Tiger 900 Rally Pro

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quinta-feira, 11 de julho de 2019

Trekking Pico Agulhas Negras e Prateleiras, Parque Nacional de Itatiaia, RJ, 28 a 30 de Junho de 2019






Agulhas Negras e Prateleiras

Em parceria com:

Felipe Amante,
Guilherme Gardelin, 
William Siqueira Salles e o 
guia Alberto Guimarães



O Pico das Agulhas Negras, situado na parte alta do Parque Nacional de Itatiaia, no estado do Rio de Janeiro, guarda diversos simbolismos, como, por exemplo, ser o quinto ponto mais alto do Brasil (com 2.790,94 m de altitude), ser o ponto de referência do primeiro Parque Nacional brasileiro e compartilhar o emblemático nome com a nossa querida Academia Militar das Agulhas Negras, localizada na cidade de Resende, de onde, em dias claros, é possível distinguir a sua longínqua silhueta contra o céu azul. 

Chegar ao seu topo não é uma tarefa extremamente difícil, mas também não é como um passeio no parque. 







Parque Nacional de Itatiaia
(fonte da imagem: site "Extremos")






Há algumas semanas lançamos na nossa roda de conversa a ideia de fazer um programa de escalada a esse Pico e, pra aproveitar a oportunidade, também ao Pico das Prateleiras (2.548 m de altitude), que fica próximo.

A fim de curtir um pouco mais esse envolvente ambiente de montanha, e também pra facilitar os deslocamentos e obtenção das permissões necessárias, optamos por acampar no "campo base", que fica ao lado do conhecido Abrigo Rebouças, ao final da estradinha de terra que chega à área. 

A administração do Parque impõe uma de duas condições para autorizar a escalada a essas duas atrações: o grupo pretendente deve apresentar um kit de equipamentos de escalada (cordas, cadeirinhas, mosquetões, etc) ou contratar um guia credenciado que disponibilize esses materiais e se responsabilize pela segurança da equipe. Como não dispúnhamos dos itens exigidos, e também como forma de nos cercar de maior certeza em achar as melhores rotas, resolvemos contratar os serviços de um guia, o Alberto, sugerido pelo amigo D'Ângelo (a quem deixo aqui meu agradecimento pela indicação). Assim, ganhamos também um novo amigo, que, mais do que guia, foi também um orientador e parceiro na atividade. 

Encontramo-nos às onze horas da manhã da sexta feira, dia 28 Jun, no local conhecido como Garganta do Registro, topo da serra entre os municípios de Engenheiro Passos-RJ e Itamonte-MG. A partir de lá enfrentamos (de carro) os 12 km de estrada de terra e pedra até a portaria do Parque, chamado de Posto Marcão, onde registramos nossa entrada e reservamos nossas autorizações de escalada para os próximos dois dias. Na sequência, mais 3 km até próximo ao local do camping, nas imediações do Abrigo Rebouças. 

A chegada a essa área causa certo impacto, mesmo para quem já conhece e já esteve ali várias vezes. Não sei explicar direito o motivo... Talvez seja pela aridez da paisagem, talvez pela imponência das montanhas ao redor, talvez pelo sensível silêncio que chama a atenção dos ouvidos. Ou ainda por alguma razão metafísica que foge aos nossos sentidos primários, mas está lá - uma certa energia que sugere uma postura devocional a algo maior do que nós e o nosso mundo cotidiano.






Agulhas Negras (foto aérea)






Montamos nosso acampamento, demos uma volta pelas redondezas e, como ainda era cedo, resolvemos fazer uma caminhada de ambientação a uma elevação chamada Pedra do Altar. 

Logo nos primeiros metros sente-se a dificuldade da inclinação acentuada da trilha e também, um pouco, o terreno acidentado e a mudança de contexto. 

Cerca de uma hora e meia depois estávamos no cume, apreciando uma bela paisagem que se estendia longe até o horizonte. Algumas nuvens escuras circulando pelo céu nos causaram certa apreensão com a possibilidade de chuva, apesar da previsão de tempo bom para os próximos dias. 















Ficamos cerca de meia hora por lá, conversando, trocando impressões e afinando nossa expectativa para a investida dos dias seguintes. 








Guilherme, Felipe, William e eu
(da esquerda pra direita)





Chegamos de volta ao acampamento por voltas das 17 horas, pouco antes do crepúsculo, que, nessa época do ano, ocorre por volta das 17:30.













Às 19 horas nos reunimos para o jantar, confeccionado nos nossos fogareiros, ao aconchego de uma mesa com bancos e um tablado de madeira em volta como abrigo contra o vento. Pouco depois nos recolhemos às nossas barracas, aos nossos sonhos e ao devido descanso.













Essa parte alta do Parque Nacional de Itatiaia é famosa pelas temperaturas extremamente baixas que costumam ocorrer nessa época do ano [em Julho de 2017 peguei sete graus negativos acampando nesse mesmo lugar; e uma semana depois dessa nossa recente passagem por lá, no dia 08 Jul 19, os termômetros registraram 8,1 graus negativos!], de tal forma que estávamos meio que atentos e preparados para aguentar um frio de proporções antárticas. Mas não esfriou tanto - a temperatura ficou na faixa dos 4 a 5 graus positivos -, permitindo uma excelente noite de sono.













O sábado amanheceu com o céu completamente limpo, dissipando qualquer receio que ainda restasse com relação à previsão do tempo. Acordamos cedo, preparamos e tomamos um rápido desjejum e às sete horas estávamos iniciando nossa caminhada em direção ao Pico Agulhas Negras. 













A primeira hora desenvolve-se praticamente em trilha de fácil progressão, subindo ligeiramente. A partir daí inicia-se o trecho mais íngreme e acidentado da rota. Costuma-se chamar essa etapa de "escalaminhada", um misto entre escalada e caminhada. 















Há passagens com rampas e canaletas, outras de "trepa pedra", algumas beiradas de precipícios e coisas desse tipo. Não é nada muito difícil, mas algumas passagens exigem um pouquinho de desenvoltura e bom relacionamento com exposição à altura.





















Ao longo da nossa subida fomos encontrando com pessoas de outros grupos na mesma rota. Apesar de termos saído cedo pra evitar pegar esse tráfego, algumas pessoas saíram ainda mais cedo do que a gente.
































Entre conversas e causos, o Alberto nos contou uma de suas vivências na montanha. Disse ele que certo dia deixou sua mochila do lado de fora da barraca, quando de repente foi despertado pelo barulho de alguma coisa mexendo nos seus equipamentos. Quando foi olhar, viu um lobo fugindo do local, levando entre os dentes um dos seus mosquetões. Logicamente esse relato foi motivo de brincadeiras e gozações infinitas em cima do nosso nobre amigo... Um lobo escalador! Muito inusitado!













Três horas e vinte minutos depois da partida atingimos o cume. 















Fazia quase trinta anos desde a última vez em que estive lá, em uma daquelas nossas brincadeiras de fim de semana durante o curso na AMAN. 

O visual é impressionante! O céu estava completamente azul. Ao longe, a leste, via-se o vale do Paraíba e, mais longe ainda, a Serra do Mar. Ao Sul, o contorno da Serra Fina. Ao norte e a oeste mais morros e terras a perder de vista. Comemoramos com abraços e votos de congratulações. Muito bacanas esses momentos. Simples, mas incrivelmente gratificantes. 

























Ficamos quase uma hora por lá, apreciando a paisagem, fazendo um rápido lanche, conversando, tirando fotos e curtindo o momento. 




















A descida, praticamente pela mesma rota de ascensão, demorou cerca de três horas e transcorreu sem problemas, mas o cansaço físico da brincadeira começou a cobrar o seu preço. 





























Chegamos de volta ao local do camping por volta das 14:30. Havia um monte de gente por lá, a maioria de visitantes que sobem pra passar o dia e retornam à cidade no final da tarde. 

Tiramos um tempinho pra fazer um lanche e na sequência fomos aproveitar os últimos momentos de sol pra tomar um banho (super frio) de cachoeira, em um local distante cerca de meia hora de onde estávamos. 












O pôr do sol ao final dessa tarde foi digno de uma atenciosa contemplação, um verdadeiro espetáculo acompanhado tranquilamente de cima de uma pequena elevação próxima. Pode não parecer, mas essas empreitadas dão um certo trabalho para serem implementadas, mas em momentos como esse todo esforço parece recompensado e a gente sempre se pergunta: "por que não vim antes? por que não venho mais vezes?". Bom demais.
















(Foto aérea)





No comecinho da noite fizemos um jantar reforçado, arrumamos tudo para o dia seguinte e "cama".

No domingo novamente levantamos com o nascer do sol. Mais um belo dia nos dava as boas vindas. 

Às sete e meia iniciamos nossa caminhada ao Pico das Prateleiras. A investida a essa elevação é um pouco mais rápida do que a do Agulhas, em compensação há mais trechos técnicos e talvez um pouco mais difíceis de serem transpostos do que na escalada do dia anterior.





















A certa altura, em um ponto um pouco mais inclinado e mais exposto, nosso guia Alberto subiu na frente e do alto lançou a corda para nos prover segurança, alertando, no entanto: "segura, mas não puxa forte não, hein!". Mais um motivo para nós cairmos na gargalhada e nas gozações: como assim, uma corda de segurança em que não se pode apoiar com força? Apesar da brincadeira, entendemos sua intenção: o objetivo da corda era apenas dar um "apoio psicológico"... [risos]






















































Duas horas e meia após o início, atingimos o cume, maravilhados com o lindo visual e com o dia espetacular - céu perfeitamente azul com um belo sol brilhando no firmamento, parecendo em movimento com a Terra girando velozmente ao seu redor. Creio que todos ficamos muito gratos pelo momento.




























Apesar das condições do clima estarem perfeitamente límpidas, ventava bastante. Sentado no topo, apreciando a paisagem, observei um camarada de um outro grupo que estava lá preparando um drone pra decolar. Além do vento forte, o espaço disponível pra decolagem era diminuto. Pensei com os meus botões que não era uma boa ideia tentar voar um drone naquelas condições. O sujeito, no entanto, avaliou que não haveria problema, acionou os motores e arrancou com o aparelhinho pra cima. Tão logo foi atingido pela primeira rajada de vento a pequena aeronave foi arremessada contra o próprio carinha que estava pilotando, que, por uma fração de segundo, desviou o rosto das hélices em alta rotação. A cerca de três metros dessa cena, senti um frio na espinha só de imaginar o grave acidente que foi evitado por muito pouco, quase por acaso. 

O rapaz fez um voo nervoso de poucos minutos com o pequeno drone, que nitidamente não conseguia estabilizar em função do forte vento, e veio para o pouso. Outro sufoco. Viu que não conseguiria pousa-lo sobre o solo e, em função disso, pediu ajuda ao Guilherme, que estava mais perto, pra aparar o aparelho com as mãos, em pleno voo - uma manobra arriscadíssima já em situação normal, imagine numa condição daquela! O Guilherme tentou e não conseguiu segurar o agitado equipamento, até que o Alberto, que também estava próximo, se adiantou e meio que agarrou a maquininha por baixo, num gesto de alto risco. Por sorte deu tudo certo, mas foi um voo totalmente fora das mínimas condições de segurança, o que serve como lição do que não fazer com esses equipamentos. 























































Feita a desescalada, retornamos ao local do camping seguindo parte da trilha conhecida como Couto-Prateleiras, no sentido inverso (das Prateleiras para o morro do Couto), e às duas da tarde estávamos de volta à nossa base. 








































Demos assim por encerrada nossa atividade na montanha. Desmontamos nosso acampamento, arrumamos nossas coisas e descemos de carro até a estrada de asfalto, na Garganta do Registro, onde fizemos um lanche nas barraquinhas do local, brindamos ao sucesso do nosso passeio e nos despedimos - o Felipe, o Guilherme e o William pegaram a estrada de volta às suas casas, e eu ainda ficaria alguns dias na região.

No final das contas fica a sensação de que foi muito bacana a brincadeira. Em três dias vivemos momentos cujas lembranças nos acompanharão, certamente, por muitos anos, por mais simples que sejam. 

É impressionante a capacidade de uma vivência como essa de nos desconectar do nosso mundo cotidiano, tanto no aspecto físico quanto, principalmente, no psicológico/ mental. 

O tempo passado na montanha (assim como em outros ambientes fora do habitual) parece ter outra dimensão. De repente todos os nossos problemas, referências e avaliações parecem tomar outra perspectiva. Essa é a beleza e a graça dessas pequenas viagens - levar-nos para longe de nós mesmos, mostrar-nos que o nosso mundo do dia-a-dia é apenas "um dos muitos mundos possíveis", e não o único e incontornável. 

A fraterna e alegre convivência entre amigos em um ambiente como esse é um valor ainda mais relevante do que o encontro com a natureza em estado bruto. Essas relações oxigenam nosso ânimo e dão significado às nossas ações.

Que sejamos sempre capazes de nos manter leves, de ir longe, de permanecer humildes e de enxergar valor nas coisas simples da vida e do mundo à nossa volta. 

Vamos juntos?















***   ***   ***





Nos três dias seguintes hospedei-me na casa de um amigo nas imediações dessa região em que estivemos e aproveitei pra fazer uma vivência de ficar a sós comigo mesmo, apreciando o silêncio, o visual mágico das montanhas ao redor e um pouco da capacidade operacional da minha bicicletinha pelas estradas das redondezas. 





































































***   ***   ***












Equipamento:

Há alguns meses, devido a uma série de razões, acabei vendendo o Troller [três anos e meio e quase 60 mil km de excelentes serviços prestados]. Não foi uma decisão fácil... Gostava muito daquele carrinho, mas as coisas são como são e não como gostaríamos que fossem.


Após algumas semanas e muita reflexão sobre que carro adquirir a fim de preencher a lacuna deixada, resolvi optar pelo Jeep Renegade (versão Trailhawk, diesel, 4x4).  E posso dizer, apesar do pouco tempo de uso, que estou muito satisfeito com o novo equipamento. 

É lógico que não tem algumas admiráveis capacidades off road do Troller, mas em compensação tem outras admiráveis capacidades que compensam aquelas com boa margem de lucro. 

Diria que o Troller é como uma autêntica Mountain Bike (um tratorzinho bruto), e o Renegade seria como uma boa Gravel Bike (boa no asfalto, boa numa estradinha de terra, mais ergonômica e mais ágil de forma geral). Bom demais!







***   ***   ***



  • Agradeço sinceramente aos companheiros dessa jornada, Felipe, Guilherme e William, pela amizade, parceria e boa convivência nestes dias que passamos juntos. Vamos pensar nas próximas!

  • Agradeço também aos amigos D'Ângelo, Professor Theo e Sirpa, pelo apoio irrestrito e boas conversas nos encontros que tivemos. Foi realmente muito bom. 

  • Muito obrigado também ao nosso guia Alberto, pela boa vontade, competência e espírito participativo. Espero nos revermos em próximas oportunidades.


***   ***   ***


"O silêncio do corpo - era assim que os gregos antigos
definiam a saúde e o bem-estar físico dos homens.
Aprendamos a ver por esses caminhos:
é quando nada existe, como imagem e aparência,
que a perfeição está próxima.
Como a saúde é o silêncio do corpo,
a sabedoria é o silêncio da mente -
uma quietude que nada tem a ver com a inércia e a preguiça.
Ao contrário, ela é uma forma abençoada de ação."

(Luiz Carlos Lisboa)



Gratidão




Força Sempre




















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