Viagenzinha de moto
2 dias, 741 km
solo
Programei essa viagenzinha só mesmo pra dar uma voada de moto, sentir o gostinho da estrada, dar uma olhada no mundo.
O destino selecionado foi um camping localizado dentro do Parque da Onça Parda, que por sua vez fica ao lado do Parque Estadual Carlos Botelho, nas imediações da cidade de São Miguel Arcanjo, interior de São Paulo.
O percurso de ida foi pela tortuosa e trabalhosa Serra do Rastro da Serpente, BR 476/ 373, que passa por Apiaí. Estradinha bacana pra dar uma motocada, mas tem que estar disposto, pois ali não existe esse negócio de reta, é só curva, curva e curva! O efeito disso é que a equação tempo versus distância acaba resultando dados bem incomuns, onde o tempo passa e a distância parece não passar.
Ainda por cima, ao passar por Apiaí, o tal do GPS acabou me conduzindo para uma estrada que não era a principal. Daí que me vi, cerca de 30 km depois da cidade, naquela situação bizarra de ver a estrada ir piorando cada vez mais até transformar-se numa estrada de terra no meio do nada, momento em que reconheci que o caminho que queria seguir não era aquele. Paciência. Fiz meia volta e retornei a Apiaí, de onde peguei então o traçado da BR 373 em direção a Capão Bonito.
Cheguei ao camping em que havia planejado ficar quase no final da tarde. Não havia mais ninguém por lá além do Michel, rapaz que cuida do local e que me recebeu super bem.
Montei minha barraquinha, ajeitei minhas coisas, tomei um banho e pouco depois, já de noite, o Michel me convidou pra acender uma fogueira, e ali ficamos jogando conversa fora. Interessante esse contato aleatório com pessoas desconhecidas e estranhas. Meu interlocutor era bom de papo. Me contou passagens de sua vida, como foi parar ali, como funcionava o local, quem eram os donos, quem costuma frequentar o lugar, sobre os seus outros trabalhos, como guia de trilhas no Parque, ajudante de obras, etc. Ao lado do fogo, num começo de noite que já se fazia fria, a conversa foi longe, sem pressa, sem maiores interesses, quase como se fôssemos velhos conhecidos.
Quando nos demos conta que já era um pouco tarde, cada um foi pro seu canto. Fiz uma comidinha no fogareiro, só pra driblar a fome, e me recolhi ao aconchego da minha mini casa. Ao redor, silêncio absoluto de qualquer ruído urbano. Apenas os sons da mata, do vento e da noite. É um negócio simples, isso de passar uma noite num lugar assim, mas altamente gratificante e acolhedor.
No dia seguinte acordei sem pressa. O sol já dava as boas vindas pelas frestas da barraca. Tomei um rápido desjejum e saí pra dar uma caminhada em volta. Aí sim pude ver onde realmente estava. Lindo lugar, no meio da mata, ao lado de vários córregos, com muitos passarinhos cantando ao redor e uma energia boa no ar.
Percorri sem pressa algumas trilhas próximas, buscando apreciar os detalhes, sentir o momento e reverenciar o ambiente. No final de um dos caminhos cheguei à curva de um rio de águas cristalinas, onde se formava um pequeno poço propício à imersão. Havia uma clareira por onde o sol banhava o local e de repente me dei conta da riqueza daquele momento e daquele lugar, tão idílico que chegava a parecer irreal. Fiquei um tempo ali, perdido em devaneios, até ver que já estava na hora de voltar à realidade.
Retornei ao local do acampamento, desmontei e guardei tudo, despedi-me do Michel e pus o pé na estrada.
O percurso desse retorno foi diferente da ida. Fiz um primeiro trecho descendo a chamada Serra da Macaca, cerca de 40 km de estrada calçada com paver, por dentro do Parque Estadual Carlos Botelho, depois mais uns 35 até a cidade de Registro, e a partir de lá duzentos e poucos quilômetros pela conhecida e movimentada BR 116 (Rodovia Régis Bitencourt), até em casa.
O tempo esteve ótimo nesses dois dias. Sol, céu azul e temperatura amena.
A Tiger se comportou super bem no passeio, sem qualquer alteração ou reclamação. Pura diversão a motinha.
E é isso. No final das contas, por mais simples e rápido que seja, fica uma sensação boa de ter dado uma volta, ficado umas horas sozinho, ter sentido aquela ligeira insegurança típica do desconhecido e ter passado uma noite ao som da mata e ao aconchego da minha barraquinha, e ainda na companhia do meu cavalinho mecânico branco de três cilindros.
Bom demais! Vamos juntos?
Total rodado na viagem: 741 km
Percurso realizado (ida e volta)
"Muito ao contrário do que se pensa, é difícil ficar sozinho,
como é difícil permanecer em silêncio.
A presença humana tem muitos encantos -
principalmente quando amamos -
mas há um momento em que é preciso experimentar a aventura de se estar só.
É quando se percebe que o mundo teima em nos acompanhar -
com suas vozes, seus hábitos, suas banalidades e teimosias.
Estar sozinho e ficar silencioso -
isso é mais fácil por fora do que por dentro.
A luz que nos guia nessa viagem é um interesse sempre renovado
e uma atenção sempre desperta."
(Luiz Carlos Lisboa)
Gratidão
Força Sempre
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