Tiger 900 Rally Pro

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sábado, 18 de março de 2017

Viagem com o Troller a Urubici, por estradas de terra - 4, 5 e 11 Mar 2017










A ideia dessa viagem era fazer do caminho o próprio destino, e, nesse sentido, curtir as valentes habilidades do Troller apreciando as estradinhas de terra numa rota que ligasse Curitiba a Urubici, não necessariamente pelo caminho mais curto.

Investi algum tempo pensando e pesquisando o caminho a percorrer. Adotei como base a sugestão de um guia de viagens de bicicleta do Guilherme Cavallari - Guia de Trilhas Serra Geral (BluGrama, Edtora Kalapalo), que mapeia um percurso quase totalmente por estradas de terra ligando Blumenau-SC a Gramado-RS. 









Acrescentei o trecho entre Curitiba e os arredores de Blumenau através de pesquisas em mapas e de outras experiências na região. Calculei fazer o percurso em dois dias, mas mantendo uma postura bem flexível quanto ao local de pernoite e até mesmo do caminho a seguir.








Saí de Curitiba no sentido sul pela BR 101 e 40 km depois peguei uma estrada menor no sentido de Tijucas do Sul. Pouco depois me embrenhei por uma estradinha de terra que iria desemborcar na simpática cidadezinha de Campo Alegre. De lá acessei um trecho do Circuito das Araucárias de Cicloturismo, que já percorri em outras ocasiões, descendo a serra em direção a Corupá.







































Fiz então um trecho de cerca de 70 km de asfalto até entrar na região proposta no guia BluGrama, na altura de Rio dos Cedros. Seguiu-se um belo trecho rural que faz parte do conhecido Circuito de Cicloturismo do Vale Europeu, que também já percorri de bicicleta em outros tempos. 


































Andar em estradas de terra é bacana, mas não se pode ter pressa e nem ficar refém de média horária e meta de distâncias a percorrer, porque o rendimento da equação "tempo versus distância" é realmente bem desproporcional.

Quando vi já era quase seis horas da tarde e ainda estava chegando na cidadezinha de Rodeio, bem aquém da metade do percurso total, que havia imaginado cobrir naquele dia. Podia ficar por ali e prosseguir no dia seguinte, mas resolvi dar uma adiantada e fazer um trecho pelo asfalto até a cidade de Rio do Sul, aproveitando o começo da noite pra esse deslocamento.






































No dia seguinte retornei ao roteiro do guia BluGrama, enveredando por improváveis estradinhas de terra entre plantações de milho e morros verdes contrastando com um imenso céu azul povoado de nuvens cinzentas e apressadas. 







































Muito legal essa sensação de se sentir meio perdido no meio do nada, seguindo um caminho inusitado em contraste com caminhos muito mais óbvios (e fáceis). Testemunhar o ritmo das pessoas e da vida nessas pequenas cidades e vilarejos no meio do caminho é também uma experiência que induz à reflexão. De certa forma, parece que as coisas estão em câmera lenta, obedecendo a uma outra lógica e contexto.























As paisagens que se vê num passeio assim são enternecedoras. Talvez tenha um pouco de romantismo daquele que vê - do momento, dos valores, do perfil do sujeito da cena... No começo da tarde daquele segundo dia de viagem, a chuva que vinha se anunciando ao longo da manhã começou a cair levemente, dando aos campos, às eventuais casas e a um ou outro cavalo ou gado perdido na paisagem um ar absolutamente introspectivo e surreal, como se tudo não passasse de uma pintura numa grande tela, em tons esmaecidos pela umidade dominante.


















Cheguei a Urubici no meio da tarde daquele domingo um tanto chuvoso. Não havia praticamente ninguém nas ruas. Tudo parecia quieto, calmo, quase abandonado. Mais 25 km me levaram ao final de mais uma estradinha de terra, no fundo de um vale que bem poderia ser cenário de um filme sobre viver isolado na natureza. Instalei-me no aconchegante albergue da Pousada Rio Canoas, do casal de amigos Maxmilian e Ed. 







 Urubici






Fogãozinho a lenha num cantinho da Pousada



Cumprida essa etapa, era hora de pensar na próxima. Havia planejado fazer uma pequena viagem de bicicleta pela região, o que pretendia começar no dia seguinte, e que vou deixar pra relatar no próximo post deste blog. 

Após essa volta de bike, tirei dois dias pra abaixar o ritmo da movimentação das últimas jornadas, e também pra bater bons papos com o Max e com a Ed e pra dar umas voltas por perto, fomentando ideias e tentando avaliar um pouco o momento que estava vivendo...






Descida da Serra do Corvo Branco





 Serra do Corvo Branco, vista de baixo






No sábado iniciei o retorno seguindo novamente a proposta do guia BluGrama, agora no sentido sul-norte, no trajeto que retorna de Gramado pra Blumenau por caminhos distintos da ida. O dia começou com a impactante descida da Serra do Corvo Branco, pra logo em seguida enveredar por caminhos de terra bem estreitos e inimagináveis, acompanhando a fantástica visão do maciço da Serra por longos quilômetros.














Por diversas vezes desconfiei da correção das indicações da planilha que estava seguindo, tal era o estado dos caminhos que percorria. A sensação era de que a pequena trilha ia acabar a qualquer momento, sem aviso prévio. Mas aos poucos ia retornando às estradas principais, até atingir o próximo vilarejo.




















Passei por Santa Rosa de Lima e depois por Anitápolis, e na sequência alcancei a cidade um pouco maior de Alfredo Wagner, à beira da BR 282, que liga Florianópolis a Lages, por volta das duas horas da tarde. Fiz algumas avaliações pessoais do que já havia percorrido, do que ainda faltaria se continuasse pelas estradinhas de terra, da saudade de casa, e concluí que estava de bom tamanho o passeio. Segui então pelo asfalto das movimentadas BR 282 e 101 de volta a Curitiba, curtindo a boa sensação de estar voltando pra casa e as belas lembranças do que vira nos últimos dias, ao som de algumas músicas preferidas da minha lista.

Não posso deixar de pensar que muitas vezes imaginamos e nos deixamos levar pelos sonhos de viagens a lugares distantes e famosos - e reconheço que a distância em si e o inusitado de certos lugares tem o seu charme - , mas a beleza e o encanto da natureza estão por toda parte, desde a esquina de casa até as curvas mais distantes. O que precisamos é mesmo "olhos para ver". 

Força Sempre.







Veja no link abaixo um pequeno vídeo da viagem:








P.S: 


  • Interessante observar como as igrejas são mesmo uma presença constante e infalível até mesmo nos menores vilarejos. São verdadeiros pontos de referência, pelo menos geograficamente, tanto é que o guia BluGrama sempre inicia e termina as indicações da planilha na igreja matriz de cada cidadezinha.























  • O Troller cumpriu com maestria sua missão de ir e voltar sem reclamar maiores atenções que não as básicas, e não foi nada poupado nesse passeio. Acho que, estritamente do ponto de vista técnico, os caminhos que percorremos podem ser feitos com qualquer tipo de carro. O problema é que com um carro normal (urbano) sempre paira certa dúvida se ele poderá enfrentar uma passagem mais difícil, como uma vala mais profunda, um eventual atoleiro, uma pedra um pouco maior fora do lugar, além de que sempre também há aquele receio de danificar o carro, de arranha-lo, de "magoa-lo"... Com um carro como o Troller essas preocupações são bem minimizadas. O bicho é bruto e valente!











  • No total foram percorridos 1.164 km, entre ida e volta. Cerca de 400 km foram de estradas e caminhos de terra.















  • Um dos objetivos dessa viagem foi fazer um reconhecimento do percurso, com o intuito de eventualmente fazer parte dele de bicicleta, como é a proposta do guia BluGrama. Na verdade, a ideia original da viagem era fazer o trajeto de Curitiba a Urubici de bike, mas acabei decidindo faze-la no formato aqui relatado, entre outras razões, pra curtir o Troller nesse tipo de ambiente e pra fazer um passeio mais leve, do ponto de vista físico. Pra fazer de bike tem que estar numa outra pegada. Não é um percurso fácil, absolutamente. Pelo contrário, é bem desafiador, particularmente considerando a altimetria, condições do solo e isolamento de vários trechos. Mas certamente seria uma bela pedalada. Expandindo um pouco as ideias, também é um belo percurso pra fazer de moto! Diversão pra todos os gostos [risos].




  • Meu muito obrigado aos amigos Max e Ed, da Pousada e Refúgio de Montanha Rio Canoas, pela acolhida afetuosa e pelo bom papo.
























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Breve reflexão sobre a vida no ambiente rural

  
Tem uma música da Elis Regina que, além de belíssima, retrata com impressionante fidelidade um anseio que às vezes me bate - Casa no Campo:






Dentre os temas que delinearam algumas das conversas que tivemos na Pousada Rio Canoas, entre o Max, sua esposa Ed e eventuais hóspedes, um deles foi sobre as belezas e o encanto de viver no campo. 

O Max e a Ed fizeram essa emblemática e corajosa mudança há cerca de um ano, quando deixaram seu modelo de vida urbana para experimentar a simplicidade e os desafios de viver em um local encantadoramente belo e isolado.

É certo que a ideia é encantadora. Entre vários aspectos levantados, destaca-se a constatação dos nossos amigos de quão pouco se precisa pra se viver bem num ambiente como aquele, e como a vida ganha em qualidade em aspectos acentuadamente importantes, como ritmo de vida, alimentação, relacionamento com o tempo, silêncio, diminuição da ansiedade, etc.

O que fico pensando é: por que então mais pessoas não tomam essa iniciativa de se mudar para lugares menos populosos, e com isso viver melhor?

Acho que a resposta a essa questão passa por diversos fatores, como por exemplo, laços familiares, oferta de trabalho (e supostamente valorização do trabalho que se faz (ou seja, questão salarial)), opções de estudo, etc. Imagina-se, ou vende-se por aí a ideia de que nas grandes cidades as possibilidades de "crescer na vida" são maiores. Será que é uma promessa que se cumpre?

Por um lado vejo o modelo de vida nas grandes cidades cada vez mais "estrangulado". A sensação que tenho é que, de modo geral, as pessoas vivem a vida inteira correndo atrás de algo que nunca conquistarão... Especificamente sob o ponto de vista econômico-financeiro parece que o que se ganha nunca é suficiente pra se viver de acordo com as ofertas (tentações) disponíveis, que há uma sensação geral de remar contra uma maré muito mais forte e intransponível - o próprio formato do capitalismo, como ideologia econômica e social.

Por outro lado vejo também que essa visão "romântica" da vida no campo pode não ser exatamente assim. Talvez seja poético assim para quem vem de um outro contexto, como os que migram da cidade grande para o meio rural após décadas de incomodação no mundo urbano, e que, de alguma forma, não dependem diretamente dos recursos da terra pra viver. Sinto que os que nascem num ambiente como esse e que sempre viveram ali nutrem, na verdade, uma opinião um pouco diferente. Via de regra, imaginam e sonham com as facilidades da cidade grande, e consideram que onde vivem "não tem muito futuro", ou que "é muito parado". 

Há que se considerar ainda que a vida no campo, tirando o próprio sustento "do que a terra dá", é sabidamente exigente e sofrida, e muito pouco valorizada economicamente. Em outras palavras, em termos de agricultura, os pequenos produtores são os piores remunerados na cadeia produtiva, e são cada vez mais ameaçados e subjugados pelos grandes produtores. Neste sentido, não há nada de romântico nisso.

Mas se adaptarmos um pouquinho os critérios e considerarmos as cidades de médio e pequeno tamanho nessa análise, talvez consigamos um meio termo bastante interessante em termos de opção à cidade grande. Eu tenho a sensação clara de que as grandes cidades, a despeito de suas promessas tentadoras, já passaram há muito de um nível saudável e coerente de quantidade de gente habitando-as e girando em torno.

Às vezes fico me perguntando por que não existem políticas públicas de incentivo ao desenvolvimento de cidades médias e pequenas, como forma de fomentar a migração dos grandes centros para esses lugares. Fala-se muito nos problemas típicos das megalópoles, como congestionamentos, crescimento desorganizado, criminalidade decorrente do desemprego, etc, mas não ouvimos ninguém pensando em mudar a direção do problema... Quem sabe uma boa solução fosse criar incentivos pra essa migração...

Voltando ao ponto inicial, do romantismo da casa no campo, reconheço que ter a oportunidade de morar num lugar silencioso, afastado, e, de preferência, com uma bela vista da janela, é absolutamente encantador. Vale um projeto de vida... "O silêncio das línguas cansadas"... Quem sabe um dia...














Gratidão






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