PELOPES 1993
Outro dia fui convidado a participar de um encontro muito especial. Alguns (ex) soldados do Pelotão de Operações Especiais (PELOPES) do 62º BI (Joinville-SC), de 1993, que tive a honra de comandar, organizaram uma reunião da turma e me chamaram.
Não foi a primeira vez que se reuniram (mas foi a primeira vez que pude estar com eles). Há já algum tempo criaram um grupo do Pelotão no Whatsapp, do qual participam todos os que foram encontrados depois de tantos anos.
1993 foi meu segundo ano pós-AMAN. Era um jovem e vibrante segundo tenente de Infantaria, no auge dos meus vinte e quatro anos de idade, muito entusiasmado com a arte de liderar e o comando do PELOPES representou, certamente, um dos melhores momentos da minha carreira militar.
O conceito de um Pelotão de Operações Especiais, naquela época, era ser a melhor e mais bem preparada fração de tropa do Batalhão. Por uma série de circunstâncias, naquele ano o Comando da Unidade decidiu criar o Pelotão a partir do zero, diferentemente do formato que havia sido adotado em outros anos. Dessa forma, praticamente todos os soldados selecionados para a missão eram recrutas, ou seja, estavam prestando o serviço militar inicial, e, de cara, incorporaram no Pelotão que tinha o compromisso de ser o melhor dentre todos os demais.
A rigor, sabia que não podia ser exatamente assim, pois, como tudo na vida, leva tempo pra formar bons combatentes. Não obstante, esse é um caso típico em que a mística conta mais do que os fatos.
Não sei bem por que, mas formou-se ali bem mais do que um pelotão de Soldados de Infantaria que se dissiparia alguns meses depois. Tornamo-nos uma espécie de fraternidade.
Trabalhamos todo o ano de 93 em torno de um ideal de lealdade, patriotismo e vibração pela missão que nos cabia - eu, o sargento adjunto, os três sargentos comandantes de grupo de combate, os seis cabos comandantes de esquadra e os vinte e três soldados combatentes.
Passamos incontáveis noites em claro, realizando patrulhas, marchas, exercícios no terreno. Inúmeras instruções, sessões de treinamento físico, formaturas, conversas, escalas de serviço. E posso dizer, sem receio de estar enganado, que exigi desses garotos muito mais do que eles imaginavam serem capazes.
Se deu tudo certo, foi muito mais por misteriosas razões metafísicas do que propriamente por diligência ou prevenção da minha parte, porque olhando em retrospecto, reconheço o quanto fui ousado e excessivamente confiante em diversas oportunidades.
O encontro ocorrido há alguns dias, na casa do Édson, nosso Soldado padioleiro, foi um desses eventos carregado de valor e simbolismo, embalado na mais autêntica simplicidade, como normalmente são as coisas verdadeiras.
Nos abraçamos, conversamos e rimos como se os vinte e cinco anos desde que deixei o comando do Pelotão não tivessem passado. Foi uma experiência memorável! Os garotos, agora já na faixa dos quarenta e cinco anos de idade, com o mesmo brilho no olhar, o mesmo jeito de falar, a mesma simpatia e boa vontade de sempre.
Dia desses recebi um texto do amigo Rogério Baggio chamado "o que a memória ama, fica eterno", de Adélia Prado. Diz ela que "a memória é contrária ao tempo. Enquanto o tempo leva a vida embora como vento, a memória traz de volta o que realmente importa, eternizando momentos. (...) Descobrimos que o tempo não passa para a memória. Ela eterniza amigos, brincadeiras, apelidos, mesmo que por fora restem cabelos brancos, artroses e rugas".
É isso mesmo. É um belo paradoxo. De certa forma, quanto mais o tempo passa, mais parece que ele não passou.
Por mais que a gente queira ficar atento à vida, aos momentos, aos dias, de repente tudo perde a proporção e o passado longínquo nos soa como ontem, provando-nos que definitivamente não temos o controle dessa equação.
Só tenho a agradecer a esses garotos que se mantiveram unidos e fraternos diante do desafio inquestionável da passagem do tempo. Não pode haver conquista e satisfação maior do que esse sentimento que nos mantem conectados, um quarto de século depois.
Vida longa a essa união!
Caveira! Brasil acima de tudo!
Encontro 22 de Março de 2019
"A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas: há tempo...
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, passaram sessenta anos...
Agora é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.
Seguia em frente, sempre em frente.
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas."
(Mário Quintana)
Gratidão
Força Sempre
Gratidão a um eterno comandante! Cel Assis! Lindas palavras e um belo post. Caveira Maldita! Brasil. Cb cunha.
ResponderExcluirSaudações Nobres Pelopianos,com toda certeza essa união levamos para vida toda , aprendemos , crescemos e continuamos em frente trazendo toda essa bagagem de camaradagem e espírito de lealdade ali forjados. Sou muito grato a todos irmãos de farda por tudo que passamos.. nunca deixaremos de nós Agrupar , A missão continua mas de uma forma diferente. Caveira 💀 Maldita
ResponderExcluirUm salve ao nosso eterno comandante Assis, boas lembranças trazem ao velho novo combatente um refrescar de juventude nas boas recordações. O brado CAVEIRA, simboliza a amizade na sua mais pura cumplicidade de boa indole e disciplina. Repito com orgulho CAVEIRA...
ResponderExcluirVerdade!!!
ResponderExcluirTivemos grande comandante , mas um grande amigo, aprendemos muito , ficou marcado em nossas memórias huraaaaa caveira ☠️
ResponderExcluirMandei msn não identifiquei, cabo Sergio boxer
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