Projeto Recanto
Walden*
Nossa chácara nos
arredores de Curitiba
Em janeiro de 2023 decidimos
trazer pra realidade uma velha ideia que tínhamos há tempos: ter uma área rural
pra construir uma pequena casa e curtir o sossego típico desse tipo de
ambiente. Após um longo período de mais de um ano de pesquisa e muita reflexão
a respeito do assunto, fechamos negócio numa chácara de 21 mil metros quadrados
no município de Piraquara, nos arredores de Curitiba (a 32 km de distância da nossa casa na cidade). Na verdade não é bem uma
chácara, mas uma floresta...
Não foi uma decisão fácil, nem foi amor à primeira vista, digamos assim. Um corretor me levou pra ver o terreno, cuja região eu já conhecia de pedalar por lá há algum tempo. Achei a ideia interessante. Não era exatamente o que buscávamos, mas era quase. O grande desafio seria como lidar com a densa mata que cobre toda a área, além do fato de não haver qualquer tipo de benfeitoria.
Mas mais do que o terreno em si, gosto muito da região toda em volta, com um circuito bem bacana de estradinhas de terra, poucas construções aparentes, paisagens bucólicas e pouco movimento de gente.
A ideia remonta há muitas décadas.
Provavelmente desde os tempos de juventude, quando comecei a admirar e nutrir especial
interesse pelo ambiente rural. Me encanta o silêncio, o isolamento, a sensação de distância do tumulto e agitação constante da cidade, o ar
mais fresco, as folhas das árvores balançando, a noção de espaço ampliado, a percepção
refinada dos elementos da natureza.
Mas nem tudo é tão idílico assim,
eu sei. Alguns amigos (e até mesmo a Mari) com quem conversei na ocasião em que
estávamos decidindo pela aquisição me alertaram que a empreitada toda “daria
muito trabalho!”, que seria muito difícil tornar o lugar habitável, etc. Sim, de
fato reconheço que esses argumentos estão cobertos de razão. No entanto o meu
contra argumento é: “o que não dá muito trabalho nessa vida?” Pela minha experiência,
praticamente qualquer coisa que se pretenda fazer (e que tenha algum valor e
consistência) dá trabalho.
Reconheço e admito que talvez seja
uma ideia um tanto insensata, no sentido literal do termo: “contrário à razão e
ao bom senso”. Para viabilizar a aquisição, coloquei o meu estimado Troller
amarelo como parte do pagamento, fechando assim (temporariamente, espero) esse departamento
tão bacana de ter um carro 4x4 robusto e pau pra toda obra. Estava tudo tão bem
estabilizado no nosso esquema de vida, e de uma hora pra outra nos vimos diante de um baita desafio.
A ideia, basicamente, é construir
lá um pequeno chalé que sirva de casa de campo, ou melhor dizendo, casa de floresta,
pra passar os finais de semana ou eventualmente alguns dias. “Mas um
investimento todo desse só pra isso?”, alguém poderia dizer. Bem, é mais ou
menos isso. A validade da intenção é muita subjetiva e pessoal. Entendo que não
faça sentido para alguns, pois cada um tem uma percepção própria das coisas,
cada um vê aquilo que faz parte do seu próprio imaginário e forma de ver o
mundo. Mas penso que, tanto quanto possível, devemos respeitar esses chamados
internos que vivem a sussurrar à nossa intuição.
Sei também que um projeto dessa
magnitude impacta todo o estilo de vida e prioridades pessoais e familiares. Como sabemos,
toda escolha traz em si várias renúncias. Um alerta que de vez em quando alguém
me faz (e eu mesmo me faço) é sobre a questão da demanda de atenção e presença
no espaço, dificultando, em tese, saídas pra viagens mais prolongadas, etc. Com
relação a isso ainda não temos resposta. Vamos ver como as coisas vão evoluir e
se encaixar. Mas penso que tudo tem solução, tudo tem alternativas. A ideia não
é construir um castelo, nem uma fazenda, portanto acredito que de alguma forma
vamos achar o jeito certo de jogar esse jogo.
Realmente certas viagens me
encantam e instigam, mas na minha concepção essas duas vertentes (viagens e um
recanto em meio à natureza) podem ser perfeitamente compatíveis, não
necessariamente excludentes. Ademais, vejamos como esses dois caminhos vão se
comportar nos anos da “maturidade avançada” que se aproximam rapidamente.
Em defesa do projeto devo também pontuar
que assumimos o risco de que não dê certo, de alguma forma, ou que as coisas não
aconteçam conforme imaginamos, etc. O risco faz parte, muito embora nesse caso acredite
sinceramente que a chance de não dar certo é pequena.
Penso também que os tempos
modernos nos incitam a calcular demais os prós e contras, os ganhos e perdas, e
essa forma de pensar nos leva a esperar muito das coisas, a querer muito, a
alimentar muita expectativa, a achar que sempre tem que ter um “algo mais”
naquilo que estamos fazendo e investindo nosso tempo e dinheiro. No caso desse
projeto, cuido para que não nos metamos nessa armadilha. É o que é, e tá
ótimo assim.
Hoje, passado um ano da aquisição,
penso que a ideia amadureceu e ganhou consistência. Ou, dito de outra forma, tenho
a sensação boa de que foi uma decisão acertada, alinhada com o que queríamos e
com nosso propósito de vida. Nesse tempo exploramos e conhecemos melhor o
terreno, a vizinhança, as possibilidades e limitações, os prazeres e desafios que
esse tipo de local nos propõe. A maior dificuldade (sem muita surpresa) tem
sido lidar com as questões burocráticas ligadas aos preparativos para a construção.
Lamentavelmente é mais um exemplo da encrenca que é lidar com os órgãos
públicos e com a legislação tortuosa e confusa desse nosso complicado país.
Neste próximo ano pretendemos, aos
poucos, transpor essa barreira burocrática e partir pra tornar realidade a ideia
de ter uma casinha por lá, e em breve esperamos estar em condições de receber os
amigos nesse nosso recanto.
Então é isso. Deixemos o mundo rodar.
Música de inspiração para o tema:
https://open.spotify.com/intl-pt/track/5BLT6LB4kqEMVbOrG2EgrP?si=76b5fdf0d7d244ba
(Curitiba, 25 de janeiro de 2024)
* Sobre o nome “Recanto Walden”,
é logicamente em alusão ao lago junto ao qual o filósofo Henry Thoreau ergueu sua
casinha e viveu meio isolado por dois anos, em meados do século XIX, numa
cidadezinha da costa leste dos Estados Unidos (experiência essa relatada no belo livro "Walden", a respeito do qual já escrevei um breve comentário aqui no blog, tempos atrás). Na verdade, mais do que apenas
uma referência a essa bonita história, é também uma homenagem às extraordinárias
ideias e filosofia desse grande mestre do pensamento que foi Thoreau.
Mas é um nome provisório, mais
uma brincadeira do que propriamente um nome. A Mari tem outros planos de nome
para o lugar, então deixemos que cada um chame como quiser.
O deck que construímos em uma clareira, para fins de acampamento e contemplação:
Estrada que leva ao local da chácara:
(Henry Thoreau)
Gratidão
Força Sempre
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