1º dia: subida e descida do Pico Paraná
2º dia: caminhada de 20 km na Serra do Mar (Caminho do Itupava)
3º dia: breve caminhada em trilha e deslocamento para Guaraqueçaba
4º dia: remo em caiaque de Guaraqueçaba a Ariri, 41 km
5º dia: "day off" em Ariri
6º dia: remo em caiaque de Ariri a Cananéia, 44 km
7º dia: retorno pra casa (de ônibus)
*em parceria com
Newton Adriano Weber e
Andréa Santana
Há alguns meses o Newton, o
Felipe e eu vínhamos conversando sobre planejar uma investida em algumas caminhadas
e remo em caiaque oceânico aqui no Paraná. A ideia era tirar uma semana e
dedicar metade a fazer umas trilhas e a outra metade a um trajeto de caiaque.
A dificuldade, como sempre, ficou
por conta de conciliar a disponibilidade de cada um e a previsão do tempo
favorável. Depois de muitas remarcações e alterações da ideia inicial,
conseguimos fechar um planejamento inicial pra fazer a subida do Pico Paraná no
primeiro dia, seguida da trilha do Caminho do Itupava no segundo, e quem sabe,
dependendo das condições, talvez a subida do Marumbi no terceiro. De lá
passaríamos para a etapa de água, com a intenção de remar três dias no trajeto
entre Paranaguá, no litoral do Paraná, e Cananeia, já no estado de São Paulo.
No entanto a previsão do tempo
para os dias em que finalmente conseguimos nos reunir não era das melhores.
Teríamos os dois primeiros dias de tempo bom, mas depois havia uma previsão de
mudança, com possível entrada de chuva. Acertamos de começar a brincadeira e ir
ajustando no andar da carruagem.
O Felipe veio de São Paulo no
sábado, dia 9, e no dia seguinte cedo, às cinco e meia da manhã saímos para o
primeiro objetivo da empreitada. Pegamos em seguida o Newton e nesse dia tivemos
também a muito bem vinda companhia da Andrea, completando assim o time da nossa
tentativa de travessia da Praia do Cassino no ano passado (muitas histórias pra
relembrar...).
Às sete e quinze da manhã
iniciamos a trilha. O Pico Paraná faz parte do conjunto de serra chamado de
Ibitiraquire, tem 1.877 m de altitude e é o ponto mais alto da região sul do
Brasil. Definitivamente não é uma subida amigável. Em 6,7 km de distância
acumula-se 1.195 m de ascensão. Mas não é só a abrupta inclinação que a torna
agressiva, mas também as características da vegetação e do solo local, marcado
por muitas raízes expostas, buracos, desníveis, grandes pedras e outros obstáculos
do gênero.
Mas estava um belo dia de
temperatura amena, com o sol despontando aos poucos dentre as nuvens, o que
muito contribuiu pra animar o passeio.
Em certos trechos a caminhada é
um verdadeiro exercício de paciência, flexibilidade e equilíbrio, tarefa em que
todos os músculos do corpo são demandados no seu máximo.
Por ser um domingo, havia
bastante gente na trilha, o que de certa forma é um tanto surpreendente, dadas
as condições já descritas. Há basicamente duas formas mais comuns de realizar a
conquista: subindo em um dia e descendo no outro, pernoitando em acampamento no
alto da montanha, ou fazendo no “modo ataque”, subindo e descendo no mesmo dia,
como estávamos fazendo. Cada uma dessas formas, é lógico, tem suas vantagens e
desvantagens.
Já próximo ao topo, a vista que
se deslumbra no horizonte é arrebatadora. A leste, ao longe, pode-se enxergar a
baía de Paranaguá, e por todos os lados um belíssimo mosaico de montanhas a
perder de vista.
Pouco antes do meio dia chegamos
ao cume. Ventava fortemente e fazia frio, mas também havia um sol agradável e
auspicioso. Fizemos um rápido lanche, tiramos algumas fotos, curtimos o momento
e meia hora depois iniciamos o retorno.
O stress da musculatura já se
acusava presente, fazendo com que sentíssemos cada passada um pouco mais ampla
ou fora de nível. Além disso, mesmo na descida há trechos de subidas momentâneas,
ou seja, nada é fácil nesse tipo de terreno.
Mas descemos “de boa”, bem
devagar, com bastante atenção e buscando aproveitar cada passagem.
Chegamos de volta ao sopé já com
o sol se encaminhando para o poente, por volta das 17:30h. Levamos 4h e 50min na descida, e cerca de dez horas de atividade no total. E devo dizer que
estava fisicamente exausto. Naquele momento não parecia viável encarar o
programa que havíamos proposto para o dia seguinte, o famoso Caminho do
Itupava. Mas nada como um dia depois do outro, com uma noite no meio, como
sabiamente diz aquele ditado popular.
Voltamos pra casa, onde a Mari nos esperava com uma deliciosa macarronada, além do infalível bolo de aniversário, balões coloridos e muitos “parabéns pra você”, já que completava, nesse dia, 54 aninhos neste nosso grande pequeno planeta. Viva a vida!
1º dia: Subida do Pico Paraná
Cume!
No dia seguinte acordei com
aquela sensação de que a recuperação não havia sido suficiente, mas vamos em
frente. A partir desse dia sairíamos de casa, em Curitiba, e seguiríamos cada
dia em um local de pernoite diferente, o que nos exigiu levar uma mochila maior
e bem mais pesada do que no dia anterior, quando levamos apenas uma mochilinha de ataque. A partir de então estávamos apenas o
Newton, o Felipe e eu.
Por volta das oito da manhã
iniciávamos a trilha conhecida como Caminho do Itupava, que é um caminho
histórico que liga os arredores de Curitiba a Morretes, aberto entre 1625 e 1654
por indígenas e mineradores, e posteriormente calçado com pedras por escravos.
Novamente estava um belo e
agradável dia de sol e temperatura agradável, o que contribuiu pra minimizar um
pouco a preocupação com o cansaço e as dificuldades inerentes que nos
aguardavam.
Por ser segunda-feira, não havia
absolutamente ninguém no caminho, e assim seria ao longo de todo o dia, o que é
um luxo muito raro e gratificante de se apreciar.
A trilha se desenvolve basicamente
em meio à Mata Atlântica, com um verde efetivamente cinematográfico,
barulhinhos de água correndo em todo canto, passarinhos cantando e tal. Cenário
digno de ser considerado de uma beleza espetacular e privilegiada.
Mas na verdade não percorremos o
Caminho do Itupava na íntegra. Fizemos umas duas horas iniciais na trilha
demarcada e a partir daí deixamo-nos guiar pelas orientações e conhecimento do
Newton da região, caminhando o restante do dia pelo trilho do trem da Ferrovia
Curitiba-Paranaguá. O Newton nos disse que seria tranquilo, como sempre diz,
mas menos de quinze minutos depois de começarmos a andar pelos trilhos, de
repente começamos a ouvir um chiado nos trilhos. Logo o Newton gritou: “olha o
trem!” e incrivelmente em quinze segundos a enorme locomotiva passava por nós, vinda
de trás, sendo que cada um “se jogou” para o mato do lado do jeito que deu. Foi
um tremendo susto, mas a partir daí começamos a ficar mais espertos pra
detectar com mais antecedência as aproximações.
O caminho pelos trilhos tem a
vantagem de ter uma altimetria amigável, descendo levemente, mas nem tudo são
flores, pois os dormentes não tem o tamanho da passada e as muitas pedras da
sustentação castigam os pés dentro das botas.
O dia transcorreu nesse clima de
contemplação da natureza, acompanhamento da lenta passagem da distância,
atenção aos muitos trens que passavam a toda hora e conversa fiada entremeada
com bom humor e assuntos de toda ordem.
As obras de engenharia da
ferrovia são um espetáculo à parte. Há diversos túneis, pontes e viadutos
pendurados nos mais improváveis recantos. A certa altura, falei, brincando, que
deveria ser bacana ver um trem passando dentro de um dos túneis, o que é
rigorosamente proibido e bastante perigoso, devido ao risco de acidente
(esmagamento) no espaço exíguo de passagem da composição. Mas o Newton gostou
da ideia e disse que conhecia um local que daria pra ficar em segurança dentro
de um túnel e de lá presenciar a passagem do trem. Assim fizemos. Chegamos ao
lugar indicado por ele, uma espécie de túnel desativado ao lado do principal e
aguardamos uns minutos, até que começamos a ouvir um trem se aproximando. Logo
a enorme máquina adentrou no túnel, subindo, e passou bem do nosso lado,
fazendo um estardalhaço daqueles! Combinado com a escuridão, a situação foi de
fato uma experiência divertida e interessante. Sensação de estar num daqueles “trem
fantasma” dos parques de antigamente.
Ao cair da tarde chegamos ao
nosso destino, a Estação Marumbi, junto à qual o Newton tem uma casa em meio à
mata nativa, sem acesso por estrada, uma verdadeira preciosidade, onde passaríamos
a noite.
O cansaço bateu forte. Pra ser
bem sincero, naquele momento não achava uma boa ideia fazermos a subida do Pico
Marumbi, ali do lado, no dia seguinte, conforme havíamos pensado originalmente.
Mas deixamos essa decisão em suspenso. Tomamos banho, fizemos um macarrão com
atum básico e mergulhamos num delicioso sono, embalado pelo silêncio da mata,
pelo isolamento do local e pelos esporádicos trens que passavam apitando em
curvas distantes.
Ventou muito a noite inteira e na
manhã seguinte as condições climáticas haviam mudado. Estava tudo bem nublado e
friozinho. Decidimos abortar a subida do Marumbi e passar pra fase seguinte, da
canoagem.
Arrumamos nossas coisas e pusemo-nos
a caminho, descendo incialmente por uma trilha, depois por uma estrada de terra
por cerca de uma hora e meia até o posto do Instituo Ambiental do Paraná, de
onde fizemos contato com um taxi que nos levaria até Paranaguá. Nesse trajeto a
chuvinha que vinha se anunciando, chegou, confirmando o acerto da nossa decisão
de não subir a montanha naquele dia.
A previsão climática, na verdade,
apontava uma condição bem desfavorável para o dia seguinte, mas pelo jeito o
mau tempo se antecipara. Consideradas todas as variáveis em questão, decidimos
também não fazer a primeira pernada de remo, que seria de Paranaguá a
Guaraqueçaba, tirar aquele dia meio de descanso e seguir direto pra
Guaraqueçaba de barco de linha, e de lá iniciar a remada no outro dia. E assim
fizemos.
O taxi nos deixou no píer de
Paranaguá às 11:40, de onde embarcamos numa lancha rápida (50 minutos) pra
Guaraqueçaba, levando a bordo os três caiaques do Newton que ele já havia
deixado pré-posicionados ali.
À tarde, hospedados na casa do
Newton em Guaraqueçaba, demos uma descansada, caminhamos um pouco pela orla e
reorganizamos as coisas para a remada que se iniciaria no dia seguinte, apesar
da previsão do tempo nada animadora.
Mas deixo pra contar a próxima
etapa na postagem seguinte, a fim de manter a organização do blog dentro de cada
tema - clique aqui pra acessar.
2º dia: caminhada na Serra do Mar (Caminho do Itupava e trilho do trem)
Dados da trilha realizada
A estação Marumbi, aos pés do Pico de mesmo nome
A casa do Newton, em que pernoitamos
P.S: Meu muito obrigado aos companheiros de caminho, Andréa, Felipe e Newton, por mais uma parceria, paciência e compartilhamento de experiências. Vamos pensar nas próximas. Valeu!
Gratidão
Força Sempre
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