Subindo a Serra do Rio do Rastro, e
descendo a Serra do Corvo Branco
Curitiba - Bom Jardim da Serra - Curitiba
1130 km
BMW R 1200 GS
dois dias, solo
Montei
essa rápida viagem com a intenção principal de apenas dar uma volta um pouco
maior de moto. Estava realmente sedento por aquela velha sensação de montar na
moto de manhã e rodar até o fim do dia.
O
“problema” de planejar uma viagenzinha como essa é a possibilidade de opções e
ideias do que fazer e aonde ir. Pra resolver essa instigante equação, fechei o
foco num roteiro enxuto, rápido e com dois belos atrativos geográficos e
visuais: a famosa Serra do Rio do Rastro e a emblemática Serra do Corvo Branco, ambas em Santa Catarina.
Saí
de Curitiba no começo da manhã, num belo dia de sol e céu azul, fenômeno raro
por essas bandas. O tempo seco e aberto predominaria por todo o trajeto, nos
dois dias da viagem, o que é sempre muito animador.
O
trajeto pela BR 101 em direção ao sul não tem novidades ou dificuldades. É
preciso apenas ficar com um olho na estrada e o outro nos malditos radares que
infestam todos os cantos, à espreita de um deslize no controle da velocidade.
No
meio da tarde cheguei à cidade de Lauro Muller, na base da Serra do Rio do Rastro. É impressionante a sensação de leveza que a mudança do ambiente em
torno causa. Subir a serra é como entrar numa zona de tranquilidade, onde o
tempo e o visual parecem fazer parte de um outro mundo.
Apreciei
o belo fim de tarde no mirante no alto da serra como quem assiste a um
espetáculo, e de forma muito especial, já que havia bem pouca gente em volta, por ser um dia de semana normal.
Centro de visitantes, junto ao mirante no alto da serra
Após
os últimos raios de luz do crepúsculo, segui em direção à cidadezinha de Bom
Jardim da Serra, onde me instalei numa simpática pousada que já conhecia de
outra ocasião, a “Vila dos Ventos”, um conceito diferenciado de hospedagem
montado em contêineres, cada um sendo uma suíte equipada e decorada com muito
bom gosto e capricho.
Pouco
depois saí pra jantar no centro da cidade, e, na sequência, retornei ao
aconchego da hospedaria, para uma tranquila e silenciosa noite de sono.
Na
manhã seguinte, no café da manhã, o proprietário da pousada, Sr Gérard, muito
atencioso e solícito, puxou conversa, e acabamos engatando quase uma hora de
bate papo, em que ele me contou que, antes de montar a pousada, trabalhou
várias décadas com cultivo de maçã, cultura típica da região. Contou-me das
dificuldades e desilusões com o formato desse difícil negócio para o
agricultor, desde as eventuais perdas com as frequentes geadas no inverno,
passando pela baixa valorização do preço pago ao agricultor, até os “esquemas”
montados pelos grandes mercados e atravessadores para lucrar mais com o
produto, em detrimento do produtor, que sempre fica com a parte menor do valor
cobrado do consumidor final. Conversamos também sobre política, a respeito do
que comentou sobre sua desesperança com os rumos desse tema no nosso país,
citando, como exemplo, histórias ocorridas na pequena Bom Jardim – “se aqui é
assim, imagina por esse país a fora...!”, me disse. E é verdade. Carecemos
mesmo é de uma “revolução” cultural e de valores, muito mais do que apenas caça
e punição à corrupção (que também é imprescindível, logicamente).
A simpática pousada "Vila dos Ventos", em Bom Jardim da Serra
Com
a manhã já avançando rápido, despedi-me do meu simpático anfitrião,
desejando-lhe boa sorte nos negócios com a pousada, e peguei a estrada de volta
ao mirante da serra, pra visitar o Cânion da Ronda, ali perto.
Feito
o pequeno e bonito passeio nesse outro lado da serra, retornei à estrada em
direção à igualmente simpática Urubici, um pouco mais ao norte. Esse trecho de
estrada, que em outras ocasiões já fiz de bicicleta (sozinho e em grupo), é um
deleite para os olhos e para a alma. Belas montanhas, belas curvas, casinhas
bucólicas ladeando a estrada e, pra completar, pouco movimento e aquele sol
bonito iluminando um enorme céu azul. Condições realmente muito inspiradoras!
Banquinha de produtos regionais, próximo de Bom Jardim,
e o bom e velho pinhão cozido.
No
caminho fiz um curto desvio pra visitar a cachoeira do Avencal, bela queda
d’água que compõe um cenário cinematográfico com a geografia e a vegetação ao
redor.
Cheguei
em Urubici já era quase meio dia. Fiz uma rápida parada numa padaria local,
onde fiz um lanche leve, e segui destino à Serra do Corvo Branco. Essa estrada
tem aspecto ainda mais dramático do que a do Rio do Rastro, por ser de terra e
pedra (não pavimentada) e pelos acentuados cortes (naturais e artificiais) das
rochas e morros em volta. É um visual realmente espetacular, ainda que não mais
inédito para mim, já que também já estive por lá em outras viagens (de carro e
também de bicicleta).
Desci
então a sinuosa e acidentada estrada de volta à normalidade da planície,
apreciando, no caminho, o imenso conjunto da serra catarinense que se estende,
naquele ponto, de sul a norte, visível ao alcance dos olhos até o longínquo
horizonte.
Fui
desembocar na cidade de Tubarão, de volta à BR 101, já no meio da tarde. Virei
então para o norte e tentei me readaptar ao ritmo acelerado da movimentada
estrada, seguindo de volta a Curitiba.
A
partir de Florianópolis o fluxo de veículos cresce abruptamente, e segue assim até a capital paranaense. É incrível a quantidade de caminhões nessa estrada!
Em determinado trecho, na altura da serra pouco depois de Joinville, já de
noite, enfrentei um longo engarrafamento aparentemente sem motivo específico
algum, apenas devido ao excesso de caminhões na estrada. Meio tenso pilotar
nessas condições. Quando vejo esse tipo de situação, fico pensando na falta que
faz uma malha ferroviária no país, que poderia muito bem absorver grande parte
dessa demanda de transporte que entope nossas estradas até o talo, em
praticamente todo o país.
Por
volta das 21 horas estava de volta em casa, muito satisfeito com o pequeno
passeio, que, como de costume, parecia ter sido maior do que efetivamente
foi. Viajar tem essa capacidade admirável de mudar nossa percepção da passagem
do tempo, fazendo parecer que a vida como um todo fica mais intensa e
significativa do que aparenta quando estamos metidos na rotina do dia-a-dia.
Valeu!
Bom
demais!
Assista no link abaixo a um pequeno vídeo da viagem:
Obs:
- Todas as fotos: arquivo pessoal.
- Câmeras utilizadas: Nikon Coolpix AW 130 e DJI Mavic.
"Deixamos de fazer certas coisas não porque são difíceis,
antes parecem-nos difíceis porque não nos dispomos a fazê-las."
(Sêneca)
Gratidão
Força Sempre
Realmente , sempre que saímos para uma viagem como essa sem o compromisso dos horários não sentimos o tempo passar porque estamos recarregando nossas baterias , mas o melhor de tudo são os resultados que ficam para sempre em nossas memórias e em nossos corações.as imagens contam a história por si só.Vemos nelas a grandeza e o cuidado de Deus.parabéns meu amigão.segue firme.
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