Tiger 900 Rally Pro

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quarta-feira, 26 de junho de 2019

Caminho do Itupava, Curitiba-PR, 23 de Junho de 2019











"O Caminho do Itupava é uma trilha histórica que liga Curitiba a Morretes, no estado do Paraná. Aberta entre 1625 e 1654 por indígenas e mineradores, foi posteriormente calçada com pedras por escravos. Durante mais de três séculos os caminhos coloniais foram a única passagem da costa para o planalto, dando, subsequentemente, origem às rodovias e ferrovia que possibilitaram o desenvolvimento do Estado do Paraná.

Originário de antigas trilhas indígenas, o Caminho do Itupava foi uma das principais vias de comunicação entre o Primeiro Planalto paranaense e a Planície Litorânea desde o século XVII até a conclusão da Estrada da Graciosa, em 1873, e a efetivação da Estrada de Ferro Curitiba Paranaguá, em 1885, quando foi abandonado. No entanto, propiciou a ocupação e colonização dos Campos de Curitiba onde, durante dois séculos, contribuiu para o desenvolvimento socioeconômico das regiões que interligava.

Hoje, o Caminho do Itupava não tem mais função econômica, porém é um monumental sítio arqueológico que testemunha um precioso patrimônio cultural e natural, principalmente no trecho calçado, em plena Floresta Atlântica na Serra do Mar. O Itupava é um caminho de belezas naturais e históricas, cruzando rios, cercado de vales verdes e montanhas."

[Fonte: Wikipédia]







(fonte da imagem: Wikipédia)






Fazia algum tempo que queria fazer novamente o Caminho do Itupava, entretanto esse é um percurso que começa em um ponto e termina em outro, o que exige uma logística de transporte específica e bem pensada (alguém pra levar ao ponto de saída e resgatar depois na chegada).

Por acaso, alguns dias atrás vi um informe publicitário propondo a realização do Caminho com o devido apoio de transporte, e com um atrativo adicional: percorre-lo no sentido Morretes-Curitiba, ou seja, subindo a serra, diferente do que normalmente se costuma fazer (e do que havia feito nas duas vezes em que o realizei há anos atrás). Gostei da ideia e aderi ao programa.

Acabei integrando um grupo de dezesseis pessoas desconhecidas e heterogêneas, que se reuniram sob a liderança do guia da empresa "Gilgamesh Cumes e Trilhas".

Demos sorte com o tempo, pois estava um belo dia de sol, céu azul e temperatura agradável - ideal para uma longa caminhada na floresta.

Iniciamos a caminhada às nove da manhã, junto ao posto do IAP na estradinha que liga o Distrito de Porto de Cima à Estação Hugo Lange, e chegamos ao final da trilha, no município de Quatro Barras (grande Curitiba), às 17:15, encaixando um ritmo bem dinâmico na pernada - apenas duas paradas um pouco mais longas (vinte minutos), intercaladas com outras mais curtas.

A beleza cênica do percurso é envolvente - mata densa e preservada, rios, riachos, vegetação exuberante e variada, solo sempre úmido (apesar do tempo seco), pássaros cantando e aquele silêncio de fundo que soa como música aos ouvidos. Um verdadeiro deleite!

Há que se destacar ainda o valor da atividade como exercício físico - bela empreitada que exige um pouquinho de disposição e estruturas em dia.

Fica aqui o convite aos amigos para marcarmos uma reedição do passeio, qualquer hora dessa.

Bom demais!









































































































































































GPS





Altimetria












***   ***   ***






Ponto de vista: 

Outro dia estava ouvindo uma entrevista no formato "podcast" de um site especializado em aventuras (particularmente trekkings, cicloviagens e montanhismo), em que o entrevistado - um camarada que se propõe a ser um aventureiro profissional - criticava veementemente (e negativamente) empreitadas de aventura que ele chamava de "compradas", como, por exemplo (e pra ir logo para um caso extremo), escalar o Everest com uma dessa empresas que fazem tudo para o seu "cliente". Segundo ele, não via nisso "nenhum valor". O que teria valor seria fazer como ele faz suas viagens: por conta própria, com sofrimento, com risco, com autonomia, com roteiros próprios, etc.

Esse tipo de polêmica é muito comum hoje em dia. Nas redes sociais criou-se até um apelido pejorativo para distinguir os grupos: os "raízes" versus os "nutelas", sendo aqueles os verdadeiros heróis que fazem tudo por conta própria e não precisam de ninguém, e esses os "coxinhas" que vivem calculando cada passo.

Essa conversa, na verdade, é antiga, e permeia não só o segmento das viagens e aventuras, mas praticamente tudo na nossa vida. Sempre tem alguém pra julgar, classificar e criar "mistério" com as coisas. Desde os tempos de Academia Militar, como cadete, que a gente ouvia os mais antigos mistificando os exercícios em campo, as temidas SIEsp, e entoando a cantiga de que havia os "muito bons" e os demais.

O mesmo conceito se aplica a esportes como o triathlon (em particular o Ironman), o mountain bike, a corrida de montanha, etc. O artifício de criar mistério com as coisas, e com isso valorizar o seu feito, e diminuir o do outro, é velho.

[Por exemplo: o sujeito dá a volta ao mundo de veleiro, em solitário, mas aí vem o outro e aponta que ele não construiu o barco com as próprias mãos, como fulano vez - "comprar o barco pronto não vale, né?"!]

De certa forma isso acontece também na fotografia (e talvez na arte em geral) - aquela crítica segundo a qual aquilo que você faz nunca é bom o suficiente. 

Nessa entrevista a que me referi no começo deste texto, o camarada usa uma metáfora interessante, dizendo que fazer um pão com as próprias mãos, com todo o cuidado e carinho de um preparo pessoal não se compara a comprar e comer um pão da padaria da esquina. Ok, é verdade. Mas será que é possível, hoje em dia, "fazer" tudo com as próprias mãos, com os próprios meios, com uma originalidade imaculada e sagrada?

Onde está o valor do que fazemos? No sacrifício? No sofrimento? No risco? Na beleza cênica? Na intenção íntima? No modo como se faz? Nas histórias que acontecem no caminho? Nas lições que achamos que aprendemos? Nas fotos que ficam como memória? Ou apenas na memória interna da nossa cabecinha? 

Olhando bem de perto, nada é simples. 

Achar que existe um "jeito certo" de fazer as coisas é meio que querer simplificar um mundo que é, em si, extremamente diverso, multifacetado, cheio de nuances. O problema é que sempre tendemos a avaliar tudo tomando-nos como "medida de todas as coisas".

Até concordo que existem formas mais e menos desafiadoras, trabalhosas e difíceis de fazer as coisas (se esses parâmetros agregam valor ao feito é algo a ser considerado), mas penso que o mais importante mesmo é ir lá e fazer do jeito possível, alcançável, e não ficar paralisado pelo "mito de uma suposta perfeição".

Mais compreensão e sensibilidade, menos rigor e julgamentos.

E você, o que acha?











Gratidão



Força Sempre










terça-feira, 18 de junho de 2019

Viagem de moto a Urubici-SC, 11 a 13 de Junho de 2019










Sobre a vida e seus ciclos

(mais um capítulo da séria série: 
"pequenas viagens, grandes momentos")



Numa manhã ensolarada de um desses dias de junho juntei algumas coisas, montei no meu cavalo e saí pra dar uma volta. 

A ideia era curtir um pouco a solitude, as virtudes do motor boxer e ficar em algum lugar em que fosse possível ouvir o silêncio. 

O destino escolhido foi a pequena cidade de Urubici, na serra catarinense, que já conhecia de outras viagens e histórias.















Pesquisando e religando pontos de outras vezes em que estive por lá, decidi conhecer um camping localizado em um dos vales que ficam no entorno da cidade - Terras do Sul Ecoturismo.













Cheguei por lá no final da tarde, por volta das 17 horas. Ao desligar a moto, senti de imediato uma sensação de paz e de conexão com o lugar. Quase um encantamento. Muitas araucárias oscilando levemente com a brisa vespertina, um rio correndo ao lado e uma recepção simpática e convidativa da menina que me recebeu - "ah, você veio acampar? Legal... Pode montar a barraca em qualquer lugar aí."














Montado o acampamento, restava deixar fluir. Ótima noite de sono, no aconchego da minha pequena barraca, na companhia dos meus sonhos e devaneios.














No dia seguinte de manhã conheci o Dani, dono e idealizador do lugar. Israelense de nascimento, brasileiro de coração, tivemos ótimas conversas. Típico cidadão do mundo, já morou em diversos países e trabalhou e empreendeu em diversas frentes. Naquela manhã estava recebendo um grupo de crianças de uma associação da cidade, pra mostrar o seu modelo de negócio e inspirar novos horizontes. 













Após um rápido desjejum saí pra colocar em prática uma antiga ideia (dentre muitas, tendo aquela região como cenário): subir a Serra do Corvo Branco correndo. 

Apenas meia hora depois cheguei, de moto, ao topo da serra, pelo lado de cima, vindo da direção de Urubici. Como estava sozinho, se queria subir, era preciso primeiro descer. Portanto bolei um plano de descer correndo 7,5 km e depois retornar, perfazendo 15 km. 

Equipei-me com o excelente e já um tanto velhinho Salomon LAB (o tênis), uma mochilinha de hidratação e lancei-me estrada abaixo. 

Que lugar fantástico! Ninguém em volta, abismos dramáticos despencando em cada curva, picos elevando-se em direção ao céu e a inexorável força da gravidade empurrando como um par de mãos nos ombros.















Cumprida a meta da descida, iniciei o retorno. Devo dizer que é uma subida um tanto intimidadora. Rapidamente a pulsação vai a milhão e os passos se tornam humildemente curtos. Mas em compensação o visual do enorme paredão da serra, agora à frente, faz parecer que estamos em um cenário de filme de ficção científica. 













A certa altura um carro passou do meu lado e o cara me perguntou na maior boa vontade se queria uma carona até o alto. Achei graça, agradeci e declinei. Ele ainda comentou: "é pique até lá em cima, hein!". 

Muito bacaninha o ritual físico, mental e anímico de uma corridinha como essa. Me parece que o corpo físico sabe do seu potencial e dos seus limites, e, ao mesmo tempo que gosta da brincadeira, também sofre um pouco com ela. A mente é aquele gerente perfeccionista e preocupado com tudo o tempo todo. Excelente e indispensável auxiliar, mas deve ser tratado com certa cautela e colocando-a no seu devido lugar. No final das contas, sobram os velhos "por ques", os labirintos e alucinações do espírito que anima essa empresa - "sim porque sim, vou subir esse negócio até o final e não tem discussão! Deem um jeito aí!"

Aos pouquinhos vou chegando de onde saí, alguns minutos antes. Quanto mais perto do final, mais íngreme, menos força nas pernas, maior a harmonia com tudo em volta. Parece que dá pra sentir as moléculas de oxigênio chegando nas fibras musculares mais distantes, os pulmões pressionando o tórax em busca de um milímetro a mais de expansão e uma sensação de prazer muito rara de sentir em situações "normais". 

Pronto! Cheguei! Simples assim [651m de ganho de altitude!]. A sensação é quase de certo anestesiamento (o cansaço mais pesado só apareceria cerca de trinta horas depois, e duraria uns bons dois dias, como se tivesse levado uma surra de vara de bambu - doía tudo [risos]).
















Os números







Altimetria da brincadeira





À tarde dei um pulo na cidade pra almoçar e comprar suprimentos para o lanche da noite, e em seguida retornei ao camping para o devido descanso.














Bati mais um bom papo com o Dani, que me contou sobre passagens da sua vida, planos para o futuro, política, família, de tudo um pouco... Interessante como de certa forma muitos pontos se tocam com os meus próprios pontos de vista e interesses, o que confirma aquela ideia de que temos uma tribo por aí, cujos membros estão dispersos e, ás vezes, disfarçados em outros personagens. 
















Fiquei um bom tempo apenas olhando o rio que corria ali ao lado, observando o céu, sentindo a pequena brisa e contemplando o rápido entardecer, com a escuridão cobrindo tudo com um manto de quietude e mistério, típico da noite.















Nessas horas fica claro como o tempo e a vida passam rápido. Quando se vê, já era. 

No outro dia acordei sem pressa, fiz um chá quente e comecei a arrumar as coisas para o retorno. O Dani apareceu novamente e batemos mais um papo. Comentei com ele que devia ser um prazer morar num lugar como aquele, com o que ele concordou, mas fez a ressalva de que estava ali havia já onze anos, e que tudo na vida cansa, e que estava precisando dar uma saída pra ver outras coisas.








A fiel companheira: espetacular!





No caminho de volta pra casa, "perdido em pensamentos sobre o meu cavalo", sofri a transição nítida e um tanto brutal de "velocidade de mundos", da tranquila Urubici à frenética Curitiba, e não há como negar a enorme afinidade com aquele em contraposição à tolerância com este. 













Estive pensando também que nossa vida é feita de ciclos e de momentos, tudo tem sua hora, sua fase, uma zona de maior fertilidade para determinado tema. Saber disso, saber reconhecer isso e ser capaz de organizar a vida em função dessas sintonias é sem dúvida uma arte a ser valorizada. Certas coisas não podem ser adiadas para sempre, certas coisas não podem ser "saboreadas" para sempre, e no final das contas, como o entardecer junto ao rio me mostrou, tudo é muito rápido.

A questão é que, na maioria das vezes, pra abrir novos ciclos é preciso fechar os existentes, e aí entra a necessidade do desapego e da coragem de deixar para trás modelos que já deram o que tinham que dar.

Como costumo dizer, o mundo à nossa volta - o céu, os rios, o sol e suas nuances de luminosidade, os pássaros, os olhares dos animais, as ondas do mar, a textura da terra, as folhas das plantas - tem muito a nos ensinar e nos dizer. Tanto ou até mais do que nossos valiosos livros e teorias filosóficas. Mas é preciso ouvi-lo e entender o que ele está querendo dizer.

O que você acha?


















































***   ***   ***




Observação:

- "Contato com a natureza previne depressão, ansiedade e estresse", é o que diz essa pesquisa publicada no seguinte link: Ciclovivo, por um mundo melhor

Mas saber disso apenas não basta. É preciso praticar. Vamos?





***   ***   ***








"A criança que nasce, o dia que amanhece,
a convalescença no fim de uma enfermidade -
os ciclos de renovação da vida têm
a força tonificante dos grandes mistérios da natureza.
Milhões de pessoas deixam essa fonte de energia passar ao seu lado,
sentadas à margem da vida.
O eterno recomeço não é sempre fácil de identificar -
principalmente em nós mesmos,
em meio à dúvida e ao medo.
Quando isso é possível, estamos à beira de um milagre."

(Luiz Carlos Lisboa)








Gratidão




Força Sempre









segunda-feira, 3 de junho de 2019

Remada em caiaque oceânico na região de Guaraqueçaba-PR, 25 a 28 de Maio de 2019










Caiaque oceânico na região de Guaraqueçaba
100 km de remo em 3 dias

*em parceria com os amigos:
Marco Antonio Bednarczuk, 
Aguinaldo Aparecido Manholer, 
Newton Adriano Weber ("Caratuva")  e 
Andrea Santana.



A iniciativa pra essa remada partiu do amigo Marcão, de Curitiba, que há algumas semanas vinha agitando o pessoal pra se animar a colocar os barquinhos nas águas salgadas da Baía de Guaraqueçaba. Mas a despeito do entusiasmo pela proposta, vínhamos enfrentando uma daquelas longas sequências de vários dias de tempo instável por essas bandas, o que foi um desafio a mais às nossas intenções.

Havíamos marcado a empreitada para o final de semana anterior a esse, mas a chuva insistente nos obrigou a adiar os planos. A nova data agendada pra saída era a sexta feira, 24 de maio, mas novamente a previsão era de chuva e ventos fortes no litoral. Remarcamos então para o sábado, cujo prognóstico do tempo parecia favorável.





Planejamento do percurso de Paranaguá a Guaraqueçaba, feito pelo Marcão




Encontramo-nos às cinco e meia em um posto de serviços na saída da cidade, e de lá descemos a serra em direção a Paranaguá, de onde havíamos planejado nossa saída. Já na estrada, alguns minutos depois, fomos agraciados com um belo nascer do sol, rompendo a escuridão da noite com uma bela e animadora luz alaranjada. Bom sinal. Finalmente parece que teríamos uma janela de folga das constantes chuvas dos últimos dias.

No final das contas, após tantas mudanças de data e incertezas advindas das previsões meteorológicas, estávamos em três: o Marcão, o Manholer e eu.





Chegada em Paranaguá: finalmente uma manhã de sol




Após os acertos finais do equipamento e logística de estacionamento dos carros, zarpamos do cais de Paranaguá pouco antes das nove horas, numa linda manhã de sol e céu azul.






Saída de Paranaguá







Marcão, na saída de Paranaguá




O Marcão estava inaugurando o seu caiaque Xavante (da marca Ygará) em ambiente de mar, e o Manholer remava o seu “sit on top” com o qual já tinha bastante intimidade. 

Poucos minutos depois já estávamos na altura do porto, e logo em seguida na entrada da Baía, uma região de águas abertas e suscetíveis às influências dos ventos locais. Enfrentamos ondulações que variavam de um metro a um metro e meio de altura, o que exige um pouquinho de confiança no equipamento e um pouquinho de habilidade com as emoções (risos...). 

Interessante como nessas situações é fácil nos distanciarmos de nossos companheiros. Concentrados no próprio barco e no bailar das ondulações, quando vemos, tá cada um para um lado, às vezes já até saindo do campo de visão.








Marcão e Manholer















Passado esse trecho mais complicado, fomos costeando o outro lado da Baía, seguindo nosso rumo agora na direção leste. Em determinado ponto, um pescador, vendo-nos passar, nos alertou: “tá feio aí pra frente, hein!! Muito vento no baixio do perigo! Tomem cuidado!” Um aviso desses, nesse tom, não é a melhor coisa pra se ouvir em momentos como esse. Que baixio do perigo seria esse? E esses ventos?... Trocamos, rapidamente, algumas opiniões entre nós e resolvemos seguir em frente.













Marcão e o seu Xavante





O Marcão havia combinado com o casal de amigos Newton e Andréa, que mora em Guaraqueçaba e rema com frequência na região, de nos encontrarmos mais ou menos no meio do caminho, nas Ilhas Bananinhas, e de lá seguirmos juntos.

Chegamos a essas belas ilhas, ponto de referência importante nessa rota, já quase ao meio dia, mais tarde do que prevíramos. Tivemos um entusiasmado encontro com nossos amigos, que remavam um caiaque Marajó duplo (Ygará Caiaques), descansamos um pouco, tiramos umas fotos e em seguida retornamos aos remos.






Ilhas Bananinhas, vistas de cima




















Fomos contornando a Ilha Rasa e pouco antes das três horas paramos num vilarejo chamado Almeida, onde o Newton e a Andréa haviam acertado nosso almoço na casa de um morador local. 

Típica vilazinha de pescadores, com casas simples, barcos atracados junto à margem, crianças brincando em volta e aquele clima de tranquilidade. A comida caseira, à base de arroz, feijão, peixe e salada, veio em boa hora e caiu muito bem, levantando nossa moral para a etapa final do dia.







 Newton e Andrea, no duplo Marajó (Ygará Caiaques)























Crianças na Ilha Rasa, curiosas com a nossa passagem



























































 Localidade de Almeida, na Ilha Rasa, onde almoçamos
































Às quatro horas retornamos à água. O Newton nos alertou que certamente chegaríamos a Guaraqueçaba já de noite, em função da distância que ainda faltava para o nosso destino e o avançar rápido das horas.




















Esse trecho final foi simplesmente muito bonito. Mal podia acreditar no momento que estávamos vivendo. Depois de tanta incerteza e receio em relação às condições climáticas, aquele final de tarde foi uma bela recompensa e prova de que vale a pena insistir de vez em quando. Com uma linda luz transformando-se rapidamente num degradê do azul claro ao amarelo dourado, os pássaros revoando no céu em busca de seu local de pernoite e o cansaço da distância acumulada, fomos envolvidos por um espetacular sentimento de gratidão e satisfação de estar naquele lugar, com nossos singelos barcos a remo, com o som suave da água deslizando nos cascos. Momento de muito significado para quem busca justamente esse tipo de contato com esse fantástico ambiente ao ar livre.







































































































A noite escura caiu por volta das cinco e meia, mas não havia problema, porque o céu estava limpo, o vento calmo e já estávamos próximo do nosso destino.

Às seis e meia encostamos na orla de Guaraqueçaba, cuja praça central estava agitada naquele momento por uma música alta e movimentação de pessoas. É que estava ocorrendo ali a chegada da ultramaratona Morretes-Guaraqueçaba, corrida a pé de 105 km, que havia começado às quatro e meia da madrugada lá na cidade de origem. É aquela história: sempre dá pra ser mais ousado.

Curtimos a chegada com a alegria leve de quem conquista o inútil. O puro prazer de fazer. Mais tarde saímos para um merecido jantar num restaurante local, simples e muito bom, e, depois, uma noite de sono profundo e restaurador nas pousadas em que nos instalamos.







Rota e dados do primeiro dia (velocidade média inclui paradas)






No dia seguinte pela manhã acordamos meio sem pressa e após o desjejum saímos para dar uma caminhada em volta. Fizemos uma trilha local até o alto do morro do Quitumbé, com uma vista privilegiada da Baía ali do lado e da imponente Serra do Mar ao fundo, em mais um belo dia de sol e céu azul.








Guaraqueçaba, vista pelo Mavic








 Baía de Guaraqueçaba: lá ao fundo (bem pequeno), as Ilhas Bananinhas






















O Marcão e o Manholer tinham que retornar a Curitiba ainda nesse dia, por isso logo após o almoço pegaram o barco que faz o transporte de pessoas na região e retornaram a Paranaguá.

Como eu tinha disponibilidade de tempo e o clima estava favorável, resolvi aproveitar a oportunidade e ficar um pouco mais, pra explorar a região com os amigos Newton e Andréa. 

Assim, no meio da tarde, por volta das 15 horas, O Newton e eu saímos pra uma remada por um dos furados da região. Esses furados são caminhos por entre o mangue, que vão se abrindo ou se fechando numa formação que se assemelha a um labirinto. Ou seja, pra navegar por ali tem que conhecer um pouquinho os detalhes de cada curva, saber enxergar o caminho principal que a água faz e ter uma boa noção geral de direção e distância.
























Fizemos uma bela remada até um local chamado Sambaqui, onde há um acúmulo de material fóssil (conchas e até ossos humanos) que chega a vários metros de altura. 

Nesse trecho pegamos um vento bem contra e a maré também desfavorável ao nosso deslocamento, o que fez nosso ritmo cair bastante. Às cinco horas iniciamos o retorno, que seria pelo mesmo caminho da ida. Ou seja, sabíamos que seríamos novamente envolvidos pela noite ao longo do nosso caminho.

Fiquei um tanto apreensivo com essa situação, porque logo imagina-se que a escuridão vai comprometer nossa tão estimada segurança, em particular a questão da orientação e dos pontos de referência para a navegação visual.















A noite caiu rapidamente, novamente em uma mudança de cores da luz absolutamente espetacular. Fiquei encantado com a paz e o visual daquele lugar. Ninguém em volta, apenas o barulho dos remos n’água e dos eventuais pássaros no céu. Estabelecida a escuridão, relaxei. Não havia por que ter pressa. O Newton demonstrou uma segurança e uma capacidade de orientação fora do comum, fruto certamente do seu hábito de navegar se orientando sempre com base em referências visuais (sem GPS), bem como de estar já habituado com a região.

Esse trecho em que remamos na escuridão foi certamente uma das experiências visuais junto à natureza mais belas que já tive. Sem lua, o céu estrelado refletia-se na lâmina d’água transformando tudo em volta em um único ambiente. Parando de remar por alguns instantes, parecia que estávamos deslizando no céu, com as estrelas reluzindo à nossa volta. Enorme sentimento de gratidão e de conexão com o mundo, com o tempo e com a vida! Uma epifania!

Pena que, em função da baixa luminosidade e do equipamento que tinha em mãos, não foi possível fotografar esse cenário. Mas fico imaginando uma cobertura fotográfica feita com esmero num local e momento como esse.














Em determinado momento o Newton ainda levou um susto ao ser presenteado com um peixe que pulou exatamente dentro do cockpit do seu caiaque, no seu colo! Certamente um desses momentos de alinhamento com sincronias especiais. Chegamos de volta às luzes de Guaraqueçaba às sete horas, com a sensação de estar vindo de outro mundo.

















Segundo dia






Após uma boa e revigorante noite de sono, partimos na manhã seguinte – o Newton, a Andréa e eu – para mais uma remada a um destino encrustado em um cantinho escondido da Baía – o vilarejo de Tagaçaba, que fica no cruzamento do rio de mesmo nome com a estrada de terra que dá acesso a Guaraqueçaba.







Pescador local






















Remamos vinte quilômetros (de ida) abençoados por mais um dia bonito de céu claro e sol vibrante, alternando trechos de amplo espaço aberto com outros de furados bem estreitos ligando essas “praças centrais”. O visual da Serra do Mar, com o emblemático Pico Paraná (dentre outros) ao fundo conferiu uma moldura especial a esse cenário por si só maravilhoso.







Pico Paraná, na Serra do Mar






Uma das coisas que mais aprecio nesse tipo de ambiente é observar o voo dos pássaros, com sua elegância e simplicidade características. Fiquei pensando por que não se inventou ainda um sistema de voo com asas móveis semelhantes às das aves para nós, humanos, que nos permitisse voar sem a necessidade de motores e sem depender das correntes de ventos quentes (como as asas deltas e os parapentes). Aparentemente parece que seria apenas uma questão físico-matemática de proporções entre pesos e medidas... Mas provavelmente, nesse caso, as aparências enganem, e por isso ninguém tenha sido capaz de imitar essa fluidez bonita de um bater de asas de um pássaro.



























































Em Tagaçaba almoçamos uma deliciosa comida caseira em um local famoso na região, o Restaurante do Marinho, à beira do rio, debaixo das árvores, com os nossos caiaques ao lado.
















Terceiro dia: Guaraqueçaba a Tagaçaba






A volta, no começo da tarde, foi tão tranquila e envolvente quanto a ida, com a vantagem de termos pego o trecho do rio (cerca de 2 a 3 km, aproximadamente) no sentido da correnteza. 

Em vários momentos, nesse trajeto, pudemos observar vários botos vindo à superfície pra respirar, normalmente em grupos de dois ou três. Muito bacana poder presenciar essas cenas de tão perto, de forma tão surpreendente. Essa é mais uma das situações que escapam à capacidade fotográfica no formato que tinha disponível na hora.

Outra curtição de uma remada como essa é, como se pode imaginar, simplesmente o ambiente visual e sonoro no qual se fica inserido por diversas horas. O mundo muda de velocidade. Os olhos e ouvidos descansam. A paisagem muda lentamente, ao ritmo dos remos n'água. É uma experiência difícil de descrever. 

Chegamos a Guaraqueçaba por volta das quatro horas, satisfeitíssimos com mais uma remada bonita em nossos pequenos barcos.








Chegando de volta a Guaraqueçaba





Terceiro dia: Tagaçaba a Guaraqueçaba



Guardamos nossos equipamentos e ainda nos permitimos apreciar o belo pôr do sol na Baía junto à orla da cidade, pra fechar com chave de ouro esses belos três dias passados ao balanço das águas nas redondezas.









Baía de Guaraqueçaba, fotografada pelo Mavic








































No dia seguinte de manhã cedo embarquei com o meu caiaque no barco de linha para Paranaguá. Nas duas horas e meia de viagem o tempo mudou de parcialmente aberto para totalmente fechado. Subindo a serra de volta a Curitiba, em seguida, já estava novamente sob forte chuva, o que me fez ainda mais grato pelos três dias mágicos de tempo bom junto à natureza por que havia acabado de passar.

Bom demais!







Retornando a Paranaguá















Assista no link abaixo a um pequeno vídeo da remada:







***   ***   ***






Observações:



1) Meu muito obrigado aos companheiros dessa jornada, em particular ao amigo Marcão, que foi o grande articulador para que a engrenagem se movesse, e aos amigos Newton e Andréa, que me hospedaram de forma extremamente atenciosa em sua residência em Guaraqueçaba e me acompanharam nas remadas no domingo e na segunda-feira.





**  **  **




2) O Newton e a Andrea moram em Guaraqueçaba e estão guiando passeios/ treinos/ expedições na região - de caiaque, mountain bike ou andando/ correndo, inclusive com aluguel de caiaques oceânicos da marca Ygará. Também tem um quarto disponível em sua casa para hospedagem (Airbnb). De forma discreta e correta, estão montando uma bela base de canoagem num lugar simplesmente magnífico para esse tipo de atividade. Super recomendo!















"Nas primeiras horas do dia, em cada dia da vida,
há um presente que chega para aqueles que o merecem.
Os que já se acostumaram com a beleza 
seguem seu caminho e fazem suas tarefas.
A manhã, a renovada manhã, é daqueles que nada sabem dela,
e a cada instante descobrem suas cores,
seus cheiros e sua luz sempre diferentes.
Essa revelação que os simples conhecem,
e que faz com que se tornem bem aventurados, 
é concedida a cada homem todas as manhãs -
e eles a recebem ou a rejeitam, 
conforme sua vontade e seu destino."

(Luiz Carlos Lisboa) 









Gratidão




Força Sempre