Certo dia três amigos combinaram
um encontro numa cidade do interior pra pedalar, caminhar e bater papo furado.
Um deles morava no local, que tinha a graça de se situar em meio a montanhas e
cânions cinematográficos, e era habitado por pessoas simples e tranquilas, que
levavam a vida a cultivar a terra e viver o ritmo natural do
passar do tempo.
Ao chegar à pequena cidade, no
meio da tarde do dia combinado, um dos amigos encontrou os outros dois ao sabor
do acaso, montados em suas bicicletas, chegando de uma volta de algumas horas
pela região. Conversaram então com a alegria típica dos reencontros, colocando
as novidades em dia, combinando os passeios dos próximos dias e compartilhando
suas visões de vida.
Aproveitaram o final daquela
tarde pra dar um pulo no alto de um grande morro das redondezas, pra ver o pôr
do sol e sentir o frio cortante que circula por aquelas alturas. Ainda que a
neblina estivesse bloqueando a visibilidade, o pequeno passeio valeu por
estarem juntos, pela conversa e pela vivência do ambiente em volta. O frio
intenso foi um bom estímulo para se recolherem ao aconchego da casa do amigo
que morava na região.
No dia seguinte saíram, acompanhados
pela esposa do anfitrião, para caminhar por um belo cânion próximo do local onde
estavam baseados. Subiram de jipe, por alguns quilômetros, por uma estrada bem
acidentada e bonita. No alto do caminho tiveram a visão fantástica da
grande fenda abrindo-se emoldurada por enormes penhascos, contrastando com o
horizonte ao longe.
(Cânion do Espraiado, by Mavic)
Dispenderam o dia na caminhada
pelas bordas da fabulosa formação, visitando, no caminho, rios de águas cristalinas,
cachoeiras que despencavam nos abismos ao redor, campos de altitude que se estendiam
como ondulações no mar e elevações que instigavam à exploração. Chegaram até a
borda leste da montanha, de onde tiveram a vista espetacular de um amplo e
distante horizonte, banhado pelas luzes de um céu azul por onde navegavam
nuvens ocasionais.
(: Mavic)
(: Mavic)
(: Mavic)
(: Mavic)
(: Mavic)
Terminaram o dia com aquela grata
sensação do bom cansaço físico, aliada ao sentimento de desligamento do mundo
cotidiano e da satisfação de terem passado algumas horas em contato direto com
as forças da natureza, que tão bem fazem à alma.
Após o jantar, embalados pelo
envolvente silêncio da casa onde estavam, conversaram sobre o passeio do dia,
sobre os planos para o dia seguinte e a respeito de sonhos para um futuro
possível, embora (talvez) improvável. Mas o bom mesmo de pensar em caminhos e
opções é esse gostinho bom de imaginá-los reais.
Após uma revigorante noite de
sono, partiram na manhã seguinte para um passeio de bicicleta por uma estrada
de terra por uma região preservada e muito bonita. Pedalaram por várias horas
sem cruzar com nenhum carro, tendo o vento e o silêncio como companhia muito
bem vinda. Cruzaram belos rios de águas límpidas e geladas, correndo suaves por
entre pedras que pareciam ter sido colocadas nos seus lugares uma a uma.
Paisagem muito bucólica, pontuada, no entanto, por uma altimetria agressiva que
fazia o caminho parecer os trilhos de uma montanha-russa.
Parque Nacional São Joaquim
Ao longo do percurso, cruzaram
com vaqueiros tocando gado, algumas poucas casas e plantações e avistaram, ao
longe, uma misteriosa formação circular ao redor da qual havia quatro
espantalhos ou estátuas de pessoas, cercadas de algo que parecia ser um viveiro
de animais, fazendo-os ficarem intrigados sobre qual seria a intenção de tão
estranho canteiro, num local tão isolado como aquele.
A certa altura decidiram iniciar
o retorno. Antes, porém, pararam numa ponte sobre um rio e ficaram ali alguns
minutos a apreciar o correr da água e a observar um grupo de habitantes locais
que estavam próximos a se divertir num alegre almoço campeiro, dentre os quais
algumas crianças se revezavam na brincadeira de laçar um cavalo de pau armado
no centro da roda.
Pouco tempo após terem iniciado o
retorno, o cabo do câmbio traseiro da bicicleta de um dos amigos se rompeu,
deixando-o com a engrenagem travada numa relação de marcha das mais pesadas.
Tentaram um conserto de emergência, mas não havia como restabelecer o
funcionamento pleno do mecanismo.
Como o caminho de volta continha uma longa e sinuosa subida, a situação obrigou o ciclista “sorteado” a usar o “câmbio” das pernas pra superar a equação entre inclinação versus distância versus uma marcha pesada fixa no câmbio traseiro. Mudando um pouco o ritmo da pedalada de “passeio” para “ataque” tudo se resolveu bem.
Como o caminho de volta continha uma longa e sinuosa subida, a situação obrigou o ciclista “sorteado” a usar o “câmbio” das pernas pra superar a equação entre inclinação versus distância versus uma marcha pesada fixa no câmbio traseiro. Mudando um pouco o ritmo da pedalada de “passeio” para “ataque” tudo se resolveu bem.
Ao final da tarde estavam de
volta ao ponto onde haviam deixado o carro, extasiados com o sol dourado
baixando por trás das montanhas, com o frio da noite próxima já se instalando e
com aquela velha e impagável sensação de satisfação de ter feito uma bela e
desafiante pedalada.
Retornaram então para a casa onde
estavam hospedados para o justo descanso, jantar e nova rodada de uma boa
conversa ao pé da lareira.
No outro dia os dois amigos
visitantes tiveram que retornar aos seus lares e cidades, mas os três conservariam
a memória daqueles dois belos dias guardada com todo carinho no compartimento
mais querido de suas recordações, como um tesouro que não pode ser roubado, e
que o tempo só faz valorizar.
Veja no link abaixo um pequeno vídeo com
algumas imagens desses passeios:
Gratidão
Força Sempre
"O escritor inglês John Ruskin disse em certa ocasião que
"ver é poesia, é profecia e religião, tudo de uma vez".
Cada homem sabe, no seu íntimo,
que olhar é muito diferente de ver.
Olhamos as pessoas, as árvores, o mundo,
e seguimos com os nossos pensamentos,
passeando os olhos pelos lugares.
Ver de verdade tem alguma coisa mais:
se estamos acordados, há o sentido e o modo de ser,
o movimento e o descanso, a beleza e a feiura, a luz e a sombra.
E há também a beleza irradiante de cada coisa,
que na sua humildade é única.
Se os objetos que nos cercam tem toda essa riqueza,
que dizer das pessoas que estão à nossa volta?
Olhar seria apenas observar seus rostos e corpos,
mas ver seria compreende-las, o que às vezes é bailado,
sinfonia, poema ou solo de harpa.
Quantas horas de observação seriam necessárias
para conhecer uma pessoa?
Uma vida inteira não seria bastante,
mas um minuto pode ser o suficiente."
(Luiz Carlos Lisboa, in Nova Era)
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- Todas as fotos: arquivo pessoal.
- Agradecimento especial aos amigos Max e sua esposa Edi, e ao Felipe Amante, pela companhia nessas jornadas. "O essencial é invisível aos olhos"...
- O bacana de tecnologias como a deste blog é a possibilidade de interatividade. Nesse sentido, convido os eventuais leitores dessas histórias a deixarem seu comentário abaixo. É sempre interessante saber como a comunicação é interpretada por aquele que a recebe . Mas lembre-se de identificar-se, pois o sistema só identifica automaticamente quem tem uma conta no Google. Valeu!
Sensacional Assis! Imagens incríveis!!!!
ResponderExcluirÓtimas imagens!!!! parabéns.
ResponderExcluirFantástico, eu já pedalei também por estas paisagens e fiquei maravilhado, é um lugar mágico.
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