Remada em caiaque oceânico na região de Guaraqueçaba
3 dias, 112 km
*em parceria com Newton Adriano Weber (Caratuva)
1º dia: Paranaguá a Guaraqueçaba
2º dia: Guaraqueçaba a Tagaçaba
3º dia: Tagaçaba a Guaraqueçaba
Em mais uma parceria com o amigo Newton, nessa remada fizemos um giro de longo alcance pela região de Guaraqueçaba.
No primeiro dia encontramo-nos em Paranaguá, o Newton vindo de Guaraqueçaba, trazendo dois caiaques individuais num barco de linha, e eu vindo de Curitiba (de moto). O Newton usou o Inuk 560 e eu o conhecido Kayapó (ambos da marca Ygará) emprestado dele, pra facilitar a minha logística.
Após os ajustes e arrumações iniciais, começamos a remada por volta das 9:15 h, sob um céu nublado e temperatura amena.
Sair remando ali do atracadouro do Rio Itiberê, em Paranaguá, em meio àquele típico vai e vem de embarcações de diversos tipos, é sempre bacana. Logo passamos pelo Terminal de Contêineres, com sua destacada imponência, e em seguida estávamos na grande área aberta da entrada da baía, felizmente sem vento forte e sem grandes ondulações.
Cruzamos por um grande navio vermelho atracado mais à frente, junto ao qual tentamos chegar perto, mas essa operação foi um tanto dificultada pela forte correnteza, provocada pela intensa maré vazante naquele momento.
E assim fomos tocando nossos pequenos barcos naquela imensidão de águas. Por volta do meio dia chegou a abrir um céu azul e o cenário em volta ficou bem bonito. Mais tarde o tempo voltou a fechar e chegou a chuviscar um pouco.
Chegamos a Guaraqueçaba no meio da tarde, às 16:30 h, tendo feito apenas uma parada com desembarque nesse trajeto, mantendo um ritmo tranquilo, mas constante.
A convite do meu parceiro de remo, fiquei hospedado em sua casa em Guaraqueçaba. Aproveitamos o restante do dia pra reorganizar as coisas, descansar e preparar para as próximas jornadas.
No segundo dia estávamos na água às 07:30 h. A ideia, de forma geral, era subir o rio Serra Negra até a ponte na estrada PR 405, depois retornar um pouco e seguir para o vilarejo de Tagaçaba, subindo o rio de mesmo nome. Planejamento esse que nos tomaria o dia inteiro de atividade.
O céu estava mais nublado do que no dia anterior, o que era bom por um lado, pois deixou a temperatura num nível bem agradável, mas não tão bom por outro, no que diz respeito à beleza da paisagem e aquele bom astral de um belo céu azul.
O dia foi rendendo bem. Devagar e sempre, fomos progredindo, trocando tempo por distância, perdidos em reflexões pessoais, animados por boa conversa e meio que hipnotizados pelas belas paisagens que se descortinavam aos poucos ao nosso redor, tudo envolto no mais fantástico silêncio da face da Terra, com o barulhinho suave dos remos deslizando na água.
É difícil descrever, em palavras, essas sensações e sentimentos que o caiaque oceânico nos proporciona nesse tipo de situação. É lógico que há a demanda de esforço físico, certo desconforto, certa apreensão, mas, em contrapartida, ver-se verdadeiramente isolado do mundo por algumas horas, aberto naquele espaço imenso, sob aquele céu imenso, é algo realmente muito envolvente e gratificante.
No entanto, nem tudo são flores. No jogo das condições disponíveis, nos vimos exatamente no fluxo da maré vazante, seguindo na direção contrária, ou seja, subindo um rio que queria, com todas as forças, descer na direção do mar. Isso tornou nossa remada bem dura e lenta.
A certa altura, perguntamo-nos se realmente "precisávamos" chegar na tal ponte que havíamos pensado em chegar. Sem pensar muito, seguimos em frente, e atingimos o "cume da montanha" (a ponte) por volta das 14:30 h. Fizemos umas fotos, manobramos nossos barquinhos e nos deixamos levar pela correnteza rio abaixo.
Mas a festa durou pouco. Logo a maré virou novamente (enchendo), e agora o rio não queria mais correr pra baixo, transformando-se, em poucos minutos, quase num lago parado. O jeito foi voltar a fazer força nos remos.
Depois de muitos zigue zagues pelos furados e reentrâncias locais (com mérito total à navegação intuitiva do Newton, com breves auxílios do google Maps), chegamos ao rio Tagaçaba, que nos levou ao vilarejo, onde chegamos ao cair da tarde, perto das 18 h.
Alojamo-nos na casa (desocupada) de um amigo do Newton, à beira do rio, super prático pra desembarcar e retirar os barcos da água.
Curtindo aquele cansaço bom após um longo dia de atividade, após um necessário e merecido banho, ainda demos a sorte de achar um restaurantezinho aonde nos servimos de um delicioso jantar à base de arroz, feijão e peixe. Altamente revigorante!
No terceiro dia o plano era retornar a Guaraqueçaba, o que daria uma distância bem mais amigável do que os 45 km do dia anterior. Assim, acordamos sem muita pressa, reorganizamos as coisas e voltamos aos remos às 08:30 h.
Aproveitando a oportunidade, resolvemos subir um pouco mais o rio Tagaçaba, pra apreciar a paisagem e fazer uma pequena exploração dos arredores. Subimos cerca de uma hora, curtindo aquele ar agradável das primeiras horas da manhã, afortunadamente sob um céu azul e passarinhos cantando em volta.
Fizemos então a volta e iniciamos o retorno.
Fomos agraciados, por um bom trecho, pela correnteza do rio fluindo livremente, até chegar à região mais aberta do lagamar, onde ainda pudemos usufruir um pouco da maré levemente vazante, ajudando nosso esforço.
O dia estava muito bonito, com um belo céu azul e ainda assim sem estar muito quente. Fizemos um parada de alguns minutos em uma ilha, onde fizemos um lanche, um voozinho com o drone, para algumas fotos, e retornamos à atividade.
Nos minutos seguintes o tempo virou rapidamente. Logo o céu fico totalmente nublado, mas chegamos bem, de volta a Guaraqueçaba, às 16 h, destino final do nosso pequeno passeio. No finalzinho da tarde, choveu forte.
No dia seguinte cedo retornei a Paranaguá no barco de passageiros que faz essa linha, e de lá de volta pra casa.
Estive pensando que, de certa forma, essas remadas (como muitas outras vertentes do que fazemos), servem de metáfora à própria vida, no sentido do entendimento do passar do tempo e da distância. Às vezes, quando estamos no meio daquele imenso espaço aberto, enfiados num pequeno barco, parece que cada remada que damos, dentre inúmeras, não faz diferença, que a distância não passa, que aquele pontinho lá na frente não vai chegar nunca. E, incrivelmente, contrariando toda a aparência e lógica, os metros e quilômetros passam, e a gente acaba chegando nos lugares que pareciam muito distantes.
E assim é a vida. Às vezes parece que os minutos e horas e dias não passam, que os objetivos estão muito distantes, e com isso nos deixamos levar pela ilusão de que seremos para sempre jovens, para sempre fortes, que sempre haverá bastante tempo pra fazer as coisas "depois". E, quando vemos, já passou, já chegou, já era. Não é triste, nem lamentável, é apenas a vida, como ela é. Cabe-nos então ficar atentos, aproveitar cada remada, cada dia, cada paisagem, cada pequena alegria, cada inevitável tristeza, porque isso é a vida. Só dura enquanto dura.
Bom demais, né? Vamos juntos?
P.S: O meu muito obrigado ao amigo Newton (Caratuva) e à sua esposa, Andréa, pela parceria, acolhida e atenção cuidadosa em todos os momentos dessa viagem.
1º dia, 6 Abr:
Paranaguá a Guaraqueçaba, 37,7 km
2º dia, 7 Abr
Guaraqueçaba a Tagaçaba, 45,7 km
3º dia, 8 Abr
Tagaçaba a Guaraqueçaba, 28,8 km
Casa em que pernoitamos em Tagaçaba
Guará, ave símbolo de Guaraqueçaba
Assista no link abaixo a um pequeno vídeo da viagem:
Caiaque oceânico em Guaraqueçaba e arredores
Obs:
1) O Newton e a Andréa trabalham como guias de eco turismo (caiaque, mountain bike e caminhada) em Guaraqueçaba e região. Possuem diversos roteiros como esse levantados e organizados para quem curte esse tipo de brincadeira. Super recomendados! Para achá-los no instagram: @vivaguaraoutdoor.
2) Camêras utilizadas: Nikon Coolpix AW 130, Go Pro Hero 7 Black e drone DJI Mavic Pro.
"Ouça, Virgínia, é preciso amar o inútil.
Criar pombos sem pensar em comê-los,
plantar roseiras sem pensar em colher as rosas,
escrever sem pensar em publicar,
fazer coisas assim, sem esperar nada em troca."
(Lygia Fagundes Telles, no livro "Ciranda de Pedra")
Gratidão
Força Sempre