No dia 26 de abril passado saí de casa de bicicleta (Specialized Langster, road bike fixa) no meio da tarde pra ir a uma sessão rotineira de pilates, em um studio a poucas quadras de distância. Três minutos depois, ao fazer uma curva numa esquina, subitamente me vi lançado violentamente ao chão, bicicleta para um lado, eu pro outro, segurando todo o peso da queda e da velocidade em que estava com o antebraço direito batendo em cheio no asfalto rugoso.
Simplesmente não houve o mínimo tempo de uma possível reação, não havia nenhum sinal de perigo à vista antes da queda, nem sequer houve tempo pra me assustar. Quando vi, já havia caído.
Levantei rapidamente, peguei a bicicleta e de imediato percebi o motivo do acidente: havia uma longa mancha de óleo (ou outro produto semelhante) espalhada na rua. Refazendo a cena mais tarde, me lembrei que certamente, ao inclinar pra fazer a curva, dei uma apertadinha no freio dianteiro (essa bicicleta que estava usando não tem freio traseiro), pra diminuir a velocidade, e nesse momento estava exatamente sobre a fatídica mancha de óleo. Curva pra direita, a roda dianteira deslizou pra esquerda e eu caí pro lado oposto.
No momento não me dei conta da seriedade do que ocorreu, apesar da percepção de que foi uma batida forte, doída. Montei de volta na bicicleta e ainda fui pra tal sessão de pilates, meio torto, meio sangrando, mas fui. Mas uma hora e pouco depois, ao voltar pra casa, o machucado começou a incomodar e a doer demais, a ponto de me convencer a dar um pulo no pronto socorro, pra dar uma olhada naquilo. Lá foi feito um exame de raio x, no qual constatou-se que não havia fratura [o que mais tarde seria verificado que estava errado]. Fizeram um curativo no local, me receitaram um analgésico/ anti-inflamatório e me liberaram com votos de boa recuperação.
Mas os problemas estavam apenas começando... Pra resumir a história, nos dias seguintes o inchaço e a dor aumentaram enormemente. Três semanas depois, como ainda estava sentindo bastante dor e ainda havia muita limitação dos movimentos do cotovelo, procurei novamente o ortopedista e na sequência fiz novos exames de raio x e de ressonância magnética, nos quais verificou-se que na realidade houve fratura da cabeça do rádio (essa ponta de osso que vem do antebraço e que popularmente chamamos de cotovelo), e também que ainda havia muito edema e inflamação na região.
Mas, segundo o doutor, não havia muito mais a fazer nesse momento, a não ser a famigerada fisioterapia e torcer para que as coisas evoluíssem bem.
Hoje, 45 dias após o acidente, posso dizer que a lesão está melhorando, apesar de que muito lentamente. Ainda há dor em certas situações e movimentos, e também bastante limitação de movimento de flexão e extensão do antebraço (que acredito que vai ser recuperado, ao longo do tempo). Mas ainda não dá pra pensar em voltar a pedalar, por exemplo (por conta do esforço requerido nessa articulação), bem como outras atividades que demandem maior firmeza dessa região.
Em quarenta anos pedalando (fazendo uma conta arredondada), essa foi, de longe, a queda mais grave que sofri [sim, também não foi tão grave assim, felizmente]. E é lógico que é curioso que tenha ocorrido numa situação tão tranquila, tão rotineira, tão cotidiana. É, na verdade, um tal paradoxo que chega a ser bizarro.
Mas o que queria comentar aqui, na verdade, são dois aspectos mais conceituais, digamos assim, em relação a essa ocorrência.
O primeiro é sobre essa grande questão do "por que as coisas acontecem", ou sobre as "razões ocultas por trás dos acontecimentos". Ora, ora, ora... Muito bem! Aqui estamos nós... Sobre esse evento em si: será que foi uma sequência aleatória de acontecimentos e fatores do nosso mundo físico ou será que há aí um "sinal" para me dizer alguma coisa?... Ou uma "somatização" de energias negativas e incongruências mentais que estavam perdidas por aí?... Sim, é uma questão bem complexa (e controversa).
Volta e meia ouço a repetição dessa ideia de que "nada acontece por acaso", de que tudo tem um significado, um porque, uma razão. Ok... Pode ser mesmo... Mas o que fico me perguntando é: suponhamos então que tudo tenha mesmo uma "inteligência" e um intrincado jogo de razões subjacentes. De que adianta, se não somos capazes de identificar, discernir e aprender alguma coisa com essas "deduções"? Sim, porque convenhamos, qualquer ideia que possamos levantar a esse respeito estará sempre na esfera da especulação, do "achismo", da suposição... Ou não?
Bem, se alguém for mais esclarecido e puder ajudar na elucidação dessa questão, por favor se manifeste aí.
O segundo aspecto é sobre essa questão que podemos chamar de gerenciamento de risco, ou seja: como avaliar com precisão o nível de risco a que nos expomos em nossas atividades, e a partir daí chegar a conclusões sábias e eficientes em relação ao que fazer e o que não fazer, ou quando, ou onde fazer ou não fazer determinada atividade.
Na verdade essa é uma reflexão que me acompanha há muito tempo (e acredito que a muitas pessoas também), mas nas últimas semanas, após esse ocorrido, dediquei um pouco mais de diálogo interno a esse dilema. E pra ser sincero acho que esse assunto é mais simples do que o anterior, citado nos parágrafos acima.
E acho que a simplicidade reside no fato de que não é possível cercar, digamos assim, essa incerteza angustiante inerente a esse nosso mundo material. Não existe risco zero. Não existe nada cem por cento garantido, em se tratando do nosso mundinho de espaço-tempo. Não dá pra prever tudo, o tempo todo. A incerteza (ou o risco) faz parte do jogo. Ponto.
Ok... Mas dá pra mexer um pouco nesses dados do problema, não?... Tá certo que não dá pra se defender de todos os perigos o tempo todo, mas dá pra dar uma selecionada, né? Pois é... Será? Selecionar... Puxa, na teoria até parece interessante, mas na prática, sei não.
Tipo: deixar de fazer umas coisas porque parecem mais arriscadas do que outras, ou evitar certas situações. Mas, nesse caso, pedalar dois quilômetros por ruas de um bairro residencial numa tranquila tarde de terça-feira se enquadraria onde?
Pois é...
O que você acha? Dá pra resolver essa equação?
É isso.
Segue o baile! No final dá tudo certo (ou não).
P.S:
(1) Ainda sobre a análise da queda sofrida, devo dizer que, noves fora, a conta até que não ficou cara, digamos assim. Pois, como sabemos, esse tipo de "quebra de regras das leis da física" (equilíbrio, direção, cada coisa no seu lugar) equivale a uma rodada de uma roleta russa. Nunca se sabe como pode terminar.
(2)
(3) E por falar em lesão, há alguns meses venho lidando com uma disfunção que apareceu no joelho esquerdo, já diagnosticada com uma série de nomes técnicos desagradáveis de ouvir e que não vou nem citar aqui.
É isso. As coisas são como são. Vamos em frente (até porque não há como voltar, não é mesmo?... Rsrs). Ninguém disse que seria fácil.
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No domingo passado, dia 5 de junho, dei uma saída aqui para uma caminhadinha solo (11 km, 3 horas, 550 m de subida acumulada) na estrada de terra que margeia o Rio Nhundiaquara, na região de Morretes (a 60 km de distância de Curitiba).
Dia cinzento, úmido, silencioso, convidativo a ficar em casa debaixo das cobertas, só que não.
Às vezes funciona encarar esse negócio de fazer algo meio sem sentido, como sair andando por aí, sem motivo ou necessidade. Bom demais!
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"No creo en brujas, pero que las hay, las hay"
(dito popular espanhol)
"Um navio está seguro quando está no porto.
Mas não é para isso que os navios foram feitos."
(William Shedd)
Gratidão
Força Sempre
Daqui para frente as coisas só vão piorando.
ResponderExcluirOxi!!! Será?... Kkk
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