Hoje faz 50 anos que
nasci nesse planeta.
Vou aproveitar o
simbolismo do número redondo pra rascunhar algumas breves
reflexões sobre certos temas que aprecio (e que, ao mesmo tempo, me intrigam).
Vale ressaltar que são apenas ideias, ou "palpites", sem qualquer pretensão de verdade ou de saber.
(A rigor, não deveria
fazer isso, pois são assuntos tão fora do alcance da nossa mente concreta, que
não são restringíveis a palavras e ideias... Mas vou me aventurar mesmo assim.)
Sobre o tempo
É inevitável pensar o tempo de uma forma linear –
passado, presente e futuro. Mas ‘e se’ não for nada disso? Quem sabe se numa
‘dimensão macro’ os parâmetros são outros? (Tentar) Imaginar um ‘não tempo’ é
fascinante!
No entanto, voltemos ao nosso tempo linear, pra imaginar
cenários de um ponto de vista mais “realista”. Cinquenta anos... Bacana... E daqui
a quinhentos anos, o que restará de tudo o que hoje sou, de tudo o que fiz e
farei, de tudo o que me angustia? E daqui a dez mil anos?...
Trinta anos atrás eu tinha vinte anos de idade. Daqui a
mais trinta, ‘se tudo der certo’, terei oitenta. Trinta anos passam tão rápido!
Ou não?...
A “velocidade do tempo”! Eis uma derivação desse tema
também muito interessante. Será que realmente nos damos conta de que esse bem
precioso (e finito – do ponto de vista da nossa própria vida) flui sem parar? E
ainda por cima não temos ideia de “quanto tempo nos resta”! Talvez várias
décadas, talvez poucos instantes, quem sabe?
Pensando
bem, de uma perspectiva lógica, deveríamos correr pra fazer o que mais
gostaríamos, já que o tempo está constantemente “acabando”. Mas não funciona
assim, a gente sabe... Não dá pra “cercar” o tempo, querer tirar dele mais do
que nos é “permitido”.
Tão
rápido!
Sobre Deus
Acho curioso como sempre colocamos essa questão na base
do “acreditar” (ou não). A mim sempre pareceu que “acreditar” é uma ação da
esfera intelectual, racional. Mas os fiéis religiosos acham que não, que é uma
questão de fé – que pode ser entendida, creio, como um atributo da emoção, do
sentimento, ou talvez simplesmente como uma dádiva.
Eu prefiro dizer “como eu entendo Deus”, apesar do erro
estrutural dessa afirmação (quer dizer: não somos capazes de realmente entender
algo que está muito além da nossa capacidade de entendimento).
Enfim, entendo (ou penso) Deus como uma inteligência
criadora [melhor não dizer mais nada, porque quanto mais a gente tenta clarear
esse tema, mais obscuro ele se torna...].
O importante aqui [se é que é correto usar esse termo
nesse contexto] é que entendo a vida com um “princípio regulador” por trás, e
não materialmente ou aleatoriamente, como alguns defendem. Aliás, a esse
respeito, devo dizer, aproveitando a oportunidade de ter tocado no assunto, que
ainda que não compartilhe do conceito materialista da vida, não o considero um
absurdo, ou impossível, ou uma heresia, como muitos o enxergam. Apenas “acho”
que não é bem assim.
Também não consigo enxergar Deus no formato pessoal que
muitas religiões defendem – como se fosse um ser à nossa imagem e semelhança,
preocupado com nossas questões pessoais, ouvindo nossas preces. Acho que é
“mais” do que isso.
Mas também acho que o Universo todo é “vivo”, que tudo
está interligado, e que existem muito mais seres do que apenas nós, humanos, e
Deus. Nesse sentido, orar e ter devoção ao sagrado faz todo sentido pra mim.
Sobre a vida
Primeiramente, vamos tratar da vida num sentido macro. A
vida da espécie humana, a vida do universo, a vida das estrelas, a vida do
“infinito”... Tentando ver de uma perspectiva bem ampla, me intriga pensar qual
será o “sentido” de tudo isso. Qual será o “enredo” de toda essa história...
Quando começou? Como vai evoluir? Pra que? Por que? Como vai terminar? O que
virá depois? [Evidentemente não tenho ideia das respostas, mas gosto das
perguntas.]
Agora, da perspectiva da vida própria, essa da qual sou o
protagonista (da qual somos todos protagonistas, cada um da sua vida), o que
penso? Como vai terminar todos sabemos (um problema a menos pra elucidar
[risos]). Pra que? Acho que no fundo, no fundo, essa nossa vida é mesmo uma
grande “escola”, mais do que qualquer outra coisa. E pra aprender o que? Bem,
aí já é mais complicado de saber [risos]. Brincadeira... Acho que, em linhas
bem gerais, pra aprender a sermos seres humanos melhores e mais compassivos
[muito vago isso?].
Sobre a morte
Entendo a nossa vida como a encarnação de um espírito imortal (embora talvez não no sentido individual) num
corpo físico e, como tal, entendo que o que morre ao final dessa etapa de vida
é esse último elemento. Penso que o espírito reencarna em outros corpos físicos, em
outras épocas e contextos, pra continuar sua “jornada de aprendizado”. Assim,
procuro encarar a ideia da morte (do corpo físico) com naturalidade. Mas isso não
quer dizer que seja fácil. Como diz o verso daquela música: "na tortura toda carne se trai".
Talvez a morte possa também ser entendida como um grande
“alívio”, no sentido de nos desprendermos dessa dimensão material que, como
sabemos, não é nada fácil de ser “gerenciada”. Mas também não é simples
assim... [nada é tão simples como às vezes gostaríamos que fosse, além do que não sabemos efetivamente o que nos espera "do outro lado"... Vai que é outra encrenca...]
Gosto da ideia de “saber morrer”. Certamente tão
importante quanto “saber viver”. Infelizmente esse é um tema sobre o qual pouco
falamos, para o qual pouco nos preparamos, e com o qual muitas vezes lidamos
mal. Possivelmente a melhor preparação para a morte seja mesmo uma vida “bem
vivida”, no sentido de ter “consciência”
do que está acontecendo e de cumprir a missão que viemos fazer por aqui [seja
qual for].
Sobre “saber”
Esse é outro tema que regularmente ronda minhas reflexões:
o que é efetivamente saber alguma coisa?
Fico espantado em ver como grande parte das pessoas faz
afirmações (às vezes sobre temas profundos e sérios) carregadas de ênfase e
convicção, baseadas, no entanto, em simplesmente “ouvir dizer”, ou em ter lido
em algum lugar, ou na sua própria e limitada visão de mundo! Acho que nos falta
hoje em dia, sobretudo, humildade (pra reconhecer e admitir nossa enorme
ignorância e incapacidade de conhecer e de entender o mundo e a vida).
Na verdade, as ferramentas que temos para nos auxiliar
nesse processo de aprendizado e de construção do saber são mais ou menos essas
mesmo – leitura, experiência dos outros, experiência própria (nessa
encarnação), e intuição [um certo sentimento que “sabe das coisas” sem sabermos
como] – tudo isso envolto em muita e cautelosa reflexão. Mas há nuances nesse
caminho: quem estamos lendo? Quem estamos ouvindo? Que fontes estamos usando
pra compor nosso próprio processo de aprendizado? Quanto temos refletido sobre esse tipo de questão?
Nesse sentido, mais uma vez me espanta em como vivemos
uma fase em que pessoas comuns (sem grandes experiências de vida, digamos
assim) ‘se vendem’ como grandes mestres dos mais diversos temas, e, por outro
lado, como nos deixamos levar por essas pessoas, e como menosprezamos fontes
mais sólidas de sabedoria.
Esse foi um dos motivos que me levaram a estudar Filosofia,
há alguns anos. Em que pese suas inevitáveis limitações e complicações, um
aspecto em especial me cativou na proposta da Filosofia como ferramenta de
conhecimento: o rigor com que se pretende tratar a questão do saber – o que
inclui certa aversão à superficialidade, muito cuidado com o que se lê, como se
entende, como usar as palavras, etc.
Construir um saber consistente, com profundidade e
discernimento não é tarefa fácil, certamente. Talvez seja semelhante ao
treinamento de um atleta, na esfera esportiva. É trabalho para uma vida
inteira.
Sobre os mistérios da
vida
Conforme diz aquele célebre aforismo de Shakespeare,
penso realmente que “existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha
nossa vã filosofia”. Acho que sabemos muito pouco do mundo em que vivemos, e da
vida em si. Por diversas questões, passamos quase a totalidade do nosso tempo
de vida envolvidos em assuntos mais pragmáticos e imediatos do que pensar na
metafísica da existência. Aliás, hoje em dia essa prática é vista até com certo
desprezo e algum preconceito.
Acho o atual formato cultural da nossa sociedade
altamente alienante, voltado para manter a grande massa das pessoas envolvida apenas mesmo na sobrevivência e no consumo impensado... Enquanto há tanto para
aprender, para ser descoberto, para ser incorporado ao nosso patrimônio de
conhecimento!
Mas a chama continua acesa. Basta saber encontra-la e
permanecer perto.
Sobretudo, nesse dia em
que completo 50 anos, quero cultivar e compartilhar o sentimento
de gratidão – à vida (no seu sentido macro), aos meus pais, à minha esposa, à minha filha, aos meus amigos e
irmãos, à natureza, à luz (tanto no sentido figurado quanto no literal, que
tanto aprecio), a todas as pessoas de bem desse nosso planeta e aos seres de
luz que me guiam e me protegem nessa jornada.
Viva a vida!
P.S: Outro dia fui assistir a uma apresentação sobre o Sistema Solar. Ao final, o professor palestrante perguntou: "afinal, o que é o sistema solar?". Pra tentar responder, convidou-nos a imaginar com ele uma comparação de tamanho desse sistema, em escala: imaginemos que o sol, a única e grande estrela desse "setor" do universo, tenha dois centímetros de diâmetro. Detalhe: o sol, sozinho, concentra 99,8% de toda a massa do Sistema Solar! Pra ter uma ideia de tamanho, o limite do Sistema Solar estaria na superfície de uma esfera cujo centro é o sol, a 120 km de distância desse astro! Deu pra imaginar? Em outras palavras: considere uma esfera de 120 km de raio com um bolinha de 2 cm de diâmetro no meio, com uns "pontinhos de poeira" (os planetas) girando em torno dela! Esse é o lugar em que vivemos. Ou seja, um grande, um enorme vazio! E além do Sistema Solar ainda tem um Universo inteiro! Meu deus!
"Nunca encontrar Deus, nunca saber, sequer, se Deus existe!
Passar de mundo para mundo, de encarnação para encarnação,
sempre na ilusão que acarinha, sempre no erro que afaga.
A verdade nunca, a paragem nunca!
A união com Deus nunca!
Nunca inteiramente em paz, mas sempre um pouco dela,
sempre o desejo dela!"
"Cada um de nós é um grão de pó
que o vento da vida levanta,
e depois deixa cair."
(Fernando Pessoa, in "Livro do Desassossego")
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