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quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Sobre o livro "Deus, uma história humana", de Reza Aslan - Curitiba, Setembro de 2019













No livro “Deus, uma história humana” (Editora Zahar, 2017), o escritor e estudioso da religião Reza Aslan baseia-se em profundos estudos arqueológicos e neurocientíficos pra investigar as origens e caminhos que a crença em Deus percorreu na história da humanidade, e, em particular, os motivos que levaram à construção dessa imagem humanizada de Deus, tão comum e disseminada há tanto tempo e, em particular, nos dias atuais.

O autor alerta, no começo da obra, que seu objetivo não é questionar ou provar a existência de Deus, mas sim buscar entender de onde vem essa tendência tão marcante em todas as religiões (e mesmo fora delas) de enxergar Deus como uma espécie de ser humano aperfeiçoado, alguém capaz de ouvir nossas preces e de atender a algumas delas, seguindo critérios bem humanos.

O tema em si é interessantíssimo. Pessoalmente, sempre tive grande atração pelo assunto. Confesso que me intriga essa fé fervorosa que algumas pessoas exibem, com claras demonstrações de “conversas” com Deus e de “ouvir” o que Ele lhes diz. Esse formato nunca se encaixou na minha capacidade de ver a questão.

Aslan foi fundo nos estudos arqueológicos mais antigos disponíveis pra buscar os primeiros sinais de culto a uma divindade, ainda antes do Homo Sapiens dominar a cena. Associando esses estudos com outros dados científicos e com reflexões próprias, sugere que o impulso de humanizar a divindade vem de muito longe, e nasce da necessidade humana mais elementar, tanto há milhões de anos atrás quanto ainda hoje, de ter alguém que ouça nossas súplicas.

Na verdade, afirma ele, é quase uma questão de praticidade: pra que serviria um Deus com quem não pudéssemos nos comunicar?

No decorrer da obra o autor busca também entender as diferenças entre as religiões politeístas e as monoteístas, e por que essas últimas prevaleceram sobre as primeiras. Bem como investiga detalhes dos escritos bíblicos e das discussões e acordos realizados na antiguidade a fim de se “definir” que conceitos seriam adotados e oficializados, em relação ao tema.

Faz também relações entre o estabelecimento das religiões e questões históricas cruciais no desenvolvimento da humanidade, como a passagem da situação de caçador-coletor para a de agricultor, dentre outras.

E também busca fazer correlações do assunto entre diversas formas do conhecimento, como a filosofia e a ciência, assim como entre as diversas religiões.

Penso que há sempre uma grande incongruência quando se aborda essa questão de Deus, que é a nossa limitação óbvia de entendimento de um tema tão vasto e complexo. Tenho por premissa que esse é um assunto definitivamente incognoscível, e justamente por isso fico abismado com a facilidade e suposta convicção com que muitas pessoas tratam o tema.

Poder-se-ia argumentar que essa “visão” de Deus não é uma questão de conhecimento, mas de fé, e não vou aqui entrar nessa polêmica, mas só como uma rápida pincelada, a mim parece que querer levar a discussão para esse âmbito parece mais uma fuga do que propriamente um esclarecimento ou argumento válido.

Na verdade, não apenas Deus, mas a própria vida (humana), o universo e o tempo me parecem elementos completamente fora da nossa capacidade de alcance. Penso que o mínimo que deveríamos fazer ao tratar qualquer um desses temas é sermos humildes, e estarmos abertos a várias hipóteses, mas no mundo real não é bem assim que funciona.

Ao final, o autor propõe uma visão panteísta de Deus, segundo a qual tudo o que temos, somos e o que nos cerca é Deus. Deus não seria o criador do mundo e da vida, Ele seria o próprio mundo e a vida. É uma mudança e tanto de abordagem em relação à visão tradicional, que certamente vale ser considerada.

A obra é muito mais vasta e argumentativa do que esse rápido comentário, que tem por objetivo apenas despertar o interesse para o assunto e para o próprio livro. Com certeza vale a pena a leitura e reflexão.

Transcrevo, a seguir, algumas passagens que destaquei da obra, a título de ilustração desse breve comentário.






***   ***   ***




Trechos do livro:


“O que Feuerbach parecia dizer é que o apelo quase universal de um Deus que olha, pensa e sente, e age exatamente como nós, está enraizado em nossa profunda necessidade de experimentar o divino como um reflexo de nós mesmos.” (pág 8)

“O que a grande maioria de nós pensa quando pensa em Deus é uma versão divina de nós mesmos: um ser humano, mas com poderes sobre humanos.” (pág 9)

“Não tenho interesse em provar a existência ou inexistência de Deus pela simples razão de que não há prova para nenhum dos casos. A fé é uma escolha. (...) Opta-se – ou não – por acreditar que existe algo além do domínio material.” (pág 9)

“Este livro é um apelo para pararmos de colocar nossas compulsões humanas sobre o divino e desenvolvermos uma visão mais panteísta de Deus. (...) Quer você acredite em um deus ou muitos deuses, ou em deus algum, somos nós que formamos Deus à nossa imagem, e não o contrário. E nessa verdade está a chave para uma forma de espiritualidade mais madura, mais pacífica e primeva.” (pág 11)

“Adão e Eva parecem saber intuitivamente que são almas encarnadas. É uma crença tão primitiva e inata, tão profundamente enraizada e  generalizada, que deve ser considerada nada menos que a marca característica da experiência humana.” (pág 17)

“(...) a fonte do impulso religioso e os comportamentos que surgiram dele se inserem na crença desconcertante e enigmática da humanidade na alma separada do corpo – crença que, de uma forma ou de outra, surgiu em todas as sociedades, em todas as culturas e ao longo de todos os tempos.” (pág 34)

“Max Muller (...) acreditava que o as primeiras experiências religiosas da humanidade foram o resultado de encontros com a natureza.” (pág 35)

O etnólogo britânico Robert Marett denominou esse sentimento de assombro supernaturalismo: “A atitude de espírito ditada pela admiração do misterioso.” (pág 35)







(Fonte da imagem: Google)






“A teoria de Durkheim, de que a religião surgiu como uma espécie de aglutinante social, um meio de promover a coesão e manter a solidariedade entre as sociedades primitivas, continua a ser a explicação mais ampla para as origens do impulso religioso.” (pág 39)

“A crença religiosa, escreveu Freud em ‘O futuro de uma ilusão’, ‘nasceu da necessidade humana de tornar tolerável seu desamparo’.” (pág 40)

“O filósofo escocês David Hume escreveu que ‘a religião primária da humanidade surge principalmente de um medo ansioso.” (pág 41)

“Feuerbach definiu Deus como o ‘sentimento de vontade’ que brota de nossos corações. ‘Aquilo de que o homem precisa... isso é Deus’.” (pág 41)

“Como escreveu o grande antropólogo norte-americano Clifford Geertz: ‘A religião provavelmente perturbou os homens tanto quanto os confortou”. (pág 41)

“O cientista cognitivo Paul Bloom realizou anos de pesquisa sobre como a religião e as crenças religiosas afetam os pontos de vista morais. Sua conclusão é que há pouca evidência de que as religiões do mundo tem um efeito importante em nossas vidas morais.” (pág 42)

“Apesar de tudo o que achamos que sabemos, a evidência indica que a religião não faz as pessoas serem boas ou más.” (pág 43)

“Mas, se isso é verdade, se não há vantagem adaptativa no impulso religioso e, portanto, nenhuma razão evolutiva direta para que ele exista, então, por que surgiu a religião?” (pág 43)

“Em seus termos mais simples, o Hadd (Dispositivo Hipersensível de Detecção de Agente, na sigla em inglês) os leva a detectar a ‘agência’ humana e, portanto, uma causa humana por trás de um evento inexplicável.” (pág 46)

“A ciência cognitiva da religião começa com uma premissa simples: a religião é antes de tudo, e principalmente, um fenômeno neurológico. O impulso religioso, em outras palavras, é em última instância uma função de reações eletroquímicas complexas no cérebro.” (pág 46)

“Todo impulso – todo impulso, sem exceção – é gerado por reações eletroquímicas no cérebro.” (pág 46)

“A teoria da mente não nos obriga apenas a pensar os outros nos mesmos termos que usamos para pensar nós mesmos. Ela nos encoraja a usar anos mesmos como modelo primário para a forma como concebemos os demais.” 9pág 47)

“Pense nisso: se a única consciência de que tenho ciência é a minha própria, então não tenho escolha senão usar-me como modelo para minha compreensão do universo. Minha percepção dos estados internos de outros seres humanos baseia-se no meu próprio estado interno.” (pág 47)

“Se parece comigo, a teoria da mente me leva a pensar que deve ser como eu.” (pág 48)





(Fonte da imagem: Google)






“O Hadd e a teoria da mente explicam como surge uma crença religiosa específica. Mas não explicam como essa crença é transmitida com sucesso de crente para crente, de cultura em cultura, de século em século.” (pág 49)

“De acordo com o antropólogo cognitivo Pascal Boyer, nossos cérebros permitem que apenas certos tipos de crença “permaneçam”. Sua pesquisa mostra que estamos mais propensos a absorver, reter e compartilhar uma ideia se ela for levemente anômala.” (pág 49)

“Na história da religião existe uma anomalia particular – um conceito minimamente contraintuitivo – que ultrapassou todos os outros, resultando no que é inquestionavelmente, sozinha, a crença religiosa mais bem sucedida, mais memorável, significativa e útil já concebida pelos seres humanos. Trata-se do conceito de ‘Deus-homem’ – um ser humano ligeiramente alterado de alguma forma, que exibe habilidades físicas ou mentais ampliadas, que pode ser invisível, ou estar em todos os lugares em todos os momentos, que conhece o passado e o futuro, que sabe tudo. Um ser humano que é, em outras palavras, um deus.” (pág 51)

“(...) de onde veio a ideia da alma? A resposta verdadeira é que não sabemos. Parece claro, no entanto, que a crença na alma talvez seja a primeira crença da humanidade. Na verdade, se a teoria cognitiva da religião está correta, foi a crença na alma que levou à crença em Deus. A origem do impulso religioso, em outras palavras, não está enraizada em nossa busca de significado ou em nosso medo do desconhecido. Não nasce de nossas reações involuntárias diante do mundo natural. Não é uma consequência acidental do funcionamento complexo de nossos cérebros. Ela é resultado de algo muito mais primitivo e difícil de explicar: nossa crença arraigada, intuitiva e inteiramente sensitiva de que somos, o que quer que sejamos além disso, almas encarnadas.” (pág 53)

“Nós somos a lente através da qual entendemos o universo e tudo o que há nele. Aplicamos nossa experiência pessoal a tudo que encontramos, seja humano ou não. Ao fazê-lo, não só humanizamos o mundo, humanizamos os deuses que achamos que o criaram.” (pág 62)

“(...) o que estimulou a transição da caça para a agricultura ? A descoberta de Gobekli Tepe e outros locais de devoção similares no antigo Oriente Próximo sugere que foi o nascimento da religião organizada.” (pág 68)

“Assim, o que começou como um impulso cognitivo inconsciente para moldar o divino à nossa imagem – para lhe dar a nossa alma – gradualmente se tornou, durante os 10 mil anos seguintes de desenvolvimento espiritual, um esforço consciente para tornar os deuses cada vez mais humanos – até que, finalmente, Deus tornou-se literalmente humano.” (pág 70)

“O ato de escrever sobre os deuses, de ser forçado a descrever em palavras como eles eram, transformou a maneira pela qual os imaginávamos e também tornou consciente e explícito nosso desejo inconsciente e implícito de fazer os deuses à nossa própria imagem.” (pág 76)

“O panteão dos deuses indo-europeus foi construído do mesmo modo que na Mesopotâmia e no Egito, deificando-se as forças da natureza.” (pág 83)

“Ao empenhar-se no ‘deus-uno’, esses pensadores gregos tentavam redefinir Deus como substância pura, como a realidade subjacente que permeia toda a criação. Eles tentavam suprimir ativamente o desejo de humanizar o divino a favor de uma concepção mais primitiva e animista de deus: um deus desumanizado, sem forma, corpo, personalidade ou vontade; um deus que, como veremos, poucas pessoas na Grécia ou em qualquer outro lugar do mundo haviam tido interesse em adorar.” (pág 88)

“É surpreendente que (...) o que hoje reconhecemos como monoteísmo, isto é, a crença em um único deus singular, exista há apenas cerca de 3 mil anos.” (pág 97)







(Fonte da imagem: Google)






“O monoteísmo, entenda-se, não é definido como o único culto de um deus: isso se chama monolatria e é um fenômeno bastante comum na história da religiões. O monoteísmo significa o culto único de um deus e a negação de todos os outros deuses.” (pág 97)

“O que a mente antiga parecia disposta a aceitar era a existência de um “Deus Superior” todo-poderoso, abrangente, que atuava como a principal divindade sobre um panteão de deuses inferiores igualmente dignos de adoração. Essa crença se chama henoteísmo, e logo se tornou a forma dominante de expressão espiritual não só no antigo Oriente Próximo, mas em quase todas as civilizações do mundo.” (pág 99)

“O problema que Akhenaton e Zaratustra enfrentaram é que as pessoas geralmente têm dificuldade em se relacionar com um deus que, sem características ou atributos humanos, também não possui necessidades humanas. Se um deus não tem nenhuma forma, atributo ou qualidade humana , então, como os seres humanos devem se conectar e se comunicar com ele? A própria noção de um deus desumanizado contradiz o processo cognitivo pelo qual a concepção de deus teve origem. Seria com tentar imaginar o inimaginável, como conjura uma imagem de um ser que não tem imagem. É muito escorregadio e irreal para se lidar com ele.” (pág 104)

“E então, todos os argumentos históricos contra a crença em um único deus foram repentinamente varridos pelo desejo irresistível de sobreviver dessa pequena e insignificante tribo semítica. ‘Eu sou Javé e não há outro. Eu formo luz e crio escuridão, asseguro a paz e crio o mal. Eu, javé, sou o criador de todas as coisas’ (Isaías 45:6-7). Esse é o nascimento do judaísmo tal como o conhecemos.” (pág 121)

“O Deus que, em última análise, surge do exílio babilônico não é a divindade abstrata que Akhenaton adorou. Não é o puro espírito animador que Zaratustra imaginou. Não é a substância sem forma do universo descrita pelos filósofos gregos. Esse era um novo tipo de Deus, tanto singular quanto pessoal. Um Deus solitário sem forma humana que, no entanto, fez os seres humanos à sua imagem. Um deus eterno e indivisível que exibe toda a gama de emoções e qualidades humanas, boas e más.” (pág 121)

“Mas então João faz algo completamente inesperado. Ele afirma que essa força primitiva é realmente um homem. De fato, todo o propósito do Evangelho de João é demonstrar como a essência abstrata, eterna e divina da criação, que é tanto separada de Deus quanto única com Deus, foi manifestada na Terra sob a forma de Jesus Cristo. ‘E o logos se fez carne e habitou entre nós’ (João 1:14).” (pág 123)

“A humanização do divino e a divinização do ser humano são dois lados da mesma moeda.” (pág 125)

“O que fez a deificação de Jesus diferente tinha menos a ver com ele do que com a divindade que se dizia ser por ele incorporada. Pois enquanto todos os outros deuses-homens do antigo Oriente Próximo eram considerados uma das muitas manifestações humanas de um de muitos deuses, Jesus era considerado a única manifestação humana do único Deus no universo.” (pág 126)

“Que tipo de Deus, ele [Marcião] se perguntava, faria um mundo tão miserável – um mundo de carência, destruição, inimizade e ódio? Jesus não disse: ‘Você os conhecerá por seus frutos’ (Mateus 7:16)? Se isso fosse verdade, os frutos desse Deus pareceriam apodrecidos até o âmago. A única resposta que fazia sentido para Marcião era que devia haver dois deuses: o deus criador cruel da Bíblia hebraica, conhecido como Javé, Deus de Israel, e o Deus amoroso e misericordioso, que sempre existiu como logos, mas que fora revelado ao mundo pela primeira vez na forma de Jesus Cristo.” (pág 128)

“No final, foi Agostinho de Hipona (354-430 d.C.), o homem que, mais que qualquer outro, moldaria a teologia cristã no mundo ocidental, quem teve a última palavra. Deus é Uno, Agostinho declarou em sua obra prima ‘Sobre a Trindade’. Deus é eterno e imutável. Mas, embora isso seja verdade, Deus existe sob três formas: Pai, Filho e Espírito Santo. Nenhuma dessas formas está subordinada à outra. Todas compartilham a mesma medida da divindade. As três existiram no início dos tempos. E se essa ideia causar confusão, se ela desafiar lógica e razão, se parece contrariar a própria definição de Deus, então é tarefa do crente aceita-la como mistério e seguir em frente.” (pág 136)







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“O que é Deus? Essa questão está no centro da busca humana do sentido do divino desde o início. Deus é a força animadora que liga todos os seres vivos, como nossos antepassados pré-históricos pareciam acreditar? Ou é a natureza deificada, como pensavam os primeiros mesopotâmicos? Ou é uma força abstrata que permeia o universo, como alguns filósofos gregos o descreveram? Ou é uma divindade personalizada que olha e age como ser humano? Ou deus é literalmente um ser humano?” (pág 151)

“(...) se, no início, não existisse nada além de Deus, como Deus poderia ter criado algo, a menos que tivesse criado isso de si mesmo? E se Deus criou a partir de si mesmo, isso não violaria a unicidade e a unidade de Deus, por dividir deus entre o criador e a criação? A solução de Ibn al-Arabi para o problema foi confirmar o que os sufis como Shams  e Bayazid haviam dito todo o tempo: se Deus é indivisível, então nada pode existir que não seja também Deus. (...) Portanto, Deus deve ser, em essência, a soma total de toda existência.” (pág 151)

“Na verdade, para a maioria dos sufis, o erro do cristianismo não consiste em violar a natureza indivisível de Deus transformando-o em ser humano; antes, reside em acreditar que Deus é apenas um ser humano particular e nenhum outro. De acordo com o sufismo, se Deus é verdadeiramente indivisível, então deus é todos os seres, e todos os seres são Deus.” (pág 152)

“Deus não é o criador de tudo o que existe. Deus é tudo o que existe.” (pág 152)

“Existe um termo moderno para essa concepção do divino: panteísmo, que significa ‘Deus é tudo’ ou ‘tudo é Deus’. Na sua forma mais simples, o panteísmo é a crença de que Deus e o universo são um e o mesmo – nada há fora da existência necessária de Deus. Como o filósofo panteísta Michael P. Levine diz: ‘Nada pode ser substancialmente independente de Deus, porque não há senão Deus’. Em outras palavras, o que chamamos mundo e o que chamamos Deus não são independentes ou distintos.” (pág 154)

“Pense em Deus como uma luz que passa por um prisma, refratando-se em cores incontáveis. As cores individuais parecem diferentes umas das outras, mas na realidade são as mesmas. Elas têm a mesma essência. Têm a mesma fonte. Dessa forma, o que na superfície parece separado e distinto é de fato uma realidade única, e essa realidade é o que chamamos Deus.” (pág 154)








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“(...) pode-se encontrar a mesma crença em quase todas as tradições religiosas. O panteísmo existe no hinduísmo, tanto nos Vedas quanto nos Upanishads, mas particularmente na tradição Vedanta, que argumenta que somente o brâman (realidade absoluta) é real, tudo o mais é ilusão.” (pág 155)

“Mesmo no cristianismo, a religião humanizadora por excelência, encontram-se tendências panteístas nas obras dos pensadores místicos, como Mestre Eckhart, que escreveu: ‘Deus é ser e dele vem diretamente tudo o que é’.” (pág 155)

Pode-se chegar ao panteísmo não pela religião, mas pela filosófica. O filósofo racionalista Baruch Spinoza (1632-1677 d.C.) é visto como popularizador do panteísmo no Ocidente por argumentar que, como não poderia haver mais que uma ‘substância’ com atributos infinitos no universo, quer essa substância se chame Deus ou Natureza, ela deve existir como realidade única e indiferenciada.” (pág 155)

“Também é possível ignorar completamente Deus e mirar a ciência e sua concepção unificadora da natureza; na conservação da energia e da matéria, na natureza inseparável das duas, o fato inalterável é que tudo o que existe hoje sempre existiu e sempre existirá enquanto o próprio universo existir.” (pág 156)

“Para mim, e para inúmeros outros, ‘o Um’ é o que chamo de Deus. Mas o Deus em quem acredito não é um Deus personalizado. É um Deus desumanizado: um Deus sem forma material; um Deus que é pura existência, sem nome, essência ou personalidade.” (pág 156)

“As pessoas não sabem como se comunicar com um Deus que não possui características, qualidades ou necessidades humanas. (...) Talvez, em lugar de nos preocuparmos com a tentativa de formar uma relação com Deus, devemos nos tornar plenamente conscientes da relação que já existe.” (pág 156)

“Passei a maior parte da minha vida espiritual tentando superar o abismo que eu imaginava existir entre mim e Deus, seja por meio da fé, seja por estudos ou por uma combinação dos dois. Acredito agora que não há abismo porque não há distinção entre nós. Eu sou, na minha realidade essencial, Deus manifesto. Todos nós somos.” (pág 156)

“Como crente e panteísta, adoro Deus não com medo temor, mas com reverência e admiração pelo funcionamento do universo – pois o universo é Deus.” (pág 156)

“Reconheço a divindade do mundo e de todo ser nele existente, e respondo a todos e a tudo como se fossem Deus – porque o são. E eu entendo que a única maneira de conhecer verdadeiramente Deus é confiando na única coisa que eu realmente posso conhecer: a mim mesmo. (...) ‘Quem conhece sua alma conhece o seu senhor’.” (pág 157)

“Se permanecemos crentes, essa é, mais uma vez, nada mais, nada menos que uma escolha. Pode-se escolher ver a crença universal da humanidade na alma como nascida de confusão ou raciocínio falho: um truque da mente ou um acidente de evolução. Na verdade, pode-se acreditar que tudo – o big bang, a distribuição do espaço e do tempo, o equilíbrio entre massa e energia, etc. – é apenas um acidente com átomos. A criação pode ter se originado puramente por processos físicos que não refletem nada mais que a articulação das propriedades mais básicas de matéria e energia – sem causa, valor ou propósito. Essa é uma explicação perfeitamente plausível para a existência do universo e de tudo que nele há. É de fato tão plausível – e tão impossível de provar – quanto a existência de um espírito animador que está na base do universo, que une as almas, sua, minha e de todos os demais – talvez de tudo o mais - , do que é, foi ou tenha sido uma vez.” (pág 158)

“Acredite em Deus ou não. Defina Deus como você quiser. (...) Você é Deus.” (pág 158)






(Fonte da imagem: Google)






E então, o que você acha sobre isso? 

Deixe seu comentário.






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Obs: Cheguei a essa obra por indicação do amigo D'Ângelo, que também me presenteou com um exemplar do livro. Deixo aqui meu "muito obrigado" a ele, tanto pela dica quanto pelo presente. 











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