Trilogia ciclística em Urubici
Ato 1: subida do Morro da Igreja
Ato 2: subida do Cânion Espraiado
Ato 3: subida da Serra do Corvo Branco
3 dias/ solo
(*Trilogia: grupo de três obras, teatrais ou não,
unidas entre si por temática comum)
Planejei essa viagem a Urubici com dois objetivos principais: pedalar três subidas de serras da região e curtir o sossego de uma estadia no camping Terras do Sul, que se situa ao lado do Rio do Bispo, no fundo de um lindo vale, em meio a uma aconchegante mata e envolto em muito silêncio.
Cheguei lá no final da tarde do dia 5 de julho, uma segunda-feira. Montei minha barraquinha e curti aquela espetacular sensação de isolamento e de quietude que o lugar sugere (com uma pontinha de melancolia, devo confessar).
Nos três dias seguintes coloquei meus planos ciclísticos em prática. Comecei pelo Morro da Igreja, na terça-feira, seguido pela acidentada subida do Cânion Espraiado, no dia seguinte, e terminando com a descida e subida da emblemática Serra do Corvo Branco, na quinta.
Em termos de esforço e desempenho físico requerido, que é o aspecto que mais chama a atenção nesse tipo de empreitada, deu tudo certo. Acho que o dia de maior desconforto foi o primeiro (ainda que o mais difícil tenha sido o último), com acentuadas dores musculares nos primeiros quilômetros da íngreme subida. Mas logo os ajustes físicos internos foram feitos automaticamente por esse fantástico organismo que possuímos e tudo fluiu bem. O que não quer dizer que tenha sido sem esforço (e um pouco de sacrifício), note bem.
Essas subidas longas e íngremes são um belo desafio pra quem aprecia essa bela arte de pedalar bicicleta. Acho que, na verdade, a coisa toda acaba sendo mais uma questão de gestão mental da ideia do que propriamente de capacidade física. É preciso realmente exercitar aquelas velhas receitas de ter paciência, um pouco de sangue frio, um pouco de determinação, um pouco de indiferença e ir levando a brincadeira pouco a pouco. Quando se vê, já acabou... Rsrs
Sob o aspecto da beleza cênica o passeio foi um deleite para os olhos e para a alma. Bem devagar, dispostas num ângulo de visão totalmente aberto, as mais belas paisagens naturais da região foram desfilando à frente dos olhos ao longo desses três dias. Altos morros, montanhas, matas, campos, rios, céu, vento, frio, sol, névoa, plantas, pássaros, árvores... Estava tudo lá, ao vivo e a cores.
O tempo esteve bom nesses dias, com sol entre nuvens e nada de chuva, mas sempre bastante frio, com a temperatura na casa dos 4 graus pela manhã e picos de sensação térmica de bastante frio ao longo do dia, principalmente no alto das serras que subi. No camping em que fiquei também sempre esteve meio gelado, provavelmente por estar ao lado do rio, o que contribui para acentuar a sensibilidade. Quanto a isso, também cabem alguns conceito de "gestão mental" da situação, como: "Ok, está frio, e não vai esquentar. Ponto." Ou seja, não fazer disso uma tempestade num copo d'água. No final, tudo dá certo.
E vale comentar também sobre a questão de estar sozinho, o que é sempre interessante para se auto observar e ver de onde vem e para onde vão os tais pensamentos. Divaguei um pouco com algumas reflexões pessoais sobre a vivência que estava tendo e sobre a vida, curti muito o silêncio, o balançar das folhas das árvores, o barulhinho da água correndo no rio ao lado, o conforto da predominância do verde no campo visual, o constante cantar dos pássaros em volta, a solidão da minha barraca. Realmente renovador.
E é bom também constatar que o lado prático dos equipamentos e aparatos logísticos utilizados funcionaram bem e dentro do que se espera, com destaque para a bike, que foi usada sem economia e sem preciosismo, e cumpriu de forma excelente sua missão.
Sentir saudade da família, de casa e do conforto do lar também são ingredientes que entram na fórmula, e acrescentam uma pitada de sabor à brincadeira.
E no final das contas, o que fica dessa pequena viagem? Na verdade, ao contrário do que pode parecer, isso é meio difícil de avaliar. Parece que as experiências que vamos vivendo vão se "atualizando" com o passar do tempo, e nossa reação a elas também. Em outras palavras, o que fica na memória talvez não seja diretamente proporcional ao que foi efetivamente vivenciado. Parece que de alguma forma apenas utilizamos cenas da realidade vivida para construir memórias ilustradas com nossas melhores intenções. É a tal da memória seletiva - guardamos as melhores lembranças, e descartamos as dificuldades. Enfim, nosso entendimento da vida (e dessa história de passado e de memórias) é dinâmico e subjetivo, sempre sujeito à nossa própria interpretação e vontade.
É lógico que nem tudo são flores. Pode parecer, ao contar essas histórias assim, nesse formato "em retrospecto", com imagens e relatos editados e muito bem filtrados, que tudo foi lindo e maravilhoso. Nunca é, porque nada é lindo e maravilhoso o tempo todo. A realidade é sempre muito mais dura e multifacetada do que qualquer relato que façamos jamais conseguirá alcançar (assim como uma fotografia nunca é o retrato do real). Será sempre uma peça de ficção, baseada em fatos reais... Rsrs
Vamos juntos?
"Camping life":
Cozinha do camping
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Ato 1: subida do Morro da Igreja
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Ato 2: subida do Cânion Espraiado
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3º Ato: subida da Serra do Corvo Branco
No link abaixo, breve depoimento sobre os percursos
Assista no link abaixo a um pequeno vídeo com algumas imagens da viagem:
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"Precisamos rejeitar a ilusão de que podemos viver segundo o instinto, como as abelhas.
A única felicidade que o homem pode alcançar é a que resulta do funcionamento perfeito
de seu corpo e seu espírito, do cumprimento do destino que lhe preserva a ordem das coisas.
De nada serve perseguir diretamente a felicidade.
Ela vem por acréscimo, quando a vida alcança êxito.
A civilização é, antes de tudo, disciplina.
(Alexis Carrel, "Reflexões sobre a conduta da vida")
Gratidão
Força Sempre