Tiger 900 Rally Pro

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segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Viagem de bicicleta “Superagui” (326 km/ 5 dias) – PR e SP - 27 Nov a 1º Dez 2014




 
 
Superagui
(mais um capítulo da série: "eu e Deus")

                Certos nomes de lugares exercem sobre mim uma espécie de magnetismo (ainda que não exista nenhuma lógica entre uma coisa e outra), principalmente se combinados com um bom mapa e a promessa de belas paisagens e pouca gente. “Superagui” é um desses nomes – um Parque Nacional predominantemente insular, localizado na porção norte do litoral paranaense. Observada num mapa, a área toda é um grande vazio demográfico numa região que tinha tudo para ser tomada pelo rolo compressor do urbanismo. Felizmente parece que “esqueceram” daquele pedaço de terra.
 
 

                Bolei então um roteiro pra fazer de bicicleta, passando pela região, fazendo assim um típico “exercício de contemplação dinâmica”. O planejamento demandou algumas pesquisas e certo amadurecimento das várias possibilidades, mas por mais que eu tenha tentado “cercar” o esquema, o fato é que era um percurso naturalmente incerto e sujeito a diversas variáveis fora do controle prévio. Mas isso também tem lá o seu encanto.
 
 

                Numa quinta-feira pela manhã, 27 de novembro de 2014, estava pronto pra partir, afortunadamente com um belo dia de sol (entretanto, não exatamente por acaso, pois havia adiado a partida no dia anterior em função do tempo chuvoso). Dei-me ao luxo de sair de casa pedalando direto no roteiro previsto. Alguns quilômetros no acostamento da BR 277 (tradicional rota de treino de ciclismo de estrada na cidade), mais alguns no acostamento do contorno leste me colocaram no começo de uma bela estradinha asfaltada no município de Quatro Barras, entre imponentes araucárias, passarinhos cantando, riachos correndo e aquela sensação impagável de se sentir no lugar certo, repentinamente extraído do constante e insano alvoroço da cidade grande.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
                Esse é um trecho de uns trinta quilômetros com muito sobe e desce e com uma paisagem efetivamente cinematográfica, acompanhando o relevo da bela Serra do Mar. Já passei por essa estrada diversas vezes e é sempre um prazer estar ali. O lanço seguinte é a igualmente bela Serra da Graciosa, que, nessa época, fica ainda mais bonita devido à florada das hortênsias. A descida, durante cerca de vinte quilômetros contínuos, é uma delícia – o vento batendo na cara, nada de esforço, os quilômetros passando rápido e aquela exuberância da mata atlântica numa calma tarde de sol compunham um contexto de total reverência à força e ao poder revigorante da natureza.
 
 
 
 
 
 
                O trecho final do dia foi por um trajeto praticamente plano de São João da Graciosa até a cidade histórica de Antonina – totalizando 94 km -, fundada em meados do século XVII, e que conserva o recato típico das pequenas cidades, com suas ruas estreitas, pouco movimento e a graça de estar localizada às margens da Baía de Paranaguá, o que lhe dá aquele ar de leveza que faz bem à alma.
 
 
 
 
 

                Achei uma pousadinha bem simpática e quando estava tirando as coisas da bike chegaram dois caras também viajando de bicicleta – eram de São Paulo e estavam vindo de Pariquera-Açu (por uma rota por trilhas de telégrafo, no trecho entre Cananéia e Guaraqueçaba, que não tem estrada) e indo pra Curitiba. Um dos caras tinha 68 anos de idade e o parceiro dele era mais jovem, talvez na casa dos 40. Batemos um bom papo e trocamos algumas informações dos percursos que cada um já tinha feito.

Descansei um pouco e mais tarde saí pra jantar. Seguindo a recomendação da moça da pousada, fui a uma cantina a poucas quadras de distância – local agradável e com um atrativo cardápio de inspiração meio italiana, meio caiçara. Mas o bacana de lugares assim, principalmente numa quinta-feira à noite em que o único cliente é você, é que as pessoas se falam. O dono (e chef) do lugar puxou conversa e me contou sua história de vida. Disse que havia feito o Caminho de Santiago de Compostela três vezes, de bicicleta, me contou sobre sua opção por ter trocado Curitiba pela cidadezinha, sua preocupação em adquirir os produtos para seu restaurante de produtores locais, a motivação do cardápio, as manias dos clientes, etc. Papo simples e muito legal, e infelizmente quase impossível de acontecer no “modus operandi” das nossas mega cidades de hoje em dia.

                Voltando à pousada, cheguei na recepção e por acaso a dona estava sentada numa mesa ao lado. Fiz-lhe uma pergunta casual, sobre a associação que eles tinham com a “Hostelling International” (cuja placa vira do lado de fora), e em vez de responder de forma lacônica, como, de certa forma, estamos acostumados, ela começou explicando e disse: “senta aí”; e prolongou a conversa por uma meia hora. Bacana esse hábito dessas pessoas de puxar conversa.

                De Antonina podia seguir direto pra Paranaguá, de barco ou pelo asfalto, mas previ aproveitar a saída e conhecer outro canto isolado do litoral paranaense (e de nome também um tanto atrativo) – Guaraqueçaba. O dia prometia ser difícil. Seriam 20 km de asfalto e cerca de 80 de estrada de terra até a pequena cidade também às margens da Baía de Paranaguá.
 
 
 

                O trecho de asfalto rendeu bem e foi ótimo pra aquecer as pernas. Entrando na estradinha de terra a dinâmica da pedalada muda significativamente. A primeira mudança é a “sensação de isolamento”, devido ao pouquíssimo movimento de carros e ao contexto em volta. Com o passar da distância a mata em derredor parece que vai ganhando força e virgindade. Me ocorreu que se fosse colocado ali sem saber onde estava, facilmente poderia dizer que estava numa estrada da região amazônica, tamanha a beleza e o impacto da mata a cercar tudo.
 
 
 
                Por volta do meio dia, passando pela vilazinha de Tagaçaba, aproveitei pra fazer uma parada um pouco mais longa, e como havia ali um desses barzinhos de beira de estrada que servia refeições caseiras e nada mais, resolvi ousar e pedi meia porção do “prato do dia”. Podia apostar que não ia dar muito certo, e, se tivesse apostado, teria perdido, porque o arroz com feijão, peixe grelhado, salada de alface com tomate e batata frita estava simplesmente espetacular, e não era porque estava morrendo de fome. Era realmente uma comida muito bem feita.
 
 
 
 
                Revigorado, retornei à estrada com novo ímpeto. A tarde rendeu melhor do que a parte da manhã, o que me fez pensar que talvez a expectativa do esforço (ou da dor) seja mais pesada do que o esforço (ou a dor) em si.
 
 
 

                O tempo permanecia bom, apesar do forte calor, que chegou a provocar alguns chuviscos de verão em certos trechos. A certa altura passou por mim um carro desses caindo aos pedaços com alguns sujeitos dentro fazendo bagunça e gritando alto... Os caras paravam em um ou outro rio pra se refrescar e logo em seguida tornavam a passar por mim com atitude suspeita. Meu estado de “quase hipnose” foi de repente invadido por uma súbita sensação de insegurança e de preocupação... Pensando bem, era uma situação muito desfavorável pra mim. No final das contas não deu em nada. Os caras foram embora e eu segui meu destino sem problemas, mas fiquei pensando que nós, humanos, conseguimos exterminar ou enjaular praticamente todos os animais que nos ofereciam algum tipo de ameaça ao longo da nossa história, com exceção de um. Nós mesmos. O mais perigoso, ardiloso, traiçoeiro e não confiável animal da face da Terra.
 
 
 
                Chegar num aglomerado humano depois de várias horas pedalando em isolamento deve ser mais ou menos como chegar num porto depois de uma longa travessia em mar aberto num barco pequeno – muito gratificante. Guaraqueçaba é uma cidadezinha incrustada no “meio do nada”, e, como tal, tem aquele aspecto de fim de mundo tão interessante aos olhos de viajantes em busca de visuais diferentes. Não deve ser tão interessante pra quem mora lá, entretanto. Depois de instalar-me numa pequena pousada e tomar um banho, saí para uma caminhada à toa, curtindo a bela luz de fim de tarde e a satisfação dos 102 quilômetros percorridos no dia.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
                A partir de lá se iniciava a parte insular da viagem, e, com isso, as incertezas e dependência de barcos. A intenção era seguir direto para a vila de Superagui, mas descobri que não havia barcos para lá no dia seguinte, como gostaria. A solução era esperar por uma eventual carona (que podia aparecer ou não), contratar uma voadeira exclusiva para a viagem (uma espécie de taxi marítimo), o que não era interessante devido ao alto custo, ou pegar um barco de linha (uma espécie de ônibus) pra Paranaguá, e de lá, tentar pegar outro para Superagui. Optei por essa última opção. Assim, na manhã seguinte, às sete horas, estava embarcando com a bike pra Paranaguá.
 
 
 
 

                Duas horas e meia depois chegava ao movimentado porto de Paranaguá, e, por acaso, logo em seguida havia um barco saindo para a Ilha das Peças, que fica ao lado da Ilha de Superagui. Fiz a baldeação para a nova embarcação e logo zarpamos. Mais uma hora e meia de navegação, agora saindo da baía e indo em direção ao mar aberto, nos colocou no trapiche da Ilha das Peças (que, por sua vez, é vizinha da Ilha do Mel, outra ilha muito simpática dessa região).
 
 

                Colhi informações adicionais às que já sabia com alguns habitantes locais que estavam por ali sobre como chegar à Ilha de Superagui, e confirmei que eram apenas cerca de quinze quilômetros seguindo pela praia, pra enxergar a vila de Superagui do outro lado do canal entre as duas ilhas. Comprei uma garrafinha d’água, comi duas bananas e parti sem muita demora, animado que estava pela expectativa de pedalar no ambiente de praia e mar.
 
 
 
 
                A realidade dos fatos não decepcionou o que esperava da experiência. Praia deserta, paisagem belíssima, tempo bom e o coração em paz embalaram perfeitamente a pedalada, e em pouco menos de uma hora lá estava a vila cujo nome tanto me atraíra. Restava o problema de como atravessar para lá. No caminho até ali havia cruzado com um casal de jovens empurrando um carrinho de bebê (com um bebê dentro) que estava indo para a pequena vila, e me disseram que um amigo deles iria buscá-los quando lá chegassem. Portanto, na pior das hipóteses, era só esperar eles chegarem (o que deveria levar mais de uma hora) pra pegar uma carona. Mas não foi preciso, porque uns quinze minutos depois apareceu uma voadeira vindo mais ou menos próximo da praia. Acenei e pedi carona para a travessia (que devia ter mais ou menos uns quinhentos metros). Prontamente o piloto (que levava duas moças, vindo de Paranaguá) me atendeu, embarcamos a bike e atravessamos para o outro lado.
 




                A partir da vila o meu roteiro previa seguir pela praia, na direção norte, até um outro vilarejo chamado Marujá, já no Estado de São Paulo, distante cerca de 40 km, só que por uma região completamente deserta e desabitada. Parei pra conversar com os locais e fui orientado a fazer essa pernada somente no dia seguinte, em função da maré, que àquela hora estava enchendo, o que poderia dificultar pedalar pela areia, além do vento norte-nordeste, que também àquela hora estava mais forte do que costumava ser pela manhã. Além disso, já era uma hora da tarde, a vilazinha de Superagui parecia bem simpática, estava um belo dia ensolarado, de forma que tudo conspirava para ficar uma tarde por ali e prosseguir no outro dia.
 
 

                Almocei num restaurantezinho na beira da praia, curtindo aquela paz de uma ilha em que não há carros, nem grandes movimentos, depois fui checar como é esse negócio de tirar um cochilo numa rede depois de uma farta refeição... Achei uma pousadinha pra deixar as coisas e tomar um banho e deixei o mundo girar.
 
 
 

                Na manhã seguinte acordei novo, em função do muito oportuno descanso do dia anterior, juntei as coisas, bati mais um papo com o seu Herondino (o dono da pousada) e parti pra pernada que prometia ser a mais inóspita e bela da viagem. De cara, senti que o vento estava contra e forte. Aliás, bem forte. Em compensação, não estava chovendo (apesar do tempo meio cinzento) e a areia da praia estava bem firme (com a maré baixa).
 
 

                O trecho que se seguiu realmente foi fantástico. Uma imensa e deserta praia a perder de vista. Um enorme mar à direita. E mais nada. Nem mesmo o forte vento contra me desanimou ou preocupou. Deveria haver outro pequeno vilarejo a cerca de 26 quilômetros de distância, onde seria necessário fazer mais uma travessia de barco para a Ilha do Cardoso, pela qual seguiria pela praia até o tal vilarejo de Marujá, de onde seria necessário pegar outro barco para a cidade de Cananéia.
 
 
 
                Tudo estava indo muito bem até que, pouco antes de chegar a Ararapira, o primeiro vilarejo, começo a avistar uma densa vegetação obstruindo a praia. Na verdade, já haviam me alertado sobre esse problema lá atrás, em Superagui, que havia um trecho que não estava dando passagem devido à erosão da maré sobre a vegetação próxima à praia. Cheguei perto e avaliei melhor a situação. Realmente havia muitos galhos, troncos e raízes de árvores bloqueando a passagem e entrando no mar, mas como a maré estava baixa, talvez fosse possível passar pela água... Tirei o tênis, carreguei a bike e a bagagem nos ombros e segui desviando da vegetação. Cheguei a ficar com água pela cintura, mas deu pra passar, numa manobra que durou quase meia hora de sufoco e incerteza.
 
 
 
                Passado o pequeno perrengue, em mais alguns minutos cheguei ao povoado de Ararapira, onde, por acaso, um camarada preparava um barco pra atravessar duas moças para o outro lado. Pedi carona, no que fui prontamente atendido, e em poucos minutos estava desembarcando na Ilha do Cardoso, já no Estado de São Paulo.
 
 
 

                A partir dali seriam mais dezoito quilômetros até Marujá, continuando pela praia. Apesar do insistente vento contra, que limitava a velocidade a não mais do que (sofridos) dezesseis quilômetros por hora (a despeito do intenso esforço nos pedais), a paisagem e o contexto geral eram imensamente compensadores. Efetivamente um privilégio pedalar num lugar como aquele.
 
 


                Tudo estava indo muito bem até que, com o ciclômetro anunciando que estávamos próximo dos 44 ou 45 quilômetros desde Superagui (e, portanto, onde deveria estar o vilarejo de Marujá), e chegando ao final da longa e deserta praia, uma sensação muito estranha foi tomando conta de mim... À frente havia um enorme morro que se debruçava sobre o mar num penhasco rochoso, encerrando a extensa praia, e à minha esquerda apenas uma imensa mata, sem nenhum sinal de civilização ou presença humana. Na praia também não havia nenhum rastro, nenhum lixo, nenhum sinal de gente! Incrível! Onde deveria haver um vilarejo não havia nada! Não era possível. Mas estava acontecendo.
 
 
 
                Bem, na pior das hipóteses, era só voltar tudo e se dar por satisfeito com o passeio... Com o vento a favor, fazer o mesmo trajeto no sentido inverso seria, na verdade, uma festa. Mas seria um tanto frustrante. Fiz meia volta e comecei a voltar pensando onde poderia estar errando... Onde estaria aquele vilarejo, se não à beira mar, como todos os outros e como havia imaginado? (é verdade... Uma pesquisa prévia no “Google Earth” teria me livrado dessa roubada...)

                Vasculhando o horizonte da vasta mata agora à minha direita, já cerca de dois ou três quilômetros depois de iniciar o retorno, vejo uma fumacinha ao longe. Observando com mais atenção distingo também o que me parece ser uma antena de rádio ou algo parecido. Aproximo-me da mata e vejo o que parece ser uma trilha... Sigo a pequena trilha por algumas centenas de metros até que dou de cara com uma placa de “Bem vindo ao Parque Estadual Ilha do Cardoso”! Bingo! Estava ali a vila de Marujá. Perfeitamente escondida no meio da mata, e às margens dos canais que seguem para o interior, e não do mar, como havia imaginado.
 
 
 
                Salvo por um triz de um retorno forçado, fui chegando na pequena vila que nada mais era do que meia dúzia de casas, algumas pousadinhas rústicas, uns barzinhos, mas, aparentemente, muito bem estruturada turisticamente, com várias placas indicativas de caminhadas, cachoeiras e avisos de cuidados com a natureza.
 
 
 
                Puxei conversa com um camarada que apareceu a respeito de barcos saindo pra Cananéia, e ele me disse que, casualmente, dali a meia hora havia um barco saindo, mas era um barco fretado por um grupo fechado, portanto seria preciso conversar com os responsáveis. Conversa vai, conversa vem, cheguei ao tal responsável pelo grupo e pelo barco. Era uma turma de estudantes de Biologia de Faculdades de São Paulo, que havia passado a noite na vila e estava retornando à civilização. Depois de uma pequena resistência inicial, tudo se acertou. Foi só mencionar que não queria exatamente uma carona, mas que poderia pagar... Interessante como o modo de negociar de nós, homens da cidade, é diferente dos habitantes locais. Na rápida conversa inicial com os caras do barco, primeiro demonstraram que não seria muito fácil (criando dificuldades), muito embora o barco fosse grande e não houvesse evidentemente qualquer tipo de problema. Depois se seguiu um joguinho de “preciso falar com o responsável”, e, por fim, depois de acertado o preço a ser pago, um certo pedido de “desculpas por ter que cobrar”... Tudo simulação. Toda a cena por alguns trocados... É incrível como nos tornamos complicados com essas questões de confiança e clareza com as pessoas...
 
 
 
                Enfim, zarpamos da pequena vila por volta das duas da tarde. A viagem foi lenta, mas extremamente cênica e muito interessante, seguindo por um tortuoso canal completamente cercado de mata virgem do Parque Estadual da Ilha do Cardoso. Três horas depois atracávamos no trapiche da histórica e pequena cidade paulista de Cananéia.
 
 
 
                Cidadezinha, aliás, bem simpática e de aspecto acolhedor. De lá, restava a última pernada que havia planejado, aproveitando mais uma longa e pedalável praia até a cidade de Iguape, mais ao norte. Dei então uma volta pelas ruas, verifiquei os horários da balsa que no dia seguinte utilizaria pra prosseguir viagem, achei um hotelzinho e me recolhi.
 
 
 
                No dia seguinte havia uma condicionante. De Iguape, onde pretendia chegar e encerrar o passeio, havia um ônibus saindo direto pra Curitiba às onze horas da manhã. Como a distância até lá era de cerca de 60 km, se quisesse aproveitar esse “voo direto” teria que me apressar um pouco. Assim, acordei cedo e às seis e quinze estava com a cara no mundo. Peguei a primeira balsa que faz a travessia para a Ilha Comprida, às seis e meia, e logo depois estava entrando na longa praia que me levaria até próximo de Iguape.
 
 

                Vale destacar que essa saída bem cedo, praticamente com o amanhecer do dia, numa segunda-feira de tempo bom e aquele jeito de que não havia ninguém no mundo foi um prazer. A pedalada pela praia excedeu minhas expectativas para esse trecho. Visual bonito, temperatura agradável, sem vento, poucas pessoas aparecendo aos poucos fecharam com chave de ouro meu pequeno passeio. Realmente muito gratificante.
 
 
 
 

 
 
 

 
 

                Chegando ao município de Ilha Comprida, abandonei de vez o litoral e em mais dez quilômetros estava em Iguape, onde cheguei na rodoviária ainda às dez horas da manhã. Uma hora depois embarcava no ônibus de volta pra casa, cansado, mas muito grato por tudo.

                Pensando bem, até que “casualmente” deu tudo certo - os barcos, as travessias, as condições da maré, do vento, da chuva, do sol... Pensando bem, esse é o nosso mundo. A questão é ter olhos pra ver, ou, dito de outra forma, inspiração e um pouquinho de desapego pra se jogar por aí... Que essa luz me acompanhe ad aeternum! Inté!
 
 
 

 

                                                                                             
 
 
 (Curitiba, dezembro de 2014)


Gratidão
 
Força Sempre

               

 

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