É verdade que o conceito de uma moto como a BMW R1200GS remete a grandes viagens, terras longínquas, distâncias superlativas. Entretanto, há que se considerar que nem sempre o ideal é possível. E, mais do que isso, é saudável saber extrair prazer e ver a beleza do próprio quintal, das redondezas, dos caminhos perto de casa.
Nesse sentido, apresento aqui dois passeios curtos feitos com a GS aqui pela região de Curitiba (na verdade, são circuitos feitos já algumas vezes, sempre que os controles internos requerem uma equalização das emoções...).
No primeiro - link abaixo - percorri, no dia 4 de janeiro, cerca de 140 km descendo a Serra do Mar pela BR 277 e subindo de volta pela famosa Serra da Graciosa, passando, no caminho, pela cidadezinha de Morretes. Voltinha bem divertida e emoldurada por lindas paisagens, em particular na exuberante Graciosa, com o seu típico calçamento de paralelepípedo e suas inúmeras curvas bem fechadas, e as pitorescas barraquinhas de venda de caldo de cana, milho verde e afins, situadas em pontos estratégicos...:
No segundo - link abaixo - inventei de fazer uma investida numas estradinhas de terra na região rural de Piraquara, município vizinho de Curitiba, no dia 31 de janeiro. Cerca de 100 km de passeio, com uns 40 de terra.
É lógico que a GS é, como se diz no meio motociclístico, muito mais "big" do que "trail", e realmente tem que se tomar certo cuidado com essas brincadeiras, sobretudo quando se está calçado com pneus 100% on road. Mas, consideradas essas limitações, ainda sobra uma boa margem de manobra pra se divertir.
Andar na terra, por mais simples que seja o caminho, é completamente diferente de andar no asfalto. Quase dá pra sentir o cérebro trabalhando de uma forma diferente (as conexões sinápticas acordando entre os neurônios...[risos]). E vou dizer: é muito divertido esse negócio! É também um excelente "exercício" de pilotagem. Bom pra sentir a moto mais intimamente, pra ganhar um pouquinho de confiança, pra flexibilizar um pouco o quadril e pra ver que, apesar das limitações, a motinha também anda bem no off road.
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Sobre "Não há tempo a perder"
(breve comentário sobre o recente livro do Sr Amyr Klink)
Li recentemente o livro "Não há tempo a perder" (capa acima), do navegador brasileiro Amyr Klink, em depoimento a Isa Pessoa, lançado em 2016 pela Editora Foz e Tordesilhas.
O livro, escrito em primeira pessoa, tem uma narrativa bem envolvente e dinâmica, em que o autor conta alguns famosos casos de suas várias viagens ao redor do mundo e envereda também por alguns temas mais conceituais, digamos assim.
O Amyr Klink é uma dessas figuras que se costuma chamar de "ponto fora da curva". Não sei se os amigos, eventuais leitores deste blog, conhecem um pouco de sua biografia. Uma de suas viagens mais famosas (e que o tornou uma "celebridade" no cenário brasileiro e internacional) foi a travessia do Oceano Atlântico a remo, sozinho, em 1984, durante cem dias (contada no livro "Cem dias entre céu e mar").
Mais tarde (1989-1991) construiu um veleiro (o Paratii) e passou um ano sozinho com o barco congelado no mar da Antártica, após o que navegou até o extremo norte (mar Ártico) e retornou ao Brasil dois anos após a partida (viagem relatada no livro "Paratii entre dois pólos").
Outra viagem emblemática foi a circunavegação da Terra (novamente solo) pela latitude mais alta possível (1998-1999), dando a volta na Antártica, novamente com o Paratii (reformado, com um novo e diferente tipo de mastro) num dos piores trechos de mar pra se navegar, segundo dizem (história contada no livro "Mar sem fim").
Mais tarde (1989-1991) construiu um veleiro (o Paratii) e passou um ano sozinho com o barco congelado no mar da Antártica, após o que navegou até o extremo norte (mar Ártico) e retornou ao Brasil dois anos após a partida (viagem relatada no livro "Paratii entre dois pólos").
Outra viagem emblemática foi a circunavegação da Terra (novamente solo) pela latitude mais alta possível (1998-1999), dando a volta na Antártica, novamente com o Paratii (reformado, com um novo e diferente tipo de mastro) num dos piores trechos de mar pra se navegar, segundo dizem (história contada no livro "Mar sem fim").
Nos anos seguintes dedicou-se à construção de um novo barco (o Paratii II), utilizando (e testando) conceitos próprios de engenharia naval e soluções inovadoras para velhos problemas (interessantíssima história contada no livro "Linha d'água - entre estaleiros e homens do mar"). Com esse veleiro já fez mais de quarenta viagens à Antártica, nos últimos tempos acompanhado da esposa, de suas três filhas e, eventualmente, de amigos.
Chamou a minha atenção no livro a narração de algumas passagens de sua vida pessoal, refletindo que ele era, de certa forma, uma pessoa altamente "desajustada" com o mundo em volta. Entre outras possíveis conclusões, pode-se dizer que certo "desajuste" faz bem às vezes... Num rápido passar de olhos na biografia de grandes escritores, filósofos, artistas, músicos e outros realizadores constata-se que não é nada incomum encontrar histórias de dificuldades de se adaptar ao (maldito) status quo predominante.
Curioso também verificar que ele não tem histórico familiar ou qualquer antecedente no meio naval, nem nunca se envolveu em competições de vela ou eventos badalados nesse meio. Antes da travessia do Atlântico a remo era um ilustre desconhecido, jovem de vinte e poucos anos, formado em economia (a duras penas) pela USP. Mesmo depois, na fase dos veleiros, fica claro que tudo começou meio do zero, com muita tentativa e erro. Isso é interessante porque temos a tendência de ver histórias como essas e pensar "Ah, mas ele deve ser de família rica, deve ter tido muita sorte, deve ter "super poderes", etc...". E não é nada disso.
Também é abordada no livro a questão da não aceitação de certos tipos de patrocínio para suas viagens (é amplamente conhecida a sua notável intransigência em negociações de todo tipo), dentre eles, acordos de cooperação com a Petrobrás, que não chegaram virar patrocínio por convicção e teimosia de sua parte.
Outro ponto bem interessante é sua declaração convicta e sem meias palavras de que não acredita em Deus. Ele conta algumas passagens de suas viagens em que correu grande risco de morrer, e relata que em nenhum momento chegou a rezar para pedir ajuda a Deus, nem pra agradecer depois de ter se safado da enrascada.
Muito bacana a coragem de assumir publicamente uma posição tão "politicamente incorreta" como essa, assim como a ousadia de abdicar com tanta naturalidade de um "apoio" desse tipo, particularmente levando o estilo de vida que leva.
Sobre a questão em si, não vou me meter...
... Ok, vou me meter só um pouquinho [risos]. O que mais me surpreende e me deixa intrigado nessa questão é ver como certas pessoas (a maioria esmagadora das pessoas) dizem ter convicção de seus pontos de vista de crença em Deus. De onde vem tanta certeza?
... Ok, vou me meter só um pouquinho [risos]. O que mais me surpreende e me deixa intrigado nessa questão é ver como certas pessoas (a maioria esmagadora das pessoas) dizem ter convicção de seus pontos de vista de crença em Deus. De onde vem tanta certeza?
Há uma linha de argumentação que se apoia na "lógica" de que não seria possível nem coerente que o mundo e a humanidade existissem sem um criador, um Deus, e um grande sentido por trás de tudo...
Por que não? - é a pergunta...
Até concordo que o "mais coerente" é que exista mesmo uma "razão" para o mundo e a vida, mas isso não quer dizer que seja assim. Parece ser apenas uma suposição, uma possibilidade.
Mais do que concordar, eu diria mesmo que entendo a questão dessa forma "mais coerente" - o que pode ser semelhante (mas não igual) a dizer que "acredito" nisso (talvez esteja mais para "quero acreditar nisso").
Essa é uma questão muito complexa, logicamente. Acho que não podemos deixar de considerar ainda que tudo isso vai além da compreensão própria sobre o assunto. Assim como existem pessoas capazes de correr mais rápido e melhor do que outras, ou capazes de escrever e ter ideias melhor do que outras, acredito que haja pessoas capazes de compreender essa questão de forma diferenciada da grande maioria, e daí surgem os grandes mestres, os iluminados, os santos, etc., os quais não podemos simplesmente desprezar como dignos orientadores nesse caminho obscuro.
Por que não? - é a pergunta...
Até concordo que o "mais coerente" é que exista mesmo uma "razão" para o mundo e a vida, mas isso não quer dizer que seja assim. Parece ser apenas uma suposição, uma possibilidade.
Mais do que concordar, eu diria mesmo que entendo a questão dessa forma "mais coerente" - o que pode ser semelhante (mas não igual) a dizer que "acredito" nisso (talvez esteja mais para "quero acreditar nisso").
Essa é uma questão muito complexa, logicamente. Acho que não podemos deixar de considerar ainda que tudo isso vai além da compreensão própria sobre o assunto. Assim como existem pessoas capazes de correr mais rápido e melhor do que outras, ou capazes de escrever e ter ideias melhor do que outras, acredito que haja pessoas capazes de compreender essa questão de forma diferenciada da grande maioria, e daí surgem os grandes mestres, os iluminados, os santos, etc., os quais não podemos simplesmente desprezar como dignos orientadores nesse caminho obscuro.
Já que me meti um pouco no assunto, tenho que arrumar um jeito de sair dele [risos]...
Eu só acho que tínhamos que ser um pouco mais humildes, e admitir que certas razões, conhecimentos e "porquês" estão muito além do nosso horizonte possível...
Eu só acho que tínhamos que ser um pouco mais humildes, e admitir que certas razões, conhecimentos e "porquês" estão muito além do nosso horizonte possível...
Enquanto isso, deveríamos apenas "cuidar de nossos jardins", como dizia Cândido, de Voltaire.
"Que o universo tenha sido criado por uma combinação
fortuita de átomos parece-me tão inacreditável quanto a
possibilidade de sair um engenhoso tratado de filosofia
da mistura acidental das letras do alfabeto."
(Jonathan Swift)
Gratidão
... ÓTIMAS DICAS DE PASSEIO! E quanto aos livros e Deus, acho que seguimos a mesma linha filosófica! Grande abraço! Lincoln
ResponderExcluirÉ isso aí, Lincoln... Forte abraço.
ExcluirAmyr é sem dúvida uma pessoa inconformada com o sistema em que a maioria vive, por isso é que talvez seja obstinado por aventura. Mas o que fascina e que ele se presenteia com este tempo só para ele, sem ninguém apenas ele, seu barco e a natureza. Porém o que é estranho é ué um homem tão conectado com a natureza não consiga entender a inteligência suprema que está por trás da atração das moléculas que formam as pedras, que não note a sensação que rege o reino vegetal ou não compreenda o instinto que rege o reino animal e por fim a consciência ou alma que está presente em cada um de nós. Dificil entender como mera obra do acaso...um grande abraço tio Assis
ResponderExcluirPois é, Jean... Realmente é curioso que um cara com o histórico como o dele tenha essa visão "materialista" do mundo e da vida... Eu suspeito que seja mais um tipo de "rabugice" do que exatamente uma opinião séria e embasada... A vida requer mais do que apenas raciocínio e razão. Um pouco de sensibilidade e sentimento faz muito bem também. Abraço.
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