Tiger 900 Rally Pro

Tiger 900 Rally Pro
Tiger 900 Rally Pro

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Sobre o livro "Origens", de David Christian, Curitiba, Junho de 2020




(Editora Companhia das Letras, 2018)



Neste livro, o historiador David Christian se propõe a apresentar uma visão panorâmica da história do universo, o que ele chama de Grande História.

Passando por conceitos e pontos de vista da cosmologia, da biologia, da bioquímica, da física, da sociologia, da filosofia e da própria história, dentre outras, ele busca descrever como chegamos onde estamos hoje, citando oito limiares de acontecimentos que, aproveitando-se de condições ideais, teriam permitido que a vida fosse criada e desenvolvida nesse nosso pequeno planeta.

Nesse percurso, dá ênfase especial à importância de se conhecer e se valorizar a compreensão desse percurso, porque, segundo ele, estamos na fronteira de um possível nono limiar, que, se ultrapassado, permitirá a continuidade da história. Se não, a sobrevivência da espécie humana nesse cenário pode vir a ser comprometida.

Pessoalmente apreciei, sobretudo, o fato da leitura inspirar reflexões e imaginações de como isso tudo aconteceu, de como somos pequenos e efêmeros nessa história, de como enxergamos a vida (quase) sempre de forma muito limitada, pensando apenas em uma perspectiva local e imediata.

Muito interessante também a descrição, no último capítulo, do prognóstico futuro da Terra, do sistema solar e do universo. Nesse contexto, torna-se realmente um desafio pensar na questão do tempo, ampliado de forma tão extraordinária, quase impossível de conceber.

Como pano de fundo a esse trajeto de reflexão, ainda que o relato do livro não aborde o tema diretamente, fico pensando no desígnio divino do ser humano, do planeta Terra e do universo como um todo... Em como essa história nos é pouco clara, e aparentemente muito maior do que podemos imaginar.

Quem sabe um dia tenhamos a graça de compreender e enxergar.







***   ***   ***







Linha do tempo, pág 25






Observação: nessa linha do tempo o autor cria uma espécie de escala, a fim de facilitar a assimilação e compreensão. Segundo o autor, nosso cérebro não consegue ter a real noção do que representam milhões e bilhões de anos, por isso ele criou essa comparação, em que os 13,8 bilhões de anos decorridos desde o Big Bang são vistos como 13 anos e 8 meses, e a partir daí todos os eventos seguem essa medida.

Observe que a tabela apresenta os oito limiares que possibilitaram que chegássemos onde estamos hoje, bem como o possível nono limiar, em um eventual futuro.

Interessante destacar também alguns eventos: considerando que o Big Bang se deu a 13 anos e 8 meses, a primeira evidência da nossa espécie (Homo Sapiens) teria ocorrido a 100 minutos atrás; as diferentes zonas do mundo teriam começado a se conectar, através das grandes navegações do século XVI, a 15 segundos atrás; e a grande revolução tecnológica, representada pela chegada do homem à Lua, teria ocorrido há 1,5 segundo. Ainda dentro dessa escala, em mais 4 anos e meio nosso sol estará morrendo, e, em consequência, nosso planeta Terra estará encerrando seu ciclo de vida.









***   ***   ***






Transcrevo, a seguir, alguns trechos que destaquei da obra:




“Chegamos a este universo sem que o tenhamos decidido, num tempo e num lugar que não foram de nossa escolha. Por alguns momentos, como vaga-lumes cósmicos, viajaremos com outros seres humanos, com nossos pais, com nossos irmãos e irmãs, com nossos filhos, com amigos e inimigos. Também viajaremos com outras formas de vida, de bactérias a babuínos, com rochas, oceanos e auroras, com luas e meteoros, planetas e estrelas, com quarks e fótons, supernovas e buracos negros, com lesmas e telefones celulares, e com muito, muito espaço vazio. O desfile é copioso, colorido, cacofônico e misterioso, e embora nós, seres humanos, em algum momento devamos deixa-lo, ele seguirá em frente. No futuro remoto, outros viajantes entrarão no desfile e o deixarão. Mas, por fim, ele se diluirá. Em zilhões de anos, ele desaparecerá como um fantasma ao amanhecer, dissolvendo-se no oceano de energia de onde surgiu.” (pág 13)

“Stephen Hawking afirma que a questão das origens é apenas mal colocada. Se a geometria do espaço-tempo é esférica, como a superfície da Terra, mas em mais dimensões, perguntar o que existia antes do universo é como procurar um ponto de partida na superfície de uma bola de tênis. Não é assim que funciona. Não há borda nem começo do tempo, assim como não há borda na superfície da Terra.” (pág 32)

“Não sabemos quais condições Cachinhos Dourados permitiram que um universo surgisse, e ainda não podemos explicá-lo melhor do que o romancista Terry Pratchett quando escreveu: ‘O estado atual do conhecimento pode ser resumido assim: no começo não havia nada, que explodiu.’” (pág 33)

“A história básica é assim: nosso universo começou como um ponto menor que um átomo. (...) No momento do big bang, todo o universo era menor que um átomo. Empacotadas nisso estavam toda a energia e a matéria presentes no universo hoje. Toda. É uma ideia assustadora e, a princípio, pode parecer totalmente louca. Mas todas as evidências que temos hoje nos dizem que esse objeto estranho, minúsculo e fantasticamente quente realmente existiu em torno de 13,82 bilhões de anos atrás.” (pag 33)

“A expansão continua hoje; é como se uma vasta mola estivesse se desenrolando há mais de 13 bilhões de anos.” (pág 34)

“No primeiro momento para o qual temos alguma evidência, uma fração de segundo após o big bang, o universo consistia de energia pura, aleatória, indiferenciada e disforme.” (pág 35)

“Houve um breve período de expansão extremamente rápida conhecida como inflação. A expansão foi tão rápida que grande parte do universo pode ter sido projetada muito além de qualquer coisa que possamos ver. Isto significa que o que vemos hoje é provavelmente apenas uma parte minúscula de todo o nosso universo.” (pág 36)

“Até pouco mais de um século atrás, cientistas e filósofos supunham que matéria e energia eram distintas. Agora sabemos que a matéria é realmente uma forma altamente comprimida de energia. (...) Então se descomprimirmos um pouquinho de matéria, teremos uma enorme quantidade de energia. É o que acontece quando uma bomba H explode.” (pág 38)

“Algumas estruturas ou padrões durarão bilhões de anos, algumas, uma fração de segundo, mas nenhuma se conserva. Elas são evanescentes, como ondas na superfície do oceano. A primeira lei da termodinâmica nos diz que o oceano de energia está sempre presente; ele se conserva. A segunda lei da termodinâmica nos diz que todas as formas que emergem acabarão por se dissolver no oceano de energia. As formas, como os movimentos de uma dança, não se conservam.” (pág 38)

“Se existe um vilão na história moderna das origens, é certamente a entropia, a tendência aparentemente universal das estruturas a se dissolverem na aleatoriedade. A entropia é o servidor fiel da segunda lei da termodinâmica. Então, se pensarmos na entropia como uma personagem da nossa história, devemos imaginá-la como dissoluta, à espreita, indiferente à dor e ao sofrimento dos outros, sem interesse em olhar nos nossos olhos. A entropia também é muito, muito perigosa e, no final, nos apanhará a todos. A entropia está no final de todas as histórias das origens. Ela dissolverá todas as estruturas, todas as formas, todas as estrelas, todas as galáxias e todas as células vivas.” (pág 40)

“Joseph Campbell descreveu poeticamente o papel da entropia em um livro sobre mitologia: ‘o mundo, tal como o conhecemos, produz apenas um final: morte, desintegração, desmembramento e crucificação do nosso coração com a passagem das formas que amamos.” (pág 40)

“Hoje, as evidências de que o nosso universo começou num big bang são esmagadoras. Muitos detalhes ainda precisam ser aprofundados, mas por enquanto, a ideia central está firmemente estabelecida como o primeiro capítulo de uma história moderna das origens. Essa é a inicialização. E, assim como a física quântica permite que as coisas apareçam de um vácuo, parece que o universo inteiro realmente surgiu de uma espécie de nada cheio de potencial.” (pág 53)

“A humanidade é feita da substância das estrelas.” (Harlow Shapley, Vista de uma estrela distante) (pág 54)

“Na verdade, existem apenas átomos e o vazio.” (Demócrito) (pág 74)
“Passei a tarde refletindo sobre a vida. Pensando bem, que coisa esquisita é a vida! Tão diferente de qualquer outra coisa, não é, se você me entende.” (P.G Wodehouse, Meu homem Jeeves) (pág 95).

“Em sua forma mais geral, a informação consiste em regras que afetam os resultados por meio da limitação das possibilidades. Uma das definições mais famosas de informação é ‘uma diferença que faz diferença’. As regras determinam, a partir de todas as opções concebíveis, quase mudanças são realmente possíveis em um determinado momento e lugar, e isso faz uma diferença. A informação começa com as leis da física, o sistema operacional básico do nosso universo. As leis da física dirigem a mudança para caminhos específicos, como aqueles pelos quais a gravidade criou as primeiras estrelas. Nesse sentido muito geral, a informação limita o que é possível, por isso reduz a aleatoriedade.” (pág 99)

“O filósofo Daniel Dennett escreve: ‘Os animais não são apenas herbívoros ou carnívoros. São... informívoros’. Com efeito, todos os organismos vivos são informívoros. Todos eles consomem informações, e os mecanismos que usam para ler e reagir a informações locais  -sejam olhos e tentáculos, músculos e cérebros – são responsáveis por grande parte da complexidade dos organismos vivos.” (pág 100)

“O que distingue a vida da não vida? A vida é tão difícil de definir quanto a complexidade ou a informação, e parece haver uma zona de fronteira turva entre a vida e a não vida.” (pág 101)

“Todas as coisas vivas na Terra consistem em células.” (pág 102)

“Todos os organismos vivos dependem de fluxos de energia livre cuidadosamente administrados.” (pág 102)

“Tais como estrelas e planetas formados durante períodos de mudança caótica, as células acabaram se fixando numa espécie de estabilidade quando começaram a administrar pequenas flutuações em seus ambientes e a reagir contra eles. As células alcançariam um equilíbrio temporário; o mesmo aconteceria com espécies e linhagens inteiras e grupos de espécies. Mas nunca houve um equilíbrio estático. Sempre foi dinâmico, sempre mantido por uma constante negociação entre organismos vivos e ambientes em mutação, e sempre correndo o perigo de um colapso repentino.” (pág 121)

“Em 1885, Eduard Suess sugeriu que, por volta de 200 milhões de anos antes, todos os continentes estavam reunidos em um supercontinente. Sabemos agora que ele estava absolutamente certo.” (pág 124)

“Outrora reunidos no supercontinente da Pangeia, ou Pangaia (palavra grega que significa “toda a terra”), eles gradualmente se afastaram e se moveram para suas posições atuais.” (pág 125)

“Cadeias de montanhas, continentes e o fundo do mar foram criados e empurrados por enormes quantidades do magma quente que subiu do manto terrestre e jorrou através de rachaduras na crosta do fundo do mar.” (pág 128)
“Hoje, temos provas abundantes de que a crosta terrestre, tanto oceânica quanto continental, está dividida em placas distintas que disputam espaço enquanto são arrastadas para trás e para frente pelo magma semiderretido sobre o qual flutuam.” (pág 128)

“Na década de 1970, James Lovelock e Lynn Margulis argumentaram que parecia haver poderosos mecanismos de autorregulação que mantinham a superfície da Terra dentro da faixa Cachinhos Dourados. Como vimos, eles chamaram esse algo de Gaia. Gaia consistia na soma total da relações entre a geologia da Terra e seus organismos vivos que a mantinham propícia à vida. Muitos cientistas permanecem céticos quanto à hipótese de Gaia. Mas o que está claro é que realmente existem mecanismos de feedback dentro da biosfera, e muitos agem como termostatos para regular parcialmente a temperatura na superfície da Terra. Alguns mecanismos são geológicos, mas outros funcionam através de organismos vivos.” (pág 131)

“O termostato geológico tem se ajustado ao crescente calor do Sol ao longo de 4 bilhões de anos. Tanto quanto se saiba, nada parecido com isso acontece em outros planetas de nosso sistema solar.” (pág 133)

“A vida é notavelmente unificada. Todos os organismos vivos hoje estão relacionados geneticamente.” (pág 134)

“Em algum momento no início do éon arqueano (que começou há 4 bilhões de anos), os mecanismos reprodutivos se tornaram mais precisos, os genes se tornaram mais estáveis e as fronteiras entre os vivos e os quase vivos ficaram mais claras. Esse é o ponto em que a seleção natural, no sentido de Darwin, realmente decolou. Depois que a vida começou, não havia garantias de que sobreviveria. Marte e Vênus podem ter abrigado formas de vida simples. Mas, se o fizeram, a vida logo se extinguiu em ambos os planetas. Até mesmo na Terra, a sobrevivência de uma escassa vida por quase 4 bilhões de anos dependeu de muitas coisas darem certo.” (pág 136)

“Quando os níveis de oxigênio aumentaram e os níveis de gases do efeito estufa caíram, no início do éon proterozoico, a Terra congelou no primeiro de vários episódios de bola de neve terrestre. As geleiras se espalharam dos polos para o equador, vestindo o planeta de branco, e a Terra branca refletiu mais luz do Sol, resfriando-a ainda mais num ciclo aterrorizante de feedback positivo. Por fim, a maior parte dos oceanos e continentes da Terra ficou coberta de gelo. A glaciação de Makganyene durou 100 milhões de anos, de cerca de 2,35 bilhões a 2,22 bilhões de anos atrás.” (pág 144)

“Enquanto a fotossíntese usa a energia da luz solar para transformar dióxido de carbono e água em carboidratos que armazenam energia, deixando o oxigênio como resíduo, a respiração usa a energia química do oxigênio para roubar a energia armazenada nos carboidratos, deixando dióxido de carbono e água como resíduos.” (pág 146)

“A respiração nos dá a energia do fogo sem sua destrutividade.” (pág 146)

“A descoberta da endossimbiose de Margulis nos diz alguma coisa a mais sobre a história da vida. A evolução não é apenas questão de competição. Nem é apenas uma questão de divergência constante à medida que novas espécies aparecem. Vemos também colaboração, simbiose e convergência.” (pág 149)

“A vida pequena dominou a biosfera por 3,5 bilhões de anos e ainda domina grande parte dela. Demorou 3 bilhões de anos para ir de Luca aos primeiros espécimes de vida grande – os primeiros animais multicelulares, os metazoários. Isso nos diz que desenvolver organismos multicelulares foi muito mais complicado do que fazer evoluir os procariontes. E sugere que, se há muita vida no universo, os metazoários devem ser raros.” (pág 151)

“Uma linguagem comum conecta os membros de uma comunidade a uma rede de compartilhamento de informações com poderes coletivos fantásticos.” (Steven Pinker, O instinto da linguagem) (pág 187)

“O surgimento dos seres humanos em nossa história das origens é assunto sério. Chegamos há apenas algumas centenas de milhares de anos, mas hoje estamos começando a transformar a biosfera. No passado, grupos inteiros de organismos, como as cianobactérias, mudaram a biosfera, mas nunca uma única espécie exerceu tanto poder. E estamos fazendo algo totalmente novo. Como nós humanos podemos compartilhar mapas individuais do nosso entorno, acumulamos uma rica compreensão coletiva do espaço e do tempo que está por trás de todas as nossas histórias das origens.” (pág 187)

“Por que nossos parentes mais próximos [os chimpanzés] estão agora reduzidos a populações remanescentes de algumas centenas de milhares, enquanto existem agora mais de 7 bilhões de seres humanos que dominam a biosfera?” (pág 192)

“Do ponto de vista paleontológico, mudanças tão rápidas são o equivalente de uma explosão. Sem termos planejado isso, nos tornamos uma espécie que muda o planeta.” (pág 203)

“Quando se veem mudanças repentinas e rápidas como essa, é bom começar a procurar por pequenas alterações que tenham enormes consequências. A teoria da complexidade e o campo relacionado da teoria do caos estão repletos de mudanças como essa. Muitas vezes, elas são descritas como efeito borboleta. A metáfora vem do meteorologista Edward Lorenz, que destacou que, nos sistemas meteorológicos, eventos minúsculos (o bater das asas de uma borboleta, quem sabe?) podem ser amplificados por ciclos positivos de feedback, gerando uma cascata de mudanças que podem desencadear tornados a milhares de quilômetros de distância.” (pág 203)

“Muitas características diferentes compõem o pacote humano, de mãos hábeis a cérebros grandes e sociabilidade. Mas o que nos torna radicalmente diferentes é o nosso controle coletivo de informações sobre o nosso entorno. (...) Nós geramos e compartilhamos cada vez mais informações e as usamos para captar fluxos cada vez maiores de energia e recursos.” (pág 204)

“Esse processo, que Tomasello chama de ‘evolução cultural cumulativa’, é peculiar à nossa espécie. A mudança minúscula que permitiu que os humanos compartilhassem e acumulassem tanta informação foi linguística.” (pág 205)
“E eis onde a borboleta bateu suas asas. A linguagem humana cruzou um limiar linguístico sutil que possibilitou tios de comunicação totalmente novos.” (pág 205)

“Talvez houvesse espaço para apenas uma espécie cruzar o limiar da aprendizagem coletiva. Existe um mecanismo evolutivo conhecido como exclusão competitiva que explica por que duas espécies nunca podem compartilhar exatamente o mesmo nicho.” (pág 209)

“Atualmente os vestígios mais antigos da presença humana na América do Norte datam de cerca de 15 mil anos.” (pág 215)

“As sociedades paleolíticas estavam incorporadas ao seu entorno, ecológica e culturalmente, de uma maneira que os habitantes urbanos modernos lutam para entender.” (pág 216)

“O número de humanos despencou para apenas algumas dezenas de milhares há 70 mil anos. O demógrafo italiano Massimo Livi-Bacci estima que há 30 mil anos talvez houvesse 500 mil seres humanos, e no começo do Holosceno, há apenas 10 mil anos, pode ter havido 5 milhões ou 6 milhões.” (pág 220)

“Nossos ancestrais viveram como caçadores e coletores nos primeiros 200 mil ou mais anos de nossa história.” (pág 223)

“(...) até que, há 10 mil anos, no final da última era glacial, os seres humanos estavam vivendo na maior parte do mundo. Nos últimos 10 mil anos, o modo de vida humano transformou-se graças a uma cascata de inovações que chamamos de agricultura.” (pág 223)

“A agricultura foi uma imensa inovação, um pouco como a fotossíntese ou a multicelularidade. (...) Por todos esses motivos, a agricultura é o nosso sétimo limiar de complexidade crescente.” (pág 224)

“Demorou 100 mil ou 200 mil anos para que os humanos adaptassem suas tecnologias de coleta e caça aos diversos ambientes do planeta Terra. A agricultura se espalhou pelo mundo em menos de 10 mil anos.” (pág 229)

“Há 14 mil anos, os caçadores-coletores já se haviam espalhado para todas as diferentes zonas do mundo, e em algumas, em particular na zona mundial afro-eurasiana, começaram a se assentar e reorganizar seus arredores.” (pág 231)

“A agricultura (...) evoluiu de forma bastante independente em diferentes partes do mundo. Não foi uma invenção única e isolada.” (pág 231)

“Gráficos das temperaturas médias mundiais nos últimos 60mil anos mostram claramente a notável estabilidade climática dos últimos 10 mil anos (...).” (pág 233)

“Embora os agricultores fossem capazes de produzir mais alimentos, eles também tinham maior probabilidade de passar fome, porque, ao contrário dos caçadores, dependiam de um pequeno número de culturas básicas e, se as colheitas fracassassem, estavam em sérios apuros.” (pág 236)

“Todos esses indícios do declínio da saúde sugerem que os primeiros agricultores foram empurrados para o complexo e cada vez mais interconectado modo de vida agrário, em vez de atraídos por suas vantagens.” (pág 236)

“O motivo do crescimento tão rápido da agricultura não é imediatamente óbvio, porque a vida agrícola podia ser difícil, e é por isso que os caçadores-coletores sobreviveram, muitas vezes ao lado dos agricultores, por muitos milênios.” (pág 240)

“Enquanto os caçadores-coletores costumavam considerar-se inseridos na biosfera, os agricultores viam o ambiente como algo a ser administrado, cultivado, explorado, melhorado e até conquistado.” (pág 241)

“O surgimento das civilizações agrárias representa outro limiar da complexidade crescente.” (pág 250)

“Os especialistas forneciam os suportes e pilares para as civilizações agrárias. É por isso que acabaram por organizar e dominar o resto da humanidade. À medida que a especialização aumentava, crescia também a desigualdade. (...) Com o decorrer do tempo, começamos a encontrar cada vez mais minorias ricas.” (pág 254)

“Os primeiros Estados foram um fenômeno novo na história da humanidade. Todos eles assumiram o direito de concentrar a riqueza de comunidades agrícolas, vilas e cidades em troca de algum grau de proteção.” (pág 258)

“Quando pensarmos sobre esses processos em termos ecológicos, vemos que a riqueza nunca consiste em coisas; consiste no controle de fluxos de energia que fazem, movem, exploram e transformam as coisas.” (pág 262)

“Assim como os organismos vivos mantém gradientes eletroquímicos que direcionam os fluxos de energia, os Estados mantêm gradientes de persuasão e coerção. Eles usam a lei, a educação e a religião para persuadir seus súditos de que seu poder é justo. Mas eles também mantêm exércitos e grupos disciplinados de coatores para que possam obrigar à obediência quando a persuasão falha.” (pág 266)

“(...) todos os indícios que temos sugerem que, embora o povo certamente gozasse de luxos ocasionais, a maior parte dele viveu perto do nível de subsistência durante toda a era agrária.” (pág 276)

“A bonança energética da agricultura melhorou a vida de não mais do que um décimo de todos os seres humanos.” (pág 276)

“No passado, o aprendizado coletivo havia funcionado em escala local ou regional e, por isso, demorou 10 mil anos para que os agricultores se espalhassem pelo planeta. Em um mundo de redes globais, levou apenas alguns séculos para que grande parte da Terra fosse transformada. Foi a mudança mais momentosa de toda a história de 4 bilhões de anos da biosfera. De repente, os humanos se encontraram conectados dentro de uma única esfera de pensamentos: a noosfera.” (pág 284)

“Como diz o historiador moderno da revolução científica David Wootton, ‘a ideia da descoberta é uma precondição para a invenção da ciência’. Estude o mundo em si e não o que foi dito sobre o mundo.” (pág 289)

“No século XVIII, os pensadores europeus da era iluminista começaram a ver propósito, significado e “progresso” nos novos conhecimentos. A ideia de que os seres humanos deveriam transformar e “aperfeiçoar” o mundo começou a moldar a ciência, a ética, a economia, a filosofia, o comércio e a política.” (pág 289)

“Embora o capitalismo gerasse novas formas de desigualdade, os economistas o admiravam porque ele era bom em gerar riqueza e inovação.” (pág 292)

“A pressão para encontrar novas fontes de energia acabaria por fazer surgir as megainvenções que chamamos hoje de revolução dos combustíveis fósseis.” (pág 295)

“Tal como uma descoberta de ouro, essa bonança energética gerou novas formas de mudança frenéticas e muitas vezes caóticas, e criou e destruiu as fortunas de indivíduos, países e regiões inteiras.” (pág 296)

“No século XX, nós, humanos, começamos a transformar nosso ambiente, nossas sociedades e até nós mesmos. Sem, de fato, pretendermos, introduzimos mudanças tão rápidas tão intensas que nossas espécie se tornou o equivalente de uma nova força geológica. É por isso que muitos estudiosos começaram a afirmar que o planeta Terra entrou numa nova era geológica, a época do Antropoceno, ou ‘a era dos humanos’.” (pág 303)

“Em apenas um ou dois séculos, com base nos enormes fluxos de energia e nas notáveis inovações da revolução dos combustíveis fósseis, nos vimos no papel de pilotos planetários sem realmente saber quais instrumentos deveríamos prestar atenção, que botões deferíamos pressionar, ou onde estamos tentando pousar. Trata-se de um novo território para os seres humanos e para toda a biosfera.” (pág 304)

“Nos duzentos anos decorridos desde 1800, o número de seres humanos aumentou em mais de 6 bilhões. Cada ser humano adicional precisava ser alimentado, vestido, alojado e empregado, e a maioria tinha que ser instruída.  O desafio de produzir recursos suficientes ema penas duzentos anos para sustentar 6 bilhões de seres humanos adicionais foi colossal.” (pág 311)

“O consumo total de energia dobrou no século XIX e subiu dez vezes no século XX. O consumo humano de energia aumentou com muito mais rapidez do que as populações humanas.” (pág 313)

“Hoje, a maioria dos seres humanos nem faz coleta nem trabalha na terra para produzir sua comida e suprir outras necessidades. Eles se tornaram assalariados. Como os ceramistas da antiga Suméria, vivem de salários ganhos pelos trabalhos especializados. E isso transformou a natureza da governança, porque agora os governos têm de se envolver no dia a dia de todos os cidadãos. Isso porque os assalariados, ao contrário dos camponeses, não podem sobreviver sem governos.” (pág 314)

“Os agricultores modernos não cultivam para comer, mas para vender.” (pág 317)

“Sem realmente entendermos o que estamos fazendo, estamos mexendo com os termostatos biosféricos que mantiveram a superfície da Terra dentro de temperaturas habitáveis por 4 bilhões de anos.” (pág 320)

“Dentro de algumas décadas, os climas globais parecerão muito diferentes dos padrões relativamente estáveis do Holoceno. Como diz um climatólogo americano: ‘o clima é uma fera brava e o estamos cutucando com vara curta’.” (pág 322)

“A questão é geral. A quantidade da maioria das espécies de animais e plantas que não são de valor imediato para os seres humanos está diminuindo.” (pág 323)

“Paradoxalmente, aumentar a riqueza também significa aumentar a desigualdade e, mesmo quando a quantidade de pessoas que vivem acima da subsistência está aumentando, o número dos que vivem em extrema pobreza é maior do que nunca na história da humanidade.” (pág 327)

“Em termos absolutos, há muito mais pessoas vivendo em extrema pobreza hoje do que havia no passado.” (pág 327)

“A expectativa de vida quase não mudou por 100 mil anos. Então, apenas nos últimos cem anos, a média de vida quase dobrou em todo o mundo.” (pág 328)

“Há muito tempo o homem esqueceu que a Terra lhe foi dada apenas em usufruto, não para consumo, menos ainda para desperdício irracional.” (Charles Perkins Marsh, Man and Nature) (pág 333)

“Na introdução, encontramos o fantástico desfile heterogêneo de todas as coisas, com suas estrelas e serpentes, seus quarks e telefones celulares, todos marchando para o distante trovão de supernovas sob o olhar fixo, mas cansado, da entropia. Para onde vai essa procissão?” (pág 333)

“Como a física quântica mostrou, nas menores escalas, o universo não é determinista. Coisas inesperadas acontecem e, como o bater das asas de uma borboleta, elas podem se sobrepor em cadeias causais com poder suficiente para desviar o futuro em muitas direções possíveis. Portanto, há muita contingência à moda antiga. Hoje, nem nosso cérebro e tampouco os melhores modelos de computador podem levar em conta uma pandemia baseada em uma pequena mutação genética num vírus ou o impacto de uma explosão de supernova próxima (...).” (pág 335)

“A ideia de crescimento sem fim talvez esteja completamente errada. O dinamismo disruptivo dos séculos recentes talvez seja um fenômeno temporário.” (pág 341)

“John Stuart Mill acolheu esse futuro como um revigorante contraste com o frenético mundo da corrida do ouro da Revolução Industrial. Em 1848, ele escreveu: ‘Confesso que não estou encantado com o ideal de vida sustentado por aqueles que pensam que o estado normal dos seres humanos é o de lutar para seguir em frente; que o atropelamento, o esmagamento, o acotovelamento e o pisotear dos pés uns dos outros, que compõe o tipo existente de vida social, sejam o destino mais desejável da espécie humana, ou algo além dos sintomas desagradáveis de uma das fases do progresso industrial.” (pág 342)

“Em vez disso, propôs ele, ‘o melhor estado para a natureza humana é aquele em que ninguém é pobre, ninguém deseja ser mais rico, nem tem motivo algum para temer ser empurrado para trás pelos esforços de outros que querem avançar.” (pág 343)

“Quão resiliente é a biosfera, afinal? De verdade, não sabemos.” (pág 343)

“Muitos economistas alertam sobre os perigos de desacelerar o crescimento populacional, mas uma perspectiva biosférica mostra por que o crescimento populacional contínuo é insustentável.” (pág 345)

“Em algum momento, quando o crescimento econômico deixar de ser o objetivo principal dos governos, os indivíduos começarão a valorizar mais a qualidade de vida e o lazer do que o aumento da renda.” (pág 345)

“As economias do mundo vão desmamar dos combustíveis fósseis em algum momento deste século.” (pág 345)

“Muitos continuam convencidos de que as luzes de advertência que estão piscando são causadas por interruptores defeituosos e ciência ruim.” (pág 347)

“Os governos são nacionais e competitivos, o que significa que a riqueza e o poder de cada nação separada tendem a ser maiores nos cálculos políticos do que as necessidades do mundo como um todo.” (pág 347)

“Será que veremos o surgimento de estruturas governamentais globais que superem parcialmente os Estados-nação e finalmente eliminem a ameaça nuclear?” (pág 349)

“Nossos descendentes migrarão para além da Terra?” (pág 350)

“Construiremos máquinas muito mais inteligentes do que nós? Se assim for, poderemos ter certeza de que manteremos o controle delas?” (pág 350)

“Construiremos novos seres humanos? Micro e macromelhorias nos tornarão biônicos, nos darão vida mais longa e saudável e por fim nos transformarão em algo diferente, algo transumano?” (pág 350)

“O destino final do planeta Terra será decidido pela evolução do Sol. Ele viverá por cerca de 9 bilhões de anos.” (pág 351)

“Por fim, até elas desaparecerão à medida que a Terra for esterilizada e depois engolida e evaporada dentro das camadas externas de uma estrela gigante vermelha cada vez mais instável e imprevisível. Esse é o fim do planeta Terra e de quaisquer descendentes nossos que ainda estiverem vivos, a menos que tenham viajado para os confins do sistema solar ou para outros sistemas estelares. Quanto ao Sol, depois de um longo período como gigante vermelha, acabará por soprar para longe suas camadas externas, se transformará numa anã branca, migrará para o fundo do diagrama de Hertzsprung-Russel e então ficará por ali, esfriando, por centenas de bilhões de anos.” (pág 351)

“O que dizer do universo como um todo? (...) o universo continuará se expandindo para sempre e o fará com rapidez cada vez maior.” (pág 352)

“Mas num futuro muito distante, zilhões de anos depois de termos desaparecido, a história se torna mais sombria, literal e metaforicamente. O universo se expandirá cada vez mais rápido, galáxias distantes desaparecerão como navios no horizonte do espaço-tempo e, por fim, qualquer pessoa ou qualquer coisa que restarem em nossa galáxia se sentirão seriamente sozinhas. (...) Nossa galáxia se transformará num cemitério cheio de cinzas resfriadas de estrelas e planetas.” (pág 353)

“Mas ainda haverá coisas se movendo no cemitério. Buracos negros vão sugar os restos das estrelas e planetas. Quando terminarem de fazer isso, eles se voltarão uns contra os outros em guerras civis canibais até que restem apenas alguns enormes buracos negros inchados. Eles ficarão lá por períodos inimagináveis, talvez por ‘10 elevado a 100’ anos, e suarão energia até que finalmente eles também diminuam, desapareçam e evaporem.” (pág 353)

“Chegaremos à conclusão de que tudo o que parecia permanente em nosso universo era, na verdade, efêmero. Talvez até o espaço e o tempo se revelem meras formas, meras ondulações num multiverso maior. A entropia terá finalmente destruído toda a estrutura e ordem. Pelo menos em um universo. Mas talvez existam outros para continuarmos trabalhando.” (pág 353)






 ***   ***   ***



Assista, no link abaixo, a uma breve palestra do autor do livro, David Christian, a respeito da "grande história"









***   ***   ***





* Meu muito obrigado ao amigo D'Ângelo pela indicação da leitura.











Nenhum comentário:

Postar um comentário