Tiger 900 Rally Pro

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sexta-feira, 19 de maio de 2017

Pernoite no Morro dos Perdidos, Guaratuba-PR, 13 e 14 Mai 2017









Bate papo (a sós) com o vento, o sol, o horizonte


O que é conhecimento de verdade?

O que é de fato saber alguma coisa?

O que realmente vale a pena nessa nossa breve vida?

Cheguei ao topo do Morro dos Perdidos por volta das quatro e meia da tarde. Havia me proposto passar a noite acampado lá em cima.

Estava um bonito (e raro) dia de sol e céu azul na região, bem convidativo para uma noite ao ar livre.

Devido às precárias condições da estrada que chega ao local, só mesmo com um veículo bem alto e com tração integral pra dar conta do recado (ou com uma moto trail [ou a pé, logicamente]). Nessas horas, o Troller é um luxo.

Dei umas voltas, achei um local pra tirar o carro da trilha e que permitisse montar a barraca próximo e, sem rodeios, armei-a e me liberei pra atividade principal da brincadeira: contemplar a paisagem em volta e pensar um pouco na vida.

Caminhei um pouco pelas redondezas, curtindo as diversas perspectivas da paisagem, e depois retornei ao local do acampamento e do carro.

Não demorou a começar a escurecer. Por volta das cinco e meia o sol já estava se encaminhando para o poente.










Curti aquele belo momento com toda a paz que só um lugar como aquele proporciona. Montanhas em toda a volta, ninguém por perto, nenhum barulho urbano, horizonte a perder de vista.












Tirei algumas fotos e apreciei, nos mínimos detalhes, as diversas nuances de cores do céu no rápido crepúsculo em curso.

Momentos como esse me tocam fundo. Sinto um misto de tristeza com paz, de conforto com angústia, de encantamento com desesperança, de euforia com desolação.











Cai a noite. E com ela o frio.

Entro no carro e preparo um chá quente. Faço um rápido lanche e dou uma relaxada no aconchego espartano da cabine.

Por volta das sete e meia resolvo me instalar na barraca, montada logo atrás do carro.

O bom dessas situações é essa sensação de que não há muito mais a fazer. Então pode-se dormir sem essa incomodação de sentir que podia-se fazer mais isso e aquilo. Paz.










Penso que talvez levante mais tarde pra fazer um lanche mais reforçado, a título de jantar.

Acordo com o tumulto do vento sacudindo violentamente a barraca por volta das dez da noite. Pensando bem, vou pular o jantar hoje. Volto a dormir, alternando uma ou outra música no meu aparelhinho tocador de música com o som de turbina do vento do lado de fora.

À meia noite e meia acordo com o barulho de chuva no tecido da barraca, acrescido ao do vento, cada vez mais furioso. Como um fim de tarde tão bonito converteu-se tão rapidamente nessa chuva tão decidida?

Duas da manhã. Chove muito! Venta muito! Tenho a sensação de estar numa máquina de lavar roupa. Acendo a lanterna e checo as condições da barraca. Ela se bate dramaticamente de um lado para o outro, mas aparentemente está resistindo bem à surra, e não há sinais de invasão de água. Tento voltar a dormir.

Intimamente me sinto muito bem com a situação. Há uma pontinha de preocupação com possíveis raios, com o vento absurdo que está soprando, um pouco com a chuva, mas o fato é que é muito bacana estar num contexto como esse, sentindo essa força da natureza de forma tão crua, com tão poucos filtros. Aprecio o espetáculo.

Às quatro e meia da madrugada parece que o vento aumentou e que a chuva já não está tão intensa como há pouco. Mas a barraca sacode tanto que fico preocupado em sair voando com barraca e tudo, levado pelo vento.

Resolvo mudar para o plano B. Com dificuldade, saio cambaleante para a fúria do vento, abro o porta malas do carro, tiro as estacas do chão e enfio a barraca pra dentro do porta malas, de qualquer jeito. O vento é impressionante! Há muito tempo que não vejo algo assim.

Refugio-me no carro, dando graças pela sensação de segurança e pelo conforto do habitáculo. Preparo um chá quente e fico ali, sentindo o balançar do carro ao vento, o barulho do lado de fora, a escuridão ao redor, o inusitado da situação.

Dou uma cochilada rápida, de olho no relógio e na claridade do lado de fora, pra não perder o nascer do sol. Ligo o GPS e constato que isso ocorrerá só às seis e quarenta e cinco.

Mas às seis e pouquinho já começa a clarear. Saio do carro pra apreciar esse outro espetáculo.
















Os raios de luz despontando por entre as nuvens dão uma autêntica sensação de recomeço, de renovação.

Vivo o momento com uma sensação religiosa [no sentido de “religar”]. Fico verdadeiramente extasiado com os elementos da natureza ao redor.
















Vendo o sol nascer sinto com nitidez o planeta girando rapidamente. E imagino que esse movimento ainda é o impulso de uma grande explosão ocorrida há muitos bilhões de anos.










O horizonte está belíssimo. O sol desponta por trás de uma linha de nuvens escuras, com um céu azul limpo por cima, e o vento ainda sopra absurdamente forte ali do lado.













Fico ainda alguns minutos até o sol já estar bem alto no céu e então preciso voltar pra casa, pro mundo, pra realidade. Mas aquelas poucas horas de contato íntimo com essa natureza ampla das montanhas vão me acompanhar pelos próximos dias, quem sabe semanas, meses, anos... Porque os momentos são fugazes, mas as lembranças são duradouras.


























"A metafísica pareceu-me sempre uma forma prolongada da loucura latente. Se conhecêssemos a verdade, vê-la-íamos; tudo o mais é sistema e arredores. Basta-nos, se pensarmos, a incompreensibilidade do universo; querer compreendê-lo é ser menos que homens, porque ser homem é saber que não se compreende."   (Fernando Pessoa)







Gratidão




Força Sempre






Obs: 

(1) O Morro dos Perdidos fica no município de Guaratuba-PR, a cerca de 50 km de Curitiba (no sentido sul). Com 1500 metros de altitude, é um dos pontos mais altos da Serra do Mar.

(2) Todas as fotos: arquivo pessoal.







sexta-feira, 12 de maio de 2017

Corrida de rua "Meia maratona de Curitiba" - 07 Mai 2017




(1)


Existe o mundo ideal e existe o mundo real. E o fato é que no mundo real as coisas não andam muito fáceis, sob o viés das condições físicas disponíveis. Há alguns meses venho enfrentando o desafio de lidar com uma lesão na região lombar que tem me obrigado a rever alguns conceitos ligados à prática esportiva e à tão importante consciência corporal. 

Nesse tempo fiz várias concessões ao que julguei ser uma “solicitação” do corpo físico, ao mesmo tempo em que venho dando um jeito de manter as coisas sob controle, digamos assim...

De tal forma que foi com uma abordagem bem cautelosa que fui pra essa prova no último domingo - a meia maratona de Curitiba. Imaginei que seria uma boa oportunidade de fazer um auto diagnóstico dos inputs e tratamentos inseridos na rotina desde o surgimento desse probleminha.

Fazia tempo que não participava de uma corrida de rua tradicional como essa, com uma multidão inscrita. Pra complicar esse efeito manada, ainda havia as distâncias de 5 e 10 km largando junto com o 21, ou seja, muita, muita gente. Mas procuro ver o lado bom da coisa. Realmente cria-se uma energia bacana de se sentir, uma vibe boa!

Larguei de forma bem conservadora, bem unplugged mesmo. E fui entrando no ritmo aos poucos, da forma mais natural possível, sem olhar (e nem pensar) em pace, tempo, etc...

Somente lá pelo km 7 ou 8 é que pareceu dispersar um pouco o pelotão compacto de corredores do começo da prova. Correr pelas ruas de Curitiba num domingo de manhã é uma graça... Bela oportunidade pra apreciar o urbanismo da capital paranaense de outro ponto de vista. Mas, na verdade, não estava lá muito aberto à apreciação da paisagem em volta não. Estava mais atento mesmo ao cenário interno da adaptação à brincadeira.

Interessante notar a revolta dos motoristas travados nos cruzamentos em função do bloqueio das ruas para a corrida. Em vários pontos havia gente irritada buzinando agressivamente e até alguns bate bocas com os controladores de trânsito. Definitivamente paciência é uma virtude fora de moda nas nossas apressadas cidades grandes desses tempos modernos.

Tudo estava indo bem mais ou menos até o km 15, quando numa certa passada senti uma pontada de dor que me fez ver estrelas. ‘Ok! Segura as pontas aí, peão!’ Fui tocando na boa, pensando (pela enésima vez) o que podia haver de errado naquela equação. Cheguei a pensar que se sofresse um travamento mais severo não teria nem como voltar pra casa, pois estava sem dinheiro, sem celular, sem documento e até sem um lenço pra enxugar as eventuais lágrimas.[risos]

No final das contas, por incrível que pareça, deu tudo certo. Consegui chegar sem maiores dramas (apenas com as dores já conhecidas), e ainda mantendo um ritmo decente. 

Resultado do auto diagnóstico: tá ruim, mas tá bom (e vice versa...)!

É... Essas coisas* parecem simples, mas não são...






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Classificação na categoria 45-49 anos: 56º/182


















                                                                                                                (5)






"O homem é o único animal que ri e chora,
pois é o único animal que repara a diferença
entre as coisas como são e como deveriam ser."
(William Hazlitt)




Gratidão




Força Sempre





P.S: *Essas coisas: músculos, articulações, tendões, flexibilidade, respiração, fazer força sem ser rígido, quando ceder, quando não ceder, pensamentos, intenções, preocupações, tensões, desgastes, gravidade, leveza, postura, foco, visão periférica, equilíbrio, consciência corporal, fairplay, energia, coração, pulmão, sentimentos, imagem, desafio, ciclos, quanto treinar, como treinar, relaxar, ter paciência, saber ganhar, saber perder... a vida é incontornavelmente multi dimensional, insondável, inabarcável.

"...e o pulso ainda pulsa"









Obs: crédito das fotos:
(1): fotógrafo oficial do evento
(2), (3) e (4): Mari
(5): terceiro