Caminhada Trilha Caiçara, Ilha das Peças e Praia Deserta
3 dias, 64 km
Newton Adriano Weber (guia, @vivaguaraoutdoor)
e
- Rosana Cruz
- Ana Pinheiro
- Rubens Moreno
a Catarina (cachorrinha do Newton)
O convite pra essa caminhada veio do amigo Newton, com quem já havia feito parte desse percurso em outras oportunidades. Fizeram parte também do grupo as amigas Rosana e Ana, bem como o Rubens, todos reunidos e coordenados pelo nosso experiente guia.
A ideia era exercitar aquela velha fórmula de pôr uma mochila nas costas e sair pra dar andar e observar o mundo (e a si mesmo), usando a estrutura local de pousadas para os pernoites.
Encontramo-nos no trapiche de Paranaguá no dia 7 de setembro, cedo. De lá pegamos um barco pequeno que nos levou, em cerca de 15 minutos, até o outro lado do Porto, de onde demos início à primeira trilha do dia, a chamada Trilha Caiçara - 12 km de um simpático percurso predominantemente plano, passando por entre a vegetação nativa e algumas poucas casas pelo caminho.
O tempo esteve bem nublado nesse dia, com temperatura amena, o que acaba sendo favorável à atividade de caminhar, embora não seja tão inspirador do ponto de vista cênico.
Cerca de três horas depois chegávamos ao vilarejo de Ponta do Ubá, onde tomamos um refrigerante, fizemos um lanche e pegamos mais um barco, que em cerca de meia hora nos levou à conhecida Ilha das Peças, onde iniciamos a segunda parte de caminhada do dia, seguindo pela praia.
Mais 12 km nos levaram até a ponta da Ilha, que fica de frente para o vilarejo de Superagui, onde embarcamos em mais um barco para a curta travessia (de 3 minutos) até a areia da praia do vilarejo. Lá chegando, já no final da tarde, instalamo-nos numa pousada, banho, jantar e cama.
No segundo dia, após o café da manhã, o Rubens nos deixou, conforme previsto, pois tinha que retornar a Curitiba para compromissos pessoais. Nós quatro então pegamos nossas mochilas e pusemo-nos a caminho. O percurso do dia era a emblemática Praia Deserta, uma extensa faixa de areia de cerca de 28 km, sem nenhum vilarejo nem qualquer tipo de apoio.
Começamos a andar já meio tarde, quase oito e meia da manhã, devido à rotina de tomar o café da manhã na pousada e cada um se aprontar. O dia transcorreu naquele cenário surreal de um enorme abismo horizontal, composto pelo mar à direita, areia à frente e uma vegetação rasteira à esquerda. Caminhar num ambiente assim traz aquela sensação um tanto desconcertante de parecer que a distância não passa, assim como o tempo, que toma uma dimensão totalmente diferente da habitual. Caminha-se uma, duas, várias horas e o visual é o mesmo. Ainda que seja muito bonito e inspirador, é também tão constante e previsível que mexe um pouco com a cabeça.
O tempo melhorou um pouco, com ligeiras aberturas de céu azul, mas ainda entre muitas nuvens, sem ocorrência de chuva. Caminhamos num ritmo bem marcado, com poucas e breves paradas pra descanso e lanche.
Já quase no final da tarde alcançamos o ponto da praia que dá acesso à vila de pescadores da Barra do Ararapira, onde, há cerca de três anos havia uma barra que ligava o lagamar ao mar, ligação essa que foi surpreendentemente fechada pela senhora natureza, através de um impressionante processo de assoreamento. Em compensação, algumas centenas de metros mais ao norte, uma nova barra foi aberta, modificando de forma incontornável a dinâmica da vida local.
Atravessamos um pequeno trecho do lagamar de carona em um barco de um pescador local e logo estávamos na pousada na qual passaríamos a noite. Lugar simples, com energia elétrica proveniente apenas de placas solares, extremamente tranquilo e onde fomos muito bem recebidos.
Mas o cansaço bateu forte em todos e, além disso, algumas dores e pequenos machucados comprometiam a "capacidade operacional" do grupo. Só o Newton estava bem, como sempre (Rsrs)... Acostumado que é com essas brincadeiras. A ideia para o dia seguinte era retornar pelo mesmo caminho feito nesse dia, em mais uma dura jornada de quase 30 km de pernada. Resolvemos deixar a poeira abaixar na muito bem vinda noite de sono e somente no dia seguinte decidir o que fazer.
Na manhã do terceiro dia, durante o café da manhã, avaliando as condições em que nos encontrávamos, achamos por bem reformular os planos e não fazer todo o percurso de volta. O problema era que não havia praticamente opção de transporte para sair de lá. A mais interessante seria retornar de barco, pelo Canal do Varadouro, mas sairia muito caro, além de que seria difícil achar algum barqueiro disponível de imediato. O dono da pousada nos sugeriu então que voltássemos pela praia de moto, na carretinha de um morador local acostumado a fazer esse tipo de transporte. Algumas mensagens pelo celular resolveram a questão. Ele poderia nos pegar no começo da tarde.
Saímos então para uma caminhada leve pelas trilhas locais, a fim de apreciar o frescor da manhã e as paisagens simples e ao mesmo tempo altamente inspiradoras do lugar.
Por volta das dez e meia o Newton e eu decidimos sair pra fazer parte do trajeto de volta da Praia Deserta, até que o transporte contratado nos encontrasse. As meninas ficaram na pousada até a hora combinada do "resgate".
Caminhamos então algumas horas no sentido sul da praia, novamente imersos naquele cenário surreal de vastidão e isolamento. O tempo estava novamente mais nublado, com uma luz meio opaca permeando tudo.
Mais ou menos às três horas da tarde fomos interceptados pela motinha do rapaz, trazendo na carretinha nossas amigas Rosana e Ana. Embarcamos no improvisado veículo e seguimos viagem por uns 40 minutos até chegarmos de volta ao vilarejo de Superagui. Essa solução não prevista inicialmente de alterar parte desse trajeto e pegar essa "carona" desagradou o espírito guerreiro do nosso amigo e guia Newton, porque ele rende melhor quando está cansado e quanto mais difícil ficam as coisas, mas ele acabou aceitando, pelo bem geral do grupo (Rsrs).
De Superagui pegamos um novo barco que nos levou de volta (pelas águas turbulentas do mar em volta) até o trapiche de Paranaguá, onde encerramos o nosso passeio.
Deixo aqui meu sincero agradecimento aos companheiros dessa jornada e, em particular, ao amigo Newton Caratuva, pela constante disposição, espírito de equipe e incentivo para nos lançarmos nessas empreitadas.
Como sabemos, é sempre bom, ainda que o durante sempre demande boa dose de esforço e boa vontade. Mas como diz aquele ditado: a dor é passageira e a memória é eterna (ou algo assim...). Ficam então as boas lembranças e já essa pontinha de vontade de estar de volta a essa brincadeira de dar uma volta por aí qualquer hora dessa, pra ver esse mundão sob outras perspectivas e abordagens.
Vamos juntos?
7 Set
Trilha Caiçara e Ilha das Peças
Ilha das Peças
8 Set
Praia Deserta
9 Set
Barra do Ararapira e parte da Praia da Deserta
"Por que não ouvir o mundo -
as pessoas, os sons da cidade, as crianças que brincam -
do mesmo modo como ouvimos a música de que mais gostamos?
Em atenção e silêncio, de alma aberta e com encantamento,
os fatos mais simples e banais mostram sua relação conosco.
O homem simples, a criança -
até mesmo o louco e o desesperado -
podem ser professores brilhantes quando somos alunos humildes."
(Luiz Carlos Lisboa, em "Nova Era")
Gratidão
Força Sempre
Ler esse texto e ver as fotos, me coloca como um participante dessa linda caminhada. Parabéns meu irmão. Viva a vida.
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