Tiger 900 Rally Pro

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quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Viagem de moto (R 1200 GS) de Curitiba a Brasília, ida e volta, 27 de Agosto a 03 de Setembro de 2019










Creio que há sempre um abismo entre nossos sonhos, visões e intenções e a realidade dos fatos do outro lado. E lançar-se à realidade é sempre um movimento que requer certa disposição porque, como se sabe, “na prática a teoria é outra”. O mundo real é o melhor teste de validade das nossas elaborações mentais.

Há alguns dias coloquei a GS na estrada para uma viagenzinha a Brasília, pra visitar meus pais e alguns amigos pelo caminho. Fazia já algum tempo que não sentia esse sabor das distâncias sobre a moto, e, de certa forma, estava precisando dar essa voada, pra desconectar dos ritmos cotidianos e pra curtir o espaço aberto que uma longa estrada nos proporciona.












Uma viagem como essa é uma experiência muito bacana sob diversos aspectos. Um deles, por exemplo, é vivenciar uma verdadeira aula de geografia dessa região do Brasil, explicitada em variadas nuances: desde a vegetação que vai mudando ao longo do percurso, passando pelas nítidas variações climáticas, até as peculiaridades culturais dos Estados que se cruza, como os postos de serviço muito bem estruturados de São Paulo, em contraponto ao jeito mais informal dos estabelecimentos de Goiás e região.

Planejei cumprir o percurso mais ou menos pelo caminho mais direto, evitando, contudo, passar pela cidade de São Paulo, em função dos recorrentes casos de assaltos a motociclistas que vem ocorrendo naquela região, conforme relatos em grupos específicos que monitoram essas ocorrências e condições.













Fiz a ida e a volta pelo mesmo caminho, mudando, entretanto, os pontos de pernoite, em função das visitas aos amigos.

Saí de Curitiba pela BR 116 (sentido norte), conhecida como Rodovia Regis Bitencourt, outrora famosa por ser uma estrada perigosa e de muitos acidentes. Hoje em dia felizmente a realidade é outra: é uma bela estrada, totalmente duplicada, bem sinalizada, e bem variada no seu traçado, com trechos de curvas abertas e amplas, outros de longas retas e alguns de pequenas serras.












Na altura da cidadezinha paulista de Juquiá, abandonei essa auto estrada e peguei uma estradinha secundária e de muitas curvas que passa por Piedade e vai desembocar em Sorocaba. Trecho bem travado e com vegetação exuberante em volta, pra andar devagar e curtir o passeio.

De Sorocaba fui a Santa Bárbara d’Oeste (onde fiz o primeiro pernoite) por estradas amplas e movimentadas, com a cara de São Paulo.













No dia seguinte segui pelas emblemáticas Rodovia dos Bandeirantes e Anhanguera em direção ao interior do Estado de São Paulo. Essa região é espetacular, com longas e amplas colinas estendendo-se até o horizonte e estradas perfeitas (sem interrupções, quebra-molas ou qualquer tranqueira desse tipo). Na verdade é tudo tão certinho que chega a ser quase chato...













Quando se cruza a divisa entre São Paulo e Minas Gerais nem precisava ter placa indicando, porque se percebe as mudanças na própria estrada, que aos poucos vai perdendo aquele aspecto de pista de pouso do trecho paulista, bem como na vegetação ao redor e nos postos de serviço ao longo do caminho.











Mas a estrada continua boa, com muitas praças de pedágio a cada poucos quilômetros, alguns trechos em obra, mas com o revestimento de forma geral em muito bom estado.

Pernoitei em Uberlândia e, a partir de lá, fica nítida a sensação de estar entrando no planalto central, com suas típicas árvores pequenas, tortas e esparsas, solo seco, terra vermelha, horizontes amplos e poucas cidades pelo caminho.






Às margens da BR 050, próximo de Cristalina





O trecho entre Catalão e Cristalina, em particular, é um show pra curtir a empolgante sensação de soltar as rédeas do belo motor boxer e cruzar a longa distância como se estivesse montado num cavalo selvagem incansável.












O trecho entre Cristalina e Brasília volta a ganhar contornos de normalidade, com movimento crescente na estrada, muitos radarzinhos de fiscalização e outras incomodações semelhantes.

Viajar de moto tem uma mística muito própria, difícil de explicar. Na prática tem várias dificuldades, como a questão da exposição direta aos elementos da natureza, como calor, chuva, frio, vento, etc., além dos aspectos sempre muito comentados da sensível segurança da pilotagem e do cansaço decorrente da posição, da concentração necessária, etc. Tudo isso é verdade. Realmente é cansativo. Pode-se dizer que raramente consegue-se ficar confortável sobre a moto, considerando os parâmetros mais óbvios (temperatura, posição, relaxamento). Mas também é verdade que esses conceitos são muito relativos, e, no fundo, no fundo, talvez sejam muito mais subjetivos do que propriamente ligados aos elementos externos. Por exemplo: em outras ocasiões já pilotei por várias horas sob chuva constante e baixa temperatura me sentindo tranquilamente adaptado à situação (mérito, entre outros fatores, do bom equipamento).












E, mais do que isso, talvez sejam as próprias condições adversas que deem o tempero de graça à brincadeira. Às vezes a gente não quer admitir a questão nesses termos, mas o fato é que provavelmente é bacana justamente porque é difícil.

É lógico que a natureza humana é muito complexa e profunda, e somos capazes de enxergar e de nos encantar com a beleza em muitas formas diferentes. Mas dentre essas muitas possibilidades, a superação de dificuldades e o enfrentamento de adversidades certamente é responsável por algumas das mais belas páginas da epopeia humana nessa nossa breve história.

A rigor, tudo isso provavelmente remete ao velho mito do herói, do qual todos temos certamente uma porçãozinha menor ou maior no nosso DNA. De certa forma, “precisamos” dessas experiências para reconhecer e reconectar a nossa própria essência, nossa ancestralidade, nossos registros humanos mais íntimos.











Outro dia, lendo um artigo de opinião sobre as diversas formas de aventura e suas características, o articulista defendia a abordagem de que a aventura é tanto mais verdadeira quanto menos “filtros” houver entre o praticante e a natureza ao redor. Ou dito de outra forma: por exemplo, segundo ele, um trekking nas montanhas seria mais “autêntico” do que uma viagem de bicicleta, porque esta requer a interface de um equipamento que, sob uma visão hiper purista, macularia a experiência de entrar em contato direto com os elementos naturais.

Segundo essa visão, incluir um motor nessa equação deturparia ainda mais a imaginada pureza desse sonhado contato. Ok, certamente são experiências diferentes, talvez até com objetivos diferentes, mas acho que com a mesma essência. Creio que reduzir o valor da experiência a questões de formato e se foi com ou sem esforço físico envolvido seja uma simplificação exagerada e distorcida. Quantas histórias fantásticas há de viagens empolgantes nos mais diversos formatos – de moto, de carro, de veleiro, de avião, etc.!












Acho que o que faz diferença não é o equipamento que se usa ou se deixa de usar, nem mesmo a forma que se adota, nem talvez o grau de dificuldade em si, mas sim o significado que aquela experiência tem para quem a realiza, ou seja, creio que o valor está na visão do sujeito da ação, e não exatamente na ação em si.

É lógico que ir de Curitiba a Brasília de moto, por exemplo, não tem nada de mais, não é nenhuma grande aventura épica, nada que um monte de gente já não tenha feito... Mas continua podendo ser significativo do ponto de vista estritamente pessoal, dependendo da abordagem que se dá, da disposição, dos valores, do momento.












Até mesmo um passeio no bairro pode ser enriquecedor se visto com olhos que sabem ver.

A pilotagem da 1200 GS pode ser considerado um capítulo à parte dessa viagem. Ok, é chover no molhado dizer que a moto é fantástica e coisa e tal, mas sempre vale ratificar essas avaliações. Quem se interessa e conhece um pouco da história recente desse tipo de motocicleta sabe do que se trata.












Tenho essa moto há já quase nove anos, nos quais já rodamos 76 mil km, o que não é muito (considerando o tempo de uso), mas também não é tão pouco assim. E é interessante observar os pontos em que a passagem do tempo impactou essa bela máquina. Por um lado, se colocada lado a lado com os modelos mais atuais, fica nítida a desatualização estética, digamos assim (muito embora essa seja uma questão sempre controversa).

Mais evidente é a distância de atualização tecnológica nesse ínterim. Os modelos mais recentes esbanjam itens eletrônicos, de conectividade, de conforto, de segurança, etc. E aquela conversa de que a eletrônica não seria confiável e que por isso seria preferível ter um equipamento o mais básico possível, já não cola mais. Primeiro porque quase não há mais a opção de máquinas desprovidas de tecnologia e de eletrônica embarcada. E, segundo, porque as vantagens dessas modernidades são tão empolgantes e úteis (e confiáveis) que praticamente não faz sentido dizer que se prefere o equipamento estritamente mecânico. Enfim, nesse sentido realmente os tempos são outros (em relação a quinze ou vinte anos atrás).












Por outro lado a “vovozinha” GS ano 2010 continua tão “valentona” quanto qualquer moto moderna, tendo sua “alma”, o emblemático motor boxer de dois cilindros e transmissão por cardã, tão eficiente quanto sempre foi.

A questão agora é como manter o equilíbrio dessa equação entre eficiência mecânica e novidades tecnológicas e até mesmo conceituais, que são, afinal, bastante tentadoras!












Incontáveis vezes já ouvi comentários, por vezes de desconhecidos, por vezes de amigos ou pessoas próximas, expressando explicitamente admiração por essa máquina, e de “como deve ser legal pegar uma estrada com uma dessas!”. Se pudesse dar um conselho a quem sente uma pontinha desse tipo de desejo e nunca se permitiu experimentar, diria: vá e faça! Não há como se arrepender!

Se pensarmos bem, o preço de não realizar nossos sonhos pode ser mais caro do que o de realiza-los.













Outro lado bem bacana de uma viagem solo de moto é ter tempo e estímulo pra pensar na vida (ainda que não pensar em nada também seja um objetivo...). Dentre várias ideias, reflexões e conexões com outros assuntos, estive pensando em como somos sugestionáveis, como somos suscetíveis a ser influenciados por cada detalhes que nos acontece, ou mesmo que pensamos ou imaginamos. Somos mais ou menos como um receptor rádio, captando ondas de rádio que circulam por aí... O problema disso é sermos “invadidos” por vibrações negativas, pensamentos desarmônicos ou sentimentos não úteis ao momento.












Estive pensando que não é exatamente fácil alinharmos planejamento, vontade, disposição física, condições de tempo e dinheiro pra implementar certas ideias. O fato é que somos seres instáveis, ainda que não gostemos de nos reconhecer como tal. Como fazer pra manter certa coerência nas nossas decisões e ações? Pra manter uma noção de direção naquilo que fazemos?












Acho que há certos caminhos e protocolos que ajudam, como, por exemplo, manter sempre alerta a tal disciplina para consigo mesmo. Nem sempre as condições são perfeitas (aliás, quase nunca são!), nem sempre a gente tá no melhor dia, nem sempre o coração está aquecido e cheio de alegria para com o mundo... Mas sempre podemos ser disciplinados, e assim tentar manter as coisas mais ou menos no prumo.












Muito bacana também ter podido rever velhos amigos, sentar pra bater um papo furado, trocar ideias e lembrar de causos passados. Sou imensamente grato, em particular, pela disposição dos amigos Flammarion e Lucas (e suas famílias) em ter me recebido em suas casas, e pelas conversas animadas e inspiradoras que rolaram. Fica aqui meu “muito obrigado”.

E, por fim, meu agradecimento também aos meus pais, que mais uma vez me receberam de braços e corações abertos para alguns dias de convivência. Uma visita rápida e simples, mas que não tem preço em termos de afeto e ligações de uma vida inteira.

É isso. Façamos o nosso melhor.

























Percurso de ida e volta: total de 2.815 km rodados






"Assuntos difíceis treinam a mente.
Exercícios difíceis treinam o corpo.
Pessoas difíceis treinam o coração.
Tempos difíceis treinam o espírito."

(de um desses posts de redes sociais)








Gratidão




Força Sempre






4 comentários:

  1. Parabéns pelo maravilhoso passeio meu irmão.

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  2. Grande Assis, em mais uma Intrépida & Majestosa viagem na Vida que temos...Felizes são os que, como Voce, possúem os "olhos abertos para as coisas de real valor", e que se predispõem à curtir, viver, se alegrar, conhecer e também de compartilhar e incentivar as pessoas a procurarem seus lugares, caminhos e formas...do jeito que der!!!

    No aguardo de mais uma postagem Amigo!!!
    []´s Marcão - WEST ADVENTURE.

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  3. Grande Amigo Assis
    Que publicação espetacular
    Homem máquina natureza tudo integrado com o texto inspirador.
    Parabéns
    que venham outras mais

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