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terça-feira, 10 de julho de 2018

Breve reflexão ao completar 50 anos de idade, Curitiba, 10 Jul 2018












Hoje faz 50 anos que nasci nesse planeta.

Vou aproveitar o simbolismo do número redondo pra rascunhar algumas breves reflexões sobre certos temas que aprecio (e que, ao mesmo tempo, me intrigam).

Vale ressaltar que são apenas ideias, ou "palpites", sem qualquer pretensão de verdade ou de saber.

(A rigor, não deveria fazer isso, pois são assuntos tão fora do alcance da nossa mente concreta, que não são restringíveis a palavras e ideias... Mas vou me aventurar mesmo assim.)


Sobre o tempo

            É inevitável pensar o tempo de uma forma linear – passado, presente e futuro. Mas ‘e se’ não for nada disso? Quem sabe se numa ‘dimensão macro’ os parâmetros são outros? (Tentar) Imaginar um ‘não tempo’ é fascinante!

            No entanto, voltemos ao nosso tempo linear, pra imaginar cenários de um ponto de vista mais “realista”. Cinquenta anos... Bacana... E daqui a quinhentos anos, o que restará de tudo o que hoje sou, de tudo o que fiz e farei, de tudo o que me angustia? E daqui a dez mil anos?...

            Trinta anos atrás eu tinha vinte anos de idade. Daqui a mais trinta, ‘se tudo der certo’, terei oitenta. Trinta anos passam tão rápido! Ou não?...

            A “velocidade do tempo”! Eis uma derivação desse tema também muito interessante. Será que realmente nos damos conta de que esse bem precioso (e finito – do ponto de vista da nossa própria vida) flui sem parar? E ainda por cima não temos ideia de “quanto tempo nos resta”! Talvez várias décadas, talvez poucos instantes, quem sabe?

Pensando bem, de uma perspectiva lógica, deveríamos correr pra fazer o que mais gostaríamos, já que o tempo está constantemente “acabando”. Mas não funciona assim, a gente sabe... Não dá pra “cercar” o tempo, querer tirar dele mais do que nos é “permitido”.

Tão rápido!


Sobre Deus

            Acho curioso como sempre colocamos essa questão na base do “acreditar” (ou não). A mim sempre pareceu que “acreditar” é uma ação da esfera intelectual, racional. Mas os fiéis religiosos acham que não, que é uma questão de fé – que pode ser entendida, creio, como um atributo da emoção, do sentimento, ou talvez simplesmente como uma dádiva.

            Eu prefiro dizer “como eu entendo Deus”, apesar do erro estrutural dessa afirmação (quer dizer: não somos capazes de realmente entender algo que está muito além da nossa capacidade de entendimento).

            Enfim, entendo (ou penso) Deus como uma inteligência criadora [melhor não dizer mais nada, porque quanto mais a gente tenta clarear esse tema, mais obscuro ele se torna...].

            O importante aqui [se é que é correto usar esse termo nesse contexto] é que entendo a vida com um “princípio regulador” por trás, e não materialmente ou aleatoriamente, como alguns defendem. Aliás, a esse respeito, devo dizer, aproveitando a oportunidade de ter tocado no assunto, que ainda que não compartilhe do conceito materialista da vida, não o considero um absurdo, ou impossível, ou uma heresia, como muitos o enxergam. Apenas “acho” que não é bem assim.

            Também não consigo enxergar Deus no formato pessoal que muitas religiões defendem – como se fosse um ser à nossa imagem e semelhança, preocupado com nossas questões pessoais, ouvindo nossas preces. Acho que é “mais” do que isso.

            Mas também acho que o Universo todo é “vivo”, que tudo está interligado, e que existem muito mais seres do que apenas nós, humanos, e Deus. Nesse sentido, orar e ter devoção ao sagrado faz todo sentido pra mim.


Sobre a vida

            Primeiramente, vamos tratar da vida num sentido macro. A vida da espécie humana, a vida do universo, a vida das estrelas, a vida do “infinito”... Tentando ver de uma perspectiva bem ampla, me intriga pensar qual será o “sentido” de tudo isso. Qual será o “enredo” de toda essa história... Quando começou? Como vai evoluir? Pra que? Por que? Como vai terminar? O que virá depois? [Evidentemente não tenho ideia das respostas, mas gosto das perguntas.]

            Agora, da perspectiva da vida própria, essa da qual sou o protagonista (da qual somos todos protagonistas, cada um da sua vida), o que penso? Como vai terminar todos sabemos (um problema a menos pra elucidar [risos]). Pra que? Acho que no fundo, no fundo, essa nossa vida é mesmo uma grande “escola”, mais do que qualquer outra coisa. E pra aprender o que? Bem, aí já é mais complicado de saber [risos]. Brincadeira... Acho que, em linhas bem gerais, pra aprender a sermos seres humanos melhores e mais compassivos [muito vago isso?].


Sobre a morte

            Entendo a nossa vida como a encarnação de um espírito imortal (embora talvez não no sentido individual) num corpo físico e, como tal, entendo que o que morre ao final dessa etapa de vida é esse último elemento. Penso que o espírito reencarna em outros corpos físicos, em outras épocas e contextos, pra continuar sua “jornada de aprendizado”. Assim, procuro encarar a ideia da morte (do corpo físico) com naturalidade. Mas isso não quer dizer que seja fácil. Como diz o verso daquela música: "na tortura toda carne se trai".

            Talvez a morte possa também ser entendida como um grande “alívio”, no sentido de nos desprendermos dessa dimensão material que, como sabemos, não é nada fácil de ser “gerenciada”. Mas também não é simples assim... [nada é tão simples como às vezes gostaríamos que fosse, além do que não sabemos efetivamente o que nos espera "do outro lado"... Vai que é outra encrenca...]

            Gosto da ideia de “saber morrer”. Certamente tão importante quanto “saber viver”. Infelizmente esse é um tema sobre o qual pouco falamos, para o qual pouco nos preparamos, e com o qual muitas vezes lidamos mal. Possivelmente a melhor preparação para a morte seja mesmo uma vida “bem vivida”, no sentido de ter  “consciência” do que está acontecendo e de cumprir a missão que viemos fazer por aqui [seja qual for].


Sobre “saber”

            Esse é outro tema que regularmente ronda minhas reflexões: o que é efetivamente saber alguma coisa?

            Fico espantado em ver como grande parte das pessoas faz afirmações (às vezes sobre temas profundos e sérios) carregadas de ênfase e convicção, baseadas, no entanto, em simplesmente “ouvir dizer”, ou em ter lido em algum lugar, ou na sua própria e limitada visão de mundo! Acho que nos falta hoje em dia, sobretudo, humildade (pra reconhecer e admitir nossa enorme ignorância e incapacidade de conhecer e de entender o mundo e a vida).

            Na verdade, as ferramentas que temos para nos auxiliar nesse processo de aprendizado e de construção do saber são mais ou menos essas mesmo – leitura, experiência dos outros, experiência própria (nessa encarnação), e intuição [um certo sentimento que “sabe das coisas” sem sabermos como] – tudo isso envolto em muita e cautelosa reflexão. Mas há nuances nesse caminho: quem estamos lendo? Quem estamos ouvindo? Que fontes estamos usando pra compor nosso próprio processo de aprendizado? Quanto temos refletido sobre esse tipo de questão?

            Nesse sentido, mais uma vez me espanta em como vivemos uma fase em que pessoas comuns (sem grandes experiências de vida, digamos assim) ‘se vendem’ como grandes mestres dos mais diversos temas, e, por outro lado, como nos deixamos levar por essas pessoas, e como menosprezamos fontes mais sólidas de sabedoria.

            Esse foi um dos motivos que me levaram a estudar Filosofia, há alguns anos. Em que pese suas inevitáveis limitações e complicações, um aspecto em especial me cativou na proposta da Filosofia como ferramenta de conhecimento: o rigor com que se pretende tratar a questão do saber – o que inclui certa aversão à superficialidade, muito cuidado com o que se lê, como se entende, como usar as palavras, etc.

            Construir um saber consistente, com profundidade e discernimento não é tarefa fácil, certamente. Talvez seja semelhante ao treinamento de um atleta, na esfera esportiva. É trabalho para uma vida inteira.


Sobre os mistérios da vida

            Conforme diz aquele célebre aforismo de Shakespeare, penso realmente que “existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia”. Acho que sabemos muito pouco do mundo em que vivemos, e da vida em si. Por diversas questões, passamos quase a totalidade do nosso tempo de vida envolvidos em assuntos mais pragmáticos e imediatos do que pensar na metafísica da existência. Aliás, hoje em dia essa prática é vista até com certo desprezo e algum preconceito.

            Acho o atual formato cultural da nossa sociedade altamente alienante, voltado para manter a grande massa das pessoas envolvida apenas mesmo na sobrevivência e no consumo impensado... Enquanto há tanto para aprender, para ser descoberto, para ser incorporado ao nosso patrimônio de conhecimento!

            Mas a chama continua acesa. Basta saber encontra-la e permanecer perto.



Sobretudo, nesse dia em que completo 50 anos, quero cultivar e compartilhar o sentimento de gratidão – à vida (no seu sentido macro), aos meus pais, à minha esposa, à minha filha, aos meus amigos e irmãos, à natureza, à luz (tanto no sentido figurado quanto no literal, que tanto aprecio), a todas as pessoas de bem desse nosso planeta e aos seres de luz que me guiam e me protegem nessa jornada.

Viva a vida!
















P.S: Outro dia fui assistir a uma apresentação sobre o Sistema Solar. Ao final, o professor palestrante perguntou: "afinal, o que é o sistema solar?". Pra tentar responder, convidou-nos a imaginar com ele uma comparação de tamanho desse sistema, em escala: imaginemos que o sol, a única e grande estrela desse "setor" do universo, tenha dois centímetros de diâmetro. Detalhe: o sol, sozinho, concentra 99,8% de toda a massa do Sistema Solar! Pra ter uma ideia de tamanho, o limite do Sistema Solar estaria na superfície de uma esfera cujo centro é o sol, a 120 km de distância desse astro! Deu pra imaginar? Em outras palavras: considere uma esfera de 120 km de raio com um bolinha de 2 cm de diâmetro no meio, com uns "pontinhos de poeira" (os planetas) girando em torno dela! Esse é o lugar em que vivemos. Ou seja, um grande, um enorme vazio! E além do Sistema Solar ainda tem um Universo inteiro! Meu deus!








"Nunca encontrar Deus, nunca saber, sequer, se Deus existe!
Passar de mundo para mundo, de encarnação para encarnação,
sempre na ilusão que acarinha, sempre no erro que afaga.
A verdade nunca, a paragem nunca!
A união com Deus nunca!
Nunca inteiramente em paz, mas sempre um pouco dela,
sempre o desejo dela!"


"Cada um de nós é um grão de pó
que o vento da vida levanta,
e depois deixa cair."

(Fernando Pessoa, in "Livro do Desassossego")











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