse tipo de “brincadeira”
se assemelha ao papel que a arte exerce em nossas vidas. Não precisamos realmente
dessas coisas, no sentido estritamente utilitarista, mas são elas que, no final
das contas, nos dão o brilho no olhar, um detalhe apenas num conjunto muito
maior de aspectos mais pragmáticos. Mas talvez seja nesse tipo de detalhe que a
vida ganhe graça e leveza pra ser tocada adiante.
Bom demais.
P.S
Até entendo e concordo, em parte,
com esse discurso de certas linhas de pensamento filosófico de que essa atração
pelo mundo material (em que os objetos são o símbolo máximo) só serve para nos
aprisionar e causar sofrimento [esse é um dos ensinamentos mais importantes do
budismo, por exemplo]. Mas vejo também, por outro lado, que talvez não seja bem
assim.
Penso que o mundo material nos
serve como plataforma de aprendizado espiritual, e como tal não deve ser simplesmente
negado ou visto como um mal em si. O importante, creio, é ter clareza a
respeito do valor e do momento de cada coisa, e buscar vive-las com a atenção e
a maturidade devidas.
O fato é que somos seres muito
peculiares, como que a meio caminho entre uma origem animal e uma essência
divina, e essa dicotomia vive a causar esses eternos conflitos entre o que
somos e o que gostaríamos de ser.
O meu entendimento da vida é que,
infelizmente, não há soluções ou pareceres definitivos e absolutos sobre nada.
Não há efetivamente o certo e o errado. O que há são caminhos, opções e
possibilidades que vão se delineando e se tecendo umas às outras ao longo do
tempo. Quem sabe “um dia” consigamos entender tudo de uma forma mais clara e
consistente... Quem sabe um dia possamos olhar para trás e dizer, aliviados: “ah,
então isso era assim... Agora entendo!”
O percurso do passeio: voltinha de 260 km
ele pode fazer um desenho, regular, caprichado, complicado e belo.
(William S. Maugham, Servidão Humana)
[Cabe um cometário sobre o trecho de Servidão Humana, transcrito acima,
pois pode causar certo choque e imediata discordância.
Eu mesmo não concordo literalmente com as ideias do autor,
mas vistas de um ponto de vista poético, acho-as instigantes.
No final das contas, quem sabe?... rsrsrs]
Nenhum comentário:
Postar um comentário