passando por Ariri (SP), Batuva (PR) e
chegando a Guaraqueçaba (PR)
100km em 3 dias
Adriano Camilo Sczspanski
Andréa Santana
Luci Tsuruko
Luciana Nonino
Newton Adriano Weber e
Patrícia Sczspanski
@vivaguaraoutdoor
Essa caminhada de pouco mais de cem quilômetros por praias e estradas de terra no litoral do Paraná é dessas viagens que nos fazem viajar, no sentido de dar aquela descolada dos hábitos e "mindset" do cotidiano.
Já havia feito esse percurso, nesse mesmo formato, com o amigo Newton, em janeiro de 2020 - trekking esse que inclusive foi tema de um dos programas do Plug, da Rede RPC de Televisão, alguns meses depois.
Dessa vez tivemos a sorte de compor uma bela equipe de caminhantes apaixonados - além do Newton e da Andréa (e da cachorrinha Catarina), um grupo de amigos de Londrina se juntou a nós para a empreitada.
Encontramo-nos em Paranaguá, às sete da manhã da quinta-feira, primeiro dia do feriado de Corpus Christi. De lá, às oito e pouco pegamos um barco (que atrasou uma hora em relação ao horário previsto) que nos levou, em cerca de 40 minutos, ao vilarejo de Superagui, na ponta sul da Ilha de mesmo nome. Até esse momento, envoltos em muita neblina e frio.
Desembarcamos e, às 09:10 h, sem demora, iniciamos o percurso do dia. Três quilômetros iniciais seguindo por uma trilha em meio à vegetação costeira nos levaram ao início da Praia Deserta, que seria nossa "estrada" dali em diante.
Que cenário! O céu azul surgindo por entre as nuvens, aquela luz amarela da manhã nos dando as boas vindas, a música das ondas chegando suavemente à areia como pano de fundo.
O dia transcorreu nesse ambiente. Caminhamos 31 km até o último ponto da praia ao norte da Ilha, onde encontramos, aos últimos raios de luz do dia, com o barqueiro Gilberto, que nos conduziu à cidadezinha de Ariri (em vinte e poucos minutos), onde passamos a noite numa pousada local.
Vale destacar a espetacular luz de fim de tarde que tivemos o privilégio de admirar. Nos últimos minutos da caminhada, se extraíssemos o cansaço físico e o contexto em que nos encontrávamos, a sensação era a de que estávamos em outro planeta, tamanha a beleza e a paz daquele lugar. Simplesmente mágico.
No segundo dia pusemos os pés na estrada às oito da manhã. Caminhamos o dia todo pela estrada de terra que liga Ariri a Cananeia. Estrada praticamente sem movimento algum, com densa mata ao redor e com algum sobe e desce. O tempo esteve bom, com sol entre nuvens e alguns momentos de calor. É um trecho duro. O movimento repetitivo dos passos em solo com muitos pedriscos e sem grandes atrativos na paisagem exige um certo refinamento da imaginação e da boa vontade com a proposta da brincadeira.
No final da tarde o tempo começou a virar, com nuvens de chuva e o ar mais fresco. Por volta das 17:30 h, com 32 km caminhados, chegamos ao final da estrada de terra e começo da Trilha do Telégrafo, famoso caminho que liga o Estado de São Paulo ao Estado do Paraná naquele ponto, e que era pra ser, a rigor, o traçado da BR 101, de acordo com o projeto original dessa estrada.
A essa altura já estava escurecendo e o cansaço físico era uma companhia de peso pra todos. Os primeiros metros da trilha foram um choque de realidade para o grupo, pois havia muita lama e alagamentos por todos os lados. Rapidamente o foco saiu do cansaço e da preocupação pelo começo da noite e se concentrou no esforço de cada passo, em achar o melhor lugar pra pôr o pé e seguir em frente.
Os sete quilômetros da trilha acabaram sendo menos difíceis do que imaginamos no começo. Aos poucos, com muita disposição e brincadeiras, o grupo venceu a distância e chegou ao destino, a pousada da Dona Nica, no vilarejo do Batuva, às 19:45 h, fechando 40 km caminhados.
Banho, uma deliciosa comidinha caseira pra repor as energias e cama, para o necessário descanso pra última etapa... Opa! Só que não! Às 22 h começou no barzinho anexo um "pancadão" de música "techno brega" de arrasar quarteirão. Coisa de causar impacto mesmo. A situação foi tão fora de contexto que chegou a ser bizarra. Enfim, paciência. A festa foi longe. O silêncio só voltou a reinar à uma da madrugada.
Na manhã seguinte, recuperados (ou não) do cansaço acumulado, retornamos ao nosso passeio às oito horas. O dia estava bem nublado e friozinho, de acordo com a previsão (de chuva) para a região.
Essa pernada foi novamente o tempo todo por estrada de terra, também sem movimento algum. Tivemos sorte que não chegou a chover. O cenário em volta era praticamente de mata e alguns morros bem altos ao longe. Passamos por vários rios e córregos de águas limpíssimas, sendo que em alguns nos permitimos o tempo pra curtir sem pressa, inclusive com mergulhos revigorantes, pra quem se dispôs a tal.
Quase no final da tarde chegamos à tão desejada Guaraqueçaba, envolta num céu cinzento, com as pessoas a observar, das janelas de suas casas, aquele grupo de forasteiros caminhando meio tortos, a passos curtos, carregando suas mochilas, estranhamente com um leve sorriso maroto nos lábios.
Chegar, em uma jornada como essa, é um êxtase só compreensível aos loucos que, um dia, já fizeram algo do tipo. Não é apenas o alívio da dor e do cansaço. É mais do que isso. É um sentimento sutil de se sentir mais hábil do que a pura razão.
Bom demais! Vamos juntos?
P.S: O meu mais sincero agradecimento e reconhecimento aos amigos dessa jornada, pela disposição, companhia e leveza de espírito diante das dificuldades. E minha admiração mais que especial à querida Luci, que do alto dos seus 66 anos de idade nos deu uma verdadeira lição de vida, de atitude e de juventude. Valeu demais! Até a próxima!
1º dia, 16 Jun, da Vila de Superagui a Ariri, 31 km
2º dia, 17 Jun, de Ariri a Batuva, 39 km
3º dia, 18 Jun, de Batuva a Guaraqueçaba, 30 km
Assista no link abaixo a um pequeno vídeo da caminhada:
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Às vezes o mais importante não é o ponto de chegada,
e nem mesmo o caminho,
mas apenas ir.
(Sidnei Assis)
[sim, eu sei, nem sempre isso é aplicável. Mas a frase ficou sugestiva, não?... rsrs]
Gratidão
Força Sempre
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