Tiger 900 Rally Pro

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quarta-feira, 26 de abril de 2023

Acampamento na floresta, Piraquara-PR, 4 e 5 de Abril de 2023

 





Pernoite em acampamento selvagem na floresta

solo




Cultivo genuíno apreço por lugares isolados e silenciosos. Não sei explicar por que. Ambientes assim me atraem.

Neste dia fui colocar em prática uma ideia que tinha há algum tempo: passar uma noite sozinho num ambiente de mata.

Coisa simples, só mesmo pra curtir o lugar e, de certo modo, mudar um pouco a frequência de funcionamento. 

Optei por ir até o local escolhido de bicicleta, e, assim, retomar o conceito do "bikepacking", havia um tanto em desuso por mim. Devido às características do lugar, resolvi também armar uma rede, e não uma barraca. 

Saí de casa pouco depois das três da tarde, cheguei ao local por volta das cinco (36 km de percurso), montei acampamento, passei a noite, e no final da manhã seguinte estava de volta em casa.

Estava uma noite de lua cheia, o que contribuiu pra dar um certo aspecto místico à experiência. A rede tinha uma tela mosquiteiro que permitia ver todo o entorno e o escuro total em volta, e, lá no alto, a lua traçando o seu caminho por entre as folhagens dançantes das árvores.

Aproveitei o tempo disponível pra apreciar algumas velhas músicas nos meus fones de ouvido. Dentre elas, em certo momento, ouvi algumas faixas do álbum "How the west was lost", de Peter Kater (que, aliás, recomendo para momentos de relaxamento e contemplação); álbum esse que descobri por acaso numa loja de Vancouver, no Canadá, quando lá estive viajando de bicicleta em 1998. Que interessante! 25 anos depois, ali estava eu novamente curtindo as melodias suaves e inspiradoras daquelas músicas que me cativaram tanto tempo atrás. Intrigante essa teia de acontecimentos na nossa vida, como os eventos vão se entrelaçando meio ao acaso (ou talvez não).

A vivência do silêncio em si foi um misto de puro prazer com uma ligeira inquietação. De repente parece que o mundo desapareceu. Tudo fica diferente e até um tanto "desconfortável". É preciso (re)aprender a estar em contextos assim. 

O fato de estar sozinho num ambiente tão intenso como uma floresta como essa também é uma experiência interessante. Pode-se pensar em ter medo, mas medo de que? Sim, de animais talvez. Mas mais do que isso, talvez mesmo, medo de si mesmo, dos pensamentos, desses nossos labirintos mentais, que numa situação como essa podem nos incomodar. No final das contas, nada disso. Ocorreu tudo dentro da "normalidade". 

Acabou sendo uma noite mais fria do que o esperado. Apesar de estar com saco de dormir, o fato da rede ser fechada apenas com a tela mosquiteiro parece que não foi suficiente para manter a sensação de conforto térmico, mas nada que tenha incomodado tanto assim.

Mas mais do que um pernoite numa floresta, devo confessar que a floresta em questão faz parte da chácara que adquirimos há alguns meses, e que, num futuro próximo pretendemos estruturar para receber uma cabana, a fim de se tornar uma "base de contemplação e sossego". De fato temos um longo caminho a percorrer para concretizar esse projeto, mas que seja como tiver que ser. Tudo a seu tempo.

Que os eventos se entrelacem da melhor forma.

Vamos juntos?











O caminho:



























































































O acampamento:



















O lugar:











































































































Link para o álbum "How the west was lost" (no Spotify):

Clique aqui






***   ***   ***





Sobre nossas próprias memórias e outros aspectos da vida


Outro dia me lembrei, não sei por que, de um livro que li no início da adolescência. Chamava-se "Os meninos da rua Paulo". O que me chamou a atenção no lampejo de uma lembrança tão longínqua é que, a rigor, não me lembrava de quase nada da tal história, a não ser que os personagens tinham nomes estranhos, e que se tratava de histórias de um grupo de amigos. 

Derivando a reflexão para outra direção, me dei conta de que, na verdade, me lembro muito pouco não só desse distante livro, como de muitos outros eventos e épocas da vida. Melhor até seria considerar que, na verdade mesmo, são poucos os momentos que ficam na memória. A grande maioria da nossa vivência parece que se perde num vazio que, pra ser bem sincero, chega a ser algo assustador. 

Talvez essa constatação inequívoca da impermanência de tudo, até mesmo das nossas próprias lembranças e vivências, seja uma das mais duras com que temos que lidar na vida. Não importa o que façamos, ou quão importante achemos que seja, no final das contas, tudo vira um grande e longínquo vazio.

Por outro lado, isso também pode ser um conforto, se visto por esse prisma. Para o bem e para o mal, tudo passa. 

Penso que o "problema" dessas constatações é que, de certo modo, elas contradizem algo em nós. Parece que sempre pensamos o mundo da forma equivocada. Talvez até o erro seja o próprio pensar. Talvez a vida fosse melhor sem o nosso "vício" de querer interpretar, classificar, intelectualizar, entender, raciocinar sobre tudo, o tempo todo. 

Talvez todo nosso sistema cultural - escolas, família, amigos, igrejas, etc. - nos iluda um pouco sobre tudo isso, prometendo coisas que não podem entregar, nos induzindo a essa correria sem fim e sem propósito que é a vida da maioria das pessoas. Mas é lógico que nós somos, no final das contas, os grandes responsáveis por aceitar e validar tais propostas. Não podemos negar isso. 

Às vezes vejo uma ave no céu, sobretudo em lugares mais isolados e distantes de cidades, e fico tentando imaginar como deve ser a percepção do mundo e da vida daquele ser. Ou, num outro exemplo, como deve ser essa visão de um peixe nadando nas profundezas do oceano, sem nunca ter visto nada diferente daquele seu habitat natural. Como deve ser viver sem a "interface" do raciocínio lógico, da mente, da linguagem, do entendimento das coisas.

Será que, afinal, a vida seria melhor se fosse mais simples? E será que essa tal simplicidade é alcançável? Ou será que não temos como fugir da nossa complexidade inerentemente humana?

O que você acha?






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"Nada é tão útil ao homem como a resolução de não ter pressa."

(Henry David Thoreau)






Gratidão




Força Sempre











domingo, 16 de abril de 2023

Remada em caiaque oceânico à Ilha das Palmas, litoral do Paraná, 29 e 30 de Março de 2023

 






Remada à Ilha das Palmas
2 dias, 54 km
pernoite em acampamento na ilha


em parceria com: Newton Adriano Weber (Caratuva)



O Newton e eu planejamos essa remada estabelecendo como destino a isolada Ilha das Palmas, ao lado da conhecidíssima Ilha do Mel, no litoral do Paraná. 

Para tanto, encontramo-nos em Paranaguá, na manhã da quarta-feira, 29 de março, para dar início à jornada. O Newton veio de Guaraqueçaba de barco de linha, trazendo os dois caiaques que utilizaríamos na expedição (o Inuk e o Kayapó). Eu saí de Curitiba, de moto, bem cedo, enfrentando um trânsito um tanto complicado na descida da serra. 

Terminamos de arrumar nossas coisas rapidamente e pouco depois das nove horas estávamos soltando as amarras da terra firme, entrando no mundo mágico e fluido das águas. 

A ideia era fazer a circum-navegação da Ilha do Mel, em dois dias de viagem, com pernoite em acampamento selvagem na Ilha das Palmas, uma pequena ilha totalmente inóspita e desabitada a leste da Ilha do Mel. Esse não é, no entanto, um projeto simples, devido às condições do mar em algumas passagens desse percurso. 

A primeira parte da nossa remada transcorreu de forma muito tranquila e prazerosa, navegando em águas calmas, sem vento, numa bela manhã de luz clara e brilhante. 

No trajeto passamos por um enorme navio de carga ancorado em um um ponto da baía. Remando devagar, passamos bem perto de sua proa, apreciando a incrível grandeza daquela máquina fantástica. 

Por volta das 13 horas, após algumas curtas paradas pra descanso, chegamos na altura da Fortaleza Nossa Senhora dos Prazeres, ponto de referência na Ilha do Mel. Construído em 1.770, o forte conserva diversas peças de artilharia e um interessante arquivo histórico dos últimos séculos de ocupação da ilha, constituindo-se num bonito museu ao ar livre. Aproveitando a oportunidade, desembarcamos na praia ao lado e permitimo-nos cerca de uma hora de visitação às suas instalações, subindo inclusive ao mirante no alto do morro adjacente, de onde se avista uma bela paisagem do mar e das ilhas em volta. 

Na etapa seguinte, um curto percurso de pouco mais de 3 km até nosso destino do dia, a coisa se complicou um pouco. O vento entrou decididamente (e contra nossa direção de progressão), conforme estava previsto, e, somado ao fato de estarmos praticamente em mar aberto, tornou as condições de navegação um tanto excitantes, num misto de tensão e diversão, ora pendendo para um lado dessa balança, ora para o outro, com grandes ondulações se chocando de forma desencontrada. 

Chegamos na altura da Ilha das Palmas ainda sem ter certeza de que conseguiríamos desembarcar, devido à força das ondas quebrando nas praias que dão acesso à ilha. O Newton falou que sabia onde tínhamos que entrar, o que achei ótimo, porque de onde estávamos não parecia haver lugar seguro para nos aproximarmos. Aos poucos fomos chegando perto, observando, controlando os barcos, estudando a situação, até que achamos uma brecha e resolvemos entrar. Deu certo. Desembarcamos em segurança e sem incidentes. 

Só então pude de fato constatar a exuberância do lugar em que nos encontrávamos. Uma ilha selvagem, praticamente intocada, cercada por um mar revolto e inquieto, sob um lindo céu azul entre nuvens do meio da tarde. Demos então uma caminhada pelas redondezas, observando os detalhes e sentindo aquela energia pulsante de um lugar fantástico como aquele. 

Já nos encaminhando para o final da tarde, montamos nosso acampamento, relaxamos um pouco e nos preparamos para passar a noite. Infelizmente nesse ínterim o céu ficou completamente nublado, o que ocultou o pôr do sol e as luzes do crepúsculo, que se converteu num monocromático desfilar de cinzas, do claro ao escuro total. 

Pouco depois fizemos nosso jantar básico, o tradicional macarrão com atum, que aliás, estava ótimo, e sem maiores delongas recolhemo-nos às nossas barracas para o devido descanso. 

Mais tarde caiu uma tempestade embalada em muito vento, que foi interessante pra sentir mais essa força da natureza em seu total esplendor, ressaltando (mais uma vez) nossa fragilidade e pequenez diante do mundo à nossa volta. Restou torcer para que fosse uma chuva passageira, que nos permitisse seguir viagem no dia seguinte. 

Conforme havíamos combinado, acordamos bem cedo, às quatro e meia da madrugada, a fim de nos preparar com calma e tentar partir com as primeiras luzes do dia. Afortunadamente o céu estava limpo, cheio de estrelas e bons presságios. 

Fizemos nosso desjejum, desmontamos acampamento e fomos ajeitando as coisas pra retornar aos remos. A intenção era aproveitar essas primeiras horas da manhã, que, segundo a previsão, seriam de vento fraco, pra poder contornar o lado mais complicado da Ilha do Mel, o canal da Galheta, na lado mais ao sul da ilha. 

Acabei me distraindo com a bela paisagem que o nascer do dia descortinou, tingindo de tons laranjas e amarelos o negro da madrugada e os belos reflexos nas águas do mar. Momento mágico e emocionante presenciar o nascer do dia num lugar como aquele.

Prontos pra partir às seis e meia, percebemos que o vento não estava assim tão suave, conforme a previsão. Curiosamente as ondas atingiam a pequena ilha de todas as direções, contrariando um pouco a lógica de que devia haver um lado mais protegido.

De volta ao mar, vimo-nos de volta também ao sobe e desce das ondulações. Avaliamos a situação e sentimos uma ponta de preocupação em fazer a volta completa da Ilha do Mel, como pretendíamos, devido às condições de vento e ondulações do momento e também porque havíamos esquecido um item essencial de segurança para navegação em caiaque nesse tipo de situação em que nos encontrávamos, as bombas manuais de esgotamento de água. Sem elas, se por acaso sofrêssemos um capotamento, seria muito difícil conseguir reembarcar, o que poderia levar, na pior das hipóteses, até à perda do barco. Por isso resolvemos, meio a contragosto, não completar a circum-navegação da ilha, mas atravessá-la pelo istmo entre as duas partes maiores da ilha.

Assim, dirigimo-nos para esse local, atravessamos a pequena distância de cerca de cem metros de terra carregando os barcos e, a partir de lá, de volta ao lado das águas calmas, traçamos nosso caminho de volta ao trapiche de Paranaguá.

Nesse caminho cruzamos o canal de navegação dos navios que chegam e saem do Porto, no qual avistamos, ao longe, um navio vindo. O Newton alertou para que nos apressássemos, pra não ficar na rota daquele gigante. Pessoalmente avaliei que levaria pelo menos uns vinte a vinte e cinco minutos até que ele atingisse o local onde nos encontrávamos, e que precisaríamos de uns dez minutos pra atravessar o canal por onde ele passaria. No final das contas, "atravessamos a avenida" em seis minutos, e o enorme navio chegou em apenas doze, desde o momento em que estimei os tempos. Ou seja, de fato é preciso tomar cuidado nesse trânsito marítimo, pois os tempos e distâncias (e a potência dessas máquinas modernas) enganam. 

Encerrado nosso pequeno passeio ficam, como sempre, belas lembranças, que são esse nosso acervo particular de energia, que podemos acessar a qualquer momento, em qualquer lugar, e, intimamente, esboçar um leve sorriso pelos momentos vividos.

Mas é lógico que essas coisas dão trabalho, tem o seu custo, os seus riscos, os seus perrengues. As fotos, como se sabe, não representam as dificuldades, as incertezas do momento. Depois que passa, tudo fica mais "estável". Então caberia perguntar: "vale a pena?". Ora, há uma resposta famosa a essa pergunta, em forma de poesia, de um conhecido poeta português. Mas não vou me valer dela pra responder a essa questão. Deixemos que a intuição de cada um de nós, escritor e leitores desse breve texto, elabore a devida resposta. 

É isso. Vamos juntos?







Ilha das Palmas (dentro do círculo vermelho)







1º dia
Paranaguá à Ilha das Palmas
27 km





Saída de Paranaguá























Terminal de contêineres de Paranaguá


























































































Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres, na Ilha do Mel






































































































Foto antiga no acervo da Fortaleza da Ilha do Mel, 
retratando pessoas de décadas passadas da ilha










Chegada à Ilha das Palmas





































































































































































































Chuva à noite














2º dia
Ilha das Palmas a Paranaguá
27 km


























Ilha do Mel, foto aérea a partir da Ilha das Palmas








Ilha do Mel, foto aérea a partir da Ilha das Palmas








Ilha das Palmas, em foto aérea





Amanhecer na Ilha das Palmas



























































































































Litoral do Paraná, em foto aérea a partir da Ilha do Mel









Istmo da Ilha do Mel






























Imagens aéreas:


































O navio que cruzou nosso caminho










Canoas caiçaras em Paranaguá









































Percursos realizados:

1º dia




2º dia


Curiosidade sobre esses dados do primeiro e do segundo dia:
em dois percursos tão longos, e distintos, tempos e distâncias praticamente iguais








* Meu muito obrigado ao amigo Newton por mais essa parceria! Pelo apoio da logística dos caiaques, pelo companheirismo, pela segurança de conhecer a região, e mais do que tudo, pela amizade. Valeu demais! Pensemos nas próximas.


** O Newton atua como guia de canoagem na região de Guaraqueçaba e arredores. Serviços recomendadíssimos! Para contatá-lo, procure no instagram por @vivaguaraoutdoor







***   ***   ***















































"Você está onde está sua atenção."






Gratidão




Força Sempre