Subida ao Pico Marumbi
* em parceria com Newton Adriano Weber
A convite do amigo Newton (Caratuva), nesses dias fui fazer umas caminhadas na região da Estação Marumbi, ao sopé do icônico Pico de mesmo nome, que, por acaso, também por esses dias completou 142 anos de sua conquista por Joaquim Olímpio Carmeliano de Miranda e sua equipe.
[Assista, no link abaixo, a uma reportagem produzida pela afiliado local da Rede Globo sobre os 142 anos da conquista do Pico Marumbi]
Chegamos lá no final da tarde do dia 17, uma terça-feira, e nos alojamos na casa de propriedade do Newton, situada logo atrás da estação. O acesso até lá não é exatamente fácil. A partir do posto de controle do IAP, na estradinha de terra às margens do Rio Nhundiaquara, são cerca de 5 km subindo, de carro, por um trecho bem acidentado, só recomendável para veículos com tração 4x4 e com boa altura do solo, e depois mais meia hora caminhando a partir da Estação Engenheiro Lange.
O esforço, no entanto, é facilmente recompensador. A casinha fica incrustada no meio da mata, envolta em silêncio e sensação de paz simplesmente impagáveis.
Na quarta-feira saímos cedo, por volta das sete e meia da manhã, cada um levando uma pequena mochila com água e algumas coisas pra comer, pra fazer um percurso que o Newton propôs, e que conhece tão bem. Caminhamos o dia inteiro por entre trilhas, morros, e a maior parte do tempo pela própria linha do trem, atravessando diversas pontes e túneis da magnífica obra de engenharia.
O contato próximo e privilegiado com a linha férrea e as obras de arte de engenharia, nos leva a refletir sobre o estupendo esforço e capacidade de realização dos construtores dessa belíssima estrada de ferro, há 150 anos atrás [acesse, ao final deste relato, um link para um breve histórico dessa construção].
Inquestionavelmente foi uma iniciativa e conquista digna de respeito e admiração, ainda mais quando vista sob a ótica atual de funcionamento desse tipo de empreitada. À época construíram esse trecho entre Curitiba e Paranaguá em cerca de cinco anos. É quase certo que hoje em dia esse tempo não seria suficiente nem pra fazer o licenciamento ambiental do projeto e chegar a um consenso de sua implementação. Tempos difíceis de polêmicas sem fim esse que vivemos.
Chegamos de volta à nossa base no final da tarde, bastante cansados, mas extremamente satisfeitos com a bela caminhada que havíamos feito.
No dia seguinte, novamente saímos cedo para a jornada que prometia ser bem mais dura do que a do dia anterior: a subida do Pico Marumbi. Seguindo novamente a proposta do Newton, decidimos subir pela rota frontal (a mais direta) e descer pela Noroeste.
Poder observar esse alvorecer do dia caminhando pela trilha em meio à mata é uma dessas oportunidades efetivamente fantásticas. Apreciar os primeiros raios de sol atravessando a névoa e infiltrando-se por entre os galhos e folhas, o cantar dos pássaros, a umidade do orvalho escorrendo pela vegetação, o marulhar dos pequenos córregos escondidos em volta, é uma vivência linda e memorável, por si só válida. Realmente muito envolvente.
Mas o nosso caminho nesse dia era de muita subida. Na verdade, uma grande escadaria natural montanha acima. Aos poucos, passo a passo, fomos ganhando altitude e dando um jeito de lidar com o constante esforço físico requerido em cada movimento.
Pouco depois do meio dia, afortunadamente, pisávamos no topo do ponto mais alto do Pico Marumbi, tendo à nossa volta uma visão espetacular de 360 graus da Serra do Mar, enxergando desde o recorte do mar, a leste, até as represas dos mananciais que abastecem Curitiba, a oeste, e montanhas a perder de vista de norte a sul. O tempo estava limpo, sob um céu lindamente azul e uma luminosidade perfeita, ainda que houvesse uma espécie de poeira no ar, que dissolvia o horizonte em contornos indefiníveis.
Nesse tipo de situação em que nos encontrávamos, ainda que sob o efeito animador do fantástico cenário ao redor, sempre paira aquele pensamento que é bom não ocorrer nenhum tipo de imprevisto que possa dificultar, de alguma forma, nossa capacidade de deslocamento, porque ali qualquer ocorrência pode se tornar um grande problema, tendo em vista que estávamos a horas de difícil caminhada de um eventual possível resgate. Mas pensamento positivo e foco na solução!
Permanecemos alguns minutos no cume e em seguida iniciamos a descida. O percurso da rota noroeste revelou-se ainda mais arrebatador visualmente do que a frontal, por onde havíamos subido. Passamos por pontos de onde se podia avistar um belo cenário do mundo abaixo, parecendo perto e infinitamente distante ao mesmo tempo.
Passo a passo, fomos desescalando toda a altitude duramente conquistada pela manhã. Já quase no final da tarde pudemos apreciar mais um belo espetáculo da natureza, a lua cheia surgindo por trás da encosta da montanha, emoldurada por um céu divinamente azul, sem uma nuvem se quer.
No trecho final apreciamos o movimento inverso da luz, retirando-se da mata como que sendo recolhida por dedos invisíveis, sob o cântico um tanto melancólico dos pássaros, despedindo-se do dia.
O cair da noite coincidiu com a nossa chegada à casa que nos servia de abrigo. Após um bom e merecido banho, ainda demos uma saída pra observar a Estação Marumbi sob o manto da escuridão, iluminada pela lua e pelas luzes dos poucos postes de iluminação. E mais um trem emergiu da escuridão, numa explosão de barulho do poderoso motor da locomotiva e de metais se atritando.
No outro dia demos por encerrado o nosso pequeno passeio, juntamos nossas coisas e retornamos aos nossos mundos cotidianos.
Essas pequenas saídas do conforto do lar sempre me confirmam que o esforço do movimento vale super a pena! Que, mais do que isso, é esse contraste de realidades que dá significado à parte oposta, como as janelas de uma casa, que, embora não fazendo parte da estrutura da construção, são o que nos permite ver a paisagem lá fora e sonhar com outras possibilidades.
Meu muito obrigado ao amigo Newton, pelo convite e por ter gentilmente me recebido em sua casa, bem como por ter guiado nossas caminhadas, utilizando para isso toda a vasta experiência que tem nessa região. Mais ainda do que por isso, meu sincero agradecimento por sua amizade e companheirismo nessas jornadas. Vamos pensar nas próximas!
Valeu! Bom demais!
a respeito da construção da ferrovia
Primeiro dia:
Quanta beleza em nosso estado, parabéns pelas imagens e ao amigo e irmão Weber um caloroso e fraterno abraço nobre beiçudo.
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