Viagem de bicicleta Cordilheira dos
Andes
“Oito homens e um destino”
550 km de bicicleta em seis dias,
de Mendoza, na Argentina, a Los Andes, no Chile, ida e volta
*Em parceria com:
Antonio Charan, 70
Carlos Alberto Aita,53
Cláudio Cararo, 61
Marco Antonio Bednarczuk, 57
Nilson Augustinczyk, 56
Samuel Vieira Júnior, 63
Wellyson Chihaia, 33
Wellyson Chihaia, 33
Entrei
nessa viagem a convite do amigo Marco Bednarczuk, o Marcão, que há anos sonhava
em fazer esse roteiro de bike, e nos últimos
meses esteve debruçado sobre o planejamento detalhado da empreitada.
A
ideia central era apreciar as belas paisagens da Cordilheira dos Andes ao ritmo
amigável do giro dos pedais.
Para
tanto, o Marcão reuniu uma turma de amigos aqui de Curitiba interessados no projeto e começamos a colocar os planos em prática. Nos últimos tempos vínhamos
realizando alguns treinos juntos, simulando as condições que encontraríamos nas
terras estrangeiras, conhecendo-nos e buscando acertar detalhes de equipamentos
e preparo pessoal.
Nesse
processo, o grupo foi se definindo até chegar ao número de oito participantes.
Um
desafio sério de viagens de bicicleta em lugares distantes é como gerenciar a
logística de transporte do equipamento desde a cidade de origem. Como solução a
essa questão, o Marcão planejou a viagem a Mendoza em dois carros, levando as
oito bicicletas e seis colegas do grupo, sendo que os outros dois iriam de
avião.
Só
essa viagem de carro foi uma epopeia, consumindo três dias inteiros pra ir e
mais três pra voltar, cerca de 5.500 km de estrada e algumas intervenções complicadoras da policia argentina;
mas também rendeu uma bela experiência de road
trip, muita conversa boa entre os tripulantes e o fato de, afinal, ter dado
certo o esquema de ir e voltar ao objetivo principal levando e trazendo o
equipamento de forma intacta.
Fizemos
a viagem utilizando mountain bikes de
diversos tipos (hard tail, full suspension, left) e tamanhos de aro (26, 27.5,
29), cada um levando sua bagagem em alforjes e bagageiros, sem carro de apoio, com pernoites em hotéis ou pousadas locais.
O
roteiro, desenhado pelo Marcão, nos levou de Mendoza, na Argentina, situada a
750 metros de altitude, à cidade de Los Andes, no Chile (820 msnm),
atravessando a Cordilheira pelo Passo Internacional Los Libertadores, a 3.900 m
de altitude, passando por diversos trechos belíssimos e extremamente cênicos,
como os famosos “Caracoles”, uma sequência de 29 curvas bem sinuosas do lado
chileno da Cordilheira, que despenca de 3.200 m para os 800 m de Los Andes em
menos de 60 km.
Pra
fazer a contra prova da nossa teimosia em pedalar por estradas com alto grau de
altimetria, fizemos todo o caminho de volta a Mendoza, encarando as alucinantes
descidas da ida agora como infinitas subidas, rumo ao céu.
No
terceiro dia da volta tomamos uma rota diferente da que havíamos utilizado na
ida. A partir de Uspallata enveredamos montanhas a dentro pela ruta 52, onde descobrimos algumas das
mais belas paisagens da viagem, bem como um dos trechos mais duros de subida e
o mais espetacular de descida, compondo um dos dias mais intensos do nosso
passeio.
No
final das contas, pedalamos, nos seis dias, um total de 560 km, com cerca de
7.800 m de ganho de elevação acumulado. Enfrentamos fortes ventos contra em
alguns trechos, temperaturas que variaram de cerca de 3 a 30 graus celsius,
muita paisagem bonita, muito companheirismo entre os participantes e vivemos
uma história que certamente ficará marcada para sempre na memória de cada um
desses oito bravos malucos.
Cada
vez que a gente sai do quintal de casa pra essas viagens experimenta-se
basicamente uma sequência de sensações parecidas. Primeiro há a excitação da
expectativa, aquela alegria ingênua e tão saudável de imaginar como vai ser.
Nos dias que antecedem a partida, com o acúmulo de tarefas e coisas a serem
organizadas, começam a surgir dúvidas se realmente foi uma boa ideia a tal
viagem. Na ida para o destino ressaltam-se as dúvidas sobre a preparação, sobre
detalhes intermináveis de equipamentos e aquela ligeira ansiedade que tenta-se
conter, mas que escapa pelas frestas e nos põe em estado de alerta. A execução
dos planos nos coloca enfim na nossa melhor forma: atenção plena, poucas
coisas pra cuidar e a experiência de viver a cores e ao vivo aqueles momentos
que sabe-se serem únicos. O término nos presenteia com aquela impagável
sensação de ter conseguido, de ter feito, de ter superado dificuldades grandes
pouco a pouco. Esse sentimento de chegada traz um relaxamento profundo e, pelo
menos por algum tempo, a gratificante impressão de “dever cumprido”. Dias
depois bate realmente o cansaço físico e vai caindo a ficha do que foi feito. E
depois vem vindo, aos poucos, o amadurecimento das lembranças, a curtição das
fotos, os lampejos de momentos vividos, essa sensação boa de ter uma história
bacana pra lembrar.
É
lógico que esse tipo de viagem dá um trabalho danado, em todas as suas fases.
Há riscos diversos e reais. A demanda de esforço físico é enorme, bem como o gerenciamento
emocional necessário em cada etapa. Mas cada vez que a gente sai de casa para uma jornada assim, pra se encontrar com o mundo e com a gente
mesmo, resta clara e cristalina, sobre todos os apertos e dificuldades inerentes
ao caminho, uma grata sensação de estar vivendo a pleno, de estar no caminho
certo e de que deveríamos fazer mais disso.
A
vida é um processo muito interessante. Certas coisas, como o tempo (e até mesmo a energia vital), não podem
ser economizadas. Certos ciclos, como essa questão de esforço físico, parecem
funcionar com uma lógica inversa – às vezes, quanto mais se exige, mais
capacidade vamos desenvolvendo a fim de atender às circunstâncias. Certas
ideias e planos nunca vão nos encontrar totalmente preparados... O jeito é meio
que se jogar numa roda em movimento e ir se ajeitando no caminho.
Uma
viagem como essa, ainda que rápida, é uma verdadeira lição de vida, de
humildade, de paciência, de camaradagem, de resiliência, de constatação de que
a verdadeira força não está no físico, mas na cabeça (ou na alma...), de que o
importante é viver um dia de cada vez, de aceitar os riscos, de aceitar o sol,
o vento, as subidas e as descidas, os sorrisos e as dores, as glórias fugazes e
as inevitáveis e inerentes frustrações aqui e ali. Uma lição sobretudo de deixar
a vida fluir, e fluir junto com ela.
Meu
muito obrigado aos amigos desse belo grupo de cicloviajantes. Cada um de vocês
me ensinou um pouco sobre mim mesmo e sobre o caminho que percorremos juntos.
Tenho certeza de que sempre que nos encontrarmos uns com os outros, virão à
mente momentos vividos nessa épica viagem e um leve sorriso vai se insinuar nos
nossos lábios.
Acompanhe
a seguir alguns detalhes, histórias e momentos de cada dia da viagem:
1º dia
21 Fev
de Mendoza a Uspallata (Argentina)
113 km pedalados
1.594 m de elevação acumulada
Logo cedo pela manhã, ao chegar na garagem do hotel pra carregar a bagagem nas bicicletas, constatei que o pneu traseiro da minha bicicleta estava totalmente vazio. Nada bom para um primeiro dia de viagem, não é? Na véspera já havia visto que o mesmo pneu estava vazio e havia consertado um problema verificado na válvula, mas pelo jeito a intervenção não deu muito certo.
Como estava com o sistema tubeless instalado, tentamos reapertar a válvula e voltar a encher, mas não deu certo. Como esvaziou totalmente, o pneu descolou do aro e daí a bomba de mão que tínhamos não dava conta de dar a pressão necessária pra faze-lo voltar à posição de vedação.
Depois de alguns minutos de briga com a situação, resolvemos partir pro plano B: retiramos a válvula e instalamos a boa e velha câmara de ar. Problema resolvido, no entanto era a única câmara reserva que tinha (já que imaginava que o dispositivo tubeless daria conta do recado), e já estava sendo utilizada antes de começar a brincadeira. Paciência... Toca o baile.
Depois de alguns minutos de briga com a situação, resolvemos partir pro plano B: retiramos a válvula e instalamos a boa e velha câmara de ar. Problema resolvido, no entanto era a única câmara reserva que tinha (já que imaginava que o dispositivo tubeless daria conta do recado), e já estava sendo utilizada antes de começar a brincadeira. Paciência... Toca o baile.
Saímos do hotel pedalando às sete e pouco da manhã. Certamente todos satisfeitos, mas também naturalmente apreensivos a respeito de como as coisas se desenvolveriam.
A saída de Mendoza foi bastante tranquila, a despeito das nossas preocupações com o trânsito e a orientação pelas diversas ruas da grande cidade. Em pouco tempo estávamos numa estradinha já com uma linda cadeia de montanhas à frente.
A manhã prosseguiu com subidas sucessivas, mas em sua maior parte com grau de inclinação civilizado.
Na parte da tarde conhecemos o vento das montanhas, que começou a soprar forte e, pra nossa alegria, a favor da nossa direção. Algumas rajadas, no entanto, desafiaram nosso domínio das bicicletas e acabaram por causar uma ou outra pequena queda no grupo.
Ao entrar na ruta 7, que é a estrada que efetivamente cruza a Cordilheira naquela área, nos demos conta do desafio que tínhamos pela frente: era uma estrada estreita, de mão única, sem acostamento e com movimento intenso de carros e caminhões. Ou seja, era como uma "tempestade perfeita" para ciclistas. A situação consistia em um contexto de alto risco. Simplesmente não havia espaço na pista de rolagem para passar dois veículos em sentidos opostos mais uma bicicleta. A solução era pedalar com o máximo de atenção. Se viesse um veículo no sentido oposto tínhamos que olhar pra trás pra ver se também não vinha algum no sentido em que estávamos. Se sim, o jeito era ejetar da estrada para o espaço de pedras soltas ao lado. Bem tenso, e assim seria por boa parte da estrada nos próximos dias. Mas fomos gerenciando e as coisas foram dando certo.
Às 18 h chegamos ao nosso destino do dia, o movimentado vilarejo de Uspallata, já em um ambiente circundante de muitas montanhas e pouca vegetação.
Saindo de Mendoza
Primeira serrinha, saindo de Mendoza
Um dos vários túneis por que passamos
Parada pra reabastecer (os cantis, logicamente)
Ruta 7
Linha de trem desativada, paralela à ruta 7
Chegada do primeiro dia, em Uspallata
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2º dia
22 Fev
de Uspallata a Las Cuevas (Argentina)
83 km pedalados
1.597 m de elevação acumulada
O segundo dia amanheceu tão bonito quanto o anterior: céu perfeitamente azul e ensolarado desde cedo.
Às sete e quinze já estávamos na estrada, respirando o ar frio e seco do ambiente.
Para esse dia não havíamos conseguido fazer reserva de hospedagem no nosso local de destino, de tal forma que seguimos torcendo pra achar uma solução para o caso, e pensando em alternativas caso não conseguíssemos.
O percurso do dia seguiu o tempo todo pelo imenso vale que vai subindo a Cordilheira em direção às alturas. Uma paisagem magnífica, arrebatadora. Montanhas e mais montanhas, dos mais diferentes formatos e tons de cores. No fundo do vale, vigorosos rios de água barrenta seguiam seu caminho. É uma geografia de tirar o fôlego.
Por volta de uma hora da tarde paramos pra almoçar em um restaurante no vilarejo de Penitentes. O local, que no inverno parece ser uma bem estruturada estação de ski, estava movimentado, com várias pessoas chegando de uma corrida de montanha que estava acontecendo nas redondezas.
Quando retornamos às bicicletas, cerca de uma hora mais tarde, demos uma olhada em umas bandeirinhas que havia em alguns postes no local e nos demos conta de que teríamos um desafio pela frente: o vento soprava forte, exatamente contra nossa direção de deslocamento.
O trecho que se seguiu foi certamente um dos mais duros da viagem. A subida era constante e longa, com variados graus de inclinação, e o vento não deu um segundo de trégua.
Pedalar com vento contra é muito mais desgastante e angustiante do que pedalar em subida, seja que tipo de subida for. Talvez pelo fato de o vento ser imprevisível e incontrolável. Talvez porque realmente exige mais força pra ser vencido do que os eventuais aclives.
Vale citar ainda que junto a esse contexto, estávamos ganhando altitude e perdendo graus de temperatura ambiente, ou seja, foi ficando cada vez mais frio.
O grupo se dispersou bastante nesse trecho. Chegamos ao nosso destino pretendido para o dia quase exaustos e felizmente conseguimos um local para acomodar todos, em dois quartos de uma espécie de pousada.
Mais tarde, no jantar, debatemos sobre os planos para os dias seguintes, ponderando se daríamos conta de fazer o que havíamos nos proposto.
Ruta 7
Toninho, Marcão, Cláudio e Nilson
Carlos, Samuel, Nilson, Toninho, eu e o Marcão
Nilson e Carlos
Puente del Inca, monumento arqueológico
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3º dia
23 Fev
de Las Cuevas (Argentina) a Los Andes (Chile)
86 km pedalados
730 m de elevação acumulada
Um dos objetivos da viagem era chegar ao ponto conhecido como Cristo Redentor, que é o ponto mais alto que se pode chegar por estrada naquela região. Para tanto era preciso seguir por uma estrada de terra montanha acima, com um ganho de altitude de cerca de 800 metros em relação ao vilarejo onde estávamos.
Pensamos e conversamos bastante sobre qual seria o momento ideal de incluir essa investida na viagem: naquele ponto em que estávamos, ou no retorno, quando passaríamos por ali novamente. Considerando diversos dados, optamos por faze-lo nesse dia, já que teoricamente seria o trecho mais tranquilo em termos de altimetria. Visto em retrospecto, constatamos que foi uma decisão acertadíssima.
A subida até o tal ponto mais alto é mesmo desafiadora. São apenas 8,5 km, mas de subida constante e muitas vezes bem íngreme. Levei 1 hora e 40 minutos pra cumprir esse trecho, apreciando cada ângulo do fantástico visual ao longo do caminho.
Uma vez atingido mais esse objetivo, comemoramos, tiramos umas fotos e tratamos de descer logo, porque o frio estava bem intenso.
A descida, já do lado chileno da Cordilheira, é ainda mais bonita do que a subida pelo lado argentino. Uma sucessão de curvas fechadas sem qualquer proteção, muitas pedras soltas e forte inclinação nos obrigaram a ficar com as mãos nos freios o tempo todo.
De volta ao asfalto da ruta 7, logo chegamos à imponente aduana chilena, onde fizemos os procedimentos protocolares e em seguida iniciamos a descida do famoso trecho conhecido como "Caracoles" - uma sucessão de dezenas de curvas em ângulos fechadíssimos, a maioria sem qualquer proteção e ainda com bastante trânsito de motos, carros e caminhões.
Foi efetivamente um trecho espetacular pra fazer de bicicleta. Um verdadeiro parque de diversões pra quem curte ciclismo.
Terminado esse trecho mais íngreme, a estrada seguia descendo, agora em inclinação mais suave, em direção a altitudes mais moderadas.
Rapidamente o ambiente ao redor se modificou, perdendo aquela beleza rústica das montanhas desprovidas de vegetação das partes mais altas.
O trânsito e o calor foram aumentando e não encontramos nenhum comércio em que pudéssemos comprar uma água gelada se quer.
Somente por volta das cinco da tarde é que chegamos a um barzinho e conseguimos comer e beber alguma coisa.
Pouco depois, por volta das 18 horas, chegávamos à cidade de Los Andes. Pra nossa surpresa, a reserva que tínhamos em um hotel local não deu certo. Houve algum erro de comunicação e os quartos que pensávamos ter reservado não estavam disponíveis. Mas rapidamente achamos outro local em que conseguimos lugares para o necessário descanso.
No jantar, conversando, reconhecemos o cansaço que vinha se acumulando com os dias, e mais uma vez questionamo-nos se conseguiríamos cumprir o que fora planejado. O maior desafio seria o dia seguinte, em que teríamos que voltar ao vilarejo de onde havíamos saído pela manhã, enfrentando toda a subida da encosta da Cordilheira e depois ainda os "Caracoles".
O Claudio fez as contas e comentou que as aparências poderiam estar nos enganando. O trecho de subida do dia seguinte teria algo em torno de 2.300 m de ganho de elevação em pouco mais de 70 km, o que, ainda que não seja pouco, numericamente também não é nada muito absurdo.
Acontece que números de altimetria, assim como os de distância, funcionam mais ou menos como os de temperatura ambiente: uma coisa são os números, outra é o que se sente, como a tal sensação térmica. No final das contas pode ser mais (ou menos) duro do que os dados sugerem.
Acontece que números de altimetria, assim como os de distância, funcionam mais ou menos como os de temperatura ambiente: uma coisa são os números, outra é o que se sente, como a tal sensação térmica. No final das contas pode ser mais (ou menos) duro do que os dados sugerem.
Iniciando a subida do Cristo Redentor de Los Andes
Cristo Redentor de Los Andes
Lá atrás, à esquerda de quem olha o conjunto, o cume do Aconcágua,
conforme o esquema abaixo
A incrível descida do lado chileno
Fronteira Argentina - Chile
Interior da aduana chilena
Os "Caracoles"
Consertando um pneu furado da bicicleta do Cláudio.
Esse furo deu trabalho! Como foi na lateral do pneu,
a cola do sistema tubeless não funcionou.
Mais uma vez ficamos avaliando se esse negócio de tubeless
está mais pra solução ou pra problema...
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4º dia
24 Fev
de Los Andes (Chile) a Las Cuevas (Argentina)
35 km + 25 km pedalados
1.503 m de elevação acumulada
Acordamos cedo pensando em ganhar tempo para a dura jornada que nos esperava. O Toninho decidiu não fazer esse trecho pedalando, e por isso chamou um taxi que o levaria até o alto da Serra, próximo à fronteira, de onde seguiria de bicicleta até o nosso destino do dia e nos aguardaria lá.
O grupo decidiu então enviar os alforjes e a maior parte da bagagem junto com ele, o que nos aliviaria sobremaneira o esforço da subida. Como dizíamos na época da caserna: "tem que ser leão, mas nem por isso precisa morder a jaula!".
O grupo decidiu então enviar os alforjes e a maior parte da bagagem junto com ele, o que nos aliviaria sobremaneira o esforço da subida. Como dizíamos na época da caserna: "tem que ser leão, mas nem por isso precisa morder a jaula!".
A pedalada começou bem e com tudo em ordem, sob os auspícios do ar fresco da manhã e do descanso proporcionado por uma boa noite de sono.
Com uma hora de estrada, no entanto, sem mais nem menos, o câmbio da minha bicicleta aparentemente quebrou, ficando solto e sem ação. Paramos, demos uma olhada, mexemos em algumas regulagens, mas o problema parecia ser mais grave. Sem ter o que fazer, os companheiros ajudaram a fazer um remendo com uma fita plástica, de forma a manter a engrenagem na posição, e decidi retornar a Los Andes pra procurar uma oficina e tentar um conserto. Assim, o grupo seguiu estrada acima e eu retornei sozinho, com o máximo de cuidado para que o conserto improvisado aguentasse até a cidade.
Lá chegando, achei uma oficina de bicicleta e mostrei o problema para o mecânico. O cara olhou, fez uma cara de preocupado e disse que não tinha peças de reposição para aquele tipo de câmbio. Conversa vai, conversa vem, decidiu abrir o dispositivo pra dar uma olhada. Desmontou tudo, olhou, mexeu, virou de um lado, virou do outro, e disse que o problema era a mola. Ajeitou alguma coisa, montou de novo e disse: "testa aí!", com a bicicleta parada no cavalete. Testei e na mesma hora soltou tudo novamente. Ele então desmontou e montou a peça mais duas vezes, sem sucesso. Na quarta vez, tirou a mola, colocou em um torno e deu uma pequena torção em uma das extremidades. Montou de novo e disse: "agora vai dar certo!". Esse processo levou quase uma hora e eu já estava mais pra descrente do que esperançoso de que fosse dar certo. Mas funcionou. Dei uma voltinha nas ruas em volta, acionei o câmbio várias vezes e ele se manteve firme no lugar.
Expliquei ao mecânico que estava em viagem, e que precisava daquele negócio funcionando, que se quebrasse novamente poderia me causar problemas. Ele disse "não, não, tranquilo, pode ir... tá resolvido...". Paguei pelo serviço e fui embora, mas a insegurança em relação à tal peça se instalou em mim. Fazer o que? Paciência. Vamos ver no que vai dar.
Saí dali, fiz contato com o mesmo taxista que havia levado o Toninho de manhã cedo e ele me levou de volta à estrada, até o ponto em que reencontrei o grupo, já muitos quilômetros à frente de onde havíamos nos separado.
Reintegrado à equipe, voltei aos pedais, tentando restabelecer a confiança no equipamento.
Sempre em subida, fomos seguindo e logo chegamos aos pés do trecho mais íngreme dos "Caracoles". Fomos subindo devagar, metro a metro, com um forte vento ora soprando a favor, ora contra, ora de lado.
Chegando ao Hotel Portillo, recuperamos as bagagens que haviam sido deixadas lá pelo Toninho, recolocamos nas bicicletas e prosseguimos para o trecho final, sempre em subida, sem trégua.
Chegamos na entrada do túnel Cristo Redentor por volta das 17:30h, pela primeira vez naqueles dias sob um céu nublado. Nesse túnel não é permitido o trânsito de bicicletas, em função de sua extensão (cerca de 3,5 km), por ser muito estreito e devido ao alto nível de poluição no seu interior. Assim, a administração da rodovia faz o transporte dos eventuais ciclistas nesse trecho em camionetes. Como estávamos em seis, providenciaram um pequeno caminhão, no qual carregamos as bikes e nós próprios fizemos o trajeto na caçamba.
Chegamos de volta à pousada onde havíamos pernoitado duas noites antes por volta das 19 horas, já quase no final do dia. Fazia muito frio. Havíamos conseguido vencer um dos trechos mais difíceis da viagem.
À noite, estranhamente, não consegui conciliar o sono. Apesar do intenso cansaço físico, vi as horas passarem sem conseguir desligar. Fiquei pensando qual seria o motivo dessa quebra de ritmo. Talvez possa ter sido devido à altitude, mas não estávamos tão alto assim (3.200 msnm); talvez em função de toda a preocupação com a história da quebra do câmbio; talvez por outro motivo qualquer. Fiquei pensando em como somos complexos, instáveis, fortes e sensíveis ao mesmo tempo, cheios de motivos misteriosos, causas desconhecidas, labirintos e subterrâneos imperscrutáveis. Resignei-me com a raríssima situação e tentei observar o momento com frieza. No final da madrugada acho que dormi umas três horas.
Trecho de ida e volta a Los Andes, devido à quebra do câmbio da minha bicicleta
Trecho a partir do ponto em que reencontrei o grupo,
após o conserto do câmbio da minha bicicleta
Subindo os "Caracoles"
Um dos túneis após a passar a fronteira Argentina - Chile,
em que passamos pelo lado de fora, por esse caminho à esquerda
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5º dia
25 Fev
de Las Cuevas a Usapallata (Argentina)
88 km pedalados
493 m de elevação acumulada
O quinto dia da viagem amanheceu novamente com um belíssimo e auspicioso céu azul e aquela luminosidade fulgurante penetrando os espaços.
Finalmente esse seria um dia predominantemente de descidas. Além disso, aprendemos que nessas bandas o vento sopra majoritariamente de oeste para leste, de tal forma que a tendência seria termos também o vento a nosso favor.
Os primeiros dez quilômetros atenderam a expectativa: uma longa e deliciosa descida, emoldurada pelas imponentes montanhas dos dois lados e por um sol levantando rápido sobre o horizonte, bem à frente da nossa direção de deslocamento.
Demos uma parada na entrada do Parque Provincial Aconcágua pra apreciar a vista e fazer umas fotos. Animados pela inquietante curiosidade, decidimos fazer uma caminhada com previsão de 40 minutos em uma trilha que levaria a uma lagoa no meio do vale que leva ao Monte Aconcágua (que se situa muitos quilômetros distante).
Deixamos as bikes no estacionamento e saímos caminhando. Acontece que a tal lagoa nunca chegava. Quando desconfiamos que poderíamos estar no caminho errado, estávamos mesmo. Voltamos um trecho e depois de mais alguns minutos alcançamos a Laguna Horcones, que, no entanto, não correspondeu ao que se esperava da investida. Valeu a tentativa. Devemos ter gastado quase duas horas nesse vai e vem.
De volta à estrada, fomos parar novamente no vilarejo de Penitentes, para o almoço.
À tarde o esperado vento a favor não apareceu muito. A paisagem inspiradora, no entanto, estava lá, alegrando os olhos e confortando a alma, bem como o tenso jogo de gerenciar o nervoso tráfego de veículos na rodovia.
Por volta das 17 horas chegamos em Uspallata. Descanso, jantar e cama. Dessa vez dormi como um anjo. O câmbio continuava aguentando a demanda, sem sinais de problema.
Entrada do Parque Aconcágua
Vale que leva ao Pico Aconcágua,
por onde fiz o trekking ao campo base em 2013
Toninho e Marcão
Marcão e sua constante alegria
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6º dia
de Uspallata a Mendoza (Argentina)
105 km pedalados
1.125 m de elevação acumulada
Neste sexto e último dia da viagem, o planejado era abandonarmos a movimentada ruta 7 e retornar a Mendoza por uma estrada não pavimentada, a ruta 52.
Novamente fomos premiados com um lindo dia de sol e céu absolutamente azul. Às oito e meia da manhã fomos deixando Uspallata aos poucos para trás, seguindo por uma tranquila estrada com um belo renque de álamos dos dois lados.
Aos poucos fomos adentrando a uma região montanhosa e desértica, com um visual encantador em volta.
Tínhamos poucas informações desse trecho. Sabíamos apenas que a estrada era de terra, que os primeiros trinta ou quarenta quilômetros seriam de subida e a distância total do dia seria de cerca de 110 km.
Mas as condições conspiraram pra fazer da primeira parte desse percurso um dos mais duros da viagem. Subida constante (ainda que não íngreme), vento contra (mesmo que não muito forte) e a estradinha piorando cada vez mais (com pedras e areia que seguravam a bicicleta) foram minando nossas forças e nos colocando mais uma vez à prova.
E ainda era uma região completamente inóspita, sem qualquer apoio de comércio e nenhuma estrutura. Em compensação, a paisagem em volta era fascinante e o trânsito de veículos era praticamente inexistente.
Vimos diversos animais silvestres, como as graciosas e imponentes vicunhas, as pequenas lebres e até algumas raposas. Um cachorro nos acompanhava desde que saímos de Uspallata. Quando ele avistava algum animal no alto das elevações, saía em disparada, atendendo a seu instinto caçador - cenas de natureza selvagem, ao vivo e a cores.
Já estávamos por volta de uma hora da tarde e a tal estradinha não parava de subir. Nosso ritmo de deslocamento estava sofrível. Não tínhamos completado ainda nem 30 km. A maioria dos colegas já estava ficando sem água e as energias pareciam também estar se diluindo naquele deserto sem fim.
Mas um pouco depois chegamos a um ponto que parecia não ter mais para onde subir, e em seguida a uma curva de onde se podia ver o mundo lá embaixo - uma visão espetacular de uma enorme planície ao longe. Pra completar podia-se ver uma sequência absurda de curvas em descida contornando a encosta das montanhas.
Dali em diante foi só diversão. Um trecho lindíssimo e alucinante. Cansamos de tanto descer e parar pra apreciar a fantástica paisagem.
Por volta das quatro e meia chegamos a um antigo hotel no que era pra ser uma vila, mas havia apenas um simpático restaurante e a entrada para um parque de águas termais. Fizemos um rápido lanche, repomos os estoques de água e retornamos à estrada. Já estávamos nos encaminhando para o fim da tarde e ainda faltavam uns 50 km para o nosso destino final.
O trecho seguinte foi também muito animador. Rodamos uns 30 km em única reta de uma estrada pavimentada com cimento, sempre descendo, sem movimento algum de veículos. Puro êxtase.
Antes das sete horas estávamos nos arredores de Mendoza, e pouco depois chegávamos de volta ao hotel de onde havíamos partido seis dias antes. Bom demais!
P.S: Sim, afortunadamente o câmbio da bicicleta aguentou bem até o final ["fortuna audaces sequitur"].
A certa altura desse trecho encontramos o camarada aí (Clayton) arrumando algumas coisas em uma curva da estrada. Paramos e puxamos conversa. Ele e o irmão (Kirk Williams) são dos Estados Unidos, e estão em uma viagem de um ano pela América do sul, ele de moto (BMW 1200 GS) e o irmão dirigindo a Van Motorhome, sendo que esse irmão é cadeirante, desenvolvendo assim um projeto voltado para a divulgação de atividade de viagem outdoor voltado para pessoas com necessidades especiais.
Uma tarefa um tanto complexa em uma viagem de bicicleta é como organizar a bagagem e como leva-la.
Na verdade devemos reconhecer que bicicletas não foram feitas pra transportar bagagem, e qualquer sistema que se adote como solução a essa questão vai sempre apresentar deficiências e limitações.
É evidente que uma carga acoplada à bike compromete sobremaneira seu comportamento dinâmico, equilíbrio e rendimento. Por isso o primeiro e mais importante preceito ao pensar em montar uma bagagem para uma viagem de bicicleta é levar apenas o essencial (pra não dizer o mínimo possível).
Quando vejo fotos desse pessoal viajando com a bike super carregada, com alforjes atrás, na frente, em cima e por todos os lados, fico imaginando esse negócio em subidas, batendo em buracos, pegando um vento contra...
Como se pode observar em algumas fotos desta postagem, optei, nessa trip, por um sistema de mochilas que aproveita o próprio quadro da bicicleta para se acomodar, sem a necessidade de um bagageiro - método conhecido como "bikepacking".
Em comparação com o sistema tradicional (com bagageiros e alforjes), essa solução traz vantagens e desvantagens. Como pontos positivos destacaria: menor capacidade de carga (portanto estímulo pra levar menos coisas), melhor distribuição do peso no quadro, melhor comportamento dinâmico do conjunto bicicleta-bagagem e risco quase zero de ocorrer uma quebra ou pane com o sistema (como é muito comum ocorrer com bagageiros tradicionais).
Como pontos negativos: menor capacidade de carga (sem folga para eventuais necessidades extras), maior dificuldade de acesso aos itens no dia-a-dia e bem mais trabalhoso pra instalar o conjunto e encaixar as coisas.
A decisão por um sistema ou outro depende ainda de aspectos como gosto pessoal, tipo de viagem, quantidade de coisas a serem transportadas, etc. O fato é que não existe solução perfeita.
Aqui cabe ainda considerar a ideia de fazer uma viagem de bicicleta com carro de apoio, que cumpriria a função principal de transportar toda a bagagem, além de atribuições secundárias de prover segurança, apoio em casos de pane mecânica ou mesmo em eventuais (e indesejados) acidentes, etc.
Há quem considere esse formato uma heresia. Que a "verdadeira" viagem de bicicleta tem que ser de forma autônoma, sem auxílio externo. Pessoalmente não vejo problema algum nessa solução, pelo contrário, penso que há grandes vantagens, sendo a principal delas manter o foco no prazer de pedalar, mantendo a bicicleta na sua melhor forma, sem adereços de bagageiros e pesos exagerados.
Por outro lado reconheço que um carro auxiliar compromete um pouco o romantismo de se sentir auto-suficiente e até mesmo da sensação de fragilidade que estar sozinho na estrada traz. Mas acho que não se pode misturar as coisas, e achar que a graça de viajar de bicicleta está no sofrimento ou nas dificuldades (que um carro de apoio diminuiria sensivelmente). Penso que a graça está (mais) no ato de pedalar, em curtir a bike como ela foi concebida pra ser curtida, o vento no rosto, a paisagem em volta, o contato com os elementos da natureza, o exercício físico-mental-espiritual. Levar ou não bagagem é, no final das contas, uma questão secundária.
Mas toda essa argumentação e ponderação de carro de apoio diz respeito a viagens em grupo e a determinados tipo de viagem (ainda que talvez os aspectos levantados se encaixem em qualquer situação...).
E você, o que acha dessa questão?
"Definido o Desafio & Aventura, um planejamento imaginando tudo o que parece necessário tem início. Faço contas, convido amigos a participar, trocamos experiências, nos informamos o máximo possível e fechamos o projeto.
Vem então o treinamento antes da execução, afinal precisaríamos sair da zona de conforto, e devíamos evitar surpresas.
A logística neste caso, a princípio, daria mais trabalho do que o normal.
E lá, durante o Pedal, particularmente fui surpreendido por algo que não era previsto e nem imaginava: assimilar toda a novidade, beleza e diversão de algo tão grandioso quanto a Cordilheira e o que esta nos proporcionava!
Agradeço aos amigos e companheiros por estarmos juntos em mais um Desafio & Aventura, e o que passamos e vimos juntos amenize meu equívoco sobre o que é estar lá.
Fantástico!!!"
Que venham as próximas!
- Assista no link abaixo (clique sobre o título) a um pequeno vídeo com algumas imagens da viagem:
Neste sexto e último dia da viagem, o planejado era abandonarmos a movimentada ruta 7 e retornar a Mendoza por uma estrada não pavimentada, a ruta 52.
Novamente fomos premiados com um lindo dia de sol e céu absolutamente azul. Às oito e meia da manhã fomos deixando Uspallata aos poucos para trás, seguindo por uma tranquila estrada com um belo renque de álamos dos dois lados.
Aos poucos fomos adentrando a uma região montanhosa e desértica, com um visual encantador em volta.
Tínhamos poucas informações desse trecho. Sabíamos apenas que a estrada era de terra, que os primeiros trinta ou quarenta quilômetros seriam de subida e a distância total do dia seria de cerca de 110 km.
Mas as condições conspiraram pra fazer da primeira parte desse percurso um dos mais duros da viagem. Subida constante (ainda que não íngreme), vento contra (mesmo que não muito forte) e a estradinha piorando cada vez mais (com pedras e areia que seguravam a bicicleta) foram minando nossas forças e nos colocando mais uma vez à prova.
E ainda era uma região completamente inóspita, sem qualquer apoio de comércio e nenhuma estrutura. Em compensação, a paisagem em volta era fascinante e o trânsito de veículos era praticamente inexistente.
Vimos diversos animais silvestres, como as graciosas e imponentes vicunhas, as pequenas lebres e até algumas raposas. Um cachorro nos acompanhava desde que saímos de Uspallata. Quando ele avistava algum animal no alto das elevações, saía em disparada, atendendo a seu instinto caçador - cenas de natureza selvagem, ao vivo e a cores.
Já estávamos por volta de uma hora da tarde e a tal estradinha não parava de subir. Nosso ritmo de deslocamento estava sofrível. Não tínhamos completado ainda nem 30 km. A maioria dos colegas já estava ficando sem água e as energias pareciam também estar se diluindo naquele deserto sem fim.
Mas um pouco depois chegamos a um ponto que parecia não ter mais para onde subir, e em seguida a uma curva de onde se podia ver o mundo lá embaixo - uma visão espetacular de uma enorme planície ao longe. Pra completar podia-se ver uma sequência absurda de curvas em descida contornando a encosta das montanhas.
Dali em diante foi só diversão. Um trecho lindíssimo e alucinante. Cansamos de tanto descer e parar pra apreciar a fantástica paisagem.
Por volta das quatro e meia chegamos a um antigo hotel no que era pra ser uma vila, mas havia apenas um simpático restaurante e a entrada para um parque de águas termais. Fizemos um rápido lanche, repomos os estoques de água e retornamos à estrada. Já estávamos nos encaminhando para o fim da tarde e ainda faltavam uns 50 km para o nosso destino final.
O trecho seguinte foi também muito animador. Rodamos uns 30 km em única reta de uma estrada pavimentada com cimento, sempre descendo, sem movimento algum de veículos. Puro êxtase.
Antes das sete horas estávamos nos arredores de Mendoza, e pouco depois chegávamos de volta ao hotel de onde havíamos partido seis dias antes. Bom demais!
P.S: Sim, afortunadamente o câmbio da bicicleta aguentou bem até o final ["fortuna audaces sequitur"].
Saindo de Uspallata
O Cláudio e o cachorro que nos acompanhou por 30 km,
em um ponto da estrada
Ponto mais alto desse dia! A partir daqui seria só descida até Mendoza
A certa altura desse trecho encontramos o camarada aí (Clayton) arrumando algumas coisas em uma curva da estrada. Paramos e puxamos conversa. Ele e o irmão (Kirk Williams) são dos Estados Unidos, e estão em uma viagem de um ano pela América do sul, ele de moto (BMW 1200 GS) e o irmão dirigindo a Van Motorhome, sendo que esse irmão é cadeirante, desenvolvendo assim um projeto voltado para a divulgação de atividade de viagem outdoor voltado para pessoas com necessidades especiais.
[Instagram: impact.overland]
A espetacular descida da ruta 52 em direção a Mendoza
E a espetacular reta da ruta 52 em direção a Mendoza
Chegada em Mendoza!
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Breve opinião sobre bicicletas e sistemas de bagagem
Uma tarefa um tanto complexa em uma viagem de bicicleta é como organizar a bagagem e como leva-la.
Na verdade devemos reconhecer que bicicletas não foram feitas pra transportar bagagem, e qualquer sistema que se adote como solução a essa questão vai sempre apresentar deficiências e limitações.
É evidente que uma carga acoplada à bike compromete sobremaneira seu comportamento dinâmico, equilíbrio e rendimento. Por isso o primeiro e mais importante preceito ao pensar em montar uma bagagem para uma viagem de bicicleta é levar apenas o essencial (pra não dizer o mínimo possível).
Quando vejo fotos desse pessoal viajando com a bike super carregada, com alforjes atrás, na frente, em cima e por todos os lados, fico imaginando esse negócio em subidas, batendo em buracos, pegando um vento contra...
Como se pode observar em algumas fotos desta postagem, optei, nessa trip, por um sistema de mochilas que aproveita o próprio quadro da bicicleta para se acomodar, sem a necessidade de um bagageiro - método conhecido como "bikepacking".
Em comparação com o sistema tradicional (com bagageiros e alforjes), essa solução traz vantagens e desvantagens. Como pontos positivos destacaria: menor capacidade de carga (portanto estímulo pra levar menos coisas), melhor distribuição do peso no quadro, melhor comportamento dinâmico do conjunto bicicleta-bagagem e risco quase zero de ocorrer uma quebra ou pane com o sistema (como é muito comum ocorrer com bagageiros tradicionais).
Como pontos negativos: menor capacidade de carga (sem folga para eventuais necessidades extras), maior dificuldade de acesso aos itens no dia-a-dia e bem mais trabalhoso pra instalar o conjunto e encaixar as coisas.
A decisão por um sistema ou outro depende ainda de aspectos como gosto pessoal, tipo de viagem, quantidade de coisas a serem transportadas, etc. O fato é que não existe solução perfeita.
Aqui cabe ainda considerar a ideia de fazer uma viagem de bicicleta com carro de apoio, que cumpriria a função principal de transportar toda a bagagem, além de atribuições secundárias de prover segurança, apoio em casos de pane mecânica ou mesmo em eventuais (e indesejados) acidentes, etc.
Há quem considere esse formato uma heresia. Que a "verdadeira" viagem de bicicleta tem que ser de forma autônoma, sem auxílio externo. Pessoalmente não vejo problema algum nessa solução, pelo contrário, penso que há grandes vantagens, sendo a principal delas manter o foco no prazer de pedalar, mantendo a bicicleta na sua melhor forma, sem adereços de bagageiros e pesos exagerados.
Por outro lado reconheço que um carro auxiliar compromete um pouco o romantismo de se sentir auto-suficiente e até mesmo da sensação de fragilidade que estar sozinho na estrada traz. Mas acho que não se pode misturar as coisas, e achar que a graça de viajar de bicicleta está no sofrimento ou nas dificuldades (que um carro de apoio diminuiria sensivelmente). Penso que a graça está (mais) no ato de pedalar, em curtir a bike como ela foi concebida pra ser curtida, o vento no rosto, a paisagem em volta, o contato com os elementos da natureza, o exercício físico-mental-espiritual. Levar ou não bagagem é, no final das contas, uma questão secundária.
Mas toda essa argumentação e ponderação de carro de apoio diz respeito a viagens em grupo e a determinados tipo de viagem (ainda que talvez os aspectos levantados se encaixem em qualquer situação...).
E você, o que acha dessa questão?
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Depoimento do amigo Marcão para esta postagem:
"Definido o Desafio & Aventura, um planejamento imaginando tudo o que parece necessário tem início. Faço contas, convido amigos a participar, trocamos experiências, nos informamos o máximo possível e fechamos o projeto.
Vem então o treinamento antes da execução, afinal precisaríamos sair da zona de conforto, e devíamos evitar surpresas.
A logística neste caso, a princípio, daria mais trabalho do que o normal.
E lá, durante o Pedal, particularmente fui surpreendido por algo que não era previsto e nem imaginava: assimilar toda a novidade, beleza e diversão de algo tão grandioso quanto a Cordilheira e o que esta nos proporcionava!
Agradeço aos amigos e companheiros por estarmos juntos em mais um Desafio & Aventura, e o que passamos e vimos juntos amenize meu equívoco sobre o que é estar lá.
Fantástico!!!"
Marco Antonio Bednarczuk
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Agradecimento especial
Ao nosso amigo Marcão, que dedicou horas e horas ao planejamento, montagem, treinamento, orientação e estímulo aos membros desta equipe.
Sem o seu entusiasmo e salutar insistência, certamente essa ideia não teria saído do campo das intenções.
Você tem o virtude da liderança, meu amigo. Parabéns por essa energia agregadora e realizadora que alimenta seu espírito!
Que venham as próximas!
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Parabéns especial
Ao nosso amigo Toninho, que, do alto dos seus 70 anos de idade, nos deu uma lição de jovialidade e perseverança que é inspiração para todos nós.
Oxalá cheguemos nessa fase da vida com a sua atitude e disposição para enfrentar desafios e se jogar no mundo.
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Observações
- Link para o percurso realizado no Relive, criado pelo Cláudio:
- Marca dos eventos organizados pelo nosso amigo Marcão:
- Assista no link abaixo (clique sobre o título) a um pequeno vídeo com algumas imagens da viagem:
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"O charme da viagem somente é percebido em retrospecto."
(Paul Theroux)
Gratidão
Força Sempre