Neste mês concluí o Curso de Fotografia da Escola Omicron, em Curitiba. Foram dez meses de aprendizado e descoberta de novos horizontes e possibilidades dentro dessa bela arte.
Ao longo desse percurso, vimos um pouco de tudo, desde técnicas, passando pela linguagem fotográfica, pelos encantos da fotografia documental, pelos desafios da fotografia de ensaios e de eventos, pela beleza da fotografia de moda, pela montagem calculada da fotografia de estúdio, etc.
Fica a lição de que há muito ainda o que aprender e explorar, e que, afinal de contas, talvez a beleza esteja mesmo nos olhos de quem vê, e que por isso é preciso (re)aprender a ver. Fotografar bem será então consequência.
Como trabalho de conclusão do curso nos foi proposto criar uma fotografia autoral baseada no tema "A música que eu vi", buscando explorar, assim, a intertextualidade entre a música e a fotografia.
Após algumas semanas de reflexão, resolvi iniciar o processo de criação a partir de uma música que foi muito marcante na minha adolescência - "Andrea Doria", do velho e bom Legião Urbana. Bela música e bela letra que fala daquela conhecida sensação de desilusão que, mais cedo ou mais tarde, se apresenta na vida de quem sonha demais, de quem tenta entender o mundo de um ponto de vista idealista.
"Às vezes parecia que de tanto acreditar
em tudo o que achávamos tão certo,
teríamos o mundo inteiro e até um pouco mais,
faríamos floresta do deserto,
e diamantes de pedaços de vidro."
Acho que, no final das contas, a mensagem da música é positiva, no sentido de seguir em frente "apesar do reconhecimento do naufrágio dos sonhos acalentados até então".
Transpor essa ideia para uma fotografia foi um desafio bem interessante (e não muito fácil...).
A ideia inicial foi retratar alguém numa estrada ou num campo aberto, de costas, seguindo em direção ao horizonte, deixando para trás algum objeto que representasse essa "passagem" da inocência para uma fase mais "pé no chão", digamos assim (pensei num livro como esse objeto, representando as promessas da ciência e da intelectualidade).
Entretanto, saindo em campo pra fazer essa foto, com a minha modelo preferida, a Thaís, essa ideia evoluiu e se consolidou na imagem abaixo:
Dizem, e eu concordo, que a boa fotografia, como a boa arte, não precisa de explicação. A leitura e a interpretação devem ficar a cargo daquele que vê. Mas vou abrir uma exceção aqui, a fim de concluir o comentário a respeito do tema proposto neste trabalho.
A escultura da foto encontra-se ao lado de uma pequena capela, numa curva de uma estrada, em uma área rural nos arredores de Curitiba. A mensagem que pretendi passar é que acima e apesar das desilusões há um poder sobre humano que, de alguma forma, nos alcança e nos resgata do círculo de tentativas e erros em que nos enredamos nessa vida.
... A crença de que há algo além e maior do que nós mesmos, que, no final das contas, nos dá sentido.
Neste sábado foi feita, na Escola, a abertura da exposição fotográfica referente ao tema proposto, das turmas de formandos do corrente ano.
O texto de apresentação da exposição diz o seguinte:
“Faz escuro, mas eu canto.” –
disse Thiago de Melo, subvertendo a lógica do silêncio imposto aos intelectuais,
poetas, professores, músicos e jornalistas durante a ditadura.
Ainda criança li seus poemas e me
encantei com a coragem, em meio ao breu político e social, desse poeta
amazonense: cantar ao invés de gritar, poetizar ao invés de correr, enfrentar
ao invés de fugir. Seu poema mais conhecido, “Os Estatutos do Homem”, inspirou
toda uma geração a transformar poesia em rito político, música em hino de
liberdade, sofrimento em arte.
E por meio dessa herança, hoje, somos
todos seres intertextuais. Do cheiro da vida criamos fotos. Dos sons profundos
de uma música criamos elementos visuais elaborados. Transformamos.
Transmutamos. Inter-relacionamos diferentes textos.
E assim aconteceu com nossos alunos,
que aos poucos se descobriram fotógrafos e ganharam todas as dores e
felicidades desta nova condição.
“A música que eu vi” não se reduz
a uma exposição. É antes de mais nada um processo em que aprendizes de si
mesmos são obrigados a encarar a fotografia como expressão artística e pessoal.
Não fogem da ditadura política, como Thiago de Melo, mas iluminam a escuridão
perversa do cotidiano por meio da luz de suas imagens.
Parabéns formandos!
Osvaldo Santos Lima
Diretor Omicron Escola de
Fotografia
Meu muito obrigado a todos os professores do Curso de Fotografia da Omicron, em particular ao mestre Osvaldo Santos Lima, que, como diretor da Escola, soube transmitir o que acredito que há de mais importante em qualquer atividade humana, a paixão por aquilo que se faz.
Obrigado também aos colegas de curso e a todos que indiretamente participaram ou simplesmente torceram para o bom êxito dessa empreitada.
E um obrigado muito especial à minha querida Thaís, pela paciência em me acompanhar nas sessões de fotos e pela colaboração espontânea e pertinente em vários momentos. É assim que se faz!
"A lente revela mais do que o olho pode ver."
(Edward Weston)
Gratidão
Força Sempre
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